Eu não queria ver Joe, não
queria falar com ele, por isso optei por subir as escadas bem devagar,
protelando. No entanto, por mais lenta que eu fosse, inevitavelmente me deparei
com a porta do apartamento 71, no sétimo andar. Entrei em casa tentando não
fazer barulho, mas Joe estava na sala com um livro nas mãos, de modo que foi
impossível ir para o meu quarto sem ser notada. Contudo, ele não me olhou nem
falou comigo. Apenas continuou lendo seu livro, sem nem ao menos se incomodar
em me dizer um oi. Não que eu fosse responder.
Tranquei-me no quarto,
exausta pela noite não dormida, e apaguei antes de tirar os sapatos. Pela
manhã, o despertador no quarto dele me acordou. Era tão alto e estridente que
eu podia ouvir mesmo com os obstáculos de paredes e portas fechadas. Esperei ainda
na cama que ele terminasse seu banho. Assim que ouvi a porta de seu quarto se
fechando, corri. Tomei uma ducha rápida e engoli uma barrinha de cereal. Joe
continuava em silêncio, porém o flagrei me observando algumas vezes enquanto
descíamos no elevador.
No caminho para a empresa –
seria necessário muito mais que Joe ter uma amante para que eu recusasse a
carona -, liguei o rádio para quebrar aquele silêncio irritante. Ajustei o
volume quando encontrei um rap que eu adorava e que tinha acabado de começar.
-
Detesto esse tipo de música – disse Joe.
- Ah, eu sei – aumentei o
volume.
Ele suspirou e disse alguma
coisa que não pude ouvir, devido ao som alto das batidas.
- O quê? – gritei.
Ele diminuiu o volume, com
o rosto contorcido. Até com aquela carranca reprovadora, Joe conseguia ser
sexy. Era completamente revoltante.
- Por que você se esforça
tanto para ser irritante? – resmungou.
- Por que você insiste em
me dar carona, já que detesta?
- Vamos conversar como
adultos agora – ele desligou o som.
- Não tenho nada para
conversar com você – olhei pela janela.
Joe resmungou o que me
pareceu ser um punhado de palavrões, depois suspirou pesadamente.
- Você acha que pode ceder
alguns segundos do seu tempo precioso e ouvir o que tenho a dizer? – exigiu.
- Não!
- Pois eu vou falar mesmo
assim – ele esclareceu, com a expressão determinada. – É um absurdo a forma
como você tem se comportado. Está parecendo uma... uma...
- Uma o quê? – perguntei,
empinando o queixo para encará-lo em desafio.
- Uma esposa ciumenta!
Havia muitas coisas que eu
queria dizer a ele naquele momento. A maior parte de mim eram insultos em
diversas línguas, mas não fui capaz. Parte de mim sabia que ele estava certo.
- Não pareço uma esposa
coisa nenhuma. Você está se valorizando demais, Joe. Você pode ter quantos
casos quiser. Aquela ruiva, uma dúzia de morenas, tanto faz. Estou irritada
porque você escolheu justamente a Blanda. Estou furiosa porque você está de
caso com alguém que pode colocar tudo a perder e nem ao menos se importa com
isso!
- Esquece aquela ruiva,
pelo amor de Deus! Eu não estou de caso com ela nem com a Blanda. Não estou de
caso com ninguém. Você pode me escutar?
- Acho
que não tenho alternativa, tenho? – murmurei carrancuda, cruzando os braços
sobre o peito.
- Não dessa vez – ele
disse, olhando pelo retrovisor enquanto fazia uma conversão. – A Blanda andou
conversando com algumas pessoas. Alguns conhecidos seus. Parece que a Selena
deixou escapar alguma coisa para o Nick. – Ah, merda! – E ele contou pra um dos
caras no curso de mergulho, e a Blanda conhece outro cara... Acho que você já
entendeu – ele me olhou de relance. – O que aconteceu ontem foi que ela tentou
me convencer a fazer o que ela queria, ou ela ia procurar a imprensa para expor
a nossa situação.
Eu mataria Nick.
Pessoalmente. Depois arrancaria a língua de Selena e serviria ao molho de
madeira.
- E o que a Blanda queria?
– perguntei.
- Ela queria um... amante.
- Maravilha. Adorei a
sutileza dela. – Senti minha cabeça se encher até explodir. – Estou...
decepcionada com você, Joe. Sempre tão certinho, tão sério, e no fim se vende
por um par de peitos falsos.
Ele freou o carro
bruscamente, me fazendo ricochetear no banco. Ainda bem que eu sempre usava o
cinto de segurança.
- O que você disse? –
perguntou num tom gélido.
- O que você ouviu. São
falsos. Plás-ti-cos!
- Eu não me vendi pra
ninguém, Demetria – ele falou, a voz sem entonação.
- Vocês estavam juntos, não
estavam? – apontei, presunçosa.
- Não. Não estávamos
juntos. Nem nunca estivemos, cacete! – Eu pisquei surpresa. Joe estava mesmo
furioso. – Será que você pode me escutar? Eu não tenho nada com mulher alguma!
A Blanda pode dizer ao papa o que quiser que nada vai me fazer ceder. Essa não
foi a primeira vez que ela deu em cima de mim, e posso garantir que não
conseguiu nada em nenhuma delas, mesmo antes de você aparecer na minha vida.
Por que você acha que eu ia ceder justo agora? – seu rosto se tornou obscuro e
assustador. Eu nunca tinha visto Joe tão...tão... lindo. – Eu não me vendo,
Demetria. E não me vendi pra você, se é isso que pensa sobre nosso acordo.
- Não penso isso –
declarei, abismada com sua fúria. – só achei que você tinha... você sabe...
Você estava fedendo a perfume vagabundo e caindo de bêbado, Joe! O que queria
que eu pensasse?
- Não queria que pensasse
em nada. Queria que me ouvisse – e aquela veia pulsou em sua testa.
- Bom,
estou ouvindo agora, e ainda não entendo o que te levou a tomar um porre
daqueles.
- Eu não pretendia beber
tanto.
- Ninguém nunca pretende –
murmurei, pensando nas inúmeras vezes em que eu ficara naquele estado sem ter
tido a intenção. No fim das contas, o ditado estava certo. O inferno está mesmo
cheio de boas intenções.
- Tem razão. Mas eu estava
nervoso quando fui encontrar a Blanda. Não sabia o que ela queria. Tudo que eu
sabia era o que ela disse pelo telefone. Você estava com problemas, e era
comigo que ela queria conversar. Tomei uma ou duas doses de uísque pra tentar
me acalmar quando cheguei no bar, então ela começou a falar e... você sabe,
tentou uma abordagem mais direta. Bebi mais um pouco... ou muito, eu acho,
depois que ela entendeu que não ia conseguir nada e foi embora. Eu me senti mal
com tudo aquilo, Demetria. Além disso, tem uns assuntos que andam me
perturbando. Acho que eu queria esquecer tudo, sei lá – ele deu de ombros.
- Que assuntos?
Ele sacudiu a cabeça.
- Assuntos que tenho que
resolver sozinho – falou, mas havia um pouco de dúvida em seu tom de voz.
- A Blanda... ela...
tipo...ela te... – Pressionei os lábios com força para que a pergunta que
ferroava meu cérebro não escapasse.
Joe entendeu.
- A Blanda tentou ser
persuasiva, sim, não vou mentir. Mas consegui fazer ela entender, e fui
bastante claro, que eu não estava interessado. Não aconteceu nada, Demetria.
Suspirei aliviada. Não que
fosse da minha conta. Joe não demonstrava o menor interesse por mim nesse
sentido, mas saber que ele resistira a Blanda me deixou mais leve e confiante.
Até constatei os problemas que isso acarretaria.
- E agora ela vai procurar
a imprensa e revelar que o nosso casamento é uma farsa – gemi.
- Provavelmente.
Suspirei, fechando os
olhos.
- Como
foi que tudo acabou dando errado na minha vida? – perguntei para o nada. – Quer
dizer, tudo ia bem, eu era feliz, tinha família, um carro bacana, podia pagar
uma ida ao cinema... Agora uma pilantra como a Blanda aparece e ferra com o que
já estava ferrado.
- Ouça – as esmeraldas
brilhantes se voltaram em minha direção. – Esse tipo de coisa acontece. Quantas
vezes você já viu nos jornais mulheres que alegam ter filhos de jogadores de
futebol, astros do rock, políticos e coisas assim? A Blanda pode falar o que
quiser, mas não pode provar nada. Claro que isso vai nos trazer alguns
incômodos, olhares mais atentos, mas acho que podemos nos sair bem, se você
colaborar. Infelizmente, pessoas como você sempre são notícia.
- É, eu sei. Nunca entendi
a razão disso, mas eles sempre estavam lá, pra me pegar nos momentos mais
embaraçosos.
- Você é notícia por ser
rica... porque era rica... – ele sacudiu a cabeça, desgostoso. – Demetria, eu
sei que essa não é a vida que você queria e sei que está tendo dificuldades
para se adaptar, mas eu estou aqui para te ajudar. Só que para isso você
precisa deixar que eu me aproxime. Você tem que confiar em mim, ou não vai dar
certo. E eu quero que dê certo! Quero que você consiga recuperar sua herança,
quero que seja feliz. Eu prometo que não vou te abandonar. Já te disse isso.
E, sendo a idiota
apaixonada que eu era, ao ouvir aquilo, minha raiva se derreteu completamente.
- Será que você pode voltar
a ser minha amiga? Senti sua falta ontem – Joe murmurou, parecendo envergonhado
por... bom... sentir a minha falta.
Sorri sem decidir fazê-lo,
apesar de amiga não ser o termo que eu esperava ouvir.
- Tudo bem – cedi. –
Desculpa por ter tirado conclusões erradas a seu respeito.
- Desculpa por te chamar de
esposa – ele me lançou um sorriso torto que fez meu coração parar de bater por
dois ou três segundos.
- Ãrrã – murmurei, uma
verdadeira proeza, tendo em vista o estado hipnótico em que eu me encontrava,
graças ao encantamento lançado por aqueles olhos cintilantes.
- Não gosto quando você
briga comigo. Não sobre assuntos sérios.
- Não gosto de brigar com
você. Quer dizer, não muito – murmurei.
Seu sorriso se tornou mais
amplo. Sua mão se ergueu, hesitante, em busca do meu rosto. Prendi a
respiração, com medo de que ele se assustasse com algum movimento mais brusco –
tipo, se eu piscasse – e
se
afastasse. Mas, antes que ele pudesse me tocas, uma buzina ensurdecedora ecoou.
Joe olhou ao redor, parecendo só se dar conta naquele instante de que ainda
estávamos no trânsito. Estranho como ele também parecia sair do ar às vezes.
Mesmo sem querer, senti uma faísca de esperança tremulando em meu peito.
Talvez – só talvez , Sel
tivesse razão. Talvez eu pudesse despertar em Joe algum tipo de interesse.
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Viu gente o Joe é fiel e vai ser até o fim e Demi também.
lindo lindo haha' posta o proximo logo, pleeease, <33
ResponderExcluiressa maratona vai ser dividida em hoje e amanhã ou só hoje?? Diz que amanhã tb vai ter maratona u_u
poosta pleaaaase, xo
QUE FOFOS!!!! <3
ResponderExcluirPosta logoooo
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