Na manhã seguinte, Joe
disse que meu inseto imaginário não havia dado às caras e, claro, fiz cara de
paisagem e desconversei. O dia seguiu normalmente, as pessoas agora conversavam
comigo e o pequeno desentendimento entre mim e Blanda não chegou aos ouvidos da
diretoria nem do RH. Eu estava começando a apreciar aquela rotina. Eu quase
gostava de... Bom, trabalhar. Quase.
Tudo ia bem até que, no
meio daquela tarde, recebi um telefonema de Clóvis.
- Você teria tempo para
conversar comigo hoje à tarde?
- Não – Respondi secamente.
- Demetria, sei eu você
ficou magoada por eu ter escolhido o Jeferson em vez do Joe, mas você precisa
entender meus motivos. Vamos conversar, ainda podemos nos entender.
- Estou ocupada. Quem sabe
outro dia... – Ou em outra vida.
- Deixa de ser teimosa.
Você e eu sabemos que você vai vir de qualquer forma. Mandarei um motorista
para te pegar. O que acha? – ele disse melosamente.
- Bom... – O que eu tinha a
perder? E, se eu fosse dar ouvidos a vovô e a toda aquela balela de Sun Tzu, o
negócio era manter o inimigo (tá certo, Clóvis não era meu inimigo, mas
definitivamente não era meu amigo, não depois do que fez!) perto, não era?
O carro de Clóvis chegou
meia hora depois. Avisei Joe que teria que sair mais cedo, mas não dei
detalhes, mesmo porque eu mesma não os conhecia ainda. Fiquei sem chão quando o
motorista embicou o carro no portão da mansão e não no escritório de Clóvis. Um
misto de nostalgia e pesar me perpassou. Tudo estava perfeitamente igual
naquela propriedade e, no entanto, tão diferente. Faltava alma naquela casa.
Clóvis me aguardava no
jardim. Parecia amistoso, sorrindo recostado no espaldar da cadeira de madeira.
- Que bom que você veio.
- Pode parar com a
bajulação e ir direto ao que interessa. Eu ainda não engoli aquela história da
promoção do Joe.
Ele
esperou que o motorista se afastasse e indicou a cadeira ao seu lado para que
eu me sentasse. Não sentei.
- Eu nunca quis prejudicar
o Joe. Fiz o que achei melhor para a empresa – começou Clóvis, com a voz
monótona de sempre.
- Você foi um calhorda.
Todo mundo sempre diz para não confiar nos advogados... – grunhi.
Ele sorriu, se desculpando.
- Não me tome por um
calhorda. Só estou pensando no seu futuro, afinal a L&L será sua muito em
breve. Tem certeza que não quer sentar? Vou pedir um chá e...
- Não, obrigada. Onde está
a Telma?
- Nos Andes. Infelizmente
não pude ir com ela. Muita coisa para fazer por aqui. Eu sei que você me culpa,
Demetria, mas tente entender o meu lado. – Ele se recostou na cadeira,
parecendo exausto. – Eu também tenho que abrir mão de muitas coisas para
cumprir as ordens do seu avô. Pense nisso antes de me odiar.
Suspirei longamente antes
de ceder e me sentar ao seu lado.
- Eu não te odeio. – Não
muito. - Por que você me chamou aqui, Clóvis? –
Uma borboleta azul, quem poderia
imaginar? flutuou ao meu redor. Fiquei
rígida como uma estaca, meu coração pulsando na garganta. Mas o inseto
asqueroso logo terminou seu círculo predatório e se afastou, entrando na mansão
pela janela da biblioteca de vô Narciso. Eu me perguntei o que estaria acontecendo
com o mundo. De onde tinham saído tantas borboletas azuis?
Fui arrancada de meu
devaneio ao ouvir um ronco familiar. Um ronronar agressivo, feroz, potente, que
arrepiava os cabelos da minha nuca. Meus olhos foram arrastados para a fúria
vermelha que deslizava para fora da garagem. As rodas brilhantes como prata
pura, a carroceria baixa e elegante, o rugido suave, apenas um prelúdio de sua
ira.
- Meu Porsche! – exclamei,
atordoada.
- Ah, sim. Você reconheceu
– Clóvis sorriu – Acabei de comprar. O antigo dono não se deu muito bem com
ele.
- Como assim, não se deu
muito bem? Meu cupê é perfeito! – me empertiguei.
- Sim, mas ele achou pouco
prático para as estradas que temos aqui – ele deu de ombros.
Revirei
os olhos. Pra que tipo de mané vendi meu carro?
- Eu não gosto muito desse
tipo de carro, mas me pareceu um bom investimento – ele disse.
Olhei para o carro, incapaz
de conter o sorriso.
- Um ótimo investimento. Um
ótimo carro. Não tem outro melhor que esse. – Assim como uma mariposa atraída
para a luz, fui atraída para o meu cupê. Deslizei a mão em suas curvas, do capô
ao teto, acariciando a tinta brilhante. – Linhas perfeitas, aerodinâmica
imbatível, motor agressivo. Ele é todo perfeito.
- Era sobre isso que eu
queria lhe falar – ele sorriu, se colocando ao meu lado. – Eu gosto de carros
menos agressivos e a Telma não dirige. Esse cupê vai acabar ficando encostado
na garagem por... – deu de ombros – muito tempo. O que você acha de ficar com
ele por um tempo?
- O quê?
- Você me disse que detesta
o transporte público, e não tiro sua razão. Realmente não funciona na maior
parte do país. Você estaria me fazendo um grande favor ficando com o carro até
eu decidir o que fazer com ele.
Uau! Não, quero dizer, UAU!
- Acho que posso te ajudar
– sorrir, já antecipando a sensação do pequeno pedal sobe meu pé, o câmbio
curto e preciso, as curvas deliciosas que nenhum outro carro era capaz de
fazer.
- Mas – ele continuou – eu
gostaria de pedir um favor em troca.
Enrijeci. Por alguma razão,
eu soube que acabara de cair numa armadilha.
- E o que seria? – inquiri,
estreitando os olhos.
- Gostaria que você
reavaliasse a sua vida. Demetria, apelar para o bom-senso não parece surtir
efeito com você, mas e eu não sei mais o que fazer. O Hector esteve aqui ontem.
Parece que alguém andou falando com ele – Lutei para não gritar. Blanda merecia
uma boa surra por ter aberto a boca para Hector, isso o era certo. – Ele tem
certeza que não ouviu apenas boatos. Ele está seriamente preocupado e,
Demetria, o Hector é implacável. Se ele conseguir provar que você tentou
ludibriar todos nós para reaver sua herança, você terá sérios problemas. E,
conhecendo o Hector como conheço, ele não vai ser benevolente. Eu já lhe disse
que você vai ser excluída do testamento se a farsa for comprovada, não disse?
- Disse. E eu já disse que
não é uma farsa.
Ele me
ignorou.
- Volta pra casa, Demetria
– e abriu os braços, indicando a mansão às minhas costas. – Eu faço o que puder
para que tudo volte a ser como era. Você vai ter seu cartão sem limites, vai
poder viajar pelo mundo sem preocupações... Você pode ter ainda hoje a vida que
tinha antes do seu avô morrer! Seu carro já está aqui – apontou para o Porsche
sorrindo, então seu rosto se tornou pesaroso. – Mas, para que eu possa te
ajudar, você tem que se ajudar também. Anule o casamento. Se afaste de Joe e o
liberte dos problemas que certamente ele vai enfrentar se ficar ao seu lado.
Ele não merece isso.
Não, Joe não merecia. Era
tentador, eu não podia negar. Deixá-lo livre das complicações que eu trouxera,
ter minha vida de volta, minha casa, minha grana, meu carro, minha liberdade de
vagar pelo mundo. Só que... não parecia certo. Se Clóvis tivesse feito essa
mesma proposta semanas antes, talvez eu nem hesitasse, mas agora... Agora havia
Joe e tudo havia mudado. Eu havia mudado.
Passado o momento “estupidez”, me dei
conta do que Clóvis realmente estava tentando fazer. Ele estava tentando me
comprar. Fiquei envergonhada por cogitar a hipótese de aceitar sua oferta. Vovô
ficaria decepcionado comigo. Ele sempre fora o homem mais íntegro que eu
conhecia. E eu era sua neta, Demetria Devonne Lovato, e, se meu dinheiro e
minha casa haviam sido confiscados, ainda me restava o mais importante, a herança
que ninguém jamais poderia arrancar de mim: Meu orgulho.
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bom vocês foram bem claras que querem mais capítulos e bom ta aí mais um,alguém me perguntou quantos capítulos a fic vai ter bom ela já está finalizada e posso dizer que tem mais de 100 capítulos com o epílogo que ainda estou tentando fazer.
posta mais. esse clovis é um sem vergonha
ResponderExcluirposta,posta posta mais
ResponderExcluirposta mais
ResponderExcluirAiiiiiiiiiiiiiiiii postaaaaaaaaa please
ResponderExcluirpessoas do mal, maas to amaando demais essa história, <33
ResponderExcluirvaai ter mais capitulo amanhã certo?!
Poosta logo, xo