domingo, 5 de maio de 2013

CAPÍTULO 30 MARATONA


Depois daquela noite reveladora – de minha parte, pelo menos -, decidi que Joe e eu poderíamos ser amigos, afinal estávamos nos ajudando, era natural que nos entendêssemos melhor. Não que eu o quisesse louco de amores por mim ou algo do tipo, mas que mal faria se de repente nos tornássemos tão íntimos que ele não pudesse mais viver sem mim?
Naquela manhã, Joe foi chamado para uma reunião com a diretoria. Parecia tenso ao subir até o nono andar. Blanda, a garota do decote, que hoje usava outro modelito nada recatado, aproveitou para se aproximar da minha mesa.
- Estão decidindo quem vai ser o diretor de Comex – comentou ela. – O Joe tem boas chances.
- Ele é muito competente – eu disse desinteressada. Continuei trabalhando numa planilha supercomplicada e esperava não cometer erros dessa vez. O cancelamento do imenso pedido dos argentinos ainda fazia Joyce estremecer.
- Será que ser marido da futura herdeira desse império não tem nada a ver com isso? – ela sugeriu.
Levantei os olhos. Um sorriso venenoso brincava em seus lábios cheios.
- Entendi mal ou você está insinuando que o Joe pode ser promovido por ter se casado comigo e não pela capacidade dele?
- É você quem está dizendo... – ela levantou as mãos, as palmas viradas para frente, exatamente como faz um jogador de futebol depois de uma entrada maldosa que quebra a perna do adversário em dezoito pedaços.
Levantei-me bruscamente. Ela recuou um passo, assustada.
Bom!
- Escuta só – comecei, a voz baixa e contida. – Caso você ainda não tenha notado, eu sou uma simples secretaria, com um salário certamente menor que o de qualquer um neste andar. Se o Joe fosse esperto, teria ficado longe de mim.
- Convenientemente, depois de alguns meses de casada, você vai receber a sua fortuna e assumir os negócios do seu avô, não é? E não fui eu quem inventou essa história, é o que todo mundo anda dizendo – ela deu de ombros – Que o Joe deu o golpe do baú.
Apoiei as mãos na beirada da mesa e me inclinei ligeiramente em sua direção.
- Você está indo longe demais, Blanda. Estou avisando.
- Eu andei observando vocês. Pra mim não existe nenhum tipo de relacionamento entre vocês dois. Não me convenceram. Na verdade, acho que esse casamento não passa de uma grande piada. Mas não se preocupe, a verdade sempre aparece. Mais cedo ou mais tarde – ela sorriu enquanto voltava para sua mesa.
Claro que não consegui me concentrar em mais nada depois disso. Refleti por um bom tempo, na tentativa de descobrir quem poderia ter iniciado o boato, e me perguntei se Joe já o tinha ouvido.
Eu o esperei no corredor, impaciente. Levou séculos para que ele aparecesse. Interceptei-o assim que ele saiu do elevador.
- Precisamos conversar – e o peguei pelo braço arrastando-o até as escadas que ninguém nunca usava.
- Aconteceu alguma coisa? – ele perguntou.
- Como foi a reunião?
Ele sorriu, animado.
- Os diretores marcaram um jantar para sexta-feira. Eles vão decidir quem vai ocupar a vaga de um jeito mais informal. Do jeito que o seu avô costumava fazer. Estou no páreo.
- Isso é ótimo! – Olhei ao redor para me certificar de que estávamos sozinhos. Puxei Joe mais alguns passos, parando atrás de um pilar largo. Não havia como sermos vistos ali. – A Blanda me disse uma coisa agora há pouco.
- Que tipo de coisa? – ele perguntou, inseguro. Que estranho...
- Ela insinuou que você casou comigo para ser promovido e que o boato tá rolando na empresa toda – bufei. – Garota mau-caráter! Tive vontade de enfiar meu sapato na cara dela...
Suas sobrancelhas se franziram.
- Por quê? – ele quis saber.
- Como assim, por quê? Ela acha que você deu o golpe do baú, quando na verdade sou eu que estou te usando para conseguir minha fortuna de volta.
Ela riu suavemente.
- Fico muito comovido que você queira me defender dessa forma, Demetria. Não imaginei que você fosse capaz disso. Mas a Blanda está certa. Eu casei com você para tentar ser promovido. E não me importo muito com o que ela diz.
- Tá, mas você trabalhou duro. E meio que foi obrigado a casar comigo por culpa das ideias absurdas do meu avô. – Vovô deixara muita confusão para trás. Eu lhe diria poucas e boas na próxima vez que ele invadisse meus sonhos. Se é que ele voltaria a aparecer. – E todo mundo parece saber que o nosso casamento é uma farsa. Não faço ideia de quem espalhou isso por aí, mas o fato é que acham que você é um golpista.
Ele refletiu por um momento antes de responder tranquilamente.
- Não me importo com isso também. Desde que não traga complicações para nós dois, claro. Eu trabalho duro aqui na empresa. Acho que fiz por merecer a promoção, certo? Vamos fingir que não sabemos de nada.
- Essa é a coisa mais ridícula que você já me disse – cruzei os braços sobre o peito. – E você já me disse muita coisa ridícula!
Ele riu.
- Se a gente tentar se justificar, o que você acha que vai acontecer?
- Vão saber que eu não levo desaforo pra casa?
- Todo mundo aqui já imagina isso, Demetria – ele sorriu. – Além disso, aposto que, se a gente começar a se justificar, todo mundo vai ter certeza que somos mesmo uma fraude. O melhor agora é não dar bola. Deixar que falem até cansar e mudem o foco para outro boato.
- Você acha que o Clóvis já ouviu os rumores?
- Tenho certeza que sim. Mas vamos deixar tudo como está. Confia em mim. – E, por mais louco que pudesse parecer, eu confiava. – Você pode jantar comigo na sexta?
O convite varreu todas as minhas preocupações para longe. Senti-me quente e viva e ansiosa e faminta em questão de segundos.
- Claro – sorri. – Algum motivo especial?
- O jantar com a diretoria, lembra? – ele sussurrou.
- Hãã... claro! - O que mais seria? Um encontro com a própria esposa? – Ah, que inferno! Eu não tenho nada bacana pra vestir. A maior parte das minhas roupas ficou na mansão.
Ele me mostrou um sorriso torto, dando um passo à frente e ficando a dez centímetros de distancia.
- Você fica linda com qualquer coisa.
Um arrepio delicioso se espalhou por todo o meu corpo, alcançando até os dedos dos pés. Naquele momento, ele poderia ter dito “você fede” ou “tire a roupa” que o efeito teria sido o mesmo – se bem que, se ele tivesse pedido que eu tirasse a roupa, eu provavelmente teria reagido de forma muito diferente. Não foi só o que ele disse que fez meu mundo virar por alguns instantes, mas a forma como disse. A voz rouca, quente, sussurrada, tão intima, doce e ao mesmo tempo imperiosa, me lançou numa espiral de sensações tão arrebatadoras que eu mal sabia dizer em que parte do planeta me encontrava.
Congelei quando vi sua mão se erguer para tocar meu pescoço. Meu coração desatou a bater como louco dentro do peito, e pensei que pudesse explodir com as pancadas urgentes. Lentamente, Joe se inclinou até que seus lábios quase tocassem os meus. Àquela distancia, pude ver o caleidoscópio hipnótico em seus olhos mais uma vez, embora suas pupilas estivessem dilatadas e parecessem me engolir.
- Pensei que namoro no escritório fosse proibido! – arrulhou alguém.
Confusa, olhei para o lado e vi Blanda com uma das mãos no alto da parede e a outra na cintura, o rosto cínico contorcido num sorriso tão falso que quanto uma nota de quinze reais.
Joe se endireitou num átimo.
- Sabemos disso – ele disse. – Só estávamos conversando.
- Não foi o que pareceu, - retrucou, venenosa. Blanda se demorou mais um segundo ou dois antes de se virar e sair rebolando, certamente tentando atrair a atenção de Joe. Não funcionou. Seus olhos ficaram grudados nos meus o tempo todo.
- Acho melhor a gente voltar. A Blanda tem bastante assunto agora – ele falou, pegando minha mão e me arrastando de volta para o corredor que levava ao nosso departamento.
Uma onda de constrangimento fez desaparecer minha tontura. Era disso que se tratava. Encenação. O coração dele provavelmente não estava acelerado como se ele tivesse subido cinco lances de escada correndo, nem seus joelhos pareciam ter se transformado em gelatina. Joe estava atuando. Eu... não.
- Almoça comigo? – ele pediu ao me deixar em minha mesa.
Apenas sacudi a cabeça, confirmando. Não tinha certeza se conseguiria responder sem deixar transparecer minha frustração.
- Ótimo – e delicadamente ele beijou minha mão, antes de soltá-la e se dirigir à sua mesa.
Fiquei observando ele se afastar com meus pensamentos em desordem. O que estava realmente acontecendo? E seus ombros sempre foram assim tão largos? Quer dizer, ele era alto e já tinha dito que malhava, e eu sabia de seu passado de nadador universitário, mas aquelas costas em V, a cintura estreita, o traseiro pequeno e benfeito, que parecia convidar minha mão a...
- Demetria. 
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Como vocês estão rápidas nos comentários hein, bom ao som de Shut Up and Love Me, o que não tem nada a ver com capítulo mais estou ouvindo nesse momento posto mais esse capítulo. 

5 comentários:

  1. ahaaaann eu estou amando essa maratona \o
    Poosta logo ta lindo demais <3 xo

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  2. Estou enlouquecendo aqui. Demi ta na hora de vc encenar a mulher apaixonada e mostrar nesse nadador o que é ficar sem ar

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  3. Ameiiiii queria que o beijo tivesse acontecido

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