Por um segundo, eu não
sabia o que fazer – se esmurrava seu rosto sem dó ou me lançava sobre ele para
apressar o beijo. Mais logo ele se afastou, puxando algo do banco traseiro, me
deixando perplexa e cheia de sensações contraditórias.
– Aqui está – disse ele me
entregando um buquê de flores brancas variadas. – Achei que você ia precisar.
Peguei
o buquê rapidamente. Ele não queria me beijar, estava apenas pegando as
malditas flores. Claro que ele não queria me beijar. Assim como eu não queria
beijá-lo. Na verdade, não podia imaginar nada mais repugnante do que ter
aqueles lábios rosados e fartos sobre os meus.
Seguimos calados para o
cartório, no centro da cidade. Uma borboleta voava descontrolada e subitamente
se decidiu por uma única direção – a que levava ao meu encontro. Congelei na
calçada, respirando com dificuldade. Ela circulou Joe – que não deu a menor
importância ao inseto nojento – e depois partiu pra cima de mim.
– O que foi? Joe perguntou
quando notou que eu não o acompanhava.
– B-b-b-b-b-b... – foi o
que saiu.
– O quê? – ele se
aproximou, me observando atentamente.
– B-borboleta – gemi,
tremendo.
– Você tem medo? – ele
inclinou a cabeça enquanto espantava o bicho com uma das mãos.
Respirei aliviada quando a
vi se afastar.
– Medo? Que nada. Só... não
gosto muito de insetos.
Joe conseguira uma
cerimônia privada para aquela manhã de domingo. Ele havia convidado alguns
colegas de escritório. “Para dar credibilidade”, dissera. Convidei pouca gente.
Sel, Mandy, Nicholas e Mazé. Convidei também Clóvis e Telma, para que
assistissem ao espetáculo e me deixassem em paz de uma vez por todas. Eu temia
que , se ele descobrisse minha farsa o sacrifico fosse em vão.
Estavam quase todos lá
quando chegamos. Sel e Mandy apareceram minutos depois. Não deixei de notar o
olhar e os sorrisos de cumplicidade trocados entre Sel e Nick, mais ficou cada
um em seu canto. Como se não quisessem que ninguém soubesse que estava saindo –
quase todas as noites – havia três semanas.
Eu estava nervosa. Era um
casamento de mentira, mas ainda assim um casamento, Eu nunca sonhara com uma
festa espetaculosa nem nada. Na verdade, gostava de imagina que, se um dia me
casasse, seria num lugar exótico, como no topo de uma montanha da Mesa, na
Cidade do Cabo, e não em um cartório monocromático no centro da cidade sem
nenhuma família por perto.
Tive um pequeno sobressalto
quando uma mão quente e grande envolveu a minha. Olhei no rosto de Joe,
assustada, mas tentei me recompor. Ele apertou gentilmente minha mão e não a
soltou.
– Fica
calma. E tenta parecer feliz – disse num sussurro.
– No nosso acordo não
permite esse tipo de contato físico a não ser extremamente necessário – um
calor súbito inundou minha face.
Pode apostar que também não
me agrada muito essa encenação, mas é o nosso casamento, não se esqueça. E, já
estamos aqui, vou cumprir o meu papel. Se alguém não acreditar que esse
casamento não é real, não vai ser por falta de esforço da minha parte.
Ele tinha razão. Eu sabia
que tinha. Entretanto, fiquei ainda mais apavorada. Acontecia sempre que ele
ficava assim tão perto. Joe despertava sensações novas em mim, e eu não podia
lidar com mais nada naquele momento. Tentei sorrir com uma noiva radiante. Acho
que falhei.
O juiz de paz deu inicio a
cerimônia, lendo uma infinidade de coisas que eu não ouvi. Joe estava tenso,
olhando pra frente, minha mão ainda na sua. Às vezes ele apertava gentilmente.
Eu o fitei, mais ele encarava a parede clara atrás do escrivão. Então tudo
aconteceu muito rápido: assinamos os papéis, depois foi a vez das testemunhas e
BAM!, eu estava casada.
Em meio ao zumbido que a
tensão do momento me causou, vi Joe retirar do bolso do paletó uma caixinha e
entregá-la ao juiz de paz.
Isso me despertou do torpor
imediatamente.
– Joe, o que é...
– É a parte do espetáculo –
ele sibilou de volta.
Eu ainda estava atônita no
momento em que Joe enfiou a argola dourada e reluzente em meu dedo. Ele sorriu
quando o juiz teve que pigarrear para que eu pegasse a aliança e colocasse em
seu dedo, no dedo do meu marido. Engoli seco. Comecei a suar. Minha mão tremia
tanto que tive dificuldade para encaixar a aliança no anelar largo de Joe.
– Eu vos declaro agora
marido e mulher – disse o juiz cheio de pompa, oficializando nossa sentença...
quer dizer, nossa união.
Tudo ia relativamente bem –
Sel tirava centenas de fotos, Mazé chorava copiosamente e ninguém além de Joe,
parecia notar meu pânico. Contudo Mandy estragou tudo dizendo:
– Cadê o beijo do
casalzinho?
Apavorada,
olhei para Sel, que furtivamente apontou para Clóvis, atento a cada movimento
meu. Voltei-me para Joe que estava sério. Ele se virou devagar, me encarando,
até ficar de frente para mim. Encaixou as mãos grandes em meu queixo, inclinou
minha cabeça para trás e começou a fazer o percurso que traria seus lábios aos
meus.
Ah não. De jeito nenhum
esse camarada vai me beijar. Não mesmo!
Joe não podia me beijar. Eu
já havia fantasiado sobre os pelos em seu peito. Já havia imaginado como seria
estar na cama com ele. E meio que desejara beijá-lo meia hora atrás, quando
estávamos no carro. Isso sem termos tido nenhum contato físico. Ele
simplesmente não podia me beijar.
Não vou retribuir!
Aflita, tentei enviar
mensagens telepáticas sobre o que aconteceria com o seu nariz caso ele ousasse
colar aquele lábios suculentos e macios nos meus, mas ele não entendeu. Ou
fingiu não entender. Talvez minha mensagem tenha sido um pouco confusa, já que
aqueles olhos caleidoscópicos me desconcertaram.
Ok, talvez eu retribua. Só
um pouquinho...
E inexoravelmente, Joe me
beijou. Quando sua boca cobriu a minha, tive vontade de gritar para que
parasse, mas uma fração de segundo depois a doçura, o calor e suavidade do
toque me desarmaram e me vi de repente correspondendo, suspirando e ansiando
por mais. Não foi longo, mais foi mais do que um simples beijo. Foi um roçar,
provar, degustar de lábios que imprimiu tanto sutileza quanto desejo de se
aprofundar. Fiquei tão chocada com o que estava sentindo que mal pude me mover.
Joe se endireitou, o rosto
sério, olhos escurecidos como eu nunca vira antes. Eu não fazia ideia da
expressão em meu rosto, mas não devia ser das melhores, já que ele tocou meu
queixo com delicadeza e murmurou:
– Agora sorria.
Fiz o que ele pediu
atordoada demais para pensar em outra coisa. Os convidados se apressaram para
nos parabenizar. Ninguém parecia duvidar da veracidade de nosso casamento –
exceto Clóvis como o chato que era.
– Amada, você está
deslumbrante! – disse Telma, beijando o ar ao lado de minhas bochechas.
Foi tão repentino – Clóvis
comentou analisando Joe atentamente – Confesso que fiquei surpreso com a
notícia.
– Foi
coisa de momento. A gente não quis esperar – retruquei nervosa. – Pra que
esperar quando estamos tão apaixonados...?
– Como foi que aconteceu
mesmo? – ele questionou pelo que me pareceu ser a milionésima vez. – Como vocês
acabaram se apaixonando?
– Hã... foi... é...
– Amor à primeira colisão –
Joe interveio. Repremi um suspiro de alívio. – Fiquei louco pela Demetria assim
que ela me atropelou, em seu primeiro dia na empresa. Ela é uma garota
fantástica, foi impossível resistir aos seus encantos.
– Isso. Foi exatamente
assim – assegurei a Clóvis, cruzando os braços atrás das costas para que ele
não visse o quanto minhas mãos tremiam.
– Que romântico! – arrulhou
Telma – Demetria, amada, você não devia ter escondido de mim que estava
apaixonada.
– Eu não sabia bem o que
estava sentindo, Telma.
– E isso começou há pouco
mais de quê? Um mês? – Clóvis insistiu.
– Quarenta e noves dias,
para ser exato – Joe respondeu e passou os braços em minha cintura, muito
tranquilamente, me puxando para seu peito. – Quarenta e nove dias gloriosos,
não é, Demetria?
– Ãrrã. Pura alegria! –
murmurei. Eu me sentia um pouco zonza com Joe me abraçando daquele jeito tão...
íntimo. Eu sentia seus músculos firmes em detalhes impressionantes, comprimidos
contra meu corpo. Ele era tão grande, tão rijo, tão quente, e seu perfume tão
sedutor...
Tentei parecer à vontade
com tanta proximidade, passando os braços ao redor de sua cintura estreita. Fiz
o melhor que pude.
Clóvis franziu a testa,
mais se viu sem argumentos.
– Fico feliz por você
Demetria. Você está encantadora, Lembra muito sua mãe. Bom... vou deixar vocês
a sós. Devem estar querendo alguns momentos de privacidade.
– Estamos ansiosos! –
tentei parecer feliz.
Ele sorriu em resposta,
ainda que parecesse desconfiado.
–
Claro, claro. Só mais uma coisa. – Retirou um gordo envelope do bolso e me
entregou. – Seu avô não perderia seu casamento por nada.
Peguei o pacote um pouco
trêmula e o apertei de encontro ao peito.
– Obrigada. – murmurei
emocionada.
– Não me agradeça – Clóvis
sorriu, pegou a mão de sua esposa, se despediu e nos deixou.
Voltei o olhar para o
envelope, em um nó se formando em minha garganta. Fechei os olhos e encostei no
ombro de Joe, inspirando para me acalmar.
– Eu não queria enganar
ninguém – gemi de encontro ao ombro forte que me amparava.
– Eu sei – ele sussurrou,
acariciando meus cabelos, me confortando. Era tão bom tê-lo ao meu lado naquele
instante que se tornou um pouco mais fácil suportar tudo aquilo.
Foi então que me dei conta
de que ainda estávamos agarrados.
– Que ideia foi essa de me
abraçar? – me livrei de seus braços e tentei respirar normalmente. – Você não
pode me abraçar assim!
– O que você acha que estou
fazendo, Demetria? Acabamos de nos casar. Devemos parecer apaixonados.
– Não faça isso sem me
avisar primeiro. E ainda teve aquele beijo que francamente... – engoli seco, a
lembrança ainda quente e úmida em meus lábios – foi totalmente, completamente
desnecessário.
– Não concordo – ele
retrucou, o rosto impassível. – É assim que os casais costumam selar o
compromisso.
– Pois saiba que eu não
gostei – avisei, soando bem menos convincente do que pretendia.
– Não se preocupe Demetria. Prometo que
aquele foi nosso primeiro e último beijo.
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Desculpa não ter postado ontem, mas cheguei em casa super cansada ta sendo uma semana difícil, mas... hoje estou de folga e irei postar 2 ou 3 capítulos vamos ver, bom mudando de assunto esse casal é bem complicado acabaram se beijando de qualquer forma, ainda vai acontecer muitas coisinhas em relação ao casal, coisas frustrantes, prestem atenção na borboleta ok, até logo!
haaaa sabia que ia rolar beeijo u_u
ResponderExcluirO que tem nesse envelope??
Poosta logoo, AAAAAAAAAAAA DOIS OU TRES CAPITULO HOOJE, QUEEE LINDO, ESPERO QUE SEJA TRES U_U
xo
lindo demais como sempre, posta logo!
ResponderExcluirSim, posta três capítulos hoje, amando essa história, beijos
lindo lindo não?! Essa história promete, assim como esse casamento, então seja uma boa pessoa e poste 3 capítulos hoje!
ResponderExcluirQuero muito saber o que vai acontecer nesse casamento!
Posta logo, beijos
C. Shay
Demi ta ficando muito mentirosa.... amei ta lindo demais. O qe ta dentro do envelope?
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