sábado, 18 de maio de 2013

CAPÍTULO 78 MARATONA


- O que foi que eu falei sobre essa historia de morar junto, rapaz? O que eu te disse sobre tratar uma mulher de forma tão desrespeitosa, Joseph? – Ele esbravejou.
- Me dá isso aqui – Denise pegou minha lata de cerveja. – vou pegar refrigerante para você, querida.
- Ah, dona Denise, não é necess... – tentei manter minha cerveja, a única coisa que parecia não ter surtado ainda.
- Claro que é necessário. Bebida alcoólica não faz bem para o bebê. Ah, Demetria que noticia maravilhosa.
- Mas eu não...
- Caraca, Joe! Acho bom você não pisar na bola com a Demetria, ou vai se ver comigo! – Ameaçou Justin. – E não estou brincando dessa vez.
Joe exalou ruidosamente.
- Muito bem, pessoal. Vocês vão ouvir o que tenho a dizer, ou vão continuar fazendo suposições? – falou ficando em pé, tentando acompanhar o vai e vem do pai. Todos o ignoraram.
Levantei também, sem saber o que fazer.
- O que foi que eu disse, Denise? Eu falei que ele ia acabar colocando a Demetria numa posição ruim. O que a família dela vai pensar? Que foi essa educação e os princípios que ensinamos a esse moleque?
- Querido, acalme-se um pouco – pediu ela. – Toda essa agitação vai fazer mal para Demetria, ela não deve se exaltar. Não faz bem para o bebê – e espalmou a mão em minha barriga, de forma protetora.
- Dona Denise, eu não estou... – e me afastei dela, constrangida.
- Pois ela não vai ter motivos para se exaltar, porque o seu filho vai agir como homem! – Paul parou e encarou Joe. – Eu vou dizer o que você vai fazer agora, meu rapaz – ele apontou um dedo autoritário para o filho. – Você vai procurar a família dela, pedi-la em casamento, se desculpar por ter colocado o carro na frente dos bois e dar seu nome a essa menina e à criança que ela carrega no ventre.
- Oh, Meu Deus! Um netinho! – Denise saltitou.
- Isso pode ser legal – conjeturou Justin. – Principalmente se for um menino. Posso ensinar a ele tudo que sei. Videogame, bolinha de gude, carrinho de rolimã... Uh, ele vai adorar a minha coleção de carrinhos de ferro...
- A Demetria não tem família, pai – explicou Joe, abrindo os braços, suspirando exasperado. – Os pais dela morreram quando ela era pequena, e o avô morreu há pouco mais de dois meses. Mas ela não está Gr...
Isso fez com que Paul realmente se enfurecesse.
- E você se aproveitou dela sabendo de tudo isso?!
- Se bem que se for uma menina também pode ser legal – continuou Justin, com ar sonhador. – Quer dizer, nem toda menina gosta só de boneca. Talvez ela se amarre em carrinhos também. Eu podia construir uma casinha pras bonecas dela, com garagem e tal. Posso pintar de rosa se ela gostar, mas preferia pintar de azul, pros carrinhos não se sentirem muito afeminados. E depois, quando ela crescer, vou poder ameaçar tudo que é moleque que chegar perto dela... Hum... acho que eu prefiro que seja menina.
Respirei fundo.
- Não estou grávida.
Ninguém me deu ouvidos.
- Você se aproveitou de uma menina desamparada, Joseph Jonas? – esbravejou Paul. – Que tipo de homem você se tornou?
- Não estou grávida! – eu disse mais alto.
- Seu pai tem razão, Joe. Você não devia ter feito isso. A Demetria é uma moça adorável. Ela não merecia ser tratada assim.
- EU NÃO ESTOU GRAVIDA! - gritei.
Um silêncio fúnebre se instalou na sala. Todas as cabeças se voltaram em minha direção. Justin me olhava duvidoso, Paul não parecia acreditar, Joe estava aliviado por finalmente terem me ouvido, e Denise...
Denise estava à beira das lágrimas.
- Você não está grávida? – sussurrou ela.
- Não.
- E por que vocês fizeram a gente acreditar que estava? – Quis saber Justin irritado.
Joe se colocou ao meu lado, me abraçando pela cintura.
- Nunca dissemos que a Demetria estava grávida. Vocês é que deduziram isso. Erroneamente – ele frisou.
- Mas... vocês não vão ter um bebê? – insistiu a mãe.
- Não, mãe. Não vamos.
- Mas... Mas... – ela piscou algumas vezes, atônita. Senti uma fisgada no coração por desapontá-la, ainda que um bebê estivesse longe de minha lista de desejos. Na verdade, nem estava na lista.
- Então o que você queria nos dizer, filho? Quis saber Paul, com a testa franzida.
Joe inspirou profundamente antes de soltar:
- A Demetria e eu nos casamos.
Paul prendeu a respiração.
- Vocês vão se casar?
- Não, pai – disse Joe, lentamente. Ergueu a mão esquerda e exibiu a larga aliança. – Nós já nos casamos. Foi cerca de um mês atrás.
E, se eu achei que nada poderia ser pior que a confusão de poucos minutos antes, quando eles pensavam que eu estava grávida e Joe era um irresponsável, era porque não conhecia muito bem aquela família.
O rosto de Paul se tornou duro como o de um cadáver. Denise soltou um horrorizado “Oh!”, e Justin... era Justin.
- Vocês já O QUÊ?! – gritou o garoto.
- Já nos casamos – confirmou Joe.
Denise, atordoada, precisou da ajuda de Paul para se sentar. Justin proferia uma infinidade de palavrões, todos eles direcionados a Joe.
- Eu não acredito nisso! – ele resmungava. – Por que vocês não contaram pra gente? Por que a gente não foi convidado? Você tem vergonha da sua família, Joe é isso?
- Não – Joe respondeu, um tanto sem jeito. – É que... O que aconteceu... Na verdade nós...
Era difícil vê-lo lutando para encontrar as palavras certas, para não magoar ainda mais sua família, pessoas boas que haviam me acolhido em sua casa, em sua vida.
E que mereciam saber toda a verdade.
- Justin, a culpa é toda minha – comecei, retorcendo os dedos nervosamente. – eu coloquei um anúncio no jornal procurando um marido, oferecendo recompensa, porque o meu avô tinha morrido e minha herança ficou vinculada à existência de um cônjuge. Então, quando Joe me procurou e fechamos nosso acordo de casamento, não tinha nada de romântico envolvido. Por isso vocês não foram informados. Fizemos tudo para que parecesse verdadeiro, para que o cuidador da minha herança acreditasse. Mas foi só isso. Uma cerimônia simples no cartório. A gente nem se suportava na época. Tudo não passou de um acordo comercial para que eu pudesse retomar a minha...
- Espera um instante, mocinha! Você está dizendo que comprou os serviços do meu filho como amante? – Interrompeu Paul, o rosto assumindo um tom arroxeado. O fato de eu não ser sua filha não o impediu de me lançar um olhar tão reprovador que me fez encolher e me esconder parcialmente atrás do ombro de Joe. Paul me lembrava muito vô Marcus quando estava furioso.
- Pai, por favor – grunhiu Joe. – Não é nada disso. Vamos sentar e explicou tudo com calma.
A quietude que invadiu a sala, exceto pela voz contida – porém um pouco ansiosa – de Joe, era assustadora. Eu me peguei olhando para o chão diversas vezes, envergonhada enquanto ouvia tudo: o anúncio, o casamento de fachada, a herança, mentiras e mais mentiras. Vez ou outra Joe acariciava meu braço, meu ombro, meu joelho, depois que me sentei ao seu lado. A família Jonas ouvia tudo num silencio de morte, nem uma única pergunta foi feita ate que Joe terminasse seu relato.
- Por isso que eu não contei pra vocês sobre o nosso casamento – ele resmungou, olhando fixo para as próprias mãos. – Eu conheço vocês e sabia que iam se apaixonar pela Demetria assim que botassem os olhos nela, como de fato aconteceu. Não queria que sofressem quando nosso acordo terminasse e ela saísse da nossa vida. Mas as coisas saíram de controle e... Ainda não consigo acreditar na sorte que eu tive – ele sacudiu a cabeça, sorrindo um pouco. – Descobri que ela correspondia aos meus sentimentos, por isso decidimos contar tudo pra vocês. Nosso casamento ficou de um jeito diferente, admito, mas posso garantir que hoje é um casamento de verdade. Em... Todos os aspectos.
Ele parou de falar e entrelaçou os dedos aos meus, apertando-os. Nós nos encaramos por um momento e esperamos pela reação da família de Joe. E esperamos. E... Esperamos. Os Jonas se entreolhavam
como se fizessem algum tipo de comunicação silenciosa. Como um júri decidindo se mandava ou não o acusado para a cadeira elétrica. Ou acusados, como era o caso.
Por fim, Denise e Paul se colocaram de pé. Joe e eu também ainda que um pouco inseguros. Justin se aproximou.
E a reação deles mais uma vez me surpreendeu.
- Ah, pobre menina! – Denise exclamou, me abraçou ternamente. – Imagino como estava sofrendo, como estava desesperada para tomar uma atitude dessas.
- E ser obrigada a casar com o Joe. Com o Joe! – resmungou Justin. – Ela devia mesmo estar desesperada.
- Tão jovem e completamente sozinha... – Paul acariciou meus cabelos. – Sinto muito pela sua perda.
- Mas você não está mais sozinha – Denise me soltou e olhou dentro dos meus olhos, com tanta intensidade que quase me fez chorar. – Você tem o Joe e a todos nós. Somos sua família agora.
- O-obrigada, dona Denise – consegui dizer com a voz embargada.
Ela sorriu, depois se recompôs, alisando o avental.
- Bom, o que estamos esperando? Vamos comer antes que o jantar esfrie.
O falatório simultâneo recomeçou. O jantar prosseguiu como se nada tivesse acontecido, com exceção de Justin, que permaneceu o tempo todo carrancudo e não falou com Joe. Eu me senti como se realmente fizesse parte daquilo tudo. Gostava do barulho, das risadas, das brincadeiras à mesa. Era como se eu me encaixasse ali também.
Já era tarde quando pegamos a estrada. Eu estava cansada, mas extremamente feliz.
- Acho que foi tudo bem... – comentei, encostando a cabeça no banco do carro.
- Humm... Fácil pra você falar – zombou Joe. – Você acaba de ganhar um pai, uma mãe e um irmão caçula ciumento. Eu ainda estou sob julgamento. – Ele soltou uma das mãos do volante e alcançou a minha, plantando um beijo demorado em minha palma. – Mas estou aliviado. Pelo menos as mentiras acabaram. Finalmente vamos ter um pouco de paz.
Só que Joe estava errado. 
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Não sei vocês mais acho esse um dos capítulos mais engraçados, essa família é super legal. Vamos comentar pra mais um? 

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