domingo, 5 de maio de 2013

CAPÍTULO 33 MARATONA



Eu estava ansiosa para que a hora do almoço chegasse logo – mais que o habitual. Não sabia o que Clóvis queria discutir e estava inquieta para descobrir. Alguma coisa me dizia que eu não gostaria nada do que ele tinha para me falar, mas isso já nem era novidade.
Assim que a sala começou a esvaziar, perto do meio-dia, Joe me interceptou.
- Vamos almoçar?
- Não dá, tenho um compromisso. Não volto à tarde. Vou direto pra casa, tá?
Ele me encarou um pouco surpreso.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não. Preciso correr, já estou atrasada – joguei a bolsa no ombro.
- Tudo bem. Te vejo em casa – e me acompanhou até o elevador.
Como eu esperava, a viagem de ônibus até o centro da cidade foi desagradável e cheia de solavancos. Clóvis já estava me esperando no restaurante tailandês. Ele havia gentilmente pedido as bebidas. Meu chá yen ainda estava geladinho.
- Achei melhor nos encontrarmos em um lugar onde você se sinta à vontade – ele comentou.
Então a conversa não vai ser boa.
- Estou preocupado com você – continuou. – Ouvi alguns rumores ontem, quando estive na L&L. Algo que não me surpreendeu nem surpreenderia seu avô.
O garçom trouxe o cardápio. Eu corria os olhos pelas letras sem lê-las. Eu estava preocupada demais para pensar em comer qualquer coisa que fosse. O rapaz desistiu de esperar avisou que voltaria em alguns minutos para anotar o pedido.
- Por favor, Demetria, quero que me diga a verdade. Esse casamento às pressas foi apenas um arranjo pra recuperar tua herança?
- Não. Foi tudo real. Eu me casei. Fim da história.
Ele entrelaçou os dedos sobre a mesa.
- Demetria, querida. Eu gostaria muito de acreditar que você está apaixonada e feliz, mas não consigo. Há poucas semanas você fez um belo discurso contra o casamento, lembra?
- Sim, mas eu ainda não conhecia o Joe.
- Então você ama mesmo esse rapaz?
- Ãrrã. – Tomei um gole do meu chá gelado.
- Isso é ótimo – ele exalou ruidosamente, parecendo aliviado. – Se fosse tudo uma farsa, você estaria com sérios problemas. Fico feliz que tenha criado um pouco de juízo.
- Que tipo de problemas? Só por curiosidade – me apressei a explicar quando sua testa franziu.
- Se ficasse provado que o seu casamento foi uma farsa, você perderia todos os direitos de herdeira, por tentar ludibriar o testamento, seu avô, a justiça. E quanto ao Joe...
- O que tem ele? – perguntei apressada. Apressada demais. Droga!
- Você pode imaginar como um escândalo desses afetaria a carreira dele. Dificilmente ele conseguiria uma boa colocação em alguma empresa. E, claro, seria demitido por tramar contra o Conglomerado Lovato.
- Que bom que o meu casamento não é uma farsa. – Não me permiti sequer piscar. De todas as mentiras, essa era a única que não podia ser descoberta, jamais.
Ele sacudiu a cabeça, sorrindo tristemente.
- Acho que Joe tem razão no que me disse ontem. Eu não cuidei bem de você. Deixei as coisas irem longe demais. Seu avô ficaria furioso comigo, mas eu não posso ver você se... vendendo para conseguir sua fortuna de volta. Vamos tentar fazer alguma coisa a respeito. Eu posso lhe dar uma mesada, uma boa mesada, até que você encontre um bom parceiro para a vida toda. Não consigo dormir desde o seu casamento. A culpa está me matando, Demetria. Fico imaginando o que Joe deve ter pedido em troca desse casamento...
E com aquele discurso, Clóvis deixou claro que não só não acreditava na veracidade do meu casamento, como tinha certeza de que era uma fraude. Maravilha!
- O Joe é um cara sensacional – interrompi. – Um homem muito melhor do que muitos que eu conheço.
- Vou ignorar o sarcasmo – disse ele. – Mas a questão é que você não ama esse sujeito, não é? Seja honesta comigo, querida. Só estou tentando ajudar. Se vender dessa forma... não está certo. Seu avô não aprovaria. Acho que ele não pensou que você pudesse ficar tão abalada com tudo isso a ponto de lançar mão de um recurso desses. E sou o responsável. Talvez eu devesse ter sido mais maleável e ter ouvido seus argumentos. – Ele sacudiu a cabeça. – Não posso permitir que você faça isso consigo mesma. Isso termina agora! – ele bateu o indicador na mesa para enfatizar sua ordem.
Clóvis me conhecia há muito tempo. Devia saber que era melhor não ter feito isso.
- Sim, isso termina agora – fechei o cardápio bruscamente. – Eu. Estou. Casada. Agradeço sua oferta, mas ela veio um pouco tarde. Não quero mesada nem nada que você possa me oferecer. Se isso é tudo, eu...
- Não precisa responder agora, Demetria. Pense no Joe e no que vai acontecer com ele quando a farsa de vocês vier à tona. Pense em você, querida. Pense em sua vida e em como isso é sórdido. Sei que você vai me dar razão assim que esfriar a cabeça. Anule o casamento e volte pra casa. Pra sua casa.
- Não existe farsa, Clóvis – eu disse um pouco tarde demais.
Ele apenas sorriu, mas era um sorriso triste.
- Você não imagina como eu queria acreditar nisso.
- Obrigada pelo convite para almoçar – me levantei. Foi muito gentil da sua parte, mas eu realmente amo o Joe. Agora preciso ir ou vou ter mais descontos no meu salário.
- Me ligue se quiser conversar – ele ofereceu. Apenas assenti e deixei o restaurante sem olhar pra trás.
Só notei como eu tremia quando estava longe o suficiente.
Não, eu não queria mesada. Porém não era isso que ferroava meu cérebro, insistentemente exigindo atenção. Era Joe e seu futuro. Mas o que eu podia fazer? Ele era adulto, tomara sua decisão. E eu, a minha. A culpa não seria minha se acontecesse alguma coisa com ele, seria?
Seria. Eu sabia que sim. Ao responder meu anúncio, Joe havia se colocado em risco. Qualquer outra garota que ele encontrasse para ser sua esposa temporária não lhe traria os mesmos problemas que eu. Apesar de não amá-lo, eu não queria fazê-lo pagar por um erro meu.
Andei a esmo pelas ruas, sem saber pra onde ir. Eu queria tanto conversar com alguém... Na verdade, queria conversar com alguém em especial.
Subi no primeiro ônibus que encontrei – mais vazio agora, até com segui um lugar para me sentar. A viagem foi curta, e assim que desci no ponto comprei um maço de rosas amarelas da florista que aguardava os visitantes sob a sombra de um exuberante ipê-rosa, já com os primeiros botões desabrochando timidamente.
Não foi difícil encontrar o jazigo da família no cemitério no centro da cidade. Eu o visitava desde os cinco anos. Agora, porém, tinha recebido a adição de uma nova placa. Depositei as flores sobre ela e me sentei na grama bem aparada. Dava pra sentir que a terra ainda não havia se acomodado completamente ao novo espaço.
Era um lugar calmo. Árvores altas e majestosas deixavam o espaço agradável. O silêncio era profundo, e nem mesmo o alvoroço caótico do tráfego lá fora perturbava a paz do ambiente. Suspirei e abracei os joelhos.
- Eu queria que você estivesse aqui – falei, olhando para o nome na lápide. – Você me deixou um problemão, Sr. Marcus. E devia estar aqui para me ajudar a resolver.
Eu não tinha intenção de prejudicar Joe para conseguir o que queria. Não tinha intenção de prejudicar ninguém, na verdade. Só queria que minha vida voltasse ao normal,  ter um lar outra vez, talvez comprar um carro e dar adeus ao transporte público. Joe era um homem bom, e colocá-lo numa posição complicada era a última coisa que eu desejava.
- Espero que a vovó tenha te dado uma bronca pelo que você fez. Agora o Joe está encrencado também. Está me ouvindo, vovô? Ele vai se prejudicar por culpa daquele testamento ridículo! Droga!
Sem que me desse conta, os soluços se intensificaram, e as lágrimas desciam mais rápido do que eu conseguia secá-las. Desisti e deixei que caíssem livremente. Eu sentia medo, raiva, vergonha. Raiva do que eu havia feito. Vergonha e medo ao constatar que vovô sempre esteve certo, eu era uma irresponsável que arruinava a vida das pessoas para conseguir o que queria. Eu era um verme. Um verme solitário.
- Queria que você estivesse aqui para me abraçar e me dizer o que fazer. – Mas ele não estava.
E nunca estaria.
Nesse instante, uma borboleta azul pousou sobre a lápide. Contraí-me imediatamente. Ela permaneceu sobre a placa, batendo as asas preguiçosamente.
- Sinto sua falta – murmurei, secando o rosto e me colocando de pé.
- Desculpa ter dito que te odiava. Eu não te odeio. Só estava furiosa por você ter morrido. Eu... preciso de ajuda, vovô. Tenho que contar ao Joe tudo que Clóvis me disse e não sei como resolver essa confusão. Mas preciso descobrir antes que as coisas piorem.
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Meninas o Joe não dormiu com ninguém ele apenas está tentando manter distancia de Demi, ele é tipo "homem raro" fiel, até mesmo sem seus beneficios matrimoniais em breve ele explicará.    

5 comentários:

  1. :'( Minha querida você o ama e ainsa nem reparou apenas nao foi muito convicente com Clovis, se você mostra-se isso que mostrou ao seu avô tudo seria mais credível, quando vc vai perceber que ta na hora de virar actriz bb

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  2. To chorando :(:(:(:(:(:(:(:(:(:(:( essa borboleta vive aparecendo ne posta mais amo maratonas :)

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  3. Sera que nao tem nenhuma revista ou programa querendo entrevistar demi?

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    1. Idéia boa, assim ela mostrava qur ama mesmo Joe enquanto todod acreditavam ele pensaria que é encenação. .. gostei

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  4. Ainda bem que eke não dormiu com ninguém. E a Demi qndo vai peeceber que eka tem de mostrar esse amor que ela já senyi fingindo ser encenação, Joe não se vai importar se ela o beijar até porque ele quer muito. Aposto que o Joe impidirá que ela o deixe porque é isso que a Demi desejará fazer para o proteger. Estou tão in nessa história tá linda demais

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