domingo, 5 de maio de 2013

CAPÍTULO 34 MARATONA



Lentamente, deixei o cemitério com o coração um pouco mais leve. Talvez falasse sobre os problemas realmente ajudasse. Eu descobriria isso em pouco tempo. Contar a Joe o que o Clóvis havia dito seria difícil. De uma forma perturbadora, eu não queria que ele me odiasse, coisa que certamente aconteceria se ele tivesse sua preciosa carreira arruinada por minha culpa. Eu o conhecia pouco, mas estava ciente de quanto valorizava seu trabalho. Ele não havia se casado comigo para conseguir uma promoção?
Eu não estava tão longe de casa – da casa de Joe, quero dizer –, de modo que decidi caminhar até lá. As ruas já começaram a ficar apinhadas de gente voltando do trabalho, e tanto o ônibus quanto o metro estariam lotados. Eu não estava no clima de ser amassada e ficar rodeada de gente ouvindo hap no último volume. Foram duas horas de caminhada, o que achei bom. Tive tempo para pensar em como iniciar a conversa com Joe. Durante o percurso, a noite deu as caras e me abraçou, acolhedora.
Logo que entrei em casa, Joe surgiu na cozinha com um pano de prato no ombro. Os dois primeiros botões da camisa branca estavam abertos, as mangas dobradas e as gravatas de fora.
– Demetria! – ele suspirou. – Você não atendeu o celular. Fiquei preocupado.
– Você está cozinhando? – O cheiro era fantástico!
– Estou. Temos visitas – ele disse apressado enquanto analisava meu rosto. Provavelmente eu não estava lá muito atraente, com os olhos inchados pelo choro e os cabelos embaraçados pela caminhada ao vento. – Você está bem?
Não!
– Visitas...? – Era tudo o que eu precisava naquele momento.
Ele sorriu, um sorriso íntimo, meio torto. Um arrepio subiu por minha coluna. Eu tinha que pedir para Joe parar de fazer aquilo. Meus nervos já estavam em frangalhos!
– Meus pais e meu irmão estão aqui – ele sussurrou, então pegou minha mão e retirou minha aliança, guardando-a no bolso de seu jeans. Notei que a dele não estava em seu dedo. – Te devolvo depois. Quero te apresentar para eles e acho que ainda não devemos contar que nos casamos. Vem – e começou a me puxar para a sala.
– Mas eu preciso...
Não pude dizer mais nada, porque Joe me arrastou até a sala, e de repente me deparei com três rostos sorridentes. Comecei a suar ao notar aqueles três pares de olhos me examinando atentamente. Tudo bem, Joe e eu não éramos realmente um casal, mas sua família acreditava que sim e me estudava, me avaliando na expectativa de que eu fosse – ou não – boa o bastante para ele.
A mãe de Joe era um pouco mais alta que eu e exibia cachos negros e anelados, que caíam na altura dos ombros. Seu pai era alto, embora um pouco menor que o filho mais velho, e tinha os cabelos tão escuros quanto os de Joe, os mesmos olhos verdes e uma barriguinha redonda e pontuda, que deixava sua figura simpática. O garoto era quase tão bonito quanto Joe, porém muito mais jovem, talvez tivesse uns dezoito anos. Eu não fazia ideia de sua estatura, já que ele estava sentado em uma cadeira de rodas, embora não houvesse gesso ou ataduras em nenhuma parte de seu corpo.
– Essa é a minha família. Minha mãe, meu pai e o Justin – anunciou Joe, ainda segurando minha mão. Ele sorria largamente, os olhos brilhavam de contentamento e prazer ao me apresentar para família. – Essa é a minha Demetria.
Prendi a respiração, meu coração se acelerou e de repente a sala começou a girar rápido demais. A sua Demetria?
A mãe dele sorriu, o pai me estendeu a mão e o irmão assobiou. O pai riu, ainda apertando minha mão. Joe deu um peteleco no topo da cabeça do garoto.
– Ai! – gemeu Justin. – Ela é gata! O que você quer que eu diga?
– Quero que fique calado. – Então Joe se virou para mim com uma careta divertida no rosto. – Desculpa, Demetria. Meu irmão bateu forte com a cabeça recentemente.
– Ei! Isso não foi engraçado! – ralhou o garoto.
– Sou Paul Jonas – o pai de Joe se apresentou formalmente. – É um prazer te conhecer.
– Demetria Lovato – respondi um pouco acanhada. – Muito prazer, sr. Paul.
– O Joe disse que você era bonita – resmungou Justin –, mas não imaginei que fosse tanto! Pensei que ele estivesse se gabando.
– Justin! – sua mãe lhe lançou um olhar fulminante.
– Só to dizendo... – ele deu de ombros.
– Não ligue pra ele, é efeito dos remédios. É um prazer finalmente te conhecer – ela me abraçou com ternura. Fiquei um pouco surpresa e extremamente satisfeita, pois não recebia um abraço como aquele, de mãe, desde... bom... desde os cinco anos, para ser exata.
– Prazer em te conhecer... hã...
Ela me soltou, ainda sorrindo.
– Denise.
– E eu sou Justin, o insignificante. Será que dá pra alguém pegar alguma coisa pra eu beber?
Joe revirou os olhos, voltando para a cozinha.
– Olha só! Você tem o mesmo senso de humor do seu irmão – zombei.
Ele abriu o que me pareceu ser um sorriso sedutor.
– Só se você gostar de caras mal-humorados, gata – e piscou um dos olhos.
– Justin, eu já te avisei... – Joe gritou da cozinha.
– Não liga pra ele Demetria – me disse o garoto. – O Joe não suporta concorrência.
Joe já estava de volta com um copo de refrigerante, que entregou ao irmão, depois se colocou ao meu lado. Para minha surpresa, passou o braço em minha cintura, me trazendo para perto, num gesto quase distraído que achei um pouco possessivo e, sem entender o porquê, adorei.
– Meu irmão adora se exibir. Quando era menor, a gente achava bonitinho. Agora é irritante – Joe me disse sorrindo. – Depois de um tempo, você se acostuma com a presença dele. Acredite.
– Só porque estou preso nessa maldita cadeira, não quer dizer que não posso fazer você lamber o chão, Joe – Justin retrucou irritado.
– Ah, eu sei disso – ele riu, mas não era deboche. Era carinho paternalista ou algo assim.
Eu mal respirava. Temia que se me movimentasse, o pouco que fosse, Joe se daria conta que teria me abraço e se afastaria. Eu precisava dele naquele momento.
– O jantar já vai ser servido – Joe anunciou, depois olhou para mim. – Pode me ajudar?
– Claro – e o segui, de mão dadas, até a cozinha.
Ele me soltou assim que saímos da vista curiosa de sua família.
– Sua Demetria? – perguntei apressada.
– Ah, eu... não queria mentir para eles dizendo que você era minha namorada ou... – ele desviou os olhos para os próprios pés. – Desculpa, eu não sabia o que dizer. Saiu sem pensar.
– Caramba, Joe! Você devia ter me avisado que eles iam vir. Eles devem estar me achando uma trombadinha. – Passei a mão pelos fios embaraçados e acabei desistindo rapidamente. Não havia como soltar os nós sem lavar os cabelos.
– Você está linda. Você sempre está linda. Mas temos um problema – anunciou ele um bocado nervoso. – Eu tentei te ligar para avisar. Minha família vai passar a noite aqui.
– Aqui na cidade? – Experimentei.
– É – ele hesitou. – Mas eu quis dizer aqui... no apartamento.
– E... onde eles vão dormir? – perguntei estupidamente.
– Minha mãe e meu irmão vão dormir no seu quarto. Meu pai fica com o sofá.
Nós nos encaramos por alguns segundos.
– E eu vou dormir onde? – vergonhosamente, minha voz tremeu.
– Comigo – ele vacilou um pouco e continuou. – No meu quarto se você não se importar.
Engoli em seco. Eu sentia que Joe estava tão nervoso quanto eu acabara de ficar. E podia jurar que ele também estava com o coração arrebentando contra as costelas.
– Mas... hã... na mesma cama? – Tudo bem, eu admito, meu raciocínio foi para as cucuias ao ouvir as palavras “comigo” e “no meu quarto”.
– Desculpa, Demetria – ele correu a mão pelos cabelos sedosos. – Sei que foge um pouco do nosso acordo, mas eu não tive opção. Posso dormir no chão, se você preferir. Não pude dizer não a eles. E seria estranho a gente não dormir no mesmo quarto, quando eles pensam que temos um relacionamento. Minha mãe já me encheu de perguntas sobre suas coisas estarem no outro quarto. – Ele se aproximou um pouco. Eu me afastei um passo. – Eu posso...
– Ai! – Somente quando espetei o dedo na ponta da faca sobre a pia me dei conta de que havia me agarrado a ela para não cair. – Merda! – Uma pequena linha rubra escorreu por meu dedo indicador.
– Me deixa ver – pediu ele, se apossando de minha mão, limpando o ferimento com um pano de prato e depois o examinando atentamente. Num gesto pra lá de inesperado levou meu dedo à boca e o acomodou ali dentro. Era macia, úmida e muito quente. Dezenas de pulsos elétricos percorreram o meu corpo, minhas pernas se transformaram em gelatina e eu não conseguia lembrar como se respirava. Ele sugou meu dedo com tanta delicadeza e simplicidade que não pude imaginar algo mais erótico que aquele toque. Meu corpo derretia como manteiga esquecida sobre a mesa, e em segundos eu estava em chamas. E queria que aquela boca me tocasse em tantos lugares quanto pudesse alcançar.
Ele soltou minha mão, examinou o dedo e sorriu.
– Parou de sangrar. Foi só um arranhão.
– Ãrrã – murmurei.
Joe e eu na mesma cama. Joe e eu na mesma cama. Joe e eu na mesma cama!
Nada de mais, apenas dois amigos dormindo juntos. Nada com que me preocupar. Joe não vai me atacar, já que é um perfeito cavalheiro. Ele não vai me atacar... Droga! Ele não vai me atacar!
– Está tudo bem? Você está um pouco pálida.
– S-só preciso beber alguma coisa. Não almocei hoje.
Ele se apressou a me servir um grande copo de refrigerante. Virei tudo de uma vez, o gás fez meus olhos lagrimejarem.
– Onde você estava? – Ele questionou.
– Depois eu te conto. Sua família está esperando. Vamos levar o jantar.
Ele me avaliou por um segundo, não pareceu gostar da delonga, mas acabou concordando. Ajudei levando os pratos, e Joe cuidou da grande travessa de massas.
– Talharim à carbonara – anunciou. – Foi o que deu pra fazer em pouco tempo.
– Tá com uma cara ótima! – Denise exclamou.
– Já não era sem tempo! Eu tô varado de fome! – resmungou Justin, virando sua cadeira com um pouco de dificuldade, devido ao pouco espaço da sala, e se dirigindo à mesa quadrada.
Paul sacudiu a cabeça.
– Eu juro que tentamos educar esse menino, Demetria.
Eu ri.
– Tenho certeza.
– É que o Justin precisa de muita comida pra crescer e ficar forte – ele continuou.
– Eu já sou adulto, pai! – o rapaz protestou.
– Infelizmente – Joe disse, espalhando as talhares pela toalha branca. – Tudo era mais fácil quando você era um menino bonitinho que vivia agarrado a carrinhos de ferro.
Nós cinco nos esprememos na pequena mesa de cinco lugares. Acabei entre Joe e Justin, mas o garoto pouco falou. Parecia que não se alimentava havia semanas, pela maneira afoita como levava a comida à boca. E, apesar da massa estar deliciosa – Joe era brilhante em tudo que fazia, não sei por que me surpreendi com seus dotes culinários –, mal consegui tocar na comida. Meu estômago parecia estar cheio de cimento.
– Agora que a Demetria chegou, pode nos dizer o que te deixou tão feliz, Joe? – pediu seu pai.
– Já contei pra ela – ele sorriu pra mim.
Não pude deixar de corresponder. Joe era tão lindo! Como não sorrir ao olhar pra ele?
– O Hector, presidente da L&L, me chamou hoje de manhã – ele contou, voltando a atenção para sua família. – Disse que gostou muito do que consegui fazer no Comex nesse último semestre. Vou disputar a vaga de diretor do setor – e me passou uma taça de vinho.
Tomei tudo num gole só, nervosa. Os pais de Joe eram bem normais, mas achavam que eu era a namorada – ou algo que o valha – de seu filho, por isso se sentiam no direito de me encarar e observar cada gesto meu.
– Isso é maravilhoso, filho! – Denise disse com um sorriso imenso.
– Eu sabia que você ia conseguir – gabou-se Paul.
– Tudo só vai ser decidido na sexta-feira, mas acho que tenho boas chances de ser o novo diretor de comércio exterior. Eu dei duro pra isso.
– Sexta? – questionei.
Ele arqueou as sobrancelhas.
– O jantar, esqueceu? Com o pessoal da diretoria?
– Ah! Eu tinha esquecido. Sexta-feira, claro. – Estendi minha taça para ele, que a encheu outra vez. Joe realmente sabia escolher um bom vinho.
– Você parece abatida, Demetria – comentou Denise. – Está tudo bem?
Não, não está. E acho que vai piorar muito antes que eu consiga arrumar tudo.
– Está. Só não pude almoçar hoje. Correria, sabe como é...
Ela sorriu.
– Sei sim, mas você não devia permitir que o trabalho interfira na sua saúde. Pode ser perigoso.
Sorri, deliciada com sua preocupação maternal.
– Então... – Justin, que finalmente tinha a boca vazia por alguns segundos, aproveitou para puxar conversa. – Como foi que o Joe conseguiu uma gata como você?
Ah, que inferno. Demorou, mas alguém teve coragem de perguntar.
– Não é da sua conta – Joe retrucou, olhando para o próprio prato.
– Joe! – reclamou seu pai – Isso não são modos.
– Minha vida particular não interessa a ninguém.
– Isso não é verdade, filho – interveio Denise. – Você é parte dessa família e sua felicidade nos importa, sim.
Ele hesitou, visivelmente preocupado.
– Tudo bem – toquei seu braço. – Não tem problema contar os para seus pais. Eu não me importo.
– Eu prefiro deixar tudo como está – ele levantou uma sobrancelha.
Entendendo o recado, eu disse:
– Qual é, Joe? Que mal há em contar pra eles como nos conhecemos? – sorri, tentando parecer tranquila.
Ele me fitou, me lançando um olhar de cautela. Assenti brevemente para assegurar a ele que eu tinha tudo sobre controle. Afinal, tínhamos mesmo uma história. Eu não estava mentindo em nada. Não totalmente.
– Eu conheci o Joe no meu primeiro dia de trabalho – comecei. Quatro pares de olhos grudaram em mim. O de Joe era o mais atento. – Trombei com ele no corredor.
– Que jeito mais besta de conhecer o grande amor da sua vida – Justin zombou.
Corei. Não ousei olhar para Joe, mas senti que ele enrijeceu ao meu lado. De onde o garoto tirou aquela ideia? , me perguntei, sem encontrar resposta.
– Bom... – continuei – eu tinha acabado de sair da sala da copiadora, não sei se o Joe já contou sobre a sala treze. Ela é apavorante. Claustrofóbica e quente com um grande caldeirão... Eu tinha uma pilha de papéis nas mãos e estava furiosa com a minha supervisora, a Joyce, aquele doce de pessoa, por ter me chamado de meu bem. Odeio quando me chamam assim. Eu estava distraída andando pelos corredores e acabei colidindo com o seu irmão. Meus papéis e os dele caíram no chão.
– Que clichê – Justin disse, enfiando mais comida na boca.
– É, bem ridículo mesmo. Então o Joe, muito gentil e educado – olhei para ele rapidamente e um pequeno sorriso debochado brincou em seus lábios, se mostrando mais relaxado –, me ajudou a recolher tudo. Mas eu estava furiosa com a Joyce, lembra? – Justin assentiu. – e decidi mostrar que ela não podia ficar me chamando de meu bem pra lá e pra cá. Então incluí, no meio dos papéis que eu tinha xerocado, uma cópia do meu... hã...
– Da sua bunda? – o garoto perguntou, mais interessado.
– Justin! – Denise e Paul censuraram.
Eu ri.
– Ia dizer traseiro... E o Joe encontrou essa cópia. Acho que foi assim que consegui chamar a atenção dele – brinquei.
– Não posso discordar – Joe disse, sorrindo divertido.
– Uau! – Justin encarou o irmão com os olhos brilhantes, cheios de orgulho. – Cara, você tem tanta sorte! Guardou a cópia? Posso ver?
– Justin! – censurou Joe.
– Vocês viram o jogo de quarta-feira? Que palhaçada foi aquela? – Paul tentou mudar de assunto.
Deu certo. Joe se lançou numa animada conversa sobre futebol. Ele adorava esportes, e seus pais compartilhavam do mesmo entusiasmo. Para minha surpresa, Denise era a maior entusiasta futebolística que eu já tinha conhecido.
Justin ficou calado, à margem da conversa, com o olhar distante.
– Ele não quis te chatear, Justin – comentei baixinho, sem querer interromper a conversa familiar.
– Ah, eu sei – ele sorriu um pouco. Era tão parecido com Joe que chegava a ser assustador. – Eu estava pensando no futebol. Se um dia vou voltar a jogar.
– Ah – eu disse, um pouco constrangida.
– Foi no ano passado – ele falou.
– O quê?
– Você deve estar se perguntando como um gato feito eu acabou numa geringonça como essa – ele fez um amplo gesto com a cadeira de rodas. – Foi num acidente no ano passado. Fraturei algumas coisas, incluindo duas vértebras.
– Eu sinto muito.
– Eu também. Mas não sei se posso reclamar. Era pra eu ter morrido, segundo os médicos, e já melhorei bastante depois do acidente. Minha ortopedista disse que talvez exista uma esperança. Parece que a fratura na coluna não foi das piores, e talvez, depois que o inchaço desaparecer, eu consiga mover as pernas. O Joe faz tudo que pode pras minhas chances aumentarem.
– É mesmo? – Mas, de alguma forma, eu já sabia. Claro que Joe faria o impossível para ajudar o irmão caçula.
– É óbvio que tive que aguentar um sermão digno de novela mexicana antes disso – ele revirou os olhos. – Mas ele é um bom irmão. Me visita sempre, mesmo sendo tão ocupado, me liga todos os dias, paga todo o meu tratamento, minha fisioterapia, meus remédios. Meu pai é aposentado, sabe como é... – ele deu de ombros.
Eu fazia uma vaga ideia.
– Então, quer dizer que vocês dependem dele financeiramente – apontei. – Dependem do bom emprego do Joe.
– Eu não usaria essa palavra – ele empertigou um pouco, seu orgulho ferido. Era como olhar para um Joe mais jovem, só que de cabelos claros. – Mas sem a ajuda dele eu não poderia fazer o tratamento. E a Dra. Olenka está bem confiante no meu caso, acha que tem uma possibilidade de eu voltar a andar. Uma chance pequena, é verdade, mas eu não me importo. Uma é melhor que nenhuma, certo? – ele me disse, com os olhos transbordando de determinação.
Oh, Deus! Joe precisava muito do emprego.
Eu não valia nada. Ferrava com a carreira de Joe, tirando a chance de melhora de seu irmão paraplégico, e mentia para seus pais, fingindo que Joe e eu éramos um casal. Eu era um verme. Pior! Era o verme que comia lagartas.
– Então, Demetria, quando eu estiver andando todo gato por aí, talvez você queira repensar. Talvez decida lagar esse cara mal-humorado e experimentar o que há de melhor nos homens Jonas– ele deu uma piscadela.
Tentei sorrir.
– Tentador, Justin. Mas vou recusar o convite. Gosto demais do seu irmão. – Infelizmente, a conversa sobre futebol cessara subitamente e, todos ouviram o fim da nossa conversa.
Inclusive Joe, que me lançou um olhar indecifrável. Corei. A força que emanava de seus olhos me fez estremecer. Baixei os olhos para minhas mãos, absolutamente constrangida. Então, me pegando desprevenida, seu braço grande e forte enlaçou minha cintura, e Joe plantou um beijo quente e demorado no alto de minha cabeça.
Arrepios subiram e desceram por minha coluna. Senti como se tivesse sido marcada a ferro nos pontos onde seus dedos e lábios me tocaram.
Subitamente bem-humorado, Joe se dirigiu ao irmão:
– Eu te deixo um segundo com a Demetria e você já está dando em cima dela. O que eu faço com você, Justin?
O garoto não pareceu ofendido com a minha recusa ou com a censura do irmão.
– Tudo bem, Joe. Não vou jogar meu charme pra cima dela. Seria injusto com você – ele sorriu. – Mas só vou fazer isso porque a Demetria é gente boa e é a primeira garota que você apresenta pra família. Deve estar louco por ela.
Dessa vez, foi Joe que corou.
– Para de perturbar seu irmão, Justin – disse Denise, sorrindo um pouco.
A conversa sobre futebol foi retomada e, meu Deus, foi difícil acompanhar. Os Jonas falavam todos ao mesmo tempo e ainda assim se entendiam perfeitamente. Eu pouco participei. Como poderia? Depois daquele abraço carinhoso  e aquele beijo casto, Joe achou que o espaldar da minha cadeira era um bom lugar para descansar o braço e que meu ombro era um ótimo lugar para sua mão. Fiquei observando-o, me deliciando com sua mão distraída, que acariciava meu ombro num delicioso sobe e desce, e imaginei se ele estaria tão zonzo quanto eu. Provavelmente não.
Ele estava absorto na conversa, mas de alguma forma percebeu que eu o fitava.
– Estamos te entediando? – perguntou num tom carinhoso.
– Não. Estou me divertindo muito – me obriguei a sorrir.
Ele não se enganou e notou minha agitação. Sempre notava. Como ele percebia tantas coisas em mim? No entanto, não disse nada, apenas apertou meu ombro de um jeito carinhoso e continuou o papo, sorrindo vez ou outra pra mim, daquele jeito íntimo e cúmplice – e perigoso.
Imaginei que ele estava atuando novamente. Só podia ser isso. Ele já havia me alertado sobre a possibilidade de jantares, nos quais deveríamos parecer loucos de amor um pelo outro. Talvez eu devesse perguntar a ele sobre isso quando estivéssemos a sós. O que aconteceria ainda aquela noite. Quando ficaríamos totalmente sozinhos em seu quarto. 
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Capítulo super big pra vocês, com mais uma vez um Joe super fofo, enfim apareceu a familia Jonas e gente eles são bem malucos e muito gentis lembra um pouco a minha que é bem grande e bagunçada uma loucura.  

Um comentário:

  1. Entendi agora porque demorei a ler o capítulo é big e muito fofo. E sei que existem coisas que não se fingem como o carinho e eu gosto muito do teu irmão, mas só a Demi não nota só eles não notam qie já parecem um casal apaixonado que não se beija (parte má) quero mais

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