domingo, 5 de maio de 2013

CAPÍTULO 27 MARATONA



Janine já me esperava com um sorriso no rosto, os cabelos rebeldes presos como um espanador.
- Demetria, a confusão foi culpa sua, mas admito que você foi muito perspicaz em resolver tudo sozinha. Ganhou vários pontos com a diretoria. Eles acham que talvez possam aproveitar melhor sua capacidade - usei todo meu autocontrole para não fazer a dancinha da vitória, mas então Janine continuou falando e acabou com meu novo cupê laranja com bancos personalizados - no Comex, no setor nove. Eles sempre precisam da ajuda da Joyce. Você vai poder suprir essa deficiência.
- Mas eu pensei que fosse ser promovida!
- E foi. Você agora é secretária! - ela floreou a palavra, como se dissesse estrela de cinema.
- Isso não é ser promovida - cruzei os braços sobre o peito.
- Claro que é, boba! - ela riu. - Você vai poder mandar uma das assistentes ir até a sala da copiadora pra você. Isso não é bom?
Vendo por esse lado...
- E quanto ao salário? - eu quis saber.
- Como agora você vai exercer o cargo de secretária - estrela de cinema! - do setor nove, seu pagamento será ajustado à sua função. O aumento é mínimo, mas já é alguma coisa, certo?
- Certo. - Qualquer dinheiro extra era bem-vindo. E ficar no setor nove poderia ser bom. Joyce estaria dois andares inteiros longe de mim, e Joe pod... Oh, Deus! - Peraí. Eu vou trabalhar com o Joe? No mesmo andar?
Janine sorriu maliciosamente.
- Na mesma sala. Eu sei que vocês acabaram de casar e imagino que querem aproveitar todos os momentos, mas devo alertar que a empresa não tolera demonstrações explícitas de afeto dentro do prédio. Se é que você me entende... - ela piscou um dos olhos pequenos.
- Claro, claro. Nada de pegação por aí. - Tudo bem. Ir e vir de carona com Joe era uma coisa. Morar com ele era outra. Trabalhar na mesma sala seria o apocalipse. Pelo menos para meus sentimentos conturbados. - O Joe vai... pirar com a notícia.
- Ele já soube - garantiu ela. - E pareceu ansioso para falar com você.
- Ah, aposto que sim. Obrigada, Janine.
- De nada. Ah, espere. Eu já ia me esquecendo. - Ela me estendeu um envelope. - Pra você.
Esperei que ela se afastasse par abrir a carta. Bilhete, na verdade. De vovô.
Muito bem, mocinha. Você acaba de subir seu primeiro degrau dentro da empresa. O que já prova que eu estava certo quanto à sua capacidade. Você sempre foi muito criativa uma pena que usasse essa criatividade para se meter em encrencas, em vez de se livrar delas. Fico feliz que as coisas estejam mudando.
Com amor, vovô
P.S.: Espero que a Joyce tenha sobrevivido a você. Ela é uma boa secretária.
Eu ri, dobrando a carta, guardei-a no bolso do meu jeans e rapidamente desci para o setor nove, no quinto andar.
Joe estava me esperando no corredor, andando de um lado para o outro, o rosto tenso.
- Isso vai ser um problema - começou ele. - Não vai ser bom a gente ficar tanto tempo juntos. Vamos acabar cometendo um deslize ou...
- Nos matando? - completei. - Relaxa. Vai ficar tudo bem. Você vai ser promovido, não vai?
- Ainda não é certo. Talvez eu seja, talvez não - ele deu de ombros.
- Então vamos torcer para que seja, e pra gente não se matar enquanto trabalharmos juntos.
- Ah, que lindo! - comentou uma garota de roupas justas que marcavam sua silhueta e decote pouco recatado. Meio vulgar, mas bonita. - Mal conseguem ficar longe um do outro.
- Bom dia, Blanda - Joe respondeu, ainda me encarando.
- Demetria, não é? - ela sorriu pra mim. - O Joe não fala muito de você. Soube que você vai ficar na nossa sala. Isso vai ajudar a nos conhecermos melhor, já que o Joe parece querer te guardar só para ele.
- O Joe é muito discreto - respondi sem pestanejar. - Ele não gosta de ser o centro das atenções. Ele é um cavalheiro. Mas parece que não existem segredos nessa empresa, hein? Todo mundo já sabe da minha mudança de setor.
Ela sorriu afetada.
- Pode apostar. As paredes têm ouvidos por aqui. - E, acenando os dedos pintados de vermelho-escarlate, ela nos deixou a sós.
- Entendeu? - Joe sussurrou ansioso, os olhos suplicantes.
- Vamos manter o plano inicial. Almoçar juntos de vez em quando e alguns sorrisos de cumplicidade pode ser uma boa. E... sei lá, inventa alguma coisa que demonstre afeto e que não complique a nossa vida na empresa. A Janine disse que pegação é proibido, o que é ótimo no nosso caso.
Ele correu a mão pelos cabelos. Prendi a respiração. Eu sabia que seu perfume me envolveria como um abraço, e as imagens dele suado, com a camiseta branca colada ao tórax, invadiriam minha mente, bagunçando minha capacidade de raciocínio.
- Vai ser complicado - ele resmungou, mais para si mesmo, me pareceu.
- Deixa rolar, Joe - murmurei, um pouco magoada com seu pessimismo. - Também preciso que isso dê certo. Acho que até mais que você.
Ele não pareceu nada feliz, mas acabou concordando e voltou para sua mesa, a seis metros da minha.
Meu primeiro dia no setor nove foi meio estranho. Havia uma pilha de papéis que precisavam ser copiados e arquivados acumulada fazia semanas, e de repente me senti uma tola. Eu não tinha assistente. O ofício era exatamente o mesmo, só o andar era outro. Não havia promoção nenhuma!
Concentrei-me em guardar a papelada nas pastas certas e ignorei o burburinho na enorme repartição. Muitos olhares curiosos me avaliavam, mas um em especial, que me fazia sentir como se um holofote estivesse apontado para mim, me deixou inquieta. Joe passou boa parte do dia me encarando e desviando os olhos quando eu o fitava de volta.
Quase no final do expediente, Blanda, a garota do decote, sentou-se na beirada da minha mesa já bagunçada - organização nunca foi meu forte mesmo - e me avaliou de cima a baixo.
- Você se saiu bem para o primeiro dia. - Mas algo no tom de sua voz me convenceu de que ela pensava exatamente o oposto.
- Que bom que te impressionei.
Esperei que ela me deixasse em paz, mas, claro, ela continuou ali, me analisando com olhos de ave de rapina.
- Então... como foi que você e o Joe acabaram juntos?
Eu já tinha um “Não é da sua conta” na ponta da língua, mas então me ocorreu que Blanda poderia ser uma ótima ferramenta. A curiosidade estampava seu rosto, e eu tinha certeza de que qualquer coisa que eu dissesse seria repetido - e talvez até aumentado - pelos corredores da L&L.
- Ah, foi... hã... - Um ícone piscou na barra de ferramentas em meu monitor. Ninguém nunca tinha me chamado no MSN desde que eu começara a trabalhar. Na verdade, ninguém nunca me chamava para nada que não fosse dar ordens. Fiquei um pouco emocionada.
Era Joe.
Joe_Comex diz:
O que a Blanda quer?
Demetria Lovato diz:
Saber como acabamos juntos.
Joe_Comex diz:
Inventa qualquer coisa e depois me avisa, pra não ter falhas.
Demetria Lovato diz:
Ok.
- Foi meio... coisa de pele, sabe como é? - comecei. - Quando a gente se conheceu, rolou aquela coisa.
Ela sorriu.
- Engraçado. Ouvi dizer que vocês não se suportavam e...
- Exatamente - a interrompi apressada. - Daí para o tesão desenfreado foi um pulo.
Suas sobrancelhas finas se arquearam.
- Mesmo? O Joe não parece desse tipo.
- Ah, mas é. Acredite, o Joe sabe como enlouquecer uma garota. - Dessa vez não era mentira.
Blanda se virou para observá-lo por sobre o ombro. Ele desviou os olhos para a tela do computador.
Joe_Comex diz:
O que você disse?
Demetria Lovato diz:
Que você é um garanhão insaciável e por isso caí na sua.
Ele tossiu convulsivamente, atraindo olhares para si, inclusive o meu. Seu rosto estava vermelho como um tomate.
- O Joe, quem diria... - Blanda sorriu, ainda observando-o. - Ele é lindo, claro. Mas sempre pensei que fosse frio demais.
- Não. O Joe é capaz de derreter as geleiras de Puncak Jaya só com o olhar. Na verdade, ele é surpreendentemente carinhoso. Imagina que ele abasteceu a despensa com chocolate e a geladeira com todas as marcas de iogurte que encontrou no supermercado porque não sabia qual era a minha favorita...
- Que atencioso! - ela disse com entusiasmo forçado.
- Muito. - E realmente era. Quer dizer, Joe podia ter aquele jeito rude de vez em quando, mas essa do iogurte havia deixado bem claro que dentro dele havia um gentleman à moda antiga.
Joe_Comex diz:
Por que você disse isso?
Demetria Lovato diz:
Porque achei que falar da nossa vida sexual faria a Blanda parar de me fazer perguntas.
Joe_Comex diz:
E parou?
- Como foi que ele te pediu em casamento? - Blanda questionou.
Joe_Comex acabou de chamar a sua atenção.
Demetria Lovato diz:
Não.
Como foi que você me pediu em casamento?
Joe_Comex diz:
Não faço ideia.
Espera, deixa eu pensar.
Diz que foi na noite em que te levei ao teatro.
Demetria Lovato diz:
O que fomos assistir?
Joe_Comex diz:
Tanto faz. Depois do espetáculo te levei até o mirante para admirarmos a cidade toda iluminada.
Levei vinho.
Você gosta de vinho, né?
Demetria Lovato diz:
Adoro.
- O Joe me levou ao teatro e depois ao mirante da cidade pra dar uns amassos. Ele levou um Pinot Noir - contei para Blanda.
Joe_Comex diz:
Ficamos conversando, você estava feliz, à vontade.
Eu estava nervoso como o diabo, com medo do que estava prestes a fazer.
Sabia que precisava de você como nunca precisei de ninguém.
Sabia que te queria ao meu lado para o resto da vida.
Olhei para Joe, completamente concentrado na tela do computador.
- Ele estava nervoso, com medo que eu dissesse não - falei mecanicamente.
- Caramba! Nunca imaginaria o Joe com medo de nada.
- Nem eu!
Joe_Comex diz:
Então tomei coragem, olhei dentro dos seus olhos e disse:
Demetria, você tem sido a pedra no meu sapato desde que entrou na minha vida sem pedir licença.
Demetria Lovato diz:
Esse é o pior pedido de casamento imaginário que eu já ouvi!
Joe_Comex diz:
Ainda não terminei. Então eu te disse:
Desde aquele dia em que você me atropelou na escada, não consigo parar de pensar em você. Meu mundo virou de pernas pro ar... e não quero que volte a ser o que era. Não se isso te excluir. Quero que esse caos aumente se significar que terei você por perto.
Levantei a cabeça para observá-lo. Ele digitava a uma velocidade impressionante, completamente absorto.
Joe_Comex diz:                 
Sei que a gente mal se conhece, mas tenho certeza que algo extraordinário vai acontecer se ficarmos juntos. Prometo que vou te amar, te respeitar, te proteger e te apoiar em todos os momentos da nossa vida. Case comigo e me faça um homem completo.
E você respondeu...
Demetria Lovato diz:
Eu caso!!!
Joe_Comex diz:
Eu te tomei em meus braços.
Demetria Lovato diz:
E aí? O que aconteceu depois?
Joe_Comex diz:
Nos entregamos tão profundamente aos nossos sentimentos que juntos atingimos as estrelas.
Olhei novamente para ele, que dessa vez me encarava de volta. Havia um brilho novo em seus olhos, dançando alegre nas íris iridescentes. Minha respiração acelerou.
- Demetria, tá me ouvindo? - chamou Blanda, me libertando do encantamento.
Sacudi a cabeça, um pouco confusa.
- Oi?... Estou. Que foi?
- Perguntei como foi o pedido. O que foi que ele disse?
- Ah, ele disse que... eu era uma pedra no sapato e que ele não podia mais viver sem mim, depois me levou até as estrelas.
- Nossa!
- É. Tá calor aqui, não ta? - engoli em seco, afastando o cabelo da testa subitamente úmida. - Preciso tomar... alguma coisa. Gelada. Bem gelada! 

4 comentários:

  1. Eu falei não falei... Tô ficando vidente. Parece que li o capítulo antes de ser postado. Acho que o Joe viu esse pedido em
    Algum filme, e a Demi morrendo de calor imaginando como seria de fosse verdade. Perfeito... Quero mais... Ham hje tem mais para a minha felicidade. Amando

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  2. Esqueci de falar do meu amor na História Marcus... Dá para a mulher dele ter o meu nome, é que sou louca por homens tão perfeitos até depois de mortos. Melhor avó do ano

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  3. AAAA AAAMEEEI ESSA CAPITULO U_U
    Essa convesa no msn foi demais <3
    Amaaando poosta loogo, pleeeae, xo

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  4. maaaratonaaa \o
    Essa história está demais, posta logo o proximo, beeijos

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