Assim que cheguei à L&L
naquela manhã, notei olhares diferentes. Não havia mais hostilidade neles, e
até vi alguns sorrisos tímidos e acenos de cabeça. Estranho, já que ninguém
nunca falava, sorria ou acenava para mim sem que fosse estritamente necessário.
- Joe, tem alguma coisa na
minha cara? – perguntei enquanto seguíamos pelo corredor em direção ao nosso
setor.
Ele examinou meu rosto
atentamente.
- Não.
- Humm...
Ele não pareceu notar a
diferença no ambiente. Na verdade, não notava muita coisa em mim desde a noite
anterior. Como eu esperava, ele estava mais distante do que nunca. Pela manha,
agira como todos os dias, prestativo e educado, como se nada tivesse acontecido
entre mim e ele no sofá. Nem sombra do homem apaixonado que me beijara com
tanto arrebatamento menos de dez horas antes. Eu teria que cavar fundo se
quisesse trazê-lo à tona outra vez.
- Oi, Demetria. Eu estava
pensando se você... quer almoçar comigo – uma loira alta de olhos azuis, que
nunca tinha falado comigo antes, convidou, parecendo nervosa. Era uma das
secretárias do segundo andar.
- Hã... Eu... Como é mesmo
seu nome? – perguntei.
- Miley – ele sorriu, sem
graça. – Desculpa não ter me apresentado antes.
- Relaxa. Humm... Tá bom.
Vamos almoçar, sim.
- Ótimo! – ela sorriu e
seguiu em frente.
Olhei para Joe, que
finalmente notou a diferença.
- Estranho, não acha? –
indiquei a garota com a cabeça.
- Talvez – ele disse,
pensativo. – Parece que você conseguiu furar a geleira.
- Mas
como? Eu não fiz nada de diferente nos últimos dias.
- Quem sabe finalmente
viram quem você é de verdade – ele deu de ombros.
- Duvido muito.
Diversas pessoas me
convidaram para sentar com elas na hora do almoço, para nos conhecermos melhor,
para saberem mais sobre mim, para me darem dicas de como passar ilesa pelo RH
caso eu me atrasasse outra vez. Era como se, do nada, todos tivessem esquecido
a repulsa gratuita que sentiam por mim.
Fiquei desconfiada quando
entrei no refeitório para almoçar, mas Miley estava sorrindo, ansiosa, a uma
mesa perto da janela. Joe se juntou ao pessoal do Comex e fui me sentar com
ela.
- Pensei que você não fosse
querer falar comigo, depois da forma como te tratei – começou ela, sem graça.
- Você fez alguma coisa que
eu devesse me lembrar? – comi um pedaço de frango frito.
- Bom... não – ela disse
constrangida, olhando para a bandeja. – Mas exatamente por isso você devia
estar chateada. Ninguém aqui fez o mínimo esforço para te conhecer.
- Nem notei, Miley – menti,
sorrindo. Estava intrigada com a súbita mudança e queria saber o que ela
pretendia.
No entanto, acabei não
descobrindo nada. Miley deu início a uma sessão interminável de perguntas – o
que eu estava achando do emprego, como era minha vida antes de vovô morrer, com
o era meu relacionamento com ele, de que tipo de filme eu gostava, o que estava
lendo, o que eu preferia, Louboutin ou Jimmy Choo. E ficou bastante surpresa
quando eu disse que na verdade gostava mais de sapatos nacionais, de
preferencia sem salto.
- Ah, meu Deus! Eu também!
– ela exclamou, como se tivesse acabado de descobrir o Santo Graal. – Eu pensei
que você fosse metida a besta e só usasse grifes internacionais! Caramba! A Zoe
tem que ouvir isso – e gritou por Zoe, uma garota bonita e tímida que se
escondia atrás de grandes óculos de grau.
Nossa mesa de repente se
tornou pequena para o grande número de mulheres ao meu redor, me metralhando de
perguntas. Tentei guardar os nomes, mas varias vezes tive que pedir que
repetissem. Era muita informação.
Olhei para Joe do outro
lado do grande salão, a muitas mesas de distancia, me observando com algo
diferente nos olhos e um sorriso nos lábios. Lancei-lhe um olhar interrogativo,
mas ele apenas continuou sorrindo.
Assim
que me livrei das minhas mais novas amigas de infância e voltei ao quinto andar
, encontrei-o encostado em minha mesa.
- Você faz ideia de como
estou orgulhoso de você? – disse ele sorrindo, os braços cruzados sobre o
peito.
- Está?
- Muito!– O sorriso se
alargou, iluminando toda a sala. – Não se fala em outra coisa na empresa.
Parece que o Hector exigiu que a diretoria revisasse os pisos salariais e que,
a partir do fechamento desse mês, todos os funcionários tenham participação nos
lucros. Estão todos em estado de graça. E sabe quem é a responsável por isso?
- Sério? O Hector fez isso?
– perguntei, atônita. A diretoria tinha ouvido meus apelos? Hector me dera
crédito? Ele, que havia convencido meu avô de que eu não era capaz de cuidar
nem de mim mesma, aceitara uma sugestão minha?
- Sim, ele fez. Os
diretores não tiveram a menor chance diante dos argumentos apresentados pelo
Hector. Argumentos de uma certa funcionaria que teve o atrevimento de dizer na
cara do presidente que achava seu salário uma miséria.
Então compreendi a mudança.
- Foi por isso que de
repente todo mundo ficou simpático comigo. Por que vão receber aumento –
constatei, desanimada.
- Não, Demetria. Não foi
isso – ele se apressou, descruzando os braços e se endireitando. – Você
intercedeu por eles, defendeu os funcionários, foi a voz de todos na diretoria
e conseguiu ser ouvida. Você não se acovardou. O pessoal achou que você fosse
apenas uma garotinha mimada, e ficaram todos abismados com a mulher determinada
que descobriram em você – ele terminou com um sorriso enorme, o orgulho
brilhando intensamente em seus olhos.
- Joe, eu não fiz isso por
eles. Fiz por mim – murmurei, constrangida.
- Não foi isso que a Inês
contou por aí. Ela disse que você discursou calorosamente em prol dos menos
favorecidos – ele contrapôs.
- Só porque agora eu sou
uma das menos favorecidas – apontei.
- Tanto melhor – ele deu de
ombros. – Desculpa pelo que eu vou dizer, Demetria, mas o seu avô tinha razão
quando te obrigou a trabalhar aqui. Ele conhecia o seu potencial de liderança.
Quando você estiver sentada na cadeira da presidência, vai saber como os
funcionários se sentem, como dão duro. Eles não vão ser apenas um amontoado de
números pra você, vão ver pessoas.
- P-presidência? –
gaguejei. Eu na presidência? Joe era maluco? Eu provavelmente explodiria a
empresa antes do fim do ano. – Peraí, Joe, eu não quero presidir nada!
Ele meneou a cabeça.
- Era o cargo do seu avô.
Pensei que você quisesse assumi-lo – explicou, confuso.
- Não. Não mesmo. Nada de
presidência.
Ele sorriu um pouco,
tocando meu rosto com a ponta dos dedos.
- Você vai ter tempo para
se acostumar com a ideia. Não precisa ter medo. Estou aqui para te ajudar – e
seu polegar acariciou minha bochecha. – Conheço sua capacidade. Vou ser o
primeiro a sugerir sua candidatura.
Com Joe me tocando daquela
maneira carinhosa, me olhando daquele jeito íntimo e abrasador, como na noite
anterior, ele podia ter dito que enormes verrugas verdes cresciam na ponta do
meu nariz e a resposta seria a mesma que lhe dei:
- Seria ótimo!
Ele riu antes de me soltar
e seguir para sua mesa.
Liguei para Sel para contar
as novidades sobre o aumento salarial, minha súbita popularidade e o mais
importante – os beijos de Joe e sua teimosia em fingir que não me desejava.
- Você precisa de ajuda –
disse ela, empolgada. – Atacar com armas pesadas.
- Tipo o quê?
- Qualquer coisa minúscula
com renda preta.
Suspirei.
- Pensei em começar de
forma mais sutil. Se o Joe perceber o que estou tramando, vai fugir, tenho
certeza. Pensei em um filminho em casa.
- Pode ser que dê certo. O
Joe é todo certinho – disse ela. – Mas nada de pipoca, Demi. Aquelas casquinhas
ficam presas nos dentes e não é nada atraente.
-
Certo.
- Tenta suspirar. Os homens
adoram quando as mulheres suspiram ao lado deles. E, por favor, nada de
pantufas de dinossauro. Elas são lindinhas, Demi, mas nada sexy.
- Eu nem tinha cogitado
essa hipótese... – menti.
- Boa sorte, amiga! Vou
torcer pra dar tudo certo.
E eu para que Joe facilite minha vida.
POSTA MAIS <3
ResponderExcluiraaaa poosta poosta pleeease, ta lindo <333
ResponderExcluiramando demais essa história, posta logo por favor, beijos.
ResponderExcluirC. Shay