Miley dominou a conversa no
almoço, me colocando a par da última bomba que caíra sobre a L&L. Ao que
parecia, a empresa estava perdendo vendas para o concorrente – de qualidade
inferior, mas com preço mais acessível -, e a diretoria estava arrancando os
cabelos por causa dos números, que só despencavam. A solução encontrada para o
problema havia sido reduzir a qualidade dos produtos, o que gerara um impasse.
Parte da diretoria se recusava a baixar a qualidade, a outra parte não via
problemas nisso.
– Não
acho uma boa solução – comentei enquanto Miley voltava para sua sala e eu
seguia rumo à copiadora. Ao que parecia, eu nunca me livraria daquela máquina.
– Os clientes confiam nos nossos produtos, sabem que podem comprar de olhos
fechados. Reduzir a qualidade aplicaria bem mais que perder o bom nome da
L&L Cosméticos. Perderíamos credibilidade. Deve ter outro jeito... Sei lá,
deveriam tentar outro caminho. De repente um plano de fidelização ou algo
assim.
– Como assim? – ela
inquiriu.
– Não sei. Talvez criar um
programa de acumulo de pontos ou trocas. Prender os consumidores pela qualidade
e dar a eles algum tipo de bônus. A gente podia trocar um número específico de
embalagens vazias por um novo produto ou... – dei de ombros. – Acho que estou
falando besteira, Miley. Não entendo nada de estratégia de vendas.
– Eu discordo – soou a voz
grave e tão, tão familiar atrás de mim.
Virei-me e lá estava Joe,
me avaliando a distância, os braços cruzados sobre o peito largo, um pequeno
sorriso cínico nos lábios.
– Acho que você entende
mais do que muitos de nós. – Ele se aproximou um pouco, ainda mantendo uma
distância segura. – Sua ideia pode ser uma alternativa viável. Gostaria de
ouvir mais sobre ela. Está ocupada agora?
O perfume dele me atingiu
como um bastão de aço. Estava em meu nariz, em minha pele, dentro de mim.
Estremeci com as doces lembranças, ainda tão recentes. Eu não queria falar com
ele – bom, claro que queria, mas não queria colocá-lo no meio daquilo tudo,
justo agora que ele estava livre da maldição de estar casado comigo. No
entanto, eu precisaria de sua ajuda naquela noite. A ideia de deixar um bilhete
em sua mesa era tentadora, porém não muito eficaz. Eu precisava que tudo
ocorresse conforme o planejado se pretendia continuar vivendo em liberdade.
– Hã... Tudo bem. Eu estava
mesmo querendo falar com você.
– Eu te acompanho – Joe
disse, ficando bem ao meu lado.
Miley sorriu e se afastou
rapidamente. Ele e eu seguimos em silêncio pelo corredor, rumo a saleta
claustrofóbica. Era como no início, dois estranhos que não sabiam o que dizer.
Joe fechou a porta assim que entramos.
Seus olhos brilhavam
intensamente, como dois sóis... só que impiedosos.
– Agora fale – ele exigiu,
se aproximando.
–
Sobre o programa de acúmulo de pontos? – tentei, dando um passo para trás
quando ele tentou chegar perto.
– Onde você passou a noite?
– ele perguntou sem rodeios, emanando raiva por todos os poros.
Engoli em seco.
– Com a Sel. Na casa dela –
murmurei. Meu peito subia e descia rápido demais.
– Só vocês duas?
– E a Mandy.
Ele assentiu brevemente.
– Já que assinamos os
papéis do divórcio, você não acha que precisamos resolver certas coisas?
– Não acho, não! – Aquilo
doía demais. Ele podia ao menos ter relutado um pouco mais. Lutado um pouco
mais, não é mesmo? – Você já assinou a porcaria da separação e resolveu tudo.
Com essa nova lei do divórcio, a essa altura já estamos oficialmente separados.
Não tem mais nada a ser discutido.
Joe suspirou, frustrado.
– Você conseguiu o que
queria, não conseguiu? – ele me analisava atentamente, como se procurasse algo
em meu rosto. – Era o que você queria, não era? – as duas esmeraldas
flamejantes não desgrudaram dos meus olhos um só instante. Havia mais naquela
pergunta, muito mais. Eu só não sabia o quê, exatamente.
– E você nem sequer
hesitou, Joe. Você podia ter tentado me enrolar? Não podia ter tentado me
convencer a continuar casada? Nãããão! Claro que não. Você estava doido pra
pular fora, e aproveitou a primeira oportunidade que caiu no seu colo pra se
livrar de mim!
– Eu só fiz o que você me
pediu! Foi você quem pediu o divórcio. Não posso obrigar ninguém a me amar, a
querer ficar do meu lado – ele bufou.
– Andei pensando sobre
nosso relacionamento. Ele começou errado. Nunca daria certo entre nós dois.
Você tem razão, não podemos ficar juntos. Eu não pertenço ao seu mundo.
Você é o meu mundo, seu
completo idiota!, eu quis dizer, mas, em vez disso, disse apenas:
– Seu completo idiota.
– Um
dia você vai ser dona de um império e de uma fortuna que eu nem consigo
calcular, e olha que cálculos são a minha especialidade. E eu sou um cara
simples que, por mais que lute e trabalhe, sempre será classe média.
– Eu não me importo.
– Mas eu me importo! Tem
muito mais que amor em um casamento. Tem confiança, respeito, admiração...
– Eu não acredito no que
você está dizendo! Quer dizer que, enquanto eu era pobre e ferrada, ah, tudo
bem me levar pra cama... Isso é fantástico, Joe! Maravilha!
– Eu não disse isso – ele
grunhiu. – Você está deturpando as coisas, como sempre.
– Eu não acredito em quanto
você está sendo ridículo! É só dinheiro!
– Um dinheiro que fez você
se casar comigo – apontou ele. – Um dinheiro que te levou a me abandonar, não
foi? – ele gritou, furioso, mas, apesar disso, seu olhar parecia questionador.
Era como se ele estivesse encenando, testando... Que estranho.
– Eu não te abandonei! É
você quem está pulando fora.
– Porque você pediu o
divórcio, cacete!
– Bom... pedi, mas eu tive
meus motivos. E você sabe muito bem que eu não tinha a intenção de ficar longe
de você. Foi você quem me expulsou da sua vida! Agora, custava muito bancar o
difícil só por alguns dias, até que eu... – parei de falar.
– Até que você...? – ele
perguntou, ansioso, os olhos intensamente brilhantes de expectativa.
Eu não podia contar a ele.
Não agora. Não tão perto de resolver tudo aquilo. Não podia colocá-lo novamente
no meio daquela confusão. Uma sensação estranha de déja vu apertou minha
garganta. Tentei ignorá-la.
– Que merda, Joe! – grunhi
furiosa, empurrando-o para tentar sair daquela sala antes que fizesse alguma
besteira. Ele nem se moveu.
Joe me avaliou por um
instante, a testa franzida, os lábios comprimidos em uma linha reta.
– O que está realmente
acontecendo, Demetria? – perguntou por fim, num sussurro.
Respirei fundo e ergui a
cabeça, até ficar com o nariz a centímetros do dele.
– Nada
que seja da sua conta. Você não é mais meu marido. Não lhe devo satisfações.
Ele estreitou os olhos, e
um quase sorriso brincou em seus lábios.
Seu celular tocou, Joe atendeu, sem jamais
desviar os olhos dos meus.
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oiii, então hoje estava pensando em postar mais 3 pra vocês , se não tivesse ido parar no hospital hoje, estou postando esse escondida da minha mãe e do meu namorado que estão na minha casa me vigiando( ninguém merece), mais se amanhã estiver pelo menos 80% bem posto 3 pra vocês, hoje estou apenas com um nível de exaustão acima do que posso aguentar, então é isso até amanhã.
Oxxi, amor o que aconteceu pra você precisar ir ao hospital?!
ResponderExcluiraaamando a história, pooosta loogo, pleease, xo
Melhoras pra você... O que houve pra você precisar ir para o hospital?
ResponderExcluirO capítulo está incrível.
Poste quando estiver melhor.
Beijos
Como assim hospital? Vc tá melhor?
ResponderExcluirA historia está muito boa pena q já tá chegando ao fim...
Ine