Meu celular tocou. Tateei
com os olhos até encontrá-lo.
- Seja lá quem for, vá pro
inferno! - resmunguei.
- BOOOOOM DIAAAAA, Demi! -
gritou Sel, e em seguida entrou a voz de Bono Vox cantando “Beautiful Day” num
volume além do suportado pela audição humana. Isso durou uns trinta segundos
antes de o volume diminuir. - E aí, acordou?
- O que foi que deu em
você? - perguntei furiosa, tentando acalmar minha pulsação. - Acho que todo
esse barulho me causou labirintite.
- Se você pode ficar
irritada, então já está bem desperta. Eu não podia deixar você perder sua
carona. Vou tomar banho. Tenha um lindo dia!
- Selena! - mas ela já
tinha desligado.
Afundei a cabeça no
travesseiro, bufando. Dei uma espiada antigo relógio de vovô sobre a mesa de
cabeceira.
- Ah! - pela primeira vez
acordei na hora certa.
Fiquei decepcionada ao
encontrar a porta do quarto de Joe aberta e a cama arrumada e vazia, assim como
o restante do apartamento. Ele devia ter ido sem mim. Aparentemente, minha hora
certa e a dele não eram a mesma.
Que ótimo, pensei. Não
adiantou nada acordar de madrugada!
Tomei um banho demorado; o
chuveiro era fantástico, apesar do pouco espaço do banheiro. Ainda enrolada na
toalha, fui investigar o que havia para comer na geladeira. Encontrei cerveja,
queijos, sucos, frutas, embalagens de comida pronta e dúzias de bandejas de
iogurte, de todos os sabores e marcas conhecidas. Eu ri. Provavelmente tudo
aquilo iria para o lixo antes que eu fosse capaz de comer. Na verdade eu nem
gostava muito de iogurte, mas não pude deixar de me sentir quente diante da
atenção de Joe em relação a mim.
Encontrei
granola no armário e uma tigela, e me espantei com o tamanho da pilha de
chocolates que Joe comprara. Ele não parava de me surpreender.
Sentei-me ao balcão e
estava terminando o café da manhã quando a porta se abriu bruscamente. Saltei
da banqueta, assustada, antes de ver Joe - vestindo camiseta branca e bermuda
azul, os cabelos úmidos e a pele brilhando de suor - invadir a cozinha.
- Joe! - gritei, apertando
a toalha ao redor do corpo.
- Bom d... - ele me
examinou de cima a baixo, desviou os olhos, depois se virou de costas. - Eu...
não sabia que você tomava café vestida assim.
- Eu não sabia que você ia
voltar pra casa. Pensei que já estivesse na empresa a essa altura - meu rosto
ardeu.
- Ainda é cedo e combinamos
de ir juntos, esqueceu?
- Pensei que o seu cedo e o
meu fossem diferentes.
Ele riu, ainda de costas. O
suor fazia a camiseta fina grudar estrategicamente em suas costas largas. Não,
não era enchimento. Joe tinha mesmo um corpo fabuloso. Droga!
- Acho que cedo, é cedo pra
todo mundo. Vou... tomar um banho e... e... Até já - ele saiu rapidamente em
direção ao banheiro, sem olhar para trás.
Voltei para o quarto e
vesti a primeira roupa que encontrei - calça jeans e regata de malha cinza.
Passei a mão pelos cabelos e um batom clarinho para tentar disfarçar o
vermelho-escarlate que cobria minha face. Eu estava extremamente constrangida,
como se a primeira vez que um homem me visse quase nua.
Esperei por ele na sala,
impaciente, mudando de posição no sofá toda que ouvia um barulho mínimo vindo
do banheiro. Finalmente Joe surgiu, com toda sua elegância opressora, vestido
formalmente como sempre, a maleta em uma das mãos. Não tive coragem de olhar
para ele por mais de dois segundos. Ele também parecia constrangido, de modo
que permanecemos calados durante todo o trajeto até a empresa.
- Desculpa - me forcei a
dizer quando ele estacionou no pátio da L&L, após vinte intermináveis
minutos de silêncio. - Realmente pensei que estivesse sozinha.
- Tudo bem, não foi nenhum
crime - ele disse rapidamente.
- Você está bravo - apontei
- Não
estou.
- Está sim.
- Não estou - ele teimou.
- Tem uma veia saltando na
sua testa. Ou você está bravo ou está prestes a ter um AVC.
Ele suspirou.
- Não estou bravo,
Demetria. Só fiquei surpreso ao encontrar uma mulher nua comendo na minha
cozinha. O que não é ruim, de forma alguma, diante da nossa situação...
- Então não é comum ter
mulher nua na sua cozinha? - me ouvi perguntando, interessada.
Ele comprimiu os lábios,
olhando para frente, parecendo ainda mais exasperado.
- Tudo bem, não era da
minha conta.
Suspirei.
- Juro que isso não vai se
repetir, Joe. Juro!
- Aquela é a sua casa
agora. Você pode fazer o que quiser, inclusive tomar café da manhã vestindo
nada mais que uma toalha de banho.
- Menos mexer nos seus
hidrotônicos - eu disse, desejando mudar de assunto e quebrar a tensão que
parecia sacudir o carro.
Funcionou
- Menos mexer nos seus
hidrotônicos - ele concordou com um sorriso tímido. - Não estou com raiva. Só
fiquei um pouco surpreso ao te encontrar daquela forma. Você parecia bastante à
vontade. O que de certa forma é bom.
Joe me encarou, seus olhos
brilhavam mais que de costume, o que não ajudou em minha tentativa de manter os
batimentos em ordem.
- Olha, você prometeu que
ia se esforçar pra não fazer isso. Você prometeu que ia parar com esses seus
comentários irritantes - falei. De repente minha respiração acelerou. Ele quis
dizer que era bom eu estar nua e em sua casa?
- Eu
não prometi nada. Eu disse que ia tentar me conter, é diferente. Mas não estou
tentando te irritar - ele disse, numa voz profunda. - Estou sendo sincero. Fico
feliz que você tenha se sentido em casa. Só preciso me acostumar com a ideia de
te ver daquela forma e não... - ele se calou. Seus olhos baixaram e encararam
meus lábios com certo interesse.
- E não...? - instiguei,
querendo muito saber como aquilo terminaria.
Joe pareceu acordar do
transe ao som da minha voz, rapidamente desviou os olhos e se endireitou.
- Depois a gente se fala.
Preciso encontrar o Liam para discutir sobre um contrato. Quer carona pra
voltar pra casa?
Eu sabia que aquele “Depois
a gente se fala” significava “Nunca mais vamos tocar nesse assunto”. Frustrada,
eu disse:
- Quero. Obrigada.
Ele assentiu, saiu do carro
e me deixou ali no estacionamento, atônita, tentando adivinhar o que se passava
em sua cabeça e, ao mesmo tempo, o que acontecia com a minha.
Joyce foi toda simpática
quando cheguei ao sétimo andar.
- Lá vem a noiva do ano! -
Apenas dei um sorriso amarelo. - Já viu o jornal? - ela me mostrou a capa de um
dos maiores jornais da cidade. Havia uma foto minha e de Joe, tirada sabe Deus
como, entrando no cartório no dia anterior.
DE PRINCESA A GATA
BORRALHEIRA
Demetria Devonne Lovato, uma das herdeiras mais
ricas do país, segundo fontes seguras, foi deserdada e não dispõe mais de sua
enorme fortuna. Demetria já coloriu páginas de muitos jornais ao redor do
mundo, sempre metida em escândalos. A garota-problema parece estar mais calma
por ora. Na manhã de ontem, foi vista entrando no cartório da cidade ao lado de
Joseph Jonas, 28 anos, jovem executivo de uma das empresas pertencentes ao
Conglomerado Lovato. O casamento foi a portas fechadas e ninguém se pronunciou
até o momento. Resta esperar para descobrir se dessa vez a ex-princesa do
Conglomerado Lovato criou juízo.
- Argh! Eu odeio esses
jornais! - resmunguei.
- É, são horríveis mesmo -
concordou ela, me analisando atentamente. - Você parece cansada. Não dormiu
bem? - e soltou um risinho malicioso.
- Não
dormi nada essa noite - suspirei. Depois do pesadelo com vovô, eu tinha me
revirado de um lado para o outro até quase o amanhecer. Estava pregada!
- Nossa! E o Joe, com
aquele jeito de workaholic certinho sem tempo pra nada, me enganou direitinho.
Não fazia ideia que havia um amante ardente por trás daquela fachada séria.
- O Joe? - Do que ela
estava falando? Ah, sim. Do meu suposto marido Joe. - Claro! Ele está...
acabando comigo.
Joyce sorriu ainda mais e
suspirou.
- E parece que a sua maré
de sorte continua. A Janine pediu para você ir até o RH. Resolver o problema
com os chineses foi um golpe de mestre, Demetria.
- Ela disse o que queria? -
perguntei interessada.
- Acho que você vai ter uma
nova função.
- Sério?! - Ah, o doce
sabor da vitória! Com certeza ser vice-presidente seria bem menos cansativo e
muito mais bem remunerado.
Desci até o RH, ansiosa, antecipando minha
promoção fantástica, que elevaria significativamente meu salário. Eu já fazia
planos de qual dos maravilhosos cupês importados eu compraria. Talvez comprasse
um amarelo dessa vez. Gostava de carros amarelos. Ou talvez um laranja, com
bancos de couros personalizados.
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Tá aí o primeiro capítulo, acabei acordando mais tarde do que o esperado comentem rápido.
Adorei o cap
ResponderExcluirQue mania de deixar-nos na curiosidade. Porque o Joe nao falou que era de possuir os lábios dela, ela ia ficar vermelha que nem tomate e depois ele ria e ela ficava furiosa.... (viajei) Demi vai ficar secretária do Joe, estou achando que é essa a promoção... Mais tempo suportando um ao outro. Tá lindo demais
ResponderExcluirEsqueci-me de dizer que estou sentindo FDP destruifora de lares surgindo, acho que é isso que Vovô Marcus referia-se no sonho
ResponderExcluirnova leitora (:
ResponderExcluiramando <3
posta logo!!!