Por um momento eu achei que
tivesse presa num pesadelo. Tudo aconteceu tão rápido e de repente desacelerou,
como em câmera lenta. Até a bala que vinha na direção da minha cabeça se movia
lentamente. Fiquei esperando o tal filme da minha vida começar, louca pra
relembrar os momentos felizes, mas o que vi se desenrolar à minha frente foi
muito mais assustador do que todas as piores memórias juntas.
Antes que eu pudesse
piscar, um ombro largo bloqueou minha visão e mãos fortes agarraram meus
braços, seu peso me fez perder o equilíbrio e seguir em direção ao piso frio de
mármore. Ouvi o som aterrorizante de carne e músculos sendo dilacerados pelo
projetil. Escutei o gemido de dor. Então encontrei aqueles olhos verdes me
observando, espantados.
- Não! – tentei gritar, mas
estava sem ar. Na queda, seu peso me fez perder o fôlego.
O corpo de Joe ficou mole
sobre o meu. Tentei empurrá-lo para o lado, para que eu pudesse acudi-lo, mas não
consegui. Ele piscava muito, tentava não gemer. Eu não conseguia ver onde a
bala o atingira.
O mundo voltou a girar,
veloz e assustador. Alguém caiu. Telma. Sel se abaixou atrás do sofá, e Hector,
ignorando a idade e o bom-senso, estava lutando com Clóvis, tentando
desarmá-lo. Os seguranças se entreolhavam sem saber o que fazer.
Joe começou a se mover,
tentando sentar, a mão pressionada sobre o ombro esquerdo, os olhos presos no
embate entre Clóvis e Hector. Antes que ele decidisse se levantar e tentar
salvar o mundo, procurei qualquer coisa que pudesse usar como arma para atingir
Clóvis, que acabara de empurrar Hector com violência, derrubando-o
ruidosamente. Hector gemeu.
- Você não devia ter me
desafiado! – gruniu Clóvis, subitamente à minha frente.
- Joe, não! – gritei, mas
não fui rápida o bastante.
Joe se lançou sobre Clóvis,
desajeitado, e acabou acertando um soco naquela cara redonda. Clóvis balançou,
e Joe usou o peso do próprio corpo para derrubá-lo. O punho de Joe encontrou o
nariz de Clóvis uma, duas, muitas vezes. Clóvis era menor, porém mais pesado e,
em sua insanidade, forte como um mamute. Eles trocavam socos e chutes, e eu não
conseguia me meter entre os dois, com medo de que Joe se ferisse ainda mais. Em
algum momento, avistei a arma ali no meio. Era como naqueles filmes em que o
bandido e o mocinho se engalfinham, e em seguida haveria um tiro. Um dos dois
estaria morto. Eu não podia permitir que isso acontecesse.
-
Chamem a polícia! – ordenei aos dois seguranças abobalhados. Eles se entreolharam
novamente e, depois de um minuto de hesitação, um deles deixou a sala. O outro
observava a luta, sem saber em quem deveria atirar.
- Faz alguma coisa! –
gritei para ele, que assentiu e correu em direção a Hector.
- Ela... não... vai...
ficar... com meu dinheiro – grunhiu Clóvis, conseguindo se colocar sobre Joe e
envolvendo seu pescoço com uma das mãos gordas, enquanto a outra alcançava a
arma, que caíra no chão por um microssegundo.
Tomando impulso, voei sobre
Clóvis, derrubando-o meio de lado. Acertei-o como pude, no estomago, no queixo,
na orelha, nas costelas. Ele tentou apontar a arma para mim, mas mãos grandes e
fortes o impediram. Joe se esforçava para desarmar Clóvis enquanto eu tentava
nocauteá-lo. Os ossos de minha mão estalaram, mas eu não senti a dor. Numa
última tentativa, Clóvis conseguiu enviar o joelho entre minhas costelas e eu
caí, sem fôlego.
Joe hesitou ao me ver
arfando em busca de ar, e Clóvis se aproveitou, atingindo-o no nariz,
deixando-o atordoado o suficiente para se livrar de suas mãos. Clóvis se
colocou de pé, meio torto, trôpego, ensanguentado, os olhos injetados presos
aos meus. Então seus lábios se curvaram para cima, num sorriso diabólico. Ele
ergueu o braço lentamente, apontando o cano do revólver para mim.
Fechei os olhos e esperei
que tudo acabasse.
Um baque surdo e um gemido
me fizeram abrir os olhos. Clóvis estava caindo, os olhos revirando nas
órbitas. Joe estava em pé bem atrás dele, arfante, ferido. O vaso de prata -
pesado e maciço - pendeu de sua mão e caiu a seus pés. Clóvis desabou, mole,
soltando a arma, os olhos fechados, a boca entreaberta. Joe chutou o revolver
para longe antes de entregar os pontos e se deixar afundar no chão. Corri para
ele, desabalada.
- Joe, fala comigo! – pedi,
me agachando a seu lado, tocando seu ombro e encharcando minhas mãos de sangue.
Observei-as por um momento onírico, tomada pelo mais absoluto horror. – Ah,
Deus, não!
- Shhh... – ele gemeu com a
voz engasgada. – Estou... bem. Não se pre...ocupe.
- Não fique aí parado como
um idiota! Chame ajuda! – ouvi Hector dizer. Talvez ele se dirigisse ao
segurança, eu não conseguia desgrudar os olhos de todo aquele sangue. Meu
coração batia num ritmo alucinante, doía, sangrava. Joe sangrava. E era minha
prioridade.
- Ah,
não! Você, não! – chorei, saindo do torpor, quando percebi que ele pretendia se
sentar. Eu o empurrei o mais gentilmente que pude de volta para o chão, estendo
as pernas embaixo de sua cabeça na tentativa de deixa-lo o mais confortável
possível, quando vislumbrei a enorme ferida em suas costas, no meio do ombro. –
Não!
- Estou bem... Não chora –
ele ofegou, num esforço hercúleo para soar menos agonizante. Seus olhos estavam
fixos nos meus. Seu rosto estava coberto de sangue. Sangue dele, de Clóvis, eu
não fazia ideia.
- Por favor, não morre! –
implorei
Ele sorriu brevemente.
- Não vou morrer. Prometo.
– Mas uma poça de sangue se formava no mármore branco.
- Ah, meu Deus! O Clóvis
matou o Joe! O Clóvis matou o Joe! – ouvi Sel gritar histericamente.
- O Joe está ferido, mas
está consciente – Hector tentou acalmá-la.- Ele vai ficar bem. Acalme-se,
querida, você só está tendo uma noite ruim – e tentou se endireitar.
Tentei mudar de posição
para que Joe ficasse mais confortável, se é que isso era possível, mas ele me
interpretou mal.
- Fica comigo - pediu, com
a voz mais controlada.
Lágrimas turvavam minha
visão. Eu assenti freneticamente.
- Fico. Pra sempre.
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Tá ai gente, o Joe se jogou, levou tiro e salvou Demi, agora será que vai ficar tudo bem com ele? ele perdeu muito sangue nesse ato heroico, eu disse que ia ter sangue, num disse? e eu tive muita vontade de fazer um fim para esse traste mais não convém então... ontem quando cheguei em casa depois do aniversário de minha irmã que abri meu e-mail e vi seus comentários quase morri de rir, vocês ficaram ansiosas? acho que vou fazer isso mais vezes kkkk, assim vocês comentam mais e não sou má apenas uma jogada esperta para mais comentários ;)
não esqueçam comentem, quem sabe tenha mais 1 hoje, posso ser boa também se quiserem.