quinta-feira, 16 de maio de 2013

CAPÍTULO 67


Com o rosto enterrado em seu peito, seu abraço férreo impedindo que eu me livrasse daquele doce cativeiro, as lágrimas assumiram o controle e caíram livremente. Ele enterrou o rosto em meus cabelos, e o aperto ao redor do meu corpo se intensificou, como se quisesse me fundir ao seu, como se ele quisesse se apossar da minha dor e toma-la para si. Aos poucos, consegui me controlar o bastante para que os soluços cessassem.
- Desculpa – sussurrei, secando os olhos e torcendo para que não estivesse com a cara toda borrada, à la Alice Cooper. – Não consegui evitar... Foi... – engoli em seco.
- Horrível – ele completou.
Apenas assenti.
- Às vezes acho que eu realmente falo com ele, Joe. Que sinto a presença dele, o toque. – Eu me desvencilhei de seus braços e me virei, ficando de frente para a água cristalina, para que ele não visse minha tristeza.
Silenciosamente, ele se aproximou, até ficar bem ao meu lado. Tentei imaginar o que Joe estaria pensando. Ele achava que eu era doida? Tinha medo de que eu saísse por aí dizendo que falava com gente morta? Temia que eu surtasse enquanto ele dormia e o atacasse com uma faca? Certamente não devia ser nada agradável saber que a garota com quem divide o apartamento acredita que fala com gente morta. Fiquei entre ele pensar que eu simplesmente mentia ou que havia perdido o juízo, como tia Celine.
Tia Celine era a irmã mais velha de vô Marcus. Ninguém notou suas esquesitices até que ela começou a dormir dentro do closet, porque dizia que havia nazistas dançando em seu quarto e que a cantoria alemã não a deixava repousar. Levou anos para que vovô conseguisse fazê-la tomar os medicamentos, mas era tarde demais, ela já vivia em seu mundinho e raramente aparentava lucidez. Eu gostava de tia Celine. Ela sempre me entupia de chocolate quando meu avô dava as costas. Eu era pequena quando ela decidiu me dar alguns conselhos, antes de morrer. “Nem pense em se casar com o príncipe encantado”, ela me disse certa vez. “Case-se com o lobo mau. Ele sim saberá tratar você bem”. Na época, eu tinha oito anos e não entendi muito bem o que ela quis dizer. Foi na adolescência que descobri o que sua metáfora queria dizer. Talvez por isso nunca quis me ligar a ninguém.
Até conhecer Joe, que era parte lobo mau, parte príncipe encantado. E que estava calado há tanto tempo que tive que olhar para ele. Seus olhos me examinavam atentamente.
- Ele é tão real, Joe. Quer dizer, nos meus sonhos. É ele! É o mesmo homem que sempre foi. Ele é real! E me aconselha como antes, e às vezes eu sinto algo, uma força... Não sei como explicar, parece que algo está me protegendo, como se vovô ainda estivesse por perto.
- Isso é um pouco apavorante – ele disse, mas sorriu de leve.
Não era bem o tipo de resposta que eu esperava.
- Você... acredita em mim? – perguntei, insegura.
- E por que não acreditaria? Você teve uma ligação muito especial com o seu avô. Se existe mesmo vida após a morte, e o sr.Marcus está vendo tudo o que você está passando, não duvido que esteja perto de você, tentando te proteger – ele disse, muito seguro. – Claro que acredito em você.
Suspirei, aliviada.
- Ele está tentando me ajudar, eu sei que está. Eu é que sou cabeça-dura e não dei ouvidos ao que ele disse. E tudo acabou ficando mais complicado.
Um pouco hesitante, Joe deslizou a mão pela balaustrada até alcançar a minha. Um calor denso e abrasador percorreu meu braço e alcançou meu peito quando ele fechou os dedos ao redor de minha mão.
- Quer falar sobre isso? – perguntou.
- Eu... eu preciso. Não aguento mais isso. Respirei fundo antes de começar. – Tudo bem, a verdade é que... bom... o Clóvis desconfia que o nosso casamento é uma farsa.
- Ainda? – ele perguntou em voz baixa.
- Na verdade, ele tem quase certeza. E me procurou, primeiro me alertando dos riscos que a sua carreira corre se a historia vier à tona. Fiquei tão confusa quando ele disse que você ia se prejudicar que eu quis te contar da primeira vez, eu juro, só não tive coragem.
- Então foi isso – ele me encarou, abaixando um pouco a cabeça para que nossos rostos ficassem na mesma altura. Sua voz era como veludo em minha pele. – A conversa no carro. Foi isso que te deixou tão assustada.
Assenti.
- Mas não foi só isso.
- Não? – sua esta vincou.
- Não. O Clóvis comprou o meu cupê do cara pra quem eu vendi. Naquela tarde na mansão, quando eu bati nele, ele pediu para anular o casamento. E me ofereceu o carro como moeda de troca.
Ele ficou em silencio por alguns minutos. O rosto era uma máscara sem expressão.
- Você aceitou? – inquiriu. A voz não tinha entonação alguma.
- Você viu o rosto dele? – ri, nervosa.
- Ah, - ele disse, um meio sorriso no rosto.
- Tem mais – sussurrei.
- Tem? – ele me encarou inquisitivamente. A força de seus olhos era tanta que tive que desviar os meus para continuar.
- Eu ainda não contei o pior. No jantar da L&L para decidir quem seria o novo diretor do Comex, o Clóvis me contou que foi o Hector quem sugeriu ao meu avô me excluir do testamento até que eu estivesse casada. Na época, não entendi o que aquilo significada, mas agora está tudo muito claro. Eu assumo o meu patrimônio, o Hector perde o cargo de presidente do conglomerado. Ele não quer que isso aconteça. A Blanda contou pra ele que nosso casamento é uma farsa, e agora o Hector está tentando encontrar provas. Então, se ele conseguir, seu bom nome, Joe, seu esforço, seu talento, seus sonhos, vai tudo por água abaixo. Me desculpa.
Comprimi os lábios, desejando não ter dito aquelas palavras, mas eu dissera e Joe as ouvira. Levou meio minuto para que ele perguntasse:
- Quem te contou isso?
- O Clóvis. O Hector procurou ele. O Clóvis tem feito pressão para que eu anule o casamento, porque se o nosso acordo for descoberto eu perco o direito à herança pra sempre. Mas ele acha que o Hector é esperto o bastante para desmascarar a gente e tem me torrado a paciência por causa disso. Ele quer que eu anule o nosso casamento antes que a coisa toda exploda.
Joe assentiu, sério, muito sério.
- E Joe... – Seus olhos estavam presos aos meus, brilhantes, cheios de luz, mas não me devolviam nada. – O Clóvis escolheu o Jefferson simplesmente porque você confrontou ele aquele dia no refeitório. E ele não gosta de você porque você é meu marido. Ele acha que você é um homem perverso, que me usa como escrava sexual ou algo do tipo. Sinto muito – baixei a cabeça.
Houve uma longa pausa, e sua mão deixou a minha.
- Por que você não me contou isso antes?
- Eu tentei algumas vezes, mas acabava recuando porque... eu fiquei medo. Me perdoa, Joe. Eu não pude fazer nada a tempo. Sei como sua carreira é importante para você. Se o Clóvis tivesse me dito antes que ia estragar a sua promoção, eu teria tentado alguma coisa, argumentado ou apelado... qualquer coisa, mas não deu. Você não sabe como eu lamento. Foi por isso que procurei o Boris. Pra tentar fazer alguma coisa antes que o Clóvis te prejudique de novo, porque ele disse, naquela tarde em que quebrei o nariz dele, que vai afastar você de mim se for preciso, para me livrar de problemas. E não foi um encontro aquele jantar com o Boris. Eu juro!
- Demetria, olha pra mim – pediu ele, colocando uma mão em cada lado do meu rosto e o levantando até que eu olhasse para ele. – Por que isso te entristece tanto?
- Por quê? – indaguei, tentando engolir as lágrimas e falhando vergonhosamente. – Porque eu sou a garota-problema que destrói a vida e os sonhos de todos que se aproximam. Você tem razão, Joe. Eu sou a pedra no seu sapato. Você devia ficar longe de mim. Bem longe. Eu estraguei tudo.
Uma mecha de cabelo caiu na lateral de seu rosto, atraindo minha atenção imediatamente. Eu queria tanto acariciar aqueles cabelos escuros...
- Você não respondeu minha pergunta – disse ele, e a voz profunda reverberou por todo o meu corpo, deixando minha pele quente.
- Eu sinto muito. Eu devia ter imaginado que esse plano maluco de casamento de aluguel não ia dar certo. Eu estraguei os seus sonhos. Eu daria tudo pra poder consertar as coisas. – Joe ainda me encarava, tornando impossível organizar meus pensamentos e responder com clareza. – Tá, eu sei que não tenho nada agora, mas eu daria até as roupas do corpo e pegaria ônibus sem reclamar se isso fizesse e tempo voltar.
Seus olhos brilharam como na noite em que nos beijamos no sofá. Havia neles calor e desejo e fúria e medo.
- Demetria, por que você se importa com o que vai acontecer comigo? – ele ainda segurava meu rosto entre as mãos.
- Porque... – prendi uma das mãos em seu pulso – não quero que você seja infeliz.
Ele sorriu, aquele sorriso tímido que me fazia perder o fôlego.
- Eu também não quero te ver infeliz, Demetria. – Não era bem o tipo de reação que eu esperava. Na verdade eu não esperava nada daquilo. Onde estavam os gritos: “NÃO ACREDITO QUE PERDI MINHA CHANCE POR SUA CAUSA, GAROTA!”?
- Não quer? – perguntei, confusa.
Ele sacudiu a cabeça lentamente.
- Nesse momento, estou fazendo um esforço enorme para não entrar nesse salão e quebrar o que sobrou do nariz do Clóvis por te atormentar quando você já está tão fragilizada e enfrentando problemas demais. Mas você é mais importante neste momento. Posso lidar com ele depois. Você está triste e não quero te ver assim. Me dói a alma, Demetria. Sinto como se eu estivesse morrendo. Será que você poderia sorrir pra mim e me livrar dessa agonia? – ele pediu - Eu adoro o seu sorriso.
Eu engoli em seco. Seu rosto estava tão próximo do meu, as mãos tão quentes em minha pele fria. Suas palavras aveludadas eram como carícias em meu corpo. Senti meus joelhos falharem.
- Por que você está sendo gentil comigo? Não entendeu que eu estraguei tudo?
- Só para que você saiba – ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha -, eu já desconfiava que o Clóvis tinha escolhido o Jeferson porque confrontei as atitudes dele em relação a você. E, se quer saber, fiquei aliviado por ele não ter me escolhido. Eu não ia suportar pensar que devo ao Clóvis qualquer coisa que seja.
- Você desconfiava? – perguntei, atônita. – por que não me disse nada?
Ele comprimiu os lábios, impaciente.
- Porque sabia que você ia assumir a responsabilidade. E o único responsável sou eu. Não você! – ele segurou mais firme meu rosto quando tentei negar. – Não é culpa sua. Eu agi por conta própria e não me arrependo, faria tudo de novo se fosse preciso. Agora sorria para mim, por favor. Essa tristeza toda em seus olhos está me matando.
- Não dá pra sorrir num momento desses.
- Dá sim - ele disse, secando com os polegares as teimosas lágrimas que escorriam por meu rosto. – Aposto que você vai sorrir se lembrar de como nos embolamos naquela escada, logo depois que nos conhecemos. Você estava tão pedida, tão confusa, como se o fim do mundo estivesse chegando.
Suspirei.
- Era pior que o fim do mundo. A Joyce ia me exilar na copiadora.
- Isso com certeza é o fim dos tempos... – ele sorriu um pouco. – Ou você pode lembrar de como fiquei constrangido quando trombamos no corredor e me deparei coma cópia da sua... hã... – ele arqueou uma sobrancelha. – Você sabe do que estou falando. Não me obrigue a dizer.
Eu sorri um pouco, e seus olhos se iluminaram.
- Agora sim. Um sorriso tímido, mas ainda é um sorriso. Já vi um desses antes. Quando você está lendo, sorri dessa forma. – Sua mão continuava encaixada em meu maxilar, os dedos longos alcançando minha nuca.
- Eu não sorrio enquanto leio- contrapus.
- Sorri sim, o tempo todo. Eu prestei atenção – e o polegar deslizou por meu lábio inferior.
O toque me fez estremecer, e uma avalanche de sensações me sufocou. Joe parecia alterado também, sua voz estava rouca, as pupilas dilatadas e escurecidas, a respiração curta. Meu coração voava.
- Não faço outra coisa a não ser prestar atenção em você, Demetria. 
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HEY!oi meninas bom finalmente o Joe está se declarando para Demetria e ela está começando a contar a verdade para ele, ou seja as coisas estão entrando nos eixos, então vou postar mais 2 capítulos para vocês hoje, motivo amanhã PROVAVELMENTE não irei postar, motivo estou fazendo exames demicionais  para receber meu seguro, e vou passar o dia todo fora já estou cansada só de imaginar acabei de chegar em casa pois fui combinar meu novo horário de emprego e já começo na segunda então estou pensando em fazer uma maratona no sábado apenas já que no domingo vou á praia (mesmo não gostando muito) então é isso digam o que acham sobre isso.    

3 comentários:

  1. sim, mas podia ser mais do que dois xd, adoro a fic

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  2. belezaaa :P
    Mas posta loooogo os dois capitulos *_________*
    AAai beija logo JOOOOE!!!

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  3. Pode ser assim ansiosa para o próximo o capítulo ta perfeito

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