segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

CAPÍTULO 13




Demi tentou sorrir educadamente, mas em vez disso, uma pontada de raiva foi o que se fez presente.
- O que você está fazendo aqui?
Ela havia dito a Virginia que se encontrariam na semana seguinte. A mulher não tinha nada que aparecer sem avisar. Será que Demi não deixara isso claro?
Virginia olhou fixamente para Joe.
- Ele é a razão pela qual você não me quer mais aqui, não é? O que está acontecendo? Zac ficaria horrorizado. O que você está fazendo? Você o esqueceu assim tão rápido, com o primeiro homem que apareceu?
Demi ficou tão surpresa por ouvir aquelas palavras que ficou sem resposta. Será que isso era o que todos iriam pensar? Que ela não se importava por Zac ter morrido? Que ela não ia esperar um pouco antes de começar a namorar novamente? Isso não era verdade!
- Creio que não fomos apresentados - disse Joe, preenchendo o silêncio constrangedor. -Meu nome é Joseph Jonas, um vizinho do andar de cima - ele segurava as bolsas da loja de bebê. - Eu estava ajudando Demi a carregar as sacolas.
Isso poderia soar como se eles tivessem acabado de se encontrar na entrada do prédio, Demi pensou. Não que ela estivesse tentando esconder alguma coisa.
Virgínia não pareceu amolecida.
Demi a contornou e destrancou a porta. Graças a Deus, ela jamais dera uma chave a ela ou a James. Ela não sabia o que tinha acontecido com as chaves de Zac, mas pelo menos sua mãe não estava com elas.
Joe entregou as bolsas para Virgínia e partiu. Demi ficou dividida entre querer que ele ficasse e aliviada por ele partir, evitando que sua presença provocasse a ex-sogra.
Demi esperou até que Virgínia entrasse e fechou a porta, antes de começar a falar.
- Estou desapontada. Pedi a você que não viesse aqui sem ser convidada. Você me deixou embaraçada na frente de um vizinho e está me deixando louca. Virgínia, não quero você me perseguindo desse jeito! Tenho a minha própria vida para cuidar e preciso de espaço para isso.
- Você é a esposa de Zac, a mãe do meu neto... -começou.
- Agora, sou a viúva de Zac! Você sempre será a avó do meu bebê, mas o bebê ainda nem nasceu! Estou em perfeita saúde, então se o assunto é esse, não há por que se preocupar.
- Você é toda a família que nos restou - disse Virgínia.
O coração de Demi doeu por aquela mulher. O bebê ainda nem nascera e ela já se sentia conectada à criança que crescia junto de seu coração. Como uma mãe lidaria com o fato de perder um filho? Ela compreendia a mãe de Zac. Mas não podia deixá-la extrapolar.
- Eu sempre terei muita consideração com você e com James - respondeu ela. Ela abraçou Virginia, pensando se não estava cometendo um erro com a insistência dela.
- Mas eu não sou sua filha. Zac era. Eu tenho uma mãe e agora um padrasto. Virgínia, eu não posso ser sua filha. Não posso tomar o lugar de Zac - disse Demi com firmeza.
Virgínia se afastou dela e foi sentar-se no sofá. tinha lágrimas nos olhos.
- Só quero o melhor para você e para o bebê de Zac.
- Eu sei disso. E aprecio muito...
Alguém bateu na porta. Demi se virou e foi ver quem era, achando que Joe pudesse ter voltado para lhe oferecer apoio.
Um jovem rapaz, bem vestido com uma farda do Exército, aguardava do lado de fora.
- Sra. Efron? - perguntou ele, sem olhá-la nos olhos.
-Sim?
Ele relaxou um pouco e olhou para ela.
- Mulher de Zac?
Ela balançou a cabeça concordando.
- Sou o cabo William Collins. Eu estava com Zac quando ele morreu. Ele me pediu para que lhe desse uma mensagem.
- Entre - Demi estava com o coração acelerado. Esse homem estivera com Zac no final de sua vida. Ela sabia que havia apenas um sobrevivente do ataque. Quando ele entrou, ela fez as apresentações.
- Sente-se, por favor - disse ela.
Ele se sentou com a postura ereta em uma cadeira enquanto Demi se pôs ao lado de Virgínia no sofá.
- Sinto muito em demorar tanto para chegar até aqui, mas acabei de sair do hospital em Bethesda ontem.
- Você foi ferido no ataque? - arriscou ela.
- Sim, senhora. Eu fui o único sobrevivente.
- Que sorte você teve. Você está bem agora? - Demi olhava fixamente para ele, vendo um pouco do homem que Zac fora da última vez que o vira. Jovem, orgulhoso de seu trabalho.
- Estou a caminho de casa para a minha licença médica. Espero poder me juntar à minha unidade em algumas semanas.
Ela respirou fundo. Esse jovem rapaz escapou da morte quando todos os outros no veículo morreram. E mesmo assim estava disposto a voltar ao serviço na primeira oportunidade. Ela não entendia mesmo os homens.
- Zac era meu filho - disse Virginia, sem a necessidade de se manifestar. Demi já a havia apresentado como mãe de Zac.
- Sim, senhora. Ele não sofreu. Fomos atingidos sem aviso. O motorista e Gáry, o outro homem no lado esquerdo do veículo, foram mortos de imediato. Zac e eu fomos atirados para fora caímos a poucos metros um do outro. Arrastei-me até ele para tentar ajudar. Não houve nada que pudesse fazer.
Ele parecia tão agitado, quanto Demi se sentou Rapidamente simpatizou com o rapaz.
- Tenho certeza de que você fez o melhor que pode, muito obrigada - disse ela, gentilmente. Virgínia chorou um pouco.
- Ele não sentiu dor alguma, senhora. Disse que não conseguia sentir nada do pescoço para baixo.
- Não ficou muito tempo vivo, mas não sentiu dor alguma
Demi fez um gesto positivo com a cabeça, desejando poder ter estado lá com Zac. O fato de saber que o rapaz tentou ajudar Zac foi muito importante. Ela sabia que nada poderia ter salvo seu marido, mas era muito bom saber que ele não sofrerá e nem estivera sozinho no final da vida.
- Suas últimas palavras foram sobre você. Ele me disse para que dissesse a você. Fez com que eu prometesse. Eu teria vindo de qualquer maneira. Mas dei minha palavra.
Demi sentiu uma enorme tristeza tomar conta dela.
- Ele disse: "Gostaria de poder vê-la sorrir novamente. Ela tem o melhor sorriso do mundo. Aquele sorriso é fantástico! Queria também ouvi-la rir. É algo mágico!"
Demi segurou as lágrimas, quase podendo ouvir a voz de Zac.
O jovem soldado abaixou a cabeça, olhando para o quepe que girava nas mãos.
- Ele disse que desejava poder lhe beijar só mais uma vez.
As lágrimas minavam.
- E então ele disse: "Diga a ela que eu a amo mais" - ele olhou para ela e depois para Virgínia, que também estava chorando.
Demi tentava conter as lágrimas, mas elas continuavam a cair.
- Isso era uma brincadeira entre nós. Um de nós dizia "eu te amo" e o outro dizia "eu te amo mais". E continuávamos dizendo isso até que um de nós dizia eu te amo mais que tudo. E então nos beijávamos.
Ela jamais poderia dizer a Zac o quanto o amava. Jamais teria mais um de seus beijos, jamais riria com ele sob a luz do sol. Ele tivera a última palavra.
O jovem soldado voltou a falar:
- E então ele disse: "Diga a ela para encontrar um bom rapaz e formar uma família enorme e dar meu nome a um de seus filhos. Quero que ela seja feliz e não fique presa a velhas memórias. Diga a ela para ter uma vida longa e feliz, pensando em mim de vez em quando". E então ele morreu.
Demi caiu no choro de vez. Sua dor era maior que nunca. Até mesmo prestes a morrer, Zac pensara nela. E sobre o futuro dela. Ele a abençoara em qualquer decisão que tomasse.
Um enorme peso fora levantado dos ombros. A tristeza passaria com o tempo. E ela seguiria em frente, com seu bebê.
- Obrigada por ter vindo - agradeceu Demi, enxugando as lágrimas do rosto, desejando ter um lenço ou algo parecido. - Obrigada por estar com ele quando morreu, para que não morresse sozinho.
- Eu não o teria deixado sozinho, senhora.
- Eu sei disso. Quanto tempo demorou até que a ajuda chegasse? - perguntou ela.
- Umas duas horas - disse ele, olhando para as mãos, ainda segurando o quepe.
O coração de Demi doeu novamente. Ele deve ter ficado nervoso, pensando se a ajuda chegaria a tempo de lhe salvar.
- Fico muito feliz por você estar vivo - disse ela com gentileza.
Virginia encontrou um lenço em sua bolsa é enxugou suas lágrimas.
- Eu também concordo com tudo isso que ela disse. Fico feliz em saber que ele não sofreu e que não estava sozinho no momento da morte.
- Ele está enterrado em Colma, no Cemitério Nacional daqui - disse Demi.
- É bom saber. Gostaria de visitar o túmulo da próxima vez que vier aqui. Mas não dessa vez.
- Eu entendo - ela enxugou as lágrimas mais uma vez. Às vezes ela sentia como se tivesse passado os últimos meses da vida chorando. Mas a últimas palavras de Zac abriam as portas par o futuro.
- Mais alguma coisa que eu poderia lhe dizer - perguntou Will.
- Não vá embora ainda - disse Demi. - Vou preparar algo para beber e daí você pode me fala sobre Zac e o trabalho dele por lá, o que você puder nos dizer, é claro. Ele era feliz por lá?
- Ele adorava trabalhar em comunicações. Temos o que há de mais avançado em conexões via satélite e equipamentos de observação. Aprendeu bastante, estava aguardando uma promoção depois daquele trabalho. Nós trabalhamos juntos por vários meses.
Will parecia aliviado por estar cumprindo sua promessa. Depois, relaxou e começou a contar para Demi e Virginia sobre a vida militar em um país estrangeiro.
O cabo William Collins ficou mais de uma hora contando histórias sobre suas aventuras na Europa, atrás daquela missão temporária em um lugar perigoso e trágico.
Depois disso, foi embora para Seattle, e Virginia partiu poucos minutos depois.
Demi lavou os copos e os guardou, pensando sobre tudo o que Will lhe dissera. As palavras de Zac ecoavam em sua mente. Desejava muito que as coisas fossem diferentes, mas elas eram o que eram. Ele sabia que o fim estava próximo e lhe dera sua bênção para seguir em frente.
Talvez ele a amasse mais.
No sábado de manhã, Demi dormiu até mais tarde, tendo a primeira boa noite de sono depois de tudo. Selena chegaria às onze horas. Iam almoçar juntas e depois iriam ao cinema, conforme dissera a Virgínia. Demi não agüentava esperar para contar à amiga sobre o que acontecera.
Também queria contar a Joe, mas hesitou. O relacionamento entre eles era muito tênue. Os dois disseram que não queriam um relacionamento e ainda assim ela ficava cada vez mais envolvida. Demi pensou se Joe não acharia que o fato de ela estar lhe dizendo isso não seria uma indireta, para lhe dizer que ela estava pronta para ter um relacionamento com ele. Talvez fosse melhor deixar tudo como está...
Mas ela gostava de estar com ele. Ele a fazia se sentir segura e amada. Demi sabia que ele era o tipo de homem em quem se podia confiar. Lamentava por ele ter um trabalho tão perigoso, além de seu preconceito contra grávidas.
Era melhor continuar do jeito que estava.
- Ei, amiga! - disse Selena ao entrar no apartamento às onze em ponto. Deu um abraço em Demi e examinou sua barriga por um instante.
- Está bem maior do que da última vez que a vi. As roupas estão ficando apertadas?
- Estou usando calças com cinturas elásticas agora. Não dá mais para fechar o jeans. Mas eu gosto dos meus seios agora que estão maiores. Posso até usar decote!
Selena riu.
- Então vamos apanhar umas blusinhas bem decotadas e ver o efeito delas sobre seu vizinho. Ele vem ver você esses dias?
- Provavelmente não. Está pronta para irmos almoçar?
As moças partiram, conversando e rindo. Tomaram o ônibus até o shopping. No caminho, Demi contou a Selena sobre a visita de Will Collins.
- Ah, que bom! Ele veio até aqui para lhe dizer as últimas palavras de Zac. Gostaria de tê-lo conhecido!
- Você quer conhecer todos os homens que puder! -disse Demi.
- Não, não. É que ele parece um homem especial. Foi algo muito louvável o que ele fez. Como você se sente sobre isso? Quero dizer, deve ter sido difícil ouvir as últimas palavras de Zac, mas você não acha que ele lhe abençoou em qualquer decisão que você venha tomar?
- Foi o que me pareceu. Mas ainda não tenho certeza.
- Oh, ele veio com um prazo de validade? Demi riu do comentário da amiga.
- Nada de datas. Mas não estou pronta.
- E o tal Joe?
- É só um vizinho. Além disso, ele é bombeiro. Uma coisa que não quero fazer é me apaixonar por alguém com um trabalho perigoso. E se um mês depois do casamento ele morre?
- Não sei não, existem vários bombeiros ido além disso, eles são promovidos e fazem serviços mais leves até o fim da carreira.
- Mesmo assim, acho que quero um professor, um vendedor de seguros ou algo do gênero.
- Que tédio! - disse Selena. - Queria alguém de vida empolgante.
Demi sabia que Joe se encaixava nesse perfil. Ela o apresentaria a Selena. Mas a idéia não lhe caiu bem.
O dia que passara com a amiga foi divertido. Selena tinha uma maneira irreverente de ver as coisas. Seu otimismo era contagiante e, quando Demi voltou para casa no final da tarde, estava se sentindo bem melhor. Não ria tanto assim havia tempos. Elas combinaram de se encontrar mais vezes e conversar pelo telefone. Selena trabalhava em tempo integral durante o verão para poder pagar a faculdade. Mas havia muitos finais de semana e noites livres.
Demi ficou entediada quando se viu sozinha. Subiu ao terraço e se sentou, para assistir ao pôr-do-sol. Ela puxou uma cadeira e se sentou. Com as pernas para cima, descansou as mãos sobre a barriga. Podia sentir o bebê se mover bem devagar de vez em quando.
- Gostaria de uma companhia? - perguntou Joe, surgindo de repente.
- Claro! - Demi abriu um largo sorriso para ele.
- O que você fez o dia todo, menina?
- Fui ao cinema com minha amiga Selena. Vimos uma comédia e rimos sem parar.
- Sua sogra está bem? - perguntou ele. Ela fez um gesto positivo com a cabeça e olhou pura ele, curiosa.
- O quê? Tem mostarda no meu queixo ou algo parecido? Demi riu.
- Não, estava apenas pensando sobre algo. Depois que você saiu ontem, eu recebi um visitante. Ela contou a ele sobre William Collins e a mensagem que ele lhe trouxera. Joe ouviu tudo com muita atenção.
- E como você se sentiu, ouvindo essas histórias sobre seu marido depois de tanto tempo?
- Foi muito estranho. E triste. Mesmo assim, estou muito feliz de saber que ele não estava sozinho nem sentiu dor. Fiquei com pena do Will. Imagine como ele deve ter ficado depois que Zac morreu.
- Joe fez um meneio com a cabeça e olhou para o mar. Uma posição difícil de se estar. Muita gentileza dele ter vindo aqui.
-Ele disse que não teria o mesmo sentido se escrevesse uma carta.
- Provavelmente não. Demi não tinha certeza do que esperava, mas certamente não era todo esse desinteresse. Sem saber o que dizer, ficou em silêncio.
O sol já estava baixo no horizonte. Em pouco tempo, desapareceria e a escuridão tomaria conta. Se até lá Joe não dissesse nada, ela se levantaria e iria embora.
Joe olhou para ela de novo.
- Você está bem com tudo isso?
- Estou bem. Por que não haveria de estar?
- Isso me parece trazer tudo de volta, como se acabasse de acontecer, em vez de ter acontecido há vários meses.
Demi concordou.
- De certo modo, sim. Mas a melhor parte foi quando ele disse para eu seguir em frente.
- E por que você está me dizendo isso? Quer dizer que...
- Pare! Não acredito que esteja insinuando algo a mais! Só queria compartilhar um momento meu! Que idiota que eu sou!
Demi, saiu em disparada em direção aos elevadores.
- Espere! - Joe se levantou e a seguiu.
-Deixe-me! - disse ela, caminhando. Infelizmente, o elevador não apareceu de imediato quando ela apertou o botão. Então, ele logo a alcançou.
- Eu não quis dizer que você estivesse tentando arrumar um marido. Eu quis dizer que você pode seguir em frente agora sem se sentir culpada sobre tudo.
- Como você sabia que eu me sentia culpada com tudo? - perguntou ela, surpresa, ele abriu um pequeno sorriso.
- Querida, seus sentimentos oscilam em seu rosto, de feliz a triste. Além do mais, eu sei um pouco do que você está passando, lembra-se? Minha mãe morreu também. Na primeira vez que ri depois da morte dela, senti-me a pessoa mais culpada desse mundo. Como eu poderia rir quando a minha mãe estava morta?
Exatamente - disse ela. - Ou como posso namorar alguém quando meu marido morreu há poucos meses?
Joe pareceu perplexo com o comentário. O elevador chegou e as portas se abriram. Demi entrou. Ele a seguiu. Quando a porta se fechou, ele apertou o botão do andar dela.
Indo me visitar? - ela perguntou.
Eu queria conversar com você sobre a mudança - disse ele. - Fui até o quartel hoje e quatro rapazes concordaram em ajudar. Podemos ir na terça, se quiser.
Eu ia almoçar com Virgínia na terça, mas isso posso adiar. Não quero desperdiçar toda essa ajuda.
Quer sair para jantar? - perguntou Joe segurando o elevador chegou no andar dela.
Sei dos seus artifícios...
Deixe disso, Demi. Não foi o que eu quis dizer. Você sabe da minha posição e eu sei da sua. Temos de comer, não?
- Um jantar sábado à noite tem muito a ver com um encontro - disse ela.
Caminharam até o apartamento dela e ela abriu a porta. Joe entrou com ela. Ele olhou à volta, como se estivesse calculando, pelo número de caixas, quanto tempo levaria para ele e seus colegas carregarem todas elas.
- Isso não é um encontro. Afinal, você é viúva, esqueceu? - provocou ele.
Ela lhe deu um olhar desafiador e foi pegar a bolsa.
- Para onde vamos? - perguntou ela.
- O que você gosta de comer?
- Adoro comida chinesa.
- Então vamos para Chinatown.
Demi adorava perambular por São Francisco. No carro, o vento soprava seus cabelos. Quase ria de alegria. O bebê chutava e mexia-se na barriga, como se também se divertisse com tudo aquilo.
Não demoraram muito e chegaram às ruas estreitas de Chinatown. Joe deixou o carro no estacionamento público e pegou na mão dela para se juntar à multidão que se aglomerava na calçada. Uma ótima atração turística. Chinatown era repleta de nativos e visitantes. Ele a levou até um pequeno estabelecimento próximo à Grant Avcnue. Ao entrar, tinham de subir um lance de escadas para chegar ao restaurante. Quando finalmente se sentaram, Demi percebeu que eram os únicos americanos na multidão.
Deve ser bom - murmurou ela.
Acho que sim. O que você gostaria de comer?
Depois de fazerem o pedido, ele perguntou sobre a visita do cabo Collins. Ela contou para ele algumas das histórias que Will contara.
- Acho que entendo mais a razão de Zac gostar tanto desse trabalho e passar mais tempo na base de que comigo.
- Como assim?
- Talvez você entenda, mas eu não. Por que ele não haveria de querer passar todo o tempo do mundo com você?
Ela sorriu pelo elogio. De repente, Demi se deu conta de que não sabia tanto sobre Joe quanto gostaria.
- Então me fale sobre seu trabalho, sobre a razão de você ter se tornado bombeiro. Você sempre quis ter essa profissão, desde criança?
Ele balançou a cabeça. Em um certo momento eu quis ser astronauta Em um outro, quis ser um trilhionário. Foi que um apartamento vizinho em Fresno pegou fogo quando eu tinha 14 anos. Duas pessoas morreram, várias famílias perderam tudo o que tinham. Nunca vou me esquecer do trabalho que os bombeiros fizeram para tentar resgatar as pessoas. O que sentiram quando salvaram dois terços do prédio certamente foi algo glorioso. Foi então que decidi ser o que sou hoje; eu queria ajudar as pessoas, queria não ser comum.
- E conseguiu?
Tudo bem, salvar vidas valia a pena. Para ela, todas as posses nesse mundo não se igualavam a uma pessoa.
- Algumas vezes, depois que recebi meu certificado de paramédico, comecei a sair em patrulhas de vez em quando, para me manter atualizado. Já fiz um parto, sabia? Que emoção!
Ela sorriu.
- Conte-me tudo.
O jantar acabou rapidamente, enquanto Joe a entreterá com as aventuras de seu mundo. Ela ficou maravilhada com as coisas que ele já havia feito, do parto a uma vítima de infarto.
Joe sabia que estava se vangloriando, mas queria que Demi ficasse impressionada. E que entendesse que ele gostava do que fazia. Se ela pudesse entender, talvez não se preocupasse tanto com os perigos. Ele tentou explicar como o treinamento era intenso e regular. Como o companheirismo fazia com que todos cuidassem uns dos outros. Como o capitão jamais colocaria sua equipe em situações com as quais eles não pudessem lidar. E se ela soubesse a quantidade de coisas boas que eles faziam, aquilo tinha de valer o perigo.
O jantar já havia acabado há tempos quando ele finalmente parou de falar.
- Eu devo ter lhe entediado demais - disse ele, olhando para o relógio.
- De forma alguma. Você sabe disso. Estou fascinada. Mas também horrorizada por alguns detalhes, devo admitir. Não sei se admiro você ou se não me apavoro quando ouvir uma sirene.
- Demi, a maioria dos bombeiros se aposenta em seus empregos e não morre em serviço.
- Isso pode ser verdade, mas não impede as mortes que acontecem, apesar de todas as precauções.
Ele queria que ela não se focasse nesse assunto. Queria que ela fosse mais compreensiva em relação ao seu trabalho.
- Pronta para ir? - perguntou ele. ela disse que sim com a cabeça. Joe pagou a conta e pegou na mão dela, ao saíram do restaurante. As luzes das lojas na Grant Avenue deixavam a rua tão clara quanto durante o dia. - Quer andar um pouco?
- Claro.- Joe ficou feliz por ela não estar com pressa. Queria que ela aproveitasse a noite e não apenas jantassem e voltasse correndo para casa.
Pela primeira vez, considerou convidar uma mulher para viver com ele. Sem o trabalho para se distrair, ele se sentia solitário. Demi preenchia uma lacuna que ele pensava que não existia em sua vida. Era diferente da camaradagem no quartel. Era algo difícil de se definir. Desejo? Paixão?

Ou a vontade de algo mais estável?

CAPÍTULO 12



Joe foi pego de surpresa. Era a última coisa que esperava ouvir.
- A mudança não quer dizer nada - disse ele, meio enraivecido. - Não estou tentando forçar a barra, embora eu pense que formamos um casal perfeito. Nenhum de nós está atrás de um relacionamento sério e nenhum de nós quer se casar. Quem melhor de se ter por perto do que alguém com as mesmas idéias?
- Não estou querendo ficar perto de ninguém -respondeu ela.
- É só um modo de se expressar. Não agora, mas no futuro talvez você precise de uma companhia, quem sabe, para fazer algo a dois. Quando isso acontecer, você pode me telefonar.
Ele ficou de pé.
- Vamos voltar? Não quero forçá-la a ficar em minha companhia por mais tempo do que o necessário.
- Sente-se - disse ela, esticando o braço para tocá-lo. -Não foi isso o que eu quis dizer. Eu apenas me sinto, sei lá, culpada. Eu não deveria sair com alguém antes de fazer um ano de falecimento de Zac.
Ele se sentou.
- Um ano? Essa é a fórmula mágica?
- Geralmente as pessoas lamentam a morte de outra por um ano ou mais.
- Geralmente?
- Eu ainda estou de luto. Gostaria que ele não tivesse morrido.
- Eu também gostaria e nem ao menos conheci o rapaz. Morrer tão jovem é mesmo algo horrível, não importa as circunstâncias. Mas você não morreu com ele.
- Às vezes, me sinto como se nunca o tivesse conhecido. Da última vez, estava tão diferente!
- Ele não fazia parte da sua rotina. É difícil sentir falta de alguém que já não estava presente na nossa vida. Foi o que senti quando soube da morte da minha mãe. Fiquei chocado, triste por ela ter morrido. Mas depois do funeral e de todas as cerimônias, aquilo não me parecia real. Ela vivia em Fresno, eu vivia aqui. Eu apenas a via no Natal. Sua morte não mudou muito a minha rotina. Eu a amava. Sinto falta dela. Mas, às vezes, chego a achar que ela está em nossa casa em Fresno, fazendo o que fazia quando eu me mudei dela.
- Então você não me acha uma pessoa horrível por pensar assim?
- Acho perfeitamente normal pensar assim.
Joe desejou que eles ensinassem "aconselhamento para perdas de entes queridos" no quartel. Ele não sabia muita coisa sobre o assunto, exceto o que experimentou quando a mãe morrera.
Demi não tinha certeza de quanto tempo permaneceram sentados naquele banco. Ela pensou sobre a conversa, sentindo-se aliviada por Joe não interpretá-la mal. É, um choro de vez em quando é perdoável.
- Podemos ir? - perguntou ele.
- Podemos.
Eles caminharam em direção ao estacionamento.
- Podemos passear de carro pela orla? - perguntou Demi ao chegarem no conversível. - A não ser que você tenha de voltar para fazer algo.
-Claro que não! Eu faço o jantar essa noite, se você quiser. Em retribuição ao passeio na praia - disse Demi. Jantar não significa um encontro amoroso. Era apenas uma maneira de se mostrar grata por ele tê-la tirado do apartamento e melhorado seu ânimo.
- Você não me deve nada - disse Joe, ao ligar o carro.
-Eu sei, mas gosto de cozinhar. Guarde sua habitual comida congelada para depois.
Ele pisou no acelerador e o carro partiu em disparada. Demi adorou o passeio. O vento batia em seus cabelos, soprando-os em todas as direções, obrigando-a a afastá-los do rosto. Que emoção! Se ela comprasse um carro, seria um conversível. Ela se sentiu livre e feliz, durante o passeio.
Uma hora depois, voltaram para o apartamento de Demi. Ela tomou um banho rápido, contente por notar alguma cor em seu rosto e por ver que os olhos não estavam mais inchados.
- Que tal um espaguete? -perguntou ela ao sair da minúscula cozinha. - Posso fazer torradas de alho e uma salada.
-Perfeito!
Ele se sentou à mesa e a observou preparar a refeição. Joe se ofereceu para ajudar, mas ela recusou. Por causa do braço, ele devia ficar de repouso. Além disso, Demi gostava de cozinhar, especialmente se fosse para mais de uma pessoa.
- Você cozinha? - perguntou ela.
- O mínimo possível.
- Então você come fora o tempo todo?
- Nem sempre, mas dependo bastante de comida congelada.
- Então aprenda a cozinhar.
- Talvez eu precise de uma professora...
- Isso é um desafio?
-Não se você não for me ver depois de se mudar.
O sorriso dela se apagou.
- Eu acho que isso não é o melhor a fazer.
- Por quê?
Ela não podia dizer a ele que era para proteger seu coração. Que ela se sentia atraída por ele e não gostava da posição em que se encontrava. Ficaria bem melhor mantendo-o distante de sua vida.
- Se você não tem um motivo para isso, então trata-se de uma idéia tola - disse Joe.
- O quê?
. Não havia como explicar isso. O telefone tocou.
- Salva pelo gongo - murmurou Demi.
A moça olhou para ele e torceu o nariz ao pegar o telefone.   
- Demi? Que decepção! Era Virgínia!
- Olá, Virgínia. Tudo bem?
- Estou ligando para saber como você está se sentindo. Melhor?
Demi respirou fundo, tentando encobrir a irritação que sentia na presença de Virginia.
- Estou bem, Virginia. Não estou doente, estou grávida.
- Eu sei, mas os hormônios podem fazer uma bagunça dentro de você. James e eu queremos que você venha jantar conosco na sexta-feira. Na verdade, como sua mãe viajou, talvez você queira passar o fim de semana conosco. Podemos ir às compras juntas.
- Tenho compromisso - disse Demi, desesperada.
- Que compromisso?
Rapidamente, ela tentou pensar em algo que pudesse satisfazer a sogra.
- Eu e minha amiga Selena vamos a um show - disse ela.
- Quando?
A mente de Demi ficou paralisada. Olhou para Joe. Ele estava recostado na cadeira, equilibrando-se nas duas pernas traseiras, observando-a com aquele olhar de prazer que a deixava louca.
- Sábado. Não tenho certeza a que horas. Talvez à tarde ou à noite.
- Bem, mesmo assim, você pode vir depois e dormir aqui. Podemos almoçar no domingo.
- No domingo eu... eu estarei... - Demi estava mais desesperada ainda.
Joe levantou o braço e disse apenas mexendo a boca: "visitando uma amiga doente."
- Visitando uma amiga doente. Na verdade, Virginia, eu não preciso ir para sua casa passar tempo algum. Nem moro tão longe assim. Talvez você e eu pudéssemos almoçar juntas na semana que vem.
- Que dia?
- Na terça - disse Demi. - Podemos nos encontrar naquele restaurante no Sansome que você gosta, às onze horas.
A água estava fervendo, o vapor subia pela cozinha. Demi apontou para a panela. Joe se levantou e foi olhar.
Demi cobriu o fone com uma das mãos e disse:
- Ponha o macarrão na panela, abaixe o fogo e conte o tempo.
- Demi? - perguntou Virginia. -Sim.
- Tem alguém aí?
- Estou com uma amiga aqui para o jantar e preciso desligar.
- Quem é? - o tom de Virginia deixou Demi irritada. Ela não tinha certeza de como lidaria com Virginia nos próximos anos.
- Uma amiga. Preciso desligar. Vejo você na terça.
- Você foi firme - disse Joe admirado. Demi foi ver o molho.
- Mas é difícil, viu. Virgínia é muito carente.
- Sei que é difícil perder um membro da família, mas isso não dá a ela o direito de controlar você.
- Eu sei. Ela tem boas intenções. Acho que ela precisa de algo novo para se distrair. Ela faz parte de um clube de mulheres, mas quando perguntei a ela outro dia, mudou de assunto. Já não é mais a mesma coisa, ela disse. Não gosta de cuidar do jardim, de costurar ou qualquer outra coisa, até onde eu sei.
- Ela vai se apossar de seu bebê.
- Espero que não. Quero ter um bom relacionamento com eles, mas não quero ficar à disposição deles a vida toda.
- Ela está assustada. Tem medo de você se casar de novo e se esquecer dos avós do bebê.
- Eu não faria isso.
- Também acho que não. Mas ela pensa diferente.
Ela riu.
-Não vou me casar de novo. E você?
- Nunca vou me casar.
- Ao menos que a mulher certa apareça na sua vida e você se apaixone perdidamente - disse ela.
- Estou me divertindo muito nessa fase da minha vida - respondeu ele, inclinando-se para beijá-la.
A pequena cozinha ficou repleta de vapor. O borbulhar suave da água proporcionava um agradável som ambiente. Joe abraçava Demi de forma acolhedora, maravilhosa. E sua boca era capaz de milagres. Os corpos, entrelaçados, desfrutavam de uma sensação de intimidade incrível. Um longo tempo se passou até eles ouvirem o som da água derramando sobre o fogão.
Ela se afastou. A água do espaguete estava transbordando da panela.
Rapidamente, ela desligou o fogo e tirou a panela. Depois de um tempinho, ela colocou a panela de volta sobre o queimador.
- Sorte ser apenas água - disse ela, mantendo o olhar na comida sobre o fogão. - Se o molho tivesse fervido e derramado, eu levaria décadas para limpar tudo.
Ele se afastou, dando a ela espaço para respirar. O coração de Demi batia em disparada. Sua boca ainda desejava a dele. Não estava interessada em jantar, queria sentir os braços dele mais uma vez, saborear seu sabor e seu toque.
- O jantar está quase pronto - avisou a moça.
Joe não estava nem um pouco interessado no jantar. Observou Demi, então. Ele não deveria ficar beijando-a. Ela era vulnerável. Deveria se comportar como amigo ou ir embora. E não tornar-se obcecado como se ela fosse a melhor coisa que já acontecera a ele. Tinha decidido sair dali. Mas, no entanto, se deu conta de que não queria ir embora. Queria passar um pouco mais de tempo com Demi. Descobrir um pouco mais sobre ela. Descobrir o que gostava de fazer quando não estava estudando para ser professora.
- Está pronto - disse ela.
Joe se virou e caminhou até a mesa. Ela já havia servido os pratos e colocado a salada e as torradas de alho no centro da mesa. Ele puxou a cadeira para ela. Pelo menos a mãe de Joe lhe ensinara boas maneiras, pensou Demi.
Depois de se sentar, ele ficou feliz ao notar que ela já o encarava, sem tentar evitá-lo.
- Hum, está ótimo! - elogiou ele. - Você disse que gosta de cozinhar. Se eu soubesse cozinhar assim todos os dias, eu também gostaria.
Ela sorriu ao ouvir o elogio.
- Obrigada. Eu não cozinho assim quando é para mim apenas. Geralmente, faço a minha refeição principal no almoço, no compus. E então como um sanduíche ou uma sopa no jantar. Eu achava que os bombeiros se revezavam preparando as refeições.
-E é o que fazemos. Mas a equipe se certifica de que eu apenas cozinhe o almoço -, e no caso trata-se de sanduíches...
A tensão causada pelo beijo parecia ter sido dissipada. Gradualmente, ele relaxou e aproveitou a comida.
Apesar de querer ficar, logo que as louças foram lavadas e devidamente guardadas, Joe anunciou sua partida. Demi não tentou impedi-lo.
- Obrigada por me levar à praia - disse ela, levando-o até a porta. - Desculpe-me por ter chorado tanto com você por perto.
-Disponha!
Ele parou na porta, sentindo-se como um adolescente inseguro. Será que deveria beijá-la ou apenas dar um tapinha no ombro dela e partir? Será que ela deixaria que ele a beijasse de novo? Ou será que ela já estava farta de suas investidas? Ela estava se comportando seriamente como uma viúva!
- Boa noite - despediu-se Demi, segurando a porta aberta.
Ele a fechou e pegou Demi em seus braços. Os olhos dela se arregalaram, e ele teve certeza de ter visto um brilho de felicidade neles antes de ela fechá-los para beijá-lo.
Joe estava ficando louco de tanto tédio. Seu braço já estava bem melhor. Já não doía mais o tempo todo. Ele torcia para que estivesse cicatrizando rápido, para que pudesse voltar ao trabalho o mais rápido possível.
Havia dois dias que não via Demi. Queria telefonar para ela, mas não tinha o número. Checou na lista telefônica, porém não havia nenhum A ou Demi Efron. Ele não se lembrava do seu nome de solteira, certamente seria o nome usado.
Joe foi até o andar debaixo duas vezes, mas não parou. Simplesmente virou-se e voltou. Ela sabia onde ele morava. Poderia se esforçar um pouco se quisesse mesmo vê-lo.
Essa era a questão. Ele achava que ela não queria. Não tanto quanto ele desejava.
Na quinta-feira, ele passou o dia limpando o apartamento, colocando roupas para lavar, parando no andar dela no caminho para a lavanderia e na volta. Não havia qualquer sinal dela.
Na sexta-feira, Joe decidira que aquilo já era o suficiente. Ele arriscaria uma visita ao quartel na tentativa de fazer algo, mesmo que fosse se sentar e olhar enquanto a equipe lavava o caminhão.
Ele estava quase pronto para sair quando o telefone tocou.
- Joe, estou atrasada. Dormi demais. Será que você poderia me levar até o apartamento da minha mãe? Tenho de estar lá quando eles entregarem os móveis e não vou chegar a tempo se for de ônibus - Demi falou feito uma metralhadora.
- Acalme-se. É claro que posso levá-la. Você já está pronta?
- Estarei em cinco minutos. Obrigada, fico devendo-lhe um favor - ela desligou.
O rapaz sorriu. Gostou da idéia de Demi estar em divida com ele. O que se igualaria a uma carona até o apartamento de sua mãe? Jantar todos os dias por uma semana? Era um pensamento cheio de possibilidades...
Demi lhe deu as direções quando entraram no auto poucos minutos depois.
Desculpe-me se estou atrapalhando seus planos - disse ela, quase se contorcendo no banco com uma tentativa de ir mais rápido.
-Nada de importante. Relaxe. Chegaremos lá na hora.
- Eu sei - ela olhou para o relógio. - Ainda não são nove. Eles disseram que estariam lá entre nove e meio-dia.
- Nunca conheci um entregador que chegasse na hora!
Demi riu. Joe recuperou o fôlego. Ele adorava ouvi-la rir. Era tão linda quando ria! Ele desejava poder ouvi-la rir todos os dias.
- É nessa rua, depois de três quarteirões - disse Demi quando ele virou na rua perto da marina. - Oh, veja, o caminhão está parado em frente. Rápido, não deixe que eles retornem.
Joe viu um homem entrando no prédio quando parou atrás do caminhão estacionado em fila dupla. Se o tráfego podia desviar do caminhão, podia desviar dele também.
Demi desceu rapidamente e correu até o homem. Joe observou enquanto eles conversavam por um instante e logo em seguida Demi fez um gesto positivo com a cabeça. E voltou ao carro.
- Eles acabaram de chegar. Muito obrigada pela carona. Cheguei a tempo!
- Vou estacionar e venho ajudar. Depois, posso lhe dar uma carona de volta para casa - disse ele.
- Não precisa - respondeu Demi. - Sei que você tem coisas a fazer.
- Nada disso. Voltarei logo que encontrar um lugar para estacionar.
A sorte presenteia poucas pessoas, ele pensou um instante depois de virar na esquina e encontrar uma vaga. Parou o carro, impressionado com a facilidade de tudo aquilo. Em poucos segundos, estava de volta ao prédio. A portaria estava aberta mas ele então entrou. Não fazia idéia do número do apartamento. Ele teria de esperar pelos rapazes da entrega.
Ele subiu com os entregadores na segunda viagem, seguindo-os até o enorme apartamento com vista para a baía. A sala de estar era do tamanho do apartamento dele. Os janelões, do teto ao chão, eram praticamente devassados, enquadrando a vista espetacular.
Parando por apenas um instante, ele continuou por um pequeno corredor até um quarto separado para o bebê. Uma nova cômoda estava próxima a parede. Uma fileira de bichinhos de pelúcia foi colocada em uma prateleira em torno do quarto. As cortinas nas janelas combinavam com a decoração.
Tudo entregue, assine aqui - um dos homens dizia, segurando uma prancheta com documentos. Demi assinou e agradeceu aos homens. Quando partiram, ela olhou para as caixas.
- Achei que todos os móveis viriam montados.
- Assim dificultaria o transporte - disse Joe. Quer montar as peças para sua mãe?
Demi não conseguia acreditar que Joe se oferecera para montar o berço e a cadeira de balanço. Será que ele não tinha algo a fazer além de montar móveis para alguém?
Mas por outro lado, como seria legal ter tudo montadinho para quando a mãe retornasse! Ela sabia onde a roupa de cama estava guardada.
- Se você não se importar, seria ótimo. E quando eles chegarem em casa, o quarto estará praticamente pronto.
- Eu não me importo. Tenho algumas ferramentas no carro, ao menos que você saiba onde Eddie guarda as dele.
- Isso eu não sei. E me sentiria mal mexendo nas coisas deles. Quando mamãe e eu dividíamos o apartamento, era diferente. Eu cresci lá, já sabia onde tudo estava guardado. Mas isso aqui... não é mais minha casa.
- Vou buscar o que preciso e já volto. Menos de uma hora depois, as peças do berço estavam espalhadas pelo assoalho do quarto do bebê e Demi as passava para Joe quando ele pedia. Ele leu as instruções de montagem por um instante e deixou o papel de lado. Dali em diante, parecia que ele sabia instintivamente como montar um berço.
Ela observava tudo com fascinação, enquanto o berço tomava forma. Nem mesmo o gesso em seu braço diminuía sua eficiência.
- Você já fez isso antes? - perguntou ela. Ele olhou para cima.
- O quê? Montar um berço?
- Sim.
- Acho que uma vez. Mas já montei outras coisas. Fazemos trabalhos em várias comunidade como parte do nosso programa de extensão no quartel. Uma vez, durante as férias, fiz parte um projeto chamado "Casa da Humanidade", no Arizona. Estava muito quente, mas o trabalho foi muito gratificante. Especialmente quando a familia viu seu novo lar pela primeira vez.
-Ah, que interessante!
Enquanto a manhã passava, Joe a entreteu com suas habilidades em construção e montagem de brinquedos de criança no Natal, enquanto montava o berço e a cadeira de balanço. Suas histórias engraçadas pareciam não atrapalhar a maneira eficiente com a qual ele montava os móveis. Suspeitava que ele estava dando o melhor de si para agradá-la. E ela estava mesmo gostando muito daquilo tudo.
Chegou a rir alto duas vezes com as histórias dele.
- Você é impossível, não acredito que isso tenha acontecido! - disse ela.
- Ora! Se eu estou contando, é porque aconteceu. Já passava do meio-dia quando ele balançou a cadeira que acabara de montar.
- Teste-a - sugeriu ele.
Demi se sentou, movendo-se lentamente, como se balançasse um bebê.
- Está ótima. Acho que no final das contas, vou acabar comprando uma dessas também. Achei que ia querer um modelo mais tradicional, mas essa é tão suave e fácil de balançar!
Ele empurrou o berço contra a parede. Não sei onde eles vão querer que ponha as coisas - disse ele, juntando as ferramentas.
Nem eu. Aí parece bom. Espere um minuto. Eu quero fazer a cama e colocar alguns dos bichinhos de pelúcia que eles compraram.
Em poucos instantes, o quarto parecia pronto para seu novo ocupante.
Demi ficou de pé próxima à porta e olhou para tudo aquilo. Será que o quarto do seu bebê ficará tão bonito? Provavelmente, pois sua mãe e Eddie estavam insistindo para comprar os móveis. É claro que o quarto do novo apartamento não era tão grande quanto esse. Mas era bastante confortável.
Joe pôs o braço sobre o ombro dela e olhou para o quarto,
-Está muito bonito, não? - perguntou ela, apoiando-se levemente nele. Por um breve segundo, ela quase pôde imaginar Joe como o pai do seu bebê. Rapidamente, ela afastou aquilo da mente. Que tolice!
- Obrigada por fazer tudo isso. Vai ser uma ótima surpresa quando eles chegarem.
- Eu me diverti bastante. Vamos dar um jeito nessas caixas e depois vamos nos preparar para almoçar.
- Oh, eu tenho um compromisso - disse Demi, também surpresa.
- O quê? Mão pode ser a visita a sua amiga doente, isso é só no domingo.
Ela sentiu um calor lhe subir pelo rosto. Não sabia mentir.
- Ficarei feliz em almoçar com você - disse ela. A coisa mais inteligente a fazer seria fugir da atração que tomava conta dela toda vez que estava ao lado de Joe, ou pensava nele. Mas ela lhe devia retribuir a carona e a ajuda na montagem dos móveis.
- Achei que pudéssemos almoçar no Embarcailero Center e depois sairmos para olhar os móveis para seu bebê. Ao menos que você já saiba o que quer - disse ele.
O coração de Demi acelerou de novo. Ele estava disposto a fazer compras para o bebê?
- Ainda não decidi. Mas a mamãe e eu medimos o espaço há pouco tempo, então sei o que posso comprar. Ó quarto do meu bebê não vai ser assim tão grande - disse ela, olhando para o quarto mais uma vez.
- Bebês não são tão grandes, eles não precisam de muito espaço - ele falou. - Almoço?
- Sim, obrigada. Mas eu pago, tenho uma dívida com você.
Ele pegou a caixa de ferramentas e algumas das caixas de papelão dobradas, partindo em direção a porta principal.
- Eu pago. Prefiro que você cozinhe algumas vezes para mim antes de se mudar, se você achar mesmo que me deve alguma coisa.
- Isso é fácil demais - disse ela, pegando várias coisas do chão e seguindo-o.
Eles trancaram o apartamento, jogaram as caixas de papelão na lixeira e foram para o carro, em direção ao almoço e às compras.
Demi estava cansada quando chegou em casa. se sentindo um tanto culpada mais uma vez. Ela ficou em dúvida se isso seria um sentimento constante agora. Culpada por estar viva e por Zac estar morto. Culpada por ter se divertido hoje, em vez de ficar afogada em lágrimas como estivera no início da semana. Culpada por ter compartilhado da escolha dos móveis com Joe, em vez de sua mãe ou Virginia. Culpada por terem comprado o primeiro ursinho de pelúcia do bebê juntos.
A culpa era algo que ela estava se acostumando a ter, ela pensou, enquanto esperavam pelo elevador. Será que isso ia passar? Ou será que era algo que estaria com ela para sempre?
O elevador parou no andar de Demi e ambos saltaram.

- Onde você estava? - Virginia perguntou.