terça-feira, 14 de maio de 2013

CAPÍTULO 62


Naquele dia, foi Joe quem pegou carona comigo para o trabalho. Ele parecia muito satisfeito ao me ver feliz do volante, apesar do constrangimento que nos dominara aquela manhã. Acordamos simultaneamente embolados como fios de lã. Minha cabeça estava aninhada na curva de seu pescoço, seu braço estava em meus ombros, me mantendo colada ao peito musculoso, e a outra ao se prendia em minha coxa, que descansava preguiçosamente sobre meus quadris.
- Bom dia – ele dissera com um longo suspiro, apertando a minha coxa com vontade. A deliciosa movimentação matinal na altura de seus quadris cutucou minha perna.
- Oi – murmurei, enroscando os dedos em seus cabelos, tocando o pescoço com os lábios.
Um som gutural lhe escapou da garganta enquanto ele movia os dedos de minha coxa para girar o meu quadril e se virava para me envolver num abraço quente e apaixonado. Seus lábios encontraram os meus e, ainda sonolenta, correspondi com ímpeto. Quando minha língua tocou a sua, ele enrijeceu. Ele todo, não apenas uma parte.
Joe abriu os olhos, me soltando tão rápido como se segurasse um ferro em brasa.
- Hã... eu... ééé... – ele se sentou na cama apressado, correndo a mão pelos cabelos. – Desculpa.
- Joe, eu...
- Vou preparar o café. Quer um pouco? – ele se levantou sem me encarar.
- Nunca vamos falar sobre o que realmente está... – os músculos de suas costas se contraíram visivelmente. Desisti. – Tá, eu quero café.
E, claro, ele evitou contato visual por quase o dia todo, mas algo havia mudado. Eu não sabia dizer o quê nem precisar o momento, mas algo em nosso relacionamento mudara, se tornando mais denso, sólido. E Joe também tinha percebido. Havia algo em seus olhos, uma mudança, ainda que sutil. Aquela inevitabilidade nos espreitava, e eu sabia que não poderíamos fugir por muito mais tempo. Ele também.
No almoço, me sentei com Miley – de quem eu gostava cada vez mais – e mais algumas garotas do escritório, mas não ouvi muita coisa do que conversaram. Eu fitava Joe do outro lado do refeitório, que falava com Liam e outros caras com aquele seu jeito de sempre. Nossos olhares se encontraram. Ele não
sorriu, mas me senti ruborizar dos pés a cabeça antes de voltar à atenção Miley, que me perguntava alguma coisa.
Quando voltei para minha sala, estranhei ao ver Blanda à minha mesa, mexendo em meu computador.
- O que você esta fazendo ai? – grunhi.
- O computador é da empresa, Demetria. O da minha mesa travou, precisava enviar um arquivo, mas já enviei – ela se levantou rapidamente. – Animada com a festa de amanhã? Seu marido parece meio distraído...
- Blanda, na boa, não estou num dos meus melhores dias e agradeceria se você não me obrigasse a chutar sua bunda hoje.
- Seus dias ainda vão piorar muito – ela disse sorrindo, antes de se afastar.
Bem que eu queria arrancar aquele sorriso cínico da cara dela, mas Blanda já me causara muita dor de cabeça, então deixei minha fúria assassina de lado. Por culpa dela, eu vivia em estado de alerta quando via um jornal, com medo de que ela tivesse cumprido a ameaça que fizera a Joe. O fato de eu ainda não ter encontrado nada nos jornais não significava que jamais encontraria.
Joe havia combinado com Liam de esticar depois do expediente, de modo que pegaria carona com o amigo para voltar para casa. O que foi o arranjo perfeito, já que Selena havia marcado um jantar com seu amigo advogado para aquela noite de sexta, e eu não queria que Joe soubesse. Não contei a ele sobre o jantar com Boris, pois teria que explicar tudo desde o começo e... Ok, eu não dissera toda a verdade na noite anterior, mas falara um pouco e já era o começo. Ele reagira muito bem, e me peguei pensando que, se eu lhe contasse aos poucos, com jeitinho, ele entenderia e não me odiaria por ter melado sua promoção e colocado sua carreira em risco. Ao menos não odiaria muito.
- Ah, Demi, desculpa, mas não vai dar pra me encontrar com você e o Boris – Sel disse ao celular quando eu já estacionava meu carro novo amarelo emprestado em frente ao bar-restaurante em que havíamos combinado. Nunca tinha ido aquele lugar antes, mas Sel me explicara como chegar, então não me perdi. – A megera da Lucy ligou agora há pouco e está vindo em casa falar com a minha mãe. Ela quer saber quais as minhas intenções. Dá pra acreditar? Eu podia sentir seus olhos revirarem nas órbitas.
- Não... Pensando bem, vindo da família do Nick, acho que dá, sim – ri.
- Não tem problema se eu não aparecer?
- Não. Eu me viro. Você já me ajudou bastante marcando essa reunião, e com certeza vai enfrentar uma noite nada agradável.
- Pode apostar. Me liga depois pra contar como foi.
O bar- restaurante era até bacana, com um toque italiano nas paredes decoradas com fotos antigas e mesas grandes e familiares. Boris já me esperava, sentado a uma mesa próxima ao bar. Eu esperava alguém forte e enorme, e até mesmo aterrorizante – qual é? Alguém chamado Boris certamente seria assustador -, mas aquele Boris era magro, ligeiramente curvado, tinha vinte e muitos ou trinta e poucos anos, usava óculos enormes, e era muito ruivo.
- Demetria, que prazer te conhecer – ele disse, se levantando e estendendo a mão magra.
- O prazer é meu, Boris. A Selena acabou de ligar dizendo que não vem. Ela já te explicou tudo?
- Já. Eu gostaria de analisar o testamento antes de dizer qualquer coisa, se você não se importar. Quer beber algo?
- Vinho. Obrigada.
Boris fez o pedido ao garçom e entreguei a ela a cópia do testamento de vovô. Ele leu com atenção e começou a me explicar o que achava possível fazermos para revogar o testamento.
- Veja bem, Demetria. Esta cláusula - Ele apontou o papel -, onde o seu avô impõe que a vontade dele não deve ser contestada, é a nossa brecha – e sorriu. Podemos alegar que seu avô não estava em pleno poder de suas faculdades mentais e, de certo modo, sabia disso. Por isso deixou a única herdeira praticamente desamparada.
Sacudi a cabeça.
- Eu não queria ter que fazer isso, Boris. Não quero que o vô Marcus passe por lunático. Não tem outro jeito? – indaguei.
- Creio que não. A Selena me disse que seu avô estava doente.
Assenti.
- Um aneurisma grande para ser retirado e que foi descoberto muito tarde. Fiquei sabendo no dia em que ele... se foi.
- Pois então não vai ser difícil descobrir quais eram os medicamentos que ele tomava para controlar a doença. E talvez algumas dessas drogas o deixassem mais suscetível à opinião de terceiros. – Hector, pensei. – Alguém que se beneficiasse com o testamento, talvez. – Ele se recostou no espaldar da cadeira. – Seria um processo simples. Mas devo alertar que, caso o seu recurso não dê em nada, a justiça lhe negará todos os direitos de herdeira e executará o testamento conforme a vontade de seu avô. Você perderia tudo.
- Entendi. – Coloquei as mãos sobre o rosto e respirei fundo. Eu não queria manchar o bom nome de vô Marcus. Mas temia que Clóvis prejudicasse Joe de forma irreversível enquanto fosse o tutor de meus bens e, não podia simplesmente ficar parada, assistindo de braços cruzados à queda do homem que eu amava. Além disso, Hector podia conseguir alguma coisa, uma prova ou o testemunho de alguém confiável, e provar que eu havia mentido me excluindo de vez do testamento. Minha cabeça latejava. Corri os dedos pela testa, tentando aliviar a tensão. – Eu posso pensar um pouco? Não quero fazer nada precipitado.
- Claro. Você deve pensar bem no que fazer, Demetria. E pode procurar outro advogado, um de sua confiança, se quiser uma segunda opinião. Se precisar da minha ajuda, ficarei feliz em servir.
- Boris, para ser honesta, não tenho no momento como pagar você ou outro qualquer advogado – murmurei, desolada. Quando a vida voltaria a ser simples?
- Veremos isso depois. Mas entenda o que eu disse, Demetria. Seria tudo ou nada. Seria seu ultimo recurso.
- Eu não quero manchar a memória do meu avô, Boris – sacudi a cabeça, sem saber o que fazer. Eu queria tanto que vovô estivesse ali para me ajudar. Queria Joe ali para segurar minha mão e dizer que tudo ficaria bem, como fizera na noite anterior. – Ele não era louco. O vovô era o homem mais lúcido e integro que já existiu.
- Sim, eu já ouvi sobre ele. Ah, não fique assim... – ele pegou a minha mão fria e a apertou, tentando me confortar enquanto eu lutava contra lágrimas traidoras que ameaçavam cair. – Se tivesse outra forma, Demetria, eu ficaria imensamente grato em lhe apresentar. Selena me disse o quanto você amava seu avô. Posso imaginar como isso é difícil para você.
- Demetria? – Chamou aquela voz levemente rouca que fazia minhas células vibrarem. 
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Desculpa a pequena demora tive que dar uma saída, se quiserem posso postar mais ainda hoje.

3 comentários:

  1. posta, posta, posta mais

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  2. é o joe , né? o joe tá chonado na demi né? ele vai ficar mordido de ciumes quando ver ela com o boris

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  3. Sim sim sim sim sim sim mil vezes sim posta mais, aposto que quem chegou foi joe

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