quarta-feira, 1 de maio de 2013

CAPÍTULO 21






-Diz que você vai se casar com aquele deus, por favor,Demi! – falou Sel enquanto tomávamos nosso café da manhã na cozinha organizada de Mandy.
-Não sei não Sel, o Joe é....insuportável – Tudo bem , talvez exagero de minha parte. Ele sempre dizia a coisa errada de maneira errada, mas não era a praga que eu havia imaginado.Não totalmente.
Eu havia passado a noite em claro contemplando minhas opções, revendo os prós e os contras de me casar com ele, e não chegara a conclusão alguma. Tentei inutilmente afastar da cabeça as imagens pertubadoras que meu subconsiente havia criado de Joe e eu na mesma cama. A questão era que ele realmente não fazia meu tipo, muito certinho e cheio de regras para o meu gosto. Não consegui compreender porque eu havia ficado tão intrigada a respeito da existência ou não de pelos em seu tórax. Ridículo!
-Os outros eram muito melhores que ele, claro – disse Sel com desdém.
-Você sabe que não.
-Eu acho que Joe tem razão. Ninguém ia desconfiar ... muito... se vocês se casassem. Ia ser o arranjo perfeito.
-Se ele fosse mudo, ia mesmo – apontei, tomando um gole de café com leite.
-Ninguém é perfeito. Se bem que o Joe, pelo menos por fora, chega bem perto – ela sorriu, suspirou e revirou os olhos, tudo ao mesmo tempo, depois se recompôs. – Veja a situação de outro ponto de vista. Do meu ponto de vista O Joe é bonito o bastante para alguém querer se casar com ele. Tem um bom emprego, casa própria e ficou louco quando conheceu você.
-Isso é verdade. Ele parecia um doido soltando os cachorros para cima de mim.
-Meninas, que dia maravilhoso! Perfeito para uma caminhada – exclamou Mandy, passando pela porta da cozinha com sacolas cheias de frutas penduradas nos braços e alguns envelopes nas mãos. – Ainda bem que eu só tenho paciente às dez hoje. Que caras são essas? O que vocês estão tramando para o final de semana? – ela colocou as sacolas sobre a mesa.
-Ainda estamos decidindo – respondeu Sel.
Sim, ainda estamos decidindo.Talvez eu me case, ou talvez pinte as unhas de azul.Não sei bem.
-Chegou uma carta para você Demetria. – disse Mandy, enquanto avaliava a correspondência.
-Sério? Clovis se dera ao trabalho de enviar uma correspondência para a casa da Sel? Por um momento me senti péssima por ter gritado com ele. E por ter dito coisas não muito agradáveis. O cara só estava tentando cumprir seu dever. A culpa não era dele se meu avô havia decidido me colocar numa situação daquelas.Suspirei exasperada.Talvez eu devesse ligar pra ele e pedir desculpas.
-Na verdade, chegaram várias. – ela me entregou uma pequena pilha. – Vou tomar uma ducha e preparar alguma coisa para comer. Comprei frutas, se quiserem experimentar uma vida saudável... – Ela beijou carinhosamente a bochecha de Sel, depois a minha e marchou para o banheiro.
Avaliei os envelopes, todos bancários.
Abri o primeiro: a fatura do meu American Express.
- Oh, Deus! To ferrada!
Minha dívida era estratosférica para o padrão de vida que eu estava levando. Nem economizando um ano de salário como assistente de secretária eu conseguiria pagar o valor mínimo daquela fatura. Nem me dei ao trabalho de abrir os outros envelopes. Eu sabia que o pior estava na fatura do Visa. Juntei tudo e guardei na bolsa.
-Aonde você vai? – Sel perguntou, quando me viu à procura da chave do carro. – Você está com aquela cara de quem vai aprontar. Vai se atrasar outra vez!
-Vou resolver um probleminha.Pedir desculpas ao Clóvis. – pois sim! Eu esganaria aquele advogado presunsoço . – Depois me entendo com a Joyce.
-Eu conheço esse olhar. Você vai se meter em confusão.
-Minha especialidade. – Abracei-a rapidamente e corri para a garagem.
Não me incomodei em ligar para o Clóvis e avisar que estava indo vê-lo. Eu sabia que ele estaria no escritório no centro da cidade e segui direto para lá.Quando a secretária dele quis me deter antes que eu arrombasse a porta da sala, respirei fundo, me refreando de dizer poucas e boas para a garota, que apenas cumpria a sua função.Ou pelo menos tentava, já que assim que ela deu de costas, me esgueirei pela porta e entrei.
- O que significa isso? – exigi saber, jogando as faturas na mesa do advogado atarracado.
Ele avaliou os envelopes brevemente, pouco surpreso com minha entrada tempestuosa.
- São as suas faturas de cartão de crédito.
- Você sabe muito bem que não tenho como pagar nenhuma delas.
- Então não devia ter feito uma dívida tão alta – ele voltou os olhos para a papelada à sua frente.
- Bom, eu não sabia que o meu avô pretendia morrer e me deserdar – comentei, azeda – Você sabe que o Conglomerado Lovato sempre pagou minhas contas. Sempre!
- Demetria – ele retirou os óculos fora de moda há pelo menos uma década e os colocou sobre a mesa. – Você sabe que eu estou apenas cumprindo ordens.
- Eu não tenho como pagar isso – insisti, mostrando-lhe as faturas. – Meu salário é uma merreca.
- Tente negociar a dívida. Ou venda alguma coisa para levantar verba.
- Eu não tenho nada para vender – apontei.
- Você tem seu carro.
- E depender de ônibus? Você já andou numa daquelas coisas? – De repente, entendi tudo. – Você está fazendo isso porque eu saí de casa, não é? Se pensa que agindo assim vai me obrigar a voltar para mansão, está muito enganado.
- Preste atenção, Demetria. – Ele uniu as mãos e as colocou sob um de seus dois queixos. – Suas dívidas são muito altas, pelo que observei. Uma pequena fortuna, eu diria. As operadoras dos cartões sabem quem você é. Todo mundo sabe! Lovato é um sobrenome com força e tradição neste país. Assim, se as faturas não forem pagas, eles provavelmente vão protestar a dívida e entrar com uma ação monitória, que consiste basicamente na penhora de seus bens para garantir o pagamento do débito. Seu único bem, o carro, vai ser penhorado.
- Não vou deixar ninguém levar meu carro – vociferei.
- Nesse caso, você passaria de devedora a infiel depositária e seria presa – ele deu de ombros muito calmamente. – Entende agora?
- Mas... mas... eu não quero ficar sem meu Porsche. Ele é lindo. Ele é vermelho! O vovô me deu de presente de dezoito anos. Não posso vender meu carro!
- Eu sinto muito, Demetria. Estou de mãos atadas. E isso não tem nada a ver com você ter saído de casa. São ordens do seu avô. Não há nada que eu possa fazer. – Mas, de novo, senti que ele poderia sim fazer alguma coisa. Se quisesse. E, obviamente, não queria.
- Clóvis, eu te odeio, sabia?
- Fazia uma vaga ideia – ele resmungou, baixando os olhos, ressentido. – Quem é que vai gostar do portador de más notícias?
- Ai, Clóvis... Argh! Me desculpa. Eu não... eu não quis dizer isso. É só que... Pelo amor de Deus, olha pra mim? – abri os braços desamparada. – Estou sozinha nessa. Completamente sozinha e... Esquece tudo que eu disse.
- Quer dizer que você vai voltar para casa? Me deixa cuidar de você, Demetria.
Franzi a testa. Por mais que eu quisesse o conforto de meu quarto, de minha casa, não me submeteria às vontades de Clóvis, ainda que ele fosse bem-intencionado. E parte de mim ainda não conseguia gostar do cara. Ressentimentos antigos custam a morrer.
- Vou pensar – menti.
Sem me despedir, deixei sua sala e amaldiçoei meu avô durante todo o trajeto até a L&L. Eram quase onze horas quando cheguei. Então fui procurar a última pessoa que queria ver e a única que poderia pôr fim àquele pesadelo no breve período de um ano.
Encontrei Joe em sua mesa organizada, analisando atentamente a tela do computador.
- Tudo bem, Joe – falei, sentando sobre sua mesa e amassando alguns documentos. – Vamos nos casar.
Ele tirou os olhos do monitor, se recostou na cadeira, me fitou e sorriu.
- Uau! É a primeira vez que sou pedido em casamento. Não vai nem se ajoelhar? – zombou.
- Deixa de gracinha. Eu preciso de um marido pra ontem. Você pode me ajudar a providenciar os documentos necessários?
Ele ficou sério, de volta aos negócios.
- Vai ser só no civil ou você sonha com...
- Eu sonho em não ir para cadeia. Por ora, isso é suficiente. Só no civil está de bom tamanho.
- Cadeia? – sua testa franziu.
- Não é o que você está pensando. Estou com um probleminha com os meus cartões de crédito. A empresa sempre pagou minhas faturas. Esse mês ficou por minha conta.
- Ah.
- É, ah. Vou ter que vender meu cupê. Acho que consigo quitar tudo e talvez sobre algum dinheiro. – Desci da mesa e segui em direção ao elevador, completamente desanimada. – Me avisa se precisar de qualquer coisa.
- Demetria, espera! – ele veio ao meu encontro a passos largos. – Nós não discutimos o que eu espero que você faça.
Tentei com todas as forças deixar fora de cena as imagens criadas por meu subconsciente, mas não fui capaz de bloqueá-las. Não todas.
- E o que seria? – perguntei insegura.
- Provavelmente você vai ter que me acompanhar a jantares, festas e coisas do tipo – ele deu de ombros.
- Tudo bem, posso fazer isso.
- Vamos ter que passar a imagem de um casal recém-casado nessas ocasiões – ele disse, bastante sem jeito.
- Você quer dizer... sorrisos, dedos entrelaçados e esse tipo de coisa? – sugeri, com o coração aos pulos.
- Esse tipo de coisa – Joe concordou, desviando os olhos para o corredor.
Comecei a suar.
- Um ano passa depressa – acrescentou ele, apressado, ao notar meu desconforto. – Vai ser só por um ano.
Só por um ano.
Suspirei.
- Tudo bem, Joe. Você me ajuda, eu te ajudo. Esse é o acordo.
Ele ficou sério. Muito sério.
- Isso é um sim? – questionou.
- Não tenho outra saída. Então... vamos nos casar –abri os braços, desamparada.
Vi seus lábios lutarem contra um sorriso teimoso, mas acabaram falhando, e eu surpresa, me peguei retribuindo.
- É sempre tão difícil pra você dizer sim? – ele perguntou.
- Ah... eu não sei – minha testa franziu. Era?
- No final, talvez a gente tenha boas histórias pra contar – ele comentou.
- Se eu estiver contando as histórias na sala da minha casa, já fico satisfeita.
Ele riu.
- Pode deixar a papelada por minha conta. Acho que consigo adiantar nossas bodas. – ele fez uma careta divertida.
Um arrepio delicioso percorreu minha coluna.
- Falando assim, até parece que você está feliz – comentei, desviando os olhos para o chão.
- E estou. – Havia mais que bom humor em seu tom. Tive que olhar para ele, que sorria largamente enquanto me fitava com intensidade. – Vou ter o que eu quero – ele disse, numa voz baixa e rouca.
Engoli em seco.
- Minha promoção! – acrescentou triunfante.

3 comentários:

  1. Muito boom,tho amando essa historia! Posta logo o prox capitulo

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  2. Muito bom!! Divulga??? http://sobretudocoisas.blogspot.com.br/

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  3. Own.. Se o desespero me obriga-se a casar com um Joe Jonas filha, felicidade seria tudo que iria sentir

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