– Você está tão linda que me
dá vontade de chorar, Demi – Sel disse, abanando os olhos na tentativa de não
borrar a maquiagem. – Esse vestido é perfeito!
– Pareço uma noiva louca
pra casar? – perguntei um pouco insegura.
– Hã... não – ela sorriu. –
Mas você está deslumbrante!
– É o único vestido mais
sério que eu trouxe pra cá. Não posso nem pensar em comprar alguma coisa agora.
O vestido off-white – que
eu havia usado no último aniversário da vovó – tinha decote reto e busto e
mangas curtas cobertas por uma delicada renda francesa, a cintura bem marcada
por uma faixa larga de seda arrematada por um laço lateral e saia rodada até a
altura dos joelhos. Sel se encarregou da maquiagem, leve e delicada. Sua mãe
adorou a ideia de me ajudar com o cabelo, criando um coque despojado. Embora a
aparência fosse casual, levou duas horas para que ficasse satisfeita com o
resultado. Ela finalizou prendendo um narciso branco na lateral do meu coque.
– Assim ele vai estar
presente de alguma forma – disse com os olhos marejados, me admirando no
espelho por um momento, antes de me deixar a sós com Sel.
Eu, por outro lado, não
queria pensar em vovó naquele momento. Era por sua culpa que estava indo me
casar com um homem que eu não amava.
Suspirei.
– Você ainda está chateada
por causa do carro? – Sel quis saber.
– Um pouco. Ontem, quando
fechei negócio, eu pensei em voltar atrás, mas fiquei com medo de ser presa.
Imagino que cadeia no U.S.A seja ainda
pior que ônibus. Pelo menos estou tentando me convencer disso.
Como minha vida podia ter
mudado tanto em tão pouco tempo? Em apenas seis semanas, eu deixara de ser a
neta rica do Sr. Marcus para me tornar a neta falida do finado Marcus e, o que
era ainda pior, casada.
Contemplei-me
nos espelho por alguns minutos. Os fios de meus cabelos emolduravam
estrategicamente o rosto e seguiam naturais para a parte de trás da cabeça. O
vestido delicado e acentuado e a maquiagem em tons claros me deixaram com um
quê de romantismo.
Sorri.
Nada mal para uma falida.
– O noivo chegou! – gritou
Mandy.
Sel voou até o corredor e
deu uma espiada.
– O Joe está aqui! – dando
pulinhos. – Ele está na sala. E está um gato!
– Ele até que é bonito,
mais é sério demais. – Passei a mão na saia do vestido para me livrar de um
vinco. – Sel? – chamei, sentindo algo se avolumar em meu peito. – Vai ficar
tudo bem?
Ela me abraçou com ternura
tomando cuidado para não estragar meu penteado.
– Não sei – disse sinceramente
como sempre. – Mas vou torcer muito para que aconteça.
– Acho que... é hora de ser
corajosa e encarar o bicho-papão – tentei sorrir.
– Relaxa Demi. Isso nem é
casamento – ela me consolou, apertando minha mão.
– Eu estava me referindo ao
Joe.
Ela riu.
– Ah, se o bicho-papão for
lindo desse jeito, vou rezar para que ele venha me assustar todas as noites.
Revirei os olhos enquanto
seguíamos para a sala. Joe se levantou ao instante em que me viu. Seus cabelos
estavam ligeiramente desarrumados, e a barba rala conferia ao maxilar um ar
imponente, a camisa branca sob o paletó escuro e bem cortado o deixara sexy,
mas ao mesmo tempo respeitável. Ele não usava gravata. Os dois primeiros botões
da camisa estavam abertos. Os olhos brilhavam mais do que de costume. Sel tinha
razão, ele estava lindo. Ele era lindo.
– Você está muito...
hã...apresentável – ele me disse, meio sem jeito.
– Eu estava pensando o
mesmo ao seu respeito. Você fica bem com essa roupa.
Ele
passou a mão pelos cabelos – de novo, com numa propaganda de perfume –,
parecendo nervoso. Bastante nervoso.
– É, foi isso que eu quis
dizer. Você ficou bem com esse vestido. Parece uma mulher. – Estreitei os
olhos. Ele se apressou em esclarecer, parecendo ainda desconcertado. – Quer
dizer, você parece uma mulher adulta, não uma garota mima... Você está linda. É
isso que estou querendo dizer desde o inicio – ele suspirou pesadamente, com os
punhos cerrados.
– Ah. Isso foi... – acho
que sorri – um elogio?
Ele assentiu brevemente.
– Então eu agradeço.
– Hã... disponha. Você está
pronta? Não quero me atrasar.
Voltei-me para minha amiga,
a beijei e abracei.
– Obrigada por tudo, Sel.
– Boa sorte, amiga! Te vejo
daqui a pouco.
– Obrigada pela hospedagem,
Mandy! – gritei. Ela ainda estava se arrumando.
– Até já, querida! Estou
enrolada com o zíper, mais estarei na cerimônia. Não vou perder isso por nada.
Nem que tenha que ir sem roupa! Selena, pode vir me ajudar?
– Como se eu tivesse opção
– ela revirou os olhos e nos deixou sozinhos na sala.
Respirando fundo, passei as
mãos no vestido uma última vez e me dirigi a Joe.
– Bom... – abri os braços,
desanimada. – Estou pronta.
Ele apenas assentiu e
indicou com a mão que eu fosse na frente.
Joe foi todo gentil,
abrindo a porta do carro para que eu entrasse e depois dirigindo com cautela
seu SUV confortável. Era estranho estar a caminho do meu casamento com alguém
com quem eu não tinha intimidade alguma. Ao contrário, Joe sempre me
intimidava, mesmo quando estava calado, como naquele momento.
– Está nervoso? –
perguntei, tentando quebrar o silêncio esmagador.
Ele
hesitou, mas acabou respondendo.
– Um pouco.
– Eu também – confessei. –
Você acha que alguém vai desconfiar?
– Pelo que você disse, o
Clovis foi o único que suspeitou de alguma coisa até agora. Só precisamos ficar
atentos quando ele estiver por perto.
Claro que Clóvis tinha que
ser estraga-prazeres de sempre e me submeter a uma intensa sabatina quando
comuniquei a ele sobre o casamento. Respondi monossilabicamente a quase todas
as perguntas, com medo de cair em contradição. Ele não pareceu convencido.
– Vou ficar atenta. E seus
pais? Vão estar lá?
– Hã... – sua testa
enrugou. – Não.
– Você não contou pra eles
que vai se casar? – Não que isso importasse, mais fiquei decepcionada. Joe
parecia ser do tipo que fazia tudo como mandava o figurino.
– Contei que conheci uma
garota... especial. Depois que eles se acostumarem com a ideia, vou contar que
estamos morando juntos. Não quero envolver minha família nisso, Demetria. Em um
ano, você e eu seremos meros conhecidos. Eles não precisam sofrer com a perda
de alguém que talvez venham a gostar.
– Parece sensato –
concordei, fitando o painel do carro sem realmente vê-lo. Eu estava indo me casar.
Com Joe. Oh, Deus!
– Mas para o pessoal da
empresa eu disse que meus pais estão viajando e que, infelizmente não
conseguiram voo para chegar a tempo. Parece que acreditaram – ele continuou.
– Menos o Clóvis,
obviamente – apontei, – Ás vezes tenho vontade de esganar o meu avô... se isso
fosse possível, é claro. Como ele pôde confiar desse jeito naquele advogado e
não em mim? – Joe abriu a boca, mais rapidamente levantei as duas mãos em
súplica. – Foi uma pergunta retórica. Não precisa responder!
Ele riu, um pouco mais
relaxado.
– Ele só ia dizer que o seu
avô deve ter tido algum motivo pra isso. Ele era um bom homem, jamais ia te
magoar se não fosse o último recurso.
– Não quero falar sobre
isso – cruzei os braços sobre o peito, desviando o olhar para a janela.
Ficamos
em silêncio o restante do percurso. Assim que ele estacionou o carro, me senti
fria. Meus olhos tremiam e minha boca estava tão seca quanto o deserto do
Atacama. Mesmo depois de desligar o motor, Joe permaneceu com as mãos agarradas
ao volante, olhando para o para-brisa.
– Isso vai dar certo? –
perguntei num fiapo de voz.
Ele assentiu, ainda olhando
para frente.
– Se fizermos tudo direito,
vai.
Entrei em pânico.
– Ai, que inferno! Então
não vai funcionar! Eu não sei fazer tudo direito, Joe. Por mais que eu tente,
alguma coisa sempre acaba dando errado e... e...
– Fica calma – ele voltou
seus olhos verdes em minha direção. – Eu já sei que você não costuma seguir
pelo caminho do óbvio. Mas eu sim. Estou aqui. Vamos conseguir.
Engoli seco. De alguma
forma. Sua tentativa de me acalmar me deixou ainda mais nervosa.
– Vamos mesmo? Porque
normalmente dá tudo errado quando estou perto.
Ele riu, totalmente
descontraído agora.
– Já percebi. Vou garantir
que isso não aconteça hoje – e se inclinou em minha direção.
Prendi a respiração.
O que ele está fazendo? O
que ele está fazendo?!
Seu rosto ficou a
centímetros do meu, o sorriso ainda em seus lábios cheios e convidativos.
Levantei ligeiramente a cabeça. Sua respiração sapecou minha pele.
Ele vai me beijar!
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AAAAA POOOSTA LOGO, AAAMAAANDO DEMAIS ESSA HISTÓRIA, BEEEIJOS
ResponderExcluirEle a vai beijar. Pode se desejar algo mais,,,não sabe porquê? Porque essa história é maravilhosa
ResponderExcluirNossa essa historia é maravilhosa. Posta logo
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