Lentamente, deixei o
cemitério com o coração um pouco mais leve. Talvez falasse sobre os problemas
realmente ajudasse. Eu descobriria isso em pouco tempo. Contar a Joe o que o
Clóvis havia dito seria difícil. De uma forma perturbadora, eu não queria que
ele me odiasse, coisa que certamente aconteceria se ele tivesse sua preciosa
carreira arruinada por minha culpa. Eu o conhecia pouco, mas estava ciente de
quanto valorizava seu trabalho. Ele não havia se casado comigo para conseguir
uma promoção?
Eu não estava tão longe de
casa – da casa de Joe, quero dizer –, de modo que decidi caminhar até lá. As
ruas já começaram a ficar apinhadas de gente voltando do trabalho, e tanto o
ônibus quanto o metro estariam lotados. Eu não estava no clima de ser amassada
e ficar rodeada de gente ouvindo hap no último volume. Foram duas horas de
caminhada, o que achei bom. Tive tempo para pensar em como iniciar a conversa
com Joe. Durante o percurso, a noite deu as caras e me abraçou, acolhedora.
Logo que entrei em casa,
Joe surgiu na cozinha com um pano de prato no ombro. Os dois primeiros botões
da camisa branca estavam abertos, as mangas dobradas e as gravatas de fora.
– Demetria! – ele suspirou.
– Você não atendeu o celular. Fiquei preocupado.
– Você está cozinhando? – O
cheiro era fantástico!
– Estou. Temos visitas –
ele disse apressado enquanto analisava meu rosto. Provavelmente eu não estava
lá muito atraente, com os olhos inchados pelo choro e os cabelos embaraçados
pela caminhada ao vento. – Você está bem?
Não!
– Visitas...? – Era tudo o
que eu precisava naquele momento.
Ele sorriu, um sorriso
íntimo, meio torto. Um arrepio subiu por minha coluna. Eu tinha que pedir para
Joe parar de fazer aquilo. Meus nervos já estavam em frangalhos!
– Meus pais e meu irmão
estão aqui – ele sussurrou, então pegou minha mão e retirou minha aliança,
guardando-a no bolso de seu jeans. Notei que a dele não estava em seu dedo. –
Te devolvo depois. Quero te apresentar para eles e acho que ainda não devemos
contar que nos casamos. Vem – e começou a me puxar para a sala.
– Mas
eu preciso...
Não pude dizer mais nada,
porque Joe me arrastou até a sala, e de repente me deparei com três rostos
sorridentes. Comecei a suar ao notar aqueles três pares de olhos me examinando
atentamente. Tudo bem, Joe e eu não éramos realmente um casal, mas sua família
acreditava que sim e me estudava, me avaliando na expectativa de que eu fosse –
ou não – boa o bastante para ele.
A mãe de Joe era um pouco
mais alta que eu e exibia cachos negros e anelados, que caíam na altura dos
ombros. Seu pai era alto, embora um pouco menor que o filho mais velho, e tinha
os cabelos tão escuros quanto os de Joe, os mesmos olhos verdes e uma
barriguinha redonda e pontuda, que deixava sua figura simpática. O garoto era
quase tão bonito quanto Joe, porém muito mais jovem, talvez tivesse uns dezoito
anos. Eu não fazia ideia de sua estatura, já que ele estava sentado em uma
cadeira de rodas, embora não houvesse gesso ou ataduras em nenhuma parte de seu
corpo.
– Essa é a minha família.
Minha mãe, meu pai e o Justin – anunciou Joe, ainda segurando minha mão. Ele
sorria largamente, os olhos brilhavam de contentamento e prazer ao me
apresentar para família. – Essa é a minha Demetria.
Prendi a respiração, meu
coração se acelerou e de repente a sala começou a girar rápido demais. A sua
Demetria?
A mãe dele sorriu, o pai me
estendeu a mão e o irmão assobiou. O pai riu, ainda apertando minha mão. Joe
deu um peteleco no topo da cabeça do garoto.
– Ai! – gemeu Justin. – Ela
é gata! O que você quer que eu diga?
– Quero que fique calado. –
Então Joe se virou para mim com uma careta divertida no rosto. – Desculpa,
Demetria. Meu irmão bateu forte com a cabeça recentemente.
– Ei! Isso não foi
engraçado! – ralhou o garoto.
– Sou Paul Jonas – o pai de
Joe se apresentou formalmente. – É um prazer te conhecer.
– Demetria Lovato –
respondi um pouco acanhada. – Muito prazer, sr. Paul.
– O Joe disse que você era
bonita – resmungou Justin –, mas não imaginei que fosse tanto! Pensei que ele
estivesse se gabando.
– Justin! – sua mãe lhe
lançou um olhar fulminante.
– Só to dizendo... – ele
deu de ombros.
– Não
ligue pra ele, é efeito dos remédios. É um prazer finalmente te conhecer – ela
me abraçou com ternura. Fiquei um pouco surpresa e extremamente satisfeita,
pois não recebia um abraço como aquele, de mãe, desde... bom... desde os cinco
anos, para ser exata.
– Prazer em te conhecer...
hã...
Ela me soltou, ainda
sorrindo.
– Denise.
– E eu sou Justin, o
insignificante. Será que dá pra alguém pegar alguma coisa pra eu beber?
Joe revirou os olhos,
voltando para a cozinha.
– Olha só! Você tem o mesmo
senso de humor do seu irmão – zombei.
Ele abriu o que me pareceu
ser um sorriso sedutor.
– Só se você gostar de
caras mal-humorados, gata – e piscou um dos olhos.
– Justin, eu já te
avisei... – Joe gritou da cozinha.
– Não liga pra ele Demetria
– me disse o garoto. – O Joe não suporta concorrência.
Joe já estava de volta com
um copo de refrigerante, que entregou ao irmão, depois se colocou ao meu lado.
Para minha surpresa, passou o braço em minha cintura, me trazendo para perto,
num gesto quase distraído que achei um pouco possessivo e, sem entender o
porquê, adorei.
– Meu irmão adora se
exibir. Quando era menor, a gente achava bonitinho. Agora é irritante – Joe me
disse sorrindo. – Depois de um tempo, você se acostuma com a presença dele.
Acredite.
– Só porque estou preso
nessa maldita cadeira, não quer dizer que não posso fazer você lamber o chão,
Joe – Justin retrucou irritado.
– Ah, eu sei disso – ele
riu, mas não era deboche. Era carinho paternalista ou algo assim.
Eu mal respirava. Temia que
se me movimentasse, o pouco que fosse, Joe se daria conta que teria me abraço e
se afastaria. Eu precisava dele naquele momento.
– O jantar já vai ser
servido – Joe anunciou, depois olhou para mim. – Pode me ajudar?
– Claro – e o segui, de mão
dadas, até a cozinha.
Ele me
soltou assim que saímos da vista curiosa de sua família.
– Sua Demetria? – perguntei
apressada.
– Ah, eu... não queria
mentir para eles dizendo que você era minha namorada ou... – ele desviou os
olhos para os próprios pés. – Desculpa, eu não sabia o que dizer. Saiu sem
pensar.
– Caramba, Joe! Você devia
ter me avisado que eles iam vir. Eles devem estar me achando uma trombadinha. –
Passei a mão pelos fios embaraçados e acabei desistindo rapidamente. Não havia
como soltar os nós sem lavar os cabelos.
– Você está linda. Você
sempre está linda. Mas temos um problema – anunciou ele um bocado nervoso. – Eu
tentei te ligar para avisar. Minha família vai passar a noite aqui.
– Aqui na cidade? –
Experimentei.
– É – ele hesitou. – Mas eu
quis dizer aqui... no apartamento.
– E... onde eles vão
dormir? – perguntei estupidamente.
– Minha mãe e meu irmão vão
dormir no seu quarto. Meu pai fica com o sofá.
Nós nos encaramos por
alguns segundos.
– E eu vou dormir onde? –
vergonhosamente, minha voz tremeu.
– Comigo – ele vacilou um
pouco e continuou. – No meu quarto se você não se importar.
Engoli em seco. Eu sentia
que Joe estava tão nervoso quanto eu acabara de ficar. E podia jurar que ele
também estava com o coração arrebentando contra as costelas.
– Mas... hã... na mesma
cama? – Tudo bem, eu admito, meu raciocínio foi para as cucuias ao ouvir as
palavras “comigo” e “no meu quarto”.
– Desculpa, Demetria – ele
correu a mão pelos cabelos sedosos. – Sei que foge um pouco do nosso acordo,
mas eu não tive opção. Posso dormir no chão, se você preferir. Não pude dizer
não a eles. E seria estranho a gente não dormir no mesmo quarto, quando eles
pensam que temos um relacionamento. Minha mãe já me encheu de perguntas sobre
suas coisas estarem no outro quarto. – Ele se aproximou um pouco. Eu me afastei
um passo. – Eu posso...
– Ai!
– Somente quando espetei o dedo na ponta da faca sobre a pia me dei conta de
que havia me agarrado a ela para não cair. – Merda! – Uma pequena linha rubra
escorreu por meu dedo indicador.
– Me deixa ver – pediu ele,
se apossando de minha mão, limpando o ferimento com um pano de prato e depois o
examinando atentamente. Num gesto pra lá de inesperado levou meu dedo à boca e
o acomodou ali dentro. Era macia, úmida e muito quente. Dezenas de pulsos
elétricos percorreram o meu corpo, minhas pernas se transformaram em gelatina e
eu não conseguia lembrar como se respirava. Ele sugou meu dedo com tanta
delicadeza e simplicidade que não pude imaginar algo mais erótico que aquele
toque. Meu corpo derretia como manteiga esquecida sobre a mesa, e em segundos
eu estava em chamas. E queria que aquela boca me tocasse em tantos lugares
quanto pudesse alcançar.
Ele soltou minha mão,
examinou o dedo e sorriu.
– Parou de sangrar. Foi só
um arranhão.
– Ãrrã – murmurei.
Joe e eu na mesma cama. Joe
e eu na mesma cama. Joe e eu na mesma cama!
Nada de mais, apenas dois
amigos dormindo juntos. Nada com que me preocupar. Joe não vai me atacar, já
que é um perfeito cavalheiro. Ele não vai me atacar... Droga! Ele não vai me
atacar!
– Está tudo bem? Você está
um pouco pálida.
– S-só preciso beber alguma
coisa. Não almocei hoje.
Ele se apressou a me servir
um grande copo de refrigerante. Virei tudo de uma vez, o gás fez meus olhos
lagrimejarem.
– Onde você estava? – Ele
questionou.
– Depois eu te conto. Sua
família está esperando. Vamos levar o jantar.
Ele me avaliou por um
segundo, não pareceu gostar da delonga, mas acabou concordando. Ajudei levando
os pratos, e Joe cuidou da grande travessa de massas.
– Talharim à carbonara –
anunciou. – Foi o que deu pra fazer em pouco tempo.
– Tá com uma cara ótima! –
Denise exclamou.
– Já
não era sem tempo! Eu tô varado de fome! – resmungou Justin, virando sua
cadeira com um pouco de dificuldade, devido ao pouco espaço da sala, e se
dirigindo à mesa quadrada.
Paul sacudiu a cabeça.
– Eu juro que tentamos
educar esse menino, Demetria.
Eu ri.
– Tenho certeza.
– É que o Justin precisa de
muita comida pra crescer e ficar forte – ele continuou.
– Eu já sou adulto, pai! –
o rapaz protestou.
– Infelizmente – Joe disse,
espalhando as talhares pela toalha branca. – Tudo era mais fácil quando você
era um menino bonitinho que vivia agarrado a carrinhos de ferro.
Nós cinco nos esprememos na
pequena mesa de cinco lugares. Acabei entre Joe e Justin, mas o garoto pouco
falou. Parecia que não se alimentava havia semanas, pela maneira afoita como
levava a comida à boca. E, apesar da massa estar deliciosa – Joe era brilhante
em tudo que fazia, não sei por que me surpreendi com seus dotes culinários –,
mal consegui tocar na comida. Meu estômago parecia estar cheio de cimento.
– Agora que a Demetria
chegou, pode nos dizer o que te deixou tão feliz, Joe? – pediu seu pai.
– Já contei pra ela – ele
sorriu pra mim.
Não pude deixar de
corresponder. Joe era tão lindo! Como não sorrir ao olhar pra ele?
– O Hector, presidente da
L&L, me chamou hoje de manhã – ele contou, voltando a atenção para sua
família. – Disse que gostou muito do que consegui fazer no Comex nesse último
semestre. Vou disputar a vaga de diretor do setor – e me passou uma taça de
vinho.
Tomei tudo num gole só,
nervosa. Os pais de Joe eram bem normais, mas achavam que eu era a namorada –
ou algo que o valha – de seu filho, por isso se sentiam no direito de me
encarar e observar cada gesto meu.
– Isso é maravilhoso,
filho! – Denise disse com um sorriso imenso.
– Eu sabia que você ia
conseguir – gabou-se Paul.
– Tudo
só vai ser decidido na sexta-feira, mas acho que tenho boas chances de ser o
novo diretor de comércio exterior. Eu dei duro pra isso.
– Sexta? – questionei.
Ele arqueou as
sobrancelhas.
– O jantar, esqueceu? Com o
pessoal da diretoria?
– Ah! Eu tinha esquecido.
Sexta-feira, claro. – Estendi minha taça para ele, que a encheu outra vez. Joe
realmente sabia escolher um bom vinho.
– Você parece abatida,
Demetria – comentou Denise. – Está tudo bem?
Não, não está. E acho que
vai piorar muito antes que eu consiga arrumar tudo.
– Está. Só não pude almoçar
hoje. Correria, sabe como é...
Ela sorriu.
– Sei sim, mas você não
devia permitir que o trabalho interfira na sua saúde. Pode ser perigoso.
Sorri, deliciada com sua
preocupação maternal.
– Então... – Justin, que
finalmente tinha a boca vazia por alguns segundos, aproveitou para puxar
conversa. – Como foi que o Joe conseguiu uma gata como você?
Ah, que inferno. Demorou,
mas alguém teve coragem de perguntar.
– Não é da sua conta – Joe
retrucou, olhando para o próprio prato.
– Joe! – reclamou seu pai –
Isso não são modos.
– Minha vida particular não
interessa a ninguém.
– Isso não é verdade, filho
– interveio Denise. – Você é parte dessa família e sua felicidade nos importa,
sim.
Ele hesitou, visivelmente
preocupado.
– Tudo bem – toquei seu
braço. – Não tem problema contar os para seus pais. Eu não me importo.
– Eu prefiro deixar tudo
como está – ele levantou uma sobrancelha.
Entendendo
o recado, eu disse:
– Qual é, Joe? Que mal há
em contar pra eles como nos conhecemos? – sorri, tentando parecer tranquila.
Ele me fitou, me lançando
um olhar de cautela. Assenti brevemente para assegurar a ele que eu tinha tudo
sobre controle. Afinal, tínhamos mesmo uma história. Eu não estava mentindo em
nada. Não totalmente.
– Eu conheci o Joe no meu
primeiro dia de trabalho – comecei. Quatro pares de olhos grudaram em mim. O de
Joe era o mais atento. – Trombei com ele no corredor.
– Que jeito mais besta de
conhecer o grande amor da sua vida – Justin zombou.
Corei. Não ousei olhar para
Joe, mas senti que ele enrijeceu ao meu lado. De onde o garoto tirou aquela
ideia? , me perguntei, sem encontrar resposta.
– Bom... – continuei – eu
tinha acabado de sair da sala da copiadora, não sei se o Joe já contou sobre a
sala treze. Ela é apavorante. Claustrofóbica e quente com um grande
caldeirão... Eu tinha uma pilha de papéis nas mãos e estava furiosa com a minha
supervisora, a Joyce, aquele doce de pessoa, por ter me chamado de meu bem.
Odeio quando me chamam assim. Eu estava distraída andando pelos corredores e
acabei colidindo com o seu irmão. Meus papéis e os dele caíram no chão.
– Que clichê – Justin
disse, enfiando mais comida na boca.
– É, bem ridículo mesmo.
Então o Joe, muito gentil e educado – olhei para ele rapidamente e um pequeno
sorriso debochado brincou em seus lábios, se mostrando mais relaxado –, me
ajudou a recolher tudo. Mas eu estava furiosa com a Joyce, lembra? – Justin
assentiu. – e decidi mostrar que ela não podia ficar me chamando de meu bem pra
lá e pra cá. Então incluí, no meio dos papéis que eu tinha xerocado, uma cópia
do meu... hã...
– Da sua bunda? – o garoto
perguntou, mais interessado.
– Justin! – Denise e Paul
censuraram.
Eu ri.
– Ia dizer traseiro... E o
Joe encontrou essa cópia. Acho que foi assim que consegui chamar a atenção dele
– brinquei.
– Não posso discordar – Joe
disse, sorrindo divertido.
– Uau!
– Justin encarou o irmão com os olhos brilhantes, cheios de orgulho. – Cara,
você tem tanta sorte! Guardou a cópia? Posso ver?
– Justin! – censurou Joe.
– Vocês viram o jogo de
quarta-feira? Que palhaçada foi aquela? – Paul tentou mudar de assunto.
Deu certo. Joe se lançou
numa animada conversa sobre futebol. Ele adorava esportes, e seus pais
compartilhavam do mesmo entusiasmo. Para minha surpresa, Denise era a maior
entusiasta futebolística que eu já tinha conhecido.
Justin ficou calado, à
margem da conversa, com o olhar distante.
– Ele não quis te chatear,
Justin – comentei baixinho, sem querer interromper a conversa familiar.
– Ah, eu sei – ele sorriu
um pouco. Era tão parecido com Joe que chegava a ser assustador. – Eu estava
pensando no futebol. Se um dia vou voltar a jogar.
– Ah – eu disse, um pouco
constrangida.
– Foi no ano passado – ele
falou.
– O quê?
– Você deve estar se
perguntando como um gato feito eu acabou numa geringonça como essa – ele fez um
amplo gesto com a cadeira de rodas. – Foi num acidente no ano passado. Fraturei
algumas coisas, incluindo duas vértebras.
– Eu sinto muito.
– Eu também. Mas não sei se
posso reclamar. Era pra eu ter morrido, segundo os médicos, e já melhorei
bastante depois do acidente. Minha ortopedista disse que talvez exista uma
esperança. Parece que a fratura na coluna não foi das piores, e talvez, depois
que o inchaço desaparecer, eu consiga mover as pernas. O Joe faz tudo que pode
pras minhas chances aumentarem.
– É mesmo? – Mas, de alguma
forma, eu já sabia. Claro que Joe faria o impossível para ajudar o irmão
caçula.
– É óbvio que tive que
aguentar um sermão digno de novela mexicana antes disso – ele revirou os olhos.
– Mas ele é um bom irmão. Me visita sempre, mesmo sendo tão ocupado, me liga
todos os dias, paga todo o meu tratamento, minha fisioterapia, meus remédios. Meu
pai é aposentado, sabe como é... – ele deu de ombros.
Eu fazia uma vaga ideia.
– Então, quer dizer que
vocês dependem dele financeiramente – apontei. – Dependem do bom emprego do
Joe.
– Eu não usaria essa
palavra – ele empertigou um pouco, seu orgulho ferido. Era como olhar para um
Joe mais jovem, só que de cabelos claros. – Mas sem a ajuda dele eu não poderia
fazer o tratamento. E a Dra. Olenka está bem confiante no meu caso, acha que
tem uma possibilidade de eu voltar a andar. Uma chance pequena, é verdade, mas
eu não me importo. Uma é melhor que nenhuma, certo? – ele me disse, com os
olhos transbordando de determinação.
Oh, Deus! Joe precisava
muito do emprego.
Eu não valia nada. Ferrava
com a carreira de Joe, tirando a chance de melhora de seu irmão paraplégico, e
mentia para seus pais, fingindo que Joe e eu éramos um casal. Eu era um verme.
Pior! Era o verme que comia lagartas.
– Então, Demetria, quando
eu estiver andando todo gato por aí, talvez você queira repensar. Talvez decida
lagar esse cara mal-humorado e experimentar o que há de melhor nos homens
Jonas– ele deu uma piscadela.
Tentei sorrir.
– Tentador, Justin. Mas vou
recusar o convite. Gosto demais do seu irmão. – Infelizmente, a conversa sobre
futebol cessara subitamente e, todos ouviram o fim da nossa conversa.
Inclusive Joe, que me
lançou um olhar indecifrável. Corei. A força que emanava de seus olhos me fez
estremecer. Baixei os olhos para minhas mãos, absolutamente constrangida.
Então, me pegando desprevenida, seu braço grande e forte enlaçou minha cintura,
e Joe plantou um beijo quente e demorado no alto de minha cabeça.
Arrepios subiram e desceram
por minha coluna. Senti como se tivesse sido marcada a ferro nos pontos onde
seus dedos e lábios me tocaram.
Subitamente bem-humorado,
Joe se dirigiu ao irmão:
– Eu
te deixo um segundo com a Demetria e você já está dando em cima dela. O que eu
faço com você, Justin?
O garoto não pareceu
ofendido com a minha recusa ou com a censura do irmão.
– Tudo bem, Joe. Não vou
jogar meu charme pra cima dela. Seria injusto com você – ele sorriu. – Mas só
vou fazer isso porque a Demetria é gente boa e é a primeira garota que você
apresenta pra família. Deve estar louco por ela.
Dessa vez, foi Joe que
corou.
– Para de perturbar seu
irmão, Justin – disse Denise, sorrindo um pouco.
A conversa sobre futebol
foi retomada e, meu Deus, foi difícil acompanhar. Os Jonas falavam todos ao
mesmo tempo e ainda assim se entendiam perfeitamente. Eu pouco participei. Como
poderia? Depois daquele abraço carinhoso
e aquele beijo casto, Joe achou que o espaldar da minha cadeira era um
bom lugar para descansar o braço e que meu ombro era um ótimo lugar para sua
mão. Fiquei observando-o, me deliciando com sua mão distraída, que acariciava
meu ombro num delicioso sobe e desce, e imaginei se ele estaria tão zonzo
quanto eu. Provavelmente não.
Ele estava absorto na
conversa, mas de alguma forma percebeu que eu o fitava.
– Estamos te entediando? –
perguntou num tom carinhoso.
– Não. Estou me divertindo
muito – me obriguei a sorrir.
Ele não se enganou e notou
minha agitação. Sempre notava. Como ele percebia tantas coisas em mim? No
entanto, não disse nada, apenas apertou meu ombro de um jeito carinhoso e
continuou o papo, sorrindo vez ou outra pra mim, daquele jeito íntimo e
cúmplice – e perigoso.
Imaginei que ele estava atuando novamente.
Só podia ser isso. Ele já havia me alertado sobre a possibilidade de jantares,
nos quais deveríamos parecer loucos de amor um pelo outro. Talvez eu devesse
perguntar a ele sobre isso quando estivéssemos a sós. O que aconteceria ainda
aquela noite. Quando ficaríamos totalmente sozinhos em seu quarto.
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Capítulo super big pra vocês, com mais uma vez um Joe super fofo, enfim apareceu a familia Jonas e gente eles são bem malucos e muito gentis lembra um pouco a minha que é bem grande e bagunçada uma loucura.
Entendi agora porque demorei a ler o capítulo é big e muito fofo. E sei que existem coisas que não se fingem como o carinho e eu gosto muito do teu irmão, mas só a Demi não nota só eles não notam qie já parecem um casal apaixonado que não se beija (parte má) quero mais
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