sábado, 20 de abril de 2013

CAPÍTULO 8


Joyce continuou habilmente me torrando a paciência, e ninguém falava comigo além do necessário. Até o rapaz musculoso – pelo menos ao que me parecia – e grosseiro, cujo nome não me dei ao trabalho de perguntar, se manteve distante depois de duas ou três tentativas de me abordar. Eu fugia dele assim como do relógio de ponto. O mesmo acontecia em casa. Eu me esgueirava pela mansão, tentando evitar qualquer encontro com a dupla dinâmica. E acabei conseguindo, graças a Sel, que me convidava para dormir em sua casa quase todas as noites. Telma e Clóvis não me preocupavam mais. 
Duas semanas depois de começar o meu martírio na L&L, Clóvis deu o ar da graça durante o almoço para perguntar como eu estava me saindo. 
- Eu mal vejo você. Parece que nem moramos na mesma casa. – O que, para mim, era um alivio. – como estão as coisas por aqui, Demetria? 
- Humm... – resmunguei enquanto mordia uma batata malcozida. – Olha em volta, Clóvis. Todo mundo me adora. Isso aqui é o céu! 
Ele observou os rostos curiosos que nos observava. Joyce, no outro canto do grande salão, parecia prestes a explodir, sem saber o que falávamos. - Eles podem estar com medo de você – ele sugeriu. – Afinal isso tudo um dia será seu. 
- Medo – zombei – Dá herdeira falida. Sou mesmo assustadora. 
- Tenho uma coisa para você – ele colocou a mão no bolso interno do paletó. 
Meu coração disparou. 
- Uma carta! 
Ele sacudiu a cabeça. 
- É uma coisa que seu avô queria que ficasse com você. Isto está fora da herança. – Ele me entregou um saquinho de veludo azul. – Sei que não tem valor comercial, mais acho que você vai gostar. 
Arfei quando vi o relógio que vovô nunca tirava do pulso – a pulseira de couro negro, um pouco desgastada, contrastando com a caixa dourada. 
- Foi o primeiro bem de valor que o vovô comprou com seu próprio dinheiro – apontei. 
- Eu sei, ele me contou. Mas não vale nada hoje em dia. Sinto muito – ele deu de ombros. 
Para mim valia mais que um diamante do tamanho da cabeça do Clóvis, o que não era pouca coisa. Não pude evitar as lágrimas. 
- Obrigada, Clóvis! – pulei da cadeira para abraça-lo. 
Ele pareceu sem jeito com a minha demonstração de gratidão, e deu uns tapinhas desajeitados nas minhas costas. 
- Eu só cumpro ordens, Demetria. Mas você entendeu o recado? 
Sorri 
- Entendi! Claro que entendi! O vovô queria que alguma coisa dele ficasse comigo, para que eu sentisse sua presen... – me interrompi. Sacudi a cabeça e sorri, sentando-me novamente. – Ele quer dizer Não se atrase, não é? 
Clóvis assentiu. 
- A Joyce me disse que você se atrasou todos os dias desde que começou a trabalhar. 
- Não é bem assim. Hoje cheguei só quinze minutos atrasada. É quase o mesmo que chegar na hora – me defendi. 
Ele riu, sacudindo a cabeça. 
- Para os seus padrões, creio que seja mesmo. Bom, preciso ir. 
-Tá bom. Obrigada por me entregar isso – apontei para o relógio. – E... desculpa se tenho sido um pouco agressiva, mas é que tem tanta coisa acontecendo e... sei lá, não estou conseguindo lidar direito com tudo isso. 
- Não se preocupe. Entendo perfeitamente – ele sorriu um pouco e se foi. 
Olhei para o grande relógio do refeitório e notei que o de meu avô estava quinze minutos adiantado. Por isso ele nunca se atrasava! Eu ri, colocando a peça fria no pulso. Quando levantei a cabeça, encontrei os olhos do camarada mal-educado fixos em meu rosto – eu precisava para de me referir a ele dessa forma; camarada havia saído de moda fazia pelo menos uma década! O problema era que sua aparência não ajudava. Apesar do terno alinhado e da postura séria, definitivamente havia algo de selvagem em seus olhos, para não mencionar os cabelos, mais longos do que homens de negócios costumavam usar. Algo nele me fazia pensar em fugas alucinantes e bungee jumping. Encarei-o por um instante, me recusando a desviar o olhar. Senti um pequeno tremor subir pela coluna. O modo como ele me observava, mesmo a distancia, era intrusivo, parecia me deixar em evidência, como se um holofote tivesse apontado para mim. Como se ele pudesse me ver por dentro. Ver minha alma. 
Meu celular tocou e, agradecida por poder me livrar das esmeraldas penetrantes, atendi. 
- Demi, você não vai acreditar! Acho que encontrei a solução para o seu caso. Vá direto para minha casa depois do trabalho. Minha mãe vai fazer enchiladas. À noite te explico tudo com calma, mas vou avisando que é coisa certa. Eu disse que ia te salvar, não disse? – Sel falou sem parar para respirar. 
- Sério? Isso é maravilhoso! – Finalmente um pouco de sorte. – Me conta tudo. O que você pensou? 
- À noite a gente conversa. É meio complicado. Tenho que ir. Beijinho! 
Depois desse telefonema, fiquei mais confiante de que tudo daria certo no final das contas. Eu não fazia ideia do que Selena tinha em mente e, de toda forma, não me importava, desde que eu pudesse ter minha antiga vida de volta. Estava pensando sobre a possibilidade de uma viagem a Bucareste nos próximos meses, por isso nem me dei conta quando entrei no elevador lotado e, tarde demais, vi que uma cabeça se sobressaía das demais. Uma cabeça com cabelos escuros, mais longos do que o escritório pedia, e que eu tinha evitado a todo custo nas últimas semanas. Entretanto, quando o notei já era tarde demais e as portas haviam se fechado. Esperei ansiosa, olhando para a frente, as mãos suando, até que o elevador se abriu e o sexto andar surgiu em meu campo de visão. Atirei-me porta afora, agradecida por escapar ilesa. 
Mas eu ainda não estava a salvo.                                                                                                      


- Posso falar com você? – o rapaz disse num tom amistoso, antes que eu pudesse desaparecer por trás de uma das portas das saletas. 
- Hãã... na verdade estou ocupada. Até mais – e tentei me dirigir para qualquer lugar que fosse. 
Ele me seguiu com facilidade. Não era de admirar, tendo em vista aquelas pernas longas e fortes... Não que eu tivesse reparado. 
- Por favor, espera – ele pediu, se colocando à minha frente. 
Virei-me para a porta ao seu lado. Sala treze, sexto andar. A sala das copiadora. Mas eu não tinha nada para copiar, a não ser que Joyce quisesse reproduções de outras partes do meu corpo. 
Sem ter uma desculpa razoável, desisti. 
- Que foi agora? Veio me dizer mais alguma adorável suposição sobre o meu relacionamento com meu avô? 
- Na verdade, vim me desculpar – ele disse, numa voz baixa e macia. O rosto sério parecia sinceramente arrependido. – Eu não queria te magoar. Você acabou de perder um parente e eu fui muito rude. Mesmo que você seja irritante e mimada, eu não tinha o direto de ser grosseiro. Desculpa. 
Cruzei os braços sobre o peito. Por alguma razão, aquele estranho mal-educado me deixava inquieta. 
- Sensacional seu pedido de desculpas, camarada. 
- Joe – ele disse, colocando as mãos nos bolsos da calça e atraindo meu olhar quase que instantaneamente para seus quadris estreitos, o volume na... Desviei os olhos rapidamente. 
- Hã? – perguntei 
- Meu nome é Joe. 
- Joe? Tipo Vem aqui, Joe? – provoquei. 
Ele pareceu constrangido. 
- Não. Diminutivo de Joseph. 
Fiquei surpresa. Era um nome bastante incomum e muito, muito sugestivo para aquele homem enorme, com – pelo menos ao que parecia, não que eu tivesse reparado nem nada disso – músculos definidos na medida certa, como os de um nadador. 
- É a sua cara – sorri. 
Ele se empertigou um pouco. 
- Era o nome do meu avô. 
- Seu avô era assim como você? Educado e gentil? 
- Eu já pedi desculpa – ele disse firmemente, se aproximando. Ficamos um pouco mais de um metro de distancia um do outro. – O que mais você quer, Demetria? 
- Olha só, aprendeu meu nome! – zombei. – Você tem um jeito muito peculiar de pedir desculpas, mas eu aceito, se for pra te manter longe de mim. Então... 
Ele endireitou os ombros, ficando uma cabeça, um pescoço e um pedacinho do ombro mais alto que eu. Amaldiçoei-me silenciosamente. Eu devia ter usado salto alto e transformado meus míseros um metro e cinquenta e oito em fabulosos um e setenta. 
- Então não temos mais nada para conversar – ele proferiu ríspido. 
- Não tínhamos desde o inicio. Boa tarde, Joe. – retruquei empinando o nariz para encará-lo. 
Àquela curta distancia, pude notar que suas íris cristalinas, de um verde suave, tinham pequenas pintas amarelas ao redor das pupilas, dando impressão de que as cores se misturavam a todo momento, como um caleidoscópio. 
Ele me encarava de volta, o queixo trincado, a respiração pesada. Eu estava decidida a não arredar pé. Dessa vez não desviaria os olhos por nada, embora meu coração batesse rápido e descompassado por causa do desafio. 
Joe ergueu a mão para... me tocar? Endireitei os ombros, esperando... pelo que, eu não sabia. Contudo ele soltou o braço e recuou, parecendo constrangido, me deixando um pouco decepcionada – por quê, eu também não sabia. 
- Boa tarde, Demetria – ele disse, com uma voz rouca e decidida que me causou arrepios. 

3 comentários:

  1. AAAAAA POOOSTAAAA LOGOO, PLEEEEEASEE, AAAA AMAAANDO DEEMAIS ESSA HISTÓRIA, BEEEIJOS

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  2. lindo como sempre, sua históra ta linda demais, beeijos

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  3. Sabia que era o Joe. Gosto de homens que assumem qndo erram. Já sei qual é a solução da Selena... Ta sinopse lol amooo aqui

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