segunda-feira, 13 de maio de 2013

CAPÍTULO 58



- Você realmente achou que eu ia aceitar uma proposta dessas, Clóvis? Abandonar meu marido por um carro? Nem um Porsche vale tanto.
- Você não ama o Joe – ele apontou. – Me mata ver você se vendendo, como uma... mulher da vida.
Endireitei os ombros.
- Não se preocupe comigo. Eu não me vendo! – frisei.
Ele sacudiu a cabeça.
- Demetria, querida, eu sei como você pensa. Por que acha que o seu avô deixou aquele testamento? Você é previsível. Ninguém acredita que você e o Joe se casaram por amor. Eu sei que motivos te levaram a fazer o que fez. O que me preocupa é o que ele exigiu para aceitar fazer parte dessa farsa.
Eu queria gritar. Vovô realmente me complicara a vida deixando aquele advogado enxerido a cargo de tudo.
- Não é uma farsa! Eu amo o Joe.
- Não precisa me responder nada agora – ele disse calmamente. – Mas pense bem. Reflita sobre tudo que você pode voltar a ter antes de me dar uma negativa. Pode me responder na festa anual da empresa. É bem razoável, não acha? Sua casa, seu carro estarão aqui, te esperando. Me sinto responsável por você. Eu te tenho como uma filha, Demetria. – Ele tentou tocar minha mão, mas recuei. Ninguém substituiria meu pai. Ou, no caso, meu avô – Por isso vou agir como um pai se for preciso. Vou fazer tudo que estiver ao meu alcance para te afastar do Joe. De uma forma ou de outra, vou te proteger.
- Nem tente! – trinquei os dentes.
- Você limitou minhas opções – disse ele, com um brilho no olhar que não condizia com seus atos. Era quase... perverso. – Se eu precisar afastar o Joe da empresa para que você pense com clareza, reflita sobre o assunto sem interferências, pode estar certa que não vou hesitar.
Havia mais uma coisa que ninguém poderia arrancar de mim, além de meu orgulho.
Meu cruzado de direita.
Clóvis não viu quando meu punho acertou em cheio seu nariz, mas ouviu o osso se partindo. Nem viu quando me lance para cima dele e continuei atacando. Aquela fúria estava contida desde o jantar com a diretoria. Eu lhe devia alguns socos e mais alguns chutes só por ter feito Joe de idiota. Entretanto, o motorista dele foi rápido e conseguiu me tirar de cima do patrão antes que eu, digamos, realmente o matasse a base da porrada.
- Nunca mais ouse interferir na vida do Joe para me atingir. Tá me ouvindo, Clóvis? Nunca mais chegue perto dele!
- Você está fora de si – ele resmungou surpreso, pressionando o nariz, que jorrava sangue como um esguicho de jardim. – Quebrou o meu nariz!
- Chegue perto do Joe outra vez e eu garanto que vou quebrar muito mais coisas nessa sua cara! – vociferei, me contorcendo sob o aperto férreo do motorista. – Tantas que você vai parecer um legítimo Picasso quando eu terminar!
- Leve a Demetria pra casa, Jorge. Antes que ela acabe machucando mais alguém – Clóvis gesticulou em minha direção com uma das mãos enquanto a outra tentava, sem sucesso, conter o violente fluxo de sangue em suas narinas.
O motorista segurou meus braços com mais força, mas me contorci, girando e me debatendo ate conseguir me desvencilhar.
- Eu conheço bem a saída – dei as costas a eles e saí dali o mais rápido que pude.
Ao alcançar a rua, examinei minha carteira só para me certificar de que dinheiro não brotava mesmo. Andei algumas quadras antes de ligar para Joe humildemente pedindo carona. Ele se prontificou imediatamente. Expliquei onde estava e pude imaginar como suas sobrancelhas se arquearam quando ele indagou:
- O que você está fazendo aí?
- O Clóvis queria... me mostrar uma coisa – Senti as juntas dos dedos da mão direita doerem um pouco. Isso era bom. O nariz de Clóvis devia estar doendo muito mais.
Como ele ousara? Como ousara tentar me comprar tão abertamente? E porque aquela fixação repentina com meu bem-estar? Clóvis nunca me dera muita importância, nem mesmo quando vovô ainda era vivo. Eu não conseguia entender. Talvez ele estivesse seguindo mais uma das recomendações de vovô, como um teste, para ver se eu me venderia ou algo assim. Ou será que eu estava entendendo tudo errado e Clóvis realmente só queria me ajudar? Mas ajudar uma pessoa prejudicando outra? Não tinha lógica nenhuma.
Enquanto esperava Joe, sentada no meio-fio, tentei não pensar na oferta de Clóvis. Voltar para minha vida de antes e ter um pouco de normalidade de novo. Contudo, além de não ter meu avô por perto – e perder minha dignidade -, eu não teria Joe, muito menos seu respeito e sua admiração. E abandoná-lo não estava em meus planos futuros, ainda que nosso acordo previsse isso.
O carro de Joe dobrou a esquina, vindo devagar, à minha procura. Levantei-me limpando a parte de trás da calça com as mãos. Ele encostou o carro, abaixando a janela do carona, e me estudou atentamente, com a testa franzida.
- Tudo bem com você? – quis saber.
Entrei no carro e bati a porta com um pouco mais de força que o necessário.
- Fora ter perdido a cabeça e saído no braço com o Clóvis? Tô bem.
- Você o quê? – seus olhos se arregalaram.
- Quebrei o nariz dele – coloquei o cinto de segurança.
- Você quebrou o nariz do Clóvis? - Joe perguntou, perplexo, mas um pequeno sorriso, que ele tentou esconder, se apoderou de seus lábios.
- Você não devia sorrir assim – mas não pude conter meu próprio sorriso. – O que eu fiz foi errado... Em parte. O Clóvis passou dos limites e eu... Bom, obviamente também passei, mas não sei se agi certo. Eu não devia ter perdido a cabeça desse jeito. Só que ele me atacou onde mais me machuca, Joe. Acabei revidando. Agi sem pensar. De toda forma, deixei claro meu ponto de vista. Pelo menos isso está resolvido.
- Ah, agora posso ficar tranquilo! – Ele resmungou, irônico. – O que foi que aconteceu?
Sacudi a cabeça, inquieta.
- Deixa pra lá. Desculpa ter te ligado. A Sel ainda está no consultório e eu não tenho grana nem para o ônibus.
Ele sorriu de leve, ainda que parecesse preocupado. Ao menos um pouco da tensão deixou o seu rosto.
- Engraçado você tocar nesse assunto – começou. – Eu quero te mostrar uma coisa.
- Que coisa? – Eu quis saber, com a curiosidade subitamente inflamada. Havia muitas coisas que eu queria que Joe me mostrasse. Muitas mesmo.
- Você já vai saber. Já levei pra nossa casa – ele sorriu, sedutor. 
-------------------------------------------------------------------------------------
HEY! desculpa a hora é que eu estou fazendo umas coisinhas e se tudo der certo vou ter os finais de semana livre, quanto ao capítulo gente eu particularmente adoro esse! violenta eu? que nada, ele tava merecendo!   

3 comentários: