Naquele dia, foi Joe quem
pegou carona comigo para o trabalho. Ele parecia muito satisfeito ao me ver
feliz do volante, apesar do constrangimento que nos dominara aquela manhã.
Acordamos simultaneamente embolados como fios de lã. Minha cabeça estava
aninhada na curva de seu pescoço, seu braço estava em meus ombros, me mantendo
colada ao peito musculoso, e a outra ao se prendia em minha coxa, que
descansava preguiçosamente sobre meus quadris.
- Bom dia – ele dissera com
um longo suspiro, apertando a minha coxa com vontade. A deliciosa movimentação
matinal na altura de seus quadris cutucou minha perna.
- Oi – murmurei, enroscando
os dedos em seus cabelos, tocando o pescoço com os lábios.
Um som gutural lhe escapou
da garganta enquanto ele movia os dedos de minha coxa para girar o meu quadril
e se virava para me envolver num abraço quente e apaixonado. Seus lábios
encontraram os meus e, ainda sonolenta, correspondi com ímpeto. Quando minha
língua tocou a sua, ele enrijeceu. Ele todo, não apenas uma parte.
Joe abriu os olhos, me
soltando tão rápido como se segurasse um ferro em brasa.
- Hã... eu... ééé... – ele
se sentou na cama apressado, correndo a mão pelos cabelos. – Desculpa.
- Joe, eu...
- Vou preparar o café. Quer
um pouco? – ele se levantou sem me encarar.
- Nunca vamos falar sobre o
que realmente está... – os músculos de suas costas se contraíram visivelmente.
Desisti. – Tá, eu quero café.
E, claro, ele evitou contato
visual por quase o dia todo, mas algo havia mudado. Eu não sabia dizer o quê
nem precisar o momento, mas algo em nosso relacionamento mudara, se tornando
mais denso, sólido. E Joe também tinha percebido. Havia algo em seus olhos, uma
mudança, ainda que sutil. Aquela inevitabilidade nos espreitava, e eu sabia que
não poderíamos fugir por muito mais tempo. Ele também.
No almoço, me sentei com
Miley – de quem eu gostava cada vez mais – e mais algumas garotas do
escritório, mas não ouvi muita coisa do que conversaram. Eu fitava Joe do outro
lado do refeitório, que falava com Liam e outros caras com aquele seu jeito de
sempre. Nossos olhares se encontraram. Ele não
sorriu,
mas me senti ruborizar dos pés a cabeça antes de voltar à atenção Miley, que me
perguntava alguma coisa.
Quando voltei para minha
sala, estranhei ao ver Blanda à minha mesa, mexendo em meu computador.
- O que você esta fazendo
ai? – grunhi.
- O computador é da
empresa, Demetria. O da minha mesa travou, precisava enviar um arquivo, mas já
enviei – ela se levantou rapidamente. – Animada com a festa de amanhã? Seu
marido parece meio distraído...
- Blanda, na boa, não estou
num dos meus melhores dias e agradeceria se você não me obrigasse a chutar sua
bunda hoje.
- Seus dias ainda vão piorar
muito – ela disse sorrindo, antes de se afastar.
Bem que eu queria arrancar
aquele sorriso cínico da cara dela, mas Blanda já me causara muita dor de
cabeça, então deixei minha fúria assassina de lado. Por culpa dela, eu vivia em
estado de alerta quando via um jornal, com medo de que ela tivesse cumprido a
ameaça que fizera a Joe. O fato de eu ainda não ter encontrado nada nos jornais
não significava que jamais encontraria.
Joe havia combinado com
Liam de esticar depois do expediente, de modo que pegaria carona com o amigo
para voltar para casa. O que foi o arranjo perfeito, já que Selena havia
marcado um jantar com seu amigo advogado para aquela noite de sexta, e eu não
queria que Joe soubesse. Não contei a ele sobre o jantar com Boris, pois teria que
explicar tudo desde o começo e... Ok, eu não dissera toda a verdade na noite
anterior, mas falara um pouco e já era o começo. Ele reagira muito bem, e me
peguei pensando que, se eu lhe contasse aos poucos, com jeitinho, ele
entenderia e não me odiaria por ter melado sua promoção e colocado sua carreira
em risco. Ao menos não odiaria muito.
- Ah, Demi, desculpa, mas
não vai dar pra me encontrar com você e o Boris – Sel disse ao celular quando
eu já estacionava meu carro novo amarelo emprestado em frente ao
bar-restaurante em que havíamos combinado. Nunca tinha ido aquele lugar antes,
mas Sel me explicara como chegar, então não me perdi. – A megera da Lucy ligou
agora há pouco e está vindo em casa falar com a minha mãe. Ela quer saber quais
as minhas intenções. Dá pra acreditar? Eu podia sentir seus olhos revirarem nas
órbitas.
- Não... Pensando bem,
vindo da família do Nick, acho que dá, sim – ri.
- Não tem problema se eu
não aparecer?
- Não.
Eu me viro. Você já me ajudou bastante marcando essa reunião, e com certeza vai
enfrentar uma noite nada agradável.
- Pode apostar. Me liga
depois pra contar como foi.
O bar- restaurante era até
bacana, com um toque italiano nas paredes decoradas com fotos antigas e mesas
grandes e familiares. Boris já me esperava, sentado a uma mesa próxima ao bar.
Eu esperava alguém forte e enorme, e até mesmo aterrorizante – qual é? Alguém
chamado Boris certamente seria assustador -, mas aquele Boris era magro,
ligeiramente curvado, tinha vinte e muitos ou trinta e poucos anos, usava
óculos enormes, e era muito ruivo.
- Demetria, que prazer te
conhecer – ele disse, se levantando e estendendo a mão magra.
- O prazer é meu, Boris. A
Selena acabou de ligar dizendo que não vem. Ela já te explicou tudo?
- Já. Eu gostaria de
analisar o testamento antes de dizer qualquer coisa, se você não se importar.
Quer beber algo?
- Vinho. Obrigada.
Boris fez o pedido ao
garçom e entreguei a ela a cópia do testamento de vovô. Ele leu com atenção e
começou a me explicar o que achava possível fazermos para revogar o testamento.
- Veja bem, Demetria. Esta
cláusula - Ele apontou o papel -, onde o seu avô impõe que a vontade dele não
deve ser contestada, é a nossa brecha – e sorriu. Podemos alegar que seu avô
não estava em pleno poder de suas faculdades mentais e, de certo modo, sabia
disso. Por isso deixou a única herdeira praticamente desamparada.
Sacudi a cabeça.
- Eu não queria ter que
fazer isso, Boris. Não quero que o vô Marcus passe por lunático. Não tem outro
jeito? – indaguei.
- Creio que não. A Selena
me disse que seu avô estava doente.
Assenti.
- Um aneurisma grande para
ser retirado e que foi descoberto muito tarde. Fiquei sabendo no dia em que
ele... se foi.
- Pois
então não vai ser difícil descobrir quais eram os medicamentos que ele tomava
para controlar a doença. E talvez algumas dessas drogas o deixassem mais
suscetível à opinião de terceiros. – Hector, pensei. – Alguém que se
beneficiasse com o testamento, talvez. – Ele se recostou no espaldar da cadeira.
– Seria um processo simples. Mas devo alertar que, caso o seu recurso não dê em
nada, a justiça lhe negará todos os direitos de herdeira e executará o
testamento conforme a vontade de seu avô. Você perderia tudo.
- Entendi. – Coloquei as
mãos sobre o rosto e respirei fundo. Eu não queria manchar o bom nome de vô
Marcus. Mas temia que Clóvis prejudicasse Joe de forma irreversível enquanto
fosse o tutor de meus bens e, não podia simplesmente ficar parada, assistindo
de braços cruzados à queda do homem que eu amava. Além disso, Hector podia
conseguir alguma coisa, uma prova ou o testemunho de alguém confiável, e provar
que eu havia mentido me excluindo de vez do testamento. Minha cabeça latejava.
Corri os dedos pela testa, tentando aliviar a tensão. – Eu posso pensar um
pouco? Não quero fazer nada precipitado.
- Claro. Você deve pensar
bem no que fazer, Demetria. E pode procurar outro advogado, um de sua
confiança, se quiser uma segunda opinião. Se precisar da minha ajuda, ficarei
feliz em servir.
- Boris, para ser honesta,
não tenho no momento como pagar você ou outro qualquer advogado – murmurei,
desolada. Quando a vida voltaria a ser simples?
- Veremos isso depois. Mas
entenda o que eu disse, Demetria. Seria tudo ou nada. Seria seu ultimo recurso.
- Eu não quero manchar a
memória do meu avô, Boris – sacudi a cabeça, sem saber o que fazer. Eu queria
tanto que vovô estivesse ali para me ajudar. Queria Joe ali para segurar minha
mão e dizer que tudo ficaria bem, como fizera na noite anterior. – Ele não era
louco. O vovô era o homem mais lúcido e integro que já existiu.
- Sim, eu já ouvi sobre
ele. Ah, não fique assim... – ele pegou a minha mão fria e a apertou, tentando
me confortar enquanto eu lutava contra lágrimas traidoras que ameaçavam cair. –
Se tivesse outra forma, Demetria, eu ficaria imensamente grato em lhe
apresentar. Selena me disse o quanto você amava seu avô. Posso imaginar como
isso é difícil para você.
- Demetria? – Chamou aquela voz levemente
rouca que fazia minhas células vibrarem.
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Desculpa a pequena demora tive que dar uma saída, se quiserem posso postar mais ainda hoje.
posta, posta, posta mais
ResponderExcluiré o joe , né? o joe tá chonado na demi né? ele vai ficar mordido de ciumes quando ver ela com o boris
ResponderExcluirSim sim sim sim sim sim mil vezes sim posta mais, aposto que quem chegou foi joe
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