domingo, 5 de maio de 2013

CAPÍTULO 26 MARATONA


Meu celular tocou. Tateei com os olhos até encontrá-lo.
- Seja lá quem for, vá pro inferno! - resmunguei.
- BOOOOOM DIAAAAA, Demi! - gritou Sel, e em seguida entrou a voz de Bono Vox cantando “Beautiful Day” num volume além do suportado pela audição humana. Isso durou uns trinta segundos antes de o volume diminuir. - E aí, acordou?
- O que foi que deu em você? - perguntei furiosa, tentando acalmar minha pulsação. - Acho que todo esse barulho me causou labirintite.
- Se você pode ficar irritada, então já está bem desperta. Eu não podia deixar você perder sua carona. Vou tomar banho. Tenha um lindo dia!
- Selena! - mas ela já tinha desligado.
Afundei a cabeça no travesseiro, bufando. Dei uma espiada antigo relógio de vovô sobre a mesa de cabeceira.
- Ah! - pela primeira vez acordei na hora certa.
Fiquei decepcionada ao encontrar a porta do quarto de Joe aberta e a cama arrumada e vazia, assim como o restante do apartamento. Ele devia ter ido sem mim. Aparentemente, minha hora certa e a dele não eram a mesma.
Que ótimo, pensei. Não adiantou nada acordar de madrugada!
Tomei um banho demorado; o chuveiro era fantástico, apesar do pouco espaço do banheiro. Ainda enrolada na toalha, fui investigar o que havia para comer na geladeira. Encontrei cerveja, queijos, sucos, frutas, embalagens de comida pronta e dúzias de bandejas de iogurte, de todos os sabores e marcas conhecidas. Eu ri. Provavelmente tudo aquilo iria para o lixo antes que eu fosse capaz de comer. Na verdade eu nem gostava muito de iogurte, mas não pude deixar de me sentir quente diante da atenção de Joe em relação a mim.
Encontrei granola no armário e uma tigela, e me espantei com o tamanho da pilha de chocolates que Joe comprara. Ele não parava de me surpreender.
Sentei-me ao balcão e estava terminando o café da manhã quando a porta se abriu bruscamente. Saltei da banqueta, assustada, antes de ver Joe - vestindo camiseta branca e bermuda azul, os cabelos úmidos e a pele brilhando de suor - invadir a cozinha.
- Joe! - gritei, apertando a toalha ao redor do corpo.
- Bom d... - ele me examinou de cima a baixo, desviou os olhos, depois se virou de costas. - Eu... não sabia que você tomava café vestida assim.
- Eu não sabia que você ia voltar pra casa. Pensei que já estivesse na empresa a essa altura - meu rosto ardeu.
- Ainda é cedo e combinamos de ir juntos, esqueceu?
- Pensei que o seu cedo e o meu fossem diferentes.
Ele riu, ainda de costas. O suor fazia a camiseta fina grudar estrategicamente em suas costas largas. Não, não era enchimento. Joe tinha mesmo um corpo fabuloso. Droga!
- Acho que cedo, é cedo pra todo mundo. Vou... tomar um banho e... e... Até já - ele saiu rapidamente em direção ao banheiro, sem olhar para trás.
Voltei para o quarto e vesti a primeira roupa que encontrei - calça jeans e regata de malha cinza. Passei a mão pelos cabelos e um batom clarinho para tentar disfarçar o vermelho-escarlate que cobria minha face. Eu estava extremamente constrangida, como se a primeira vez que um homem me visse quase nua.
Esperei por ele na sala, impaciente, mudando de posição no sofá toda que ouvia um barulho mínimo vindo do banheiro. Finalmente Joe surgiu, com toda sua elegância opressora, vestido formalmente como sempre, a maleta em uma das mãos. Não tive coragem de olhar para ele por mais de dois segundos. Ele também parecia constrangido, de modo que permanecemos calados durante todo o trajeto até a empresa.
- Desculpa - me forcei a dizer quando ele estacionou no pátio da L&L, após vinte intermináveis minutos de silêncio. - Realmente pensei que estivesse sozinha.
- Tudo bem, não foi nenhum crime - ele disse rapidamente.
- Você está bravo - apontei
- Não estou.
- Está sim.
- Não estou - ele teimou.
- Tem uma veia saltando na sua testa. Ou você está bravo ou está prestes a ter um AVC.
Ele suspirou.
- Não estou bravo, Demetria. Só fiquei surpreso ao encontrar uma mulher nua comendo na minha cozinha. O que não é ruim, de forma alguma, diante da nossa situação...
- Então não é comum ter mulher nua na sua cozinha? - me ouvi perguntando, interessada.
Ele comprimiu os lábios, olhando para frente, parecendo ainda mais exasperado.
- Tudo bem, não era da minha conta.
Suspirei.
- Juro que isso não vai se repetir, Joe. Juro!
- Aquela é a sua casa agora. Você pode fazer o que quiser, inclusive tomar café da manhã vestindo nada mais que uma toalha de banho.
- Menos mexer nos seus hidrotônicos - eu disse, desejando mudar de assunto e quebrar a tensão que parecia sacudir o carro.
Funcionou
- Menos mexer nos seus hidrotônicos - ele concordou com um sorriso tímido. - Não estou com raiva. Só fiquei um pouco surpreso ao te encontrar daquela forma. Você parecia bastante à vontade. O que de certa forma é bom.
Joe me encarou, seus olhos brilhavam mais que de costume, o que não ajudou em minha tentativa de manter os batimentos em ordem.
- Olha, você prometeu que ia se esforçar pra não fazer isso. Você prometeu que ia parar com esses seus comentários irritantes - falei. De repente minha respiração acelerou. Ele quis dizer que era bom eu estar nua e em sua casa?
- Eu não prometi nada. Eu disse que ia tentar me conter, é diferente. Mas não estou tentando te irritar - ele disse, numa voz profunda. - Estou sendo sincero. Fico feliz que você tenha se sentido em casa. Só preciso me acostumar com a ideia de te ver daquela forma e não... - ele se calou. Seus olhos baixaram e encararam meus lábios com certo interesse.
- E não...? - instiguei, querendo muito saber como aquilo terminaria.
Joe pareceu acordar do transe ao som da minha voz, rapidamente desviou os olhos e se endireitou.
- Depois a gente se fala. Preciso encontrar o Liam para discutir sobre um contrato. Quer carona pra voltar pra casa?
Eu sabia que aquele “Depois a gente se fala” significava “Nunca mais vamos tocar nesse assunto”. Frustrada, eu disse:
- Quero. Obrigada.
Ele assentiu, saiu do carro e me deixou ali no estacionamento, atônita, tentando adivinhar o que se passava em sua cabeça e, ao mesmo tempo, o que acontecia com a minha.
Joyce foi toda simpática quando cheguei ao sétimo andar.
- Lá vem a noiva do ano! - Apenas dei um sorriso amarelo. - Já viu o jornal? - ela me mostrou a capa de um dos maiores jornais da cidade. Havia uma foto minha e de Joe, tirada sabe Deus como, entrando no cartório no dia anterior.
DE PRINCESA A GATA BORRALHEIRA
Demetria Devonne Lovato, uma das herdeiras mais ricas do país, segundo fontes seguras, foi deserdada e não dispõe mais de sua enorme fortuna. Demetria já coloriu páginas de muitos jornais ao redor do mundo, sempre metida em escândalos. A garota-problema parece estar mais calma por ora. Na manhã de ontem, foi vista entrando no cartório da cidade ao lado de Joseph Jonas, 28 anos, jovem executivo de uma das empresas pertencentes ao Conglomerado Lovato. O casamento foi a portas fechadas e ninguém se pronunciou até o momento. Resta esperar para descobrir se dessa vez a ex-princesa do Conglomerado Lovato criou juízo.
- Argh! Eu odeio esses jornais! - resmunguei.
- É, são horríveis mesmo - concordou ela, me analisando atentamente. - Você parece cansada. Não dormiu bem? - e soltou um risinho malicioso.
- Não dormi nada essa noite - suspirei. Depois do pesadelo com vovô, eu tinha me revirado de um lado para o outro até quase o amanhecer. Estava pregada!
- Nossa! E o Joe, com aquele jeito de workaholic certinho sem tempo pra nada, me enganou direitinho. Não fazia ideia que havia um amante ardente por trás daquela fachada séria.
- O Joe? - Do que ela estava falando? Ah, sim. Do meu suposto marido Joe. - Claro! Ele está... acabando comigo.
Joyce sorriu ainda mais e suspirou.
- E parece que a sua maré de sorte continua. A Janine pediu para você ir até o RH. Resolver o problema com os chineses foi um golpe de mestre, Demetria.
- Ela disse o que queria? - perguntei interessada.
- Acho que você vai ter uma nova função.
- Sério?! - Ah, o doce sabor da vitória! Com certeza ser vice-presidente seria bem menos cansativo e muito mais bem remunerado.
Desci até o RH, ansiosa, antecipando minha promoção fantástica, que elevaria significativamente meu salário. Eu já fazia planos de qual dos maravilhosos cupês importados eu compraria. Talvez comprasse um amarelo dessa vez. Gostava de carros amarelos. Ou talvez um laranja, com bancos de couros personalizados. 
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Tá aí o primeiro capítulo, acabei acordando mais tarde do que o esperado comentem rápido.  

4 comentários:

  1. Que mania de deixar-nos na curiosidade. Porque o Joe nao falou que era de possuir os lábios dela, ela ia ficar vermelha que nem tomate e depois ele ria e ela ficava furiosa.... (viajei) Demi vai ficar secretária do Joe, estou achando que é essa a promoção... Mais tempo suportando um ao outro. Tá lindo demais

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  2. Esqueci-me de dizer que estou sentindo FDP destruifora de lares surgindo, acho que é isso que Vovô Marcus referia-se no sonho

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  3. nova leitora (:
    amando <3
    posta logo!!!

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