-Diz que você vai se casar
com aquele deus, por favor,Demi! – falou Sel enquanto tomávamos nosso café da
manhã na cozinha organizada de Mandy.
-Não sei não Sel, o Joe
é....insuportável – Tudo bem , talvez exagero de minha parte. Ele sempre dizia
a coisa errada de maneira errada, mas não era a praga que eu havia
imaginado.Não totalmente.
Eu havia passado a noite em
claro contemplando minhas opções, revendo os prós e os contras de me casar com
ele, e não chegara a conclusão alguma. Tentei inutilmente afastar da cabeça as
imagens pertubadoras que meu subconsiente havia criado de Joe e eu na mesma
cama. A questão era que ele realmente não fazia meu tipo, muito certinho e
cheio de regras para o meu gosto. Não consegui compreender porque eu havia
ficado tão intrigada a respeito da existência ou não de pelos em seu tórax.
Ridículo!
-Os outros eram muito
melhores que ele, claro – disse Sel com desdém.
-Você sabe que não.
-Eu acho que Joe tem razão.
Ninguém ia desconfiar ... muito... se vocês se casassem. Ia ser o arranjo
perfeito.
-Se ele fosse mudo, ia
mesmo – apontei, tomando um gole de café com leite.
-Ninguém é perfeito. Se bem
que o Joe, pelo menos por fora, chega bem perto – ela sorriu, suspirou e
revirou os olhos, tudo ao mesmo tempo, depois se recompôs. – Veja a situação de
outro ponto de vista. Do meu ponto de vista O Joe é bonito o bastante para
alguém querer se casar com ele. Tem um bom emprego, casa própria e ficou louco
quando conheceu você.
-Isso é verdade. Ele
parecia um doido soltando os cachorros para cima de mim.
-Meninas, que dia
maravilhoso! Perfeito para uma caminhada – exclamou Mandy, passando pela porta
da cozinha com sacolas cheias de frutas penduradas nos braços e alguns
envelopes nas mãos. – Ainda bem que eu só tenho paciente às dez hoje. Que caras
são essas? O que vocês estão tramando para o final de semana? – ela colocou as
sacolas sobre a mesa.
-Ainda estamos decidindo –
respondeu Sel.
Sim,
ainda estamos decidindo.Talvez eu me case, ou talvez pinte as unhas de azul.Não
sei bem.
-Chegou uma carta para você
Demetria. – disse Mandy, enquanto avaliava a correspondência.
-Sério? Clovis se dera ao
trabalho de enviar uma correspondência para a casa da Sel? Por um momento me
senti péssima por ter gritado com ele. E por ter dito coisas não muito
agradáveis. O cara só estava tentando cumprir seu dever. A culpa não era dele
se meu avô havia decidido me colocar numa situação daquelas.Suspirei
exasperada.Talvez eu devesse ligar pra ele e pedir desculpas.
-Na verdade, chegaram
várias. – ela me entregou uma pequena pilha. – Vou tomar uma ducha e preparar
alguma coisa para comer. Comprei frutas, se quiserem experimentar uma vida
saudável... – Ela beijou carinhosamente a bochecha de Sel, depois a minha e
marchou para o banheiro.
Avaliei os envelopes, todos
bancários.
Abri o primeiro: a fatura
do meu American Express.
- Oh, Deus! To ferrada!
Minha dívida era
estratosférica para o padrão de vida que eu estava levando. Nem economizando um
ano de salário como assistente de secretária eu conseguiria pagar o valor
mínimo daquela fatura. Nem me dei ao trabalho de abrir os outros envelopes. Eu
sabia que o pior estava na fatura do Visa. Juntei tudo e guardei na bolsa.
-Aonde você vai? – Sel
perguntou, quando me viu à procura da chave do carro. – Você está com aquela
cara de quem vai aprontar. Vai se atrasar outra vez!
-Vou resolver um
probleminha.Pedir desculpas ao Clóvis. – pois sim! Eu esganaria aquele advogado
presunsoço . – Depois me entendo com a Joyce.
-Eu conheço esse olhar.
Você vai se meter em confusão.
-Minha especialidade. –
Abracei-a rapidamente e corri para a garagem.
Não me incomodei em ligar
para o Clóvis e avisar que estava indo vê-lo. Eu sabia que ele estaria no
escritório no centro da cidade e segui direto para lá.Quando a secretária dele
quis me deter antes que eu arrombasse a porta da sala, respirei fundo, me
refreando de dizer poucas e boas para a garota, que apenas cumpria a sua
função.Ou pelo menos tentava, já que assim que ela deu de costas, me esgueirei
pela porta e entrei.
- O que significa isso? –
exigi saber, jogando as faturas na mesa do advogado atarracado.
Ele
avaliou os envelopes brevemente, pouco surpreso com minha entrada tempestuosa.
- São as suas faturas de
cartão de crédito.
- Você sabe muito bem que
não tenho como pagar nenhuma delas.
- Então não devia ter feito
uma dívida tão alta – ele voltou os olhos para a papelada à sua frente.
- Bom, eu não sabia que o
meu avô pretendia morrer e me deserdar – comentei, azeda – Você sabe que o
Conglomerado Lovato sempre pagou minhas contas. Sempre!
- Demetria – ele retirou os
óculos fora de moda há pelo menos uma década e os colocou sobre a mesa. – Você
sabe que eu estou apenas cumprindo ordens.
- Eu não tenho como pagar
isso – insisti, mostrando-lhe as faturas. – Meu salário é uma merreca.
- Tente negociar a dívida.
Ou venda alguma coisa para levantar verba.
- Eu não tenho nada para
vender – apontei.
- Você tem seu carro.
- E depender de ônibus?
Você já andou numa daquelas coisas? – De repente, entendi tudo. – Você está
fazendo isso porque eu saí de casa, não é? Se pensa que agindo assim vai me
obrigar a voltar para mansão, está muito enganado.
- Preste atenção, Demetria.
– Ele uniu as mãos e as colocou sob um de seus dois queixos. – Suas dívidas são
muito altas, pelo que observei. Uma pequena fortuna, eu diria. As operadoras
dos cartões sabem quem você é. Todo mundo sabe! Lovato é um sobrenome com força
e tradição neste país. Assim, se as faturas não forem pagas, eles provavelmente
vão protestar a dívida e entrar com uma ação monitória, que consiste
basicamente na penhora de seus bens para garantir o pagamento do débito. Seu
único bem, o carro, vai ser penhorado.
- Não vou deixar ninguém
levar meu carro – vociferei.
- Nesse caso, você passaria
de devedora a infiel depositária e seria presa – ele deu de ombros muito
calmamente. – Entende agora?
- Mas... mas... eu não
quero ficar sem meu Porsche. Ele é lindo. Ele é vermelho! O vovô me deu de
presente de dezoito anos. Não posso vender meu carro!
- Eu
sinto muito, Demetria. Estou de mãos atadas. E isso não tem nada a ver com você
ter saído de casa. São ordens do seu avô. Não há nada que eu possa fazer. –
Mas, de novo, senti que ele poderia sim fazer alguma coisa. Se quisesse. E,
obviamente, não queria.
- Clóvis, eu te odeio,
sabia?
- Fazia uma vaga ideia –
ele resmungou, baixando os olhos, ressentido. – Quem é que vai gostar do
portador de más notícias?
- Ai, Clóvis... Argh! Me
desculpa. Eu não... eu não quis dizer isso. É só que... Pelo amor de Deus, olha
pra mim? – abri os braços desamparada. – Estou sozinha nessa. Completamente
sozinha e... Esquece tudo que eu disse.
- Quer dizer que você vai
voltar para casa? Me deixa cuidar de você, Demetria.
Franzi a testa. Por mais
que eu quisesse o conforto de meu quarto, de minha casa, não me submeteria às
vontades de Clóvis, ainda que ele fosse bem-intencionado. E parte de mim ainda
não conseguia gostar do cara. Ressentimentos antigos custam a morrer.
- Vou pensar – menti.
Sem me despedir, deixei sua
sala e amaldiçoei meu avô durante todo o trajeto até a L&L. Eram quase onze
horas quando cheguei. Então fui procurar a última pessoa que queria ver e a
única que poderia pôr fim àquele pesadelo no breve período de um ano.
Encontrei Joe em sua mesa
organizada, analisando atentamente a tela do computador.
- Tudo bem, Joe – falei,
sentando sobre sua mesa e amassando alguns documentos. – Vamos nos casar.
Ele tirou os olhos do
monitor, se recostou na cadeira, me fitou e sorriu.
- Uau! É a primeira vez que
sou pedido em casamento. Não vai nem se ajoelhar? – zombou.
- Deixa de gracinha. Eu
preciso de um marido pra ontem. Você pode me ajudar a providenciar os
documentos necessários?
Ele ficou sério, de volta
aos negócios.
- Vai ser só no civil ou
você sonha com...
- Eu sonho em não ir para
cadeia. Por ora, isso é suficiente. Só no civil está de bom tamanho.
-
Cadeia? – sua testa franziu.
- Não é o que você está
pensando. Estou com um probleminha com os meus cartões de crédito. A empresa
sempre pagou minhas faturas. Esse mês ficou por minha conta.
- Ah.
- É, ah. Vou ter que vender
meu cupê. Acho que consigo quitar tudo e talvez sobre algum dinheiro. – Desci
da mesa e segui em direção ao elevador, completamente desanimada. – Me avisa se
precisar de qualquer coisa.
- Demetria, espera! – ele
veio ao meu encontro a passos largos. – Nós não discutimos o que eu espero que
você faça.
Tentei com todas as forças
deixar fora de cena as imagens criadas por meu subconsciente, mas não fui capaz
de bloqueá-las. Não todas.
- E o que seria? –
perguntei insegura.
- Provavelmente você vai
ter que me acompanhar a jantares, festas e coisas do tipo – ele deu de ombros.
- Tudo bem, posso fazer
isso.
- Vamos ter que passar a
imagem de um casal recém-casado nessas ocasiões – ele disse, bastante sem
jeito.
- Você quer dizer...
sorrisos, dedos entrelaçados e esse tipo de coisa? – sugeri, com o coração aos
pulos.
- Esse tipo de coisa – Joe
concordou, desviando os olhos para o corredor.
Comecei a suar.
- Um ano passa depressa –
acrescentou ele, apressado, ao notar meu desconforto. – Vai ser só por um ano.
Só por um ano.
Suspirei.
- Tudo bem, Joe. Você me
ajuda, eu te ajudo. Esse é o acordo.
Ele ficou sério. Muito
sério.
- Isso é um sim? –
questionou.
- Não
tenho outra saída. Então... vamos nos casar –abri os braços, desamparada.
Vi seus lábios lutarem
contra um sorriso teimoso, mas acabaram falhando, e eu surpresa, me peguei
retribuindo.
- É sempre tão difícil pra
você dizer sim? – ele perguntou.
- Ah... eu não sei – minha
testa franziu. Era?
- No final, talvez a gente
tenha boas histórias pra contar – ele comentou.
- Se eu estiver contando as
histórias na sala da minha casa, já fico satisfeita.
Ele riu.
- Pode deixar a papelada
por minha conta. Acho que consigo adiantar nossas bodas. – ele fez uma careta
divertida.
Um arrepio delicioso
percorreu minha coluna.
- Falando assim, até parece
que você está feliz – comentei, desviando os olhos para o chão.
- E estou. – Havia mais que
bom humor em seu tom. Tive que olhar para ele, que sorria largamente enquanto
me fitava com intensidade. – Vou ter o que eu quero – ele disse, numa voz baixa
e rouca.
Engoli em seco.
- Minha promoção! – acrescentou
triunfante.
Muito boom,tho amando essa historia! Posta logo o prox capitulo
ResponderExcluirMuito bom!! Divulga??? http://sobretudocoisas.blogspot.com.br/
ResponderExcluirOwn.. Se o desespero me obriga-se a casar com um Joe Jonas filha, felicidade seria tudo que iria sentir
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