segunda-feira, 22 de abril de 2013

CAPÍTULO 11


Uma hora e vinte minutos de atraso foi o bastante para deixar Joyce furiosa, e num ato de extrema benevolência, ela optou por me exilar nos confins da sala mais temida em todos os nove andares do prédio da L&L Cosméticos. A única sala sem janelas nem ar-condicionado: a sala treze, no sexto andar. Onde ficava a copiadora. Foi difícil me concentrar no que fazia. A ressaca não havia melhorado então fiquei longe do refeitório incapaz de suportar sequer olhar para algo comestível, mas bebi muita água. Tirei cópias suficientes para compor a lista telefônica da China e terminei tarde, no final de expediente. Uma crosta marrom já havia se formado em meu cotovelo. Doía um pouco quando eu dobrava o braço, coisa que precisei fazer repetidas vezes, já que a máquina emperrava a cada dez minutos. 
- Pronto, Joyce. Tá aqui – estendi a ela as quatro mil e quinhentas páginas. 
- Sem sua bunda dessa vez? – ela perguntou desconfiada. 
- Pode confiar. 
Ela não pareceu convencida mais deixou passar. 
- Pode descer até o RH para pegar seu contracheque, e não se atrase amanhã. Tem mais coisas a serem copiadas, então, se não quiser passar mais uma tarde trancada naquela... 
- Tá bom. Não vou me atrasar 
Mais que feliz por saber que teria grana para pegar um taxi caso Sel ficasse presa na clinica e não pudesse me dar carona, desci para o RH, lotado de funcionários retirando seus holerites. Aguardei pacientemente na fila. 
- Oi – chamou um voz profunda bem perto da minha orelha. Um arrepio percorrei o meu corpo. Virei-me e dei de cara com um sorridente Joe. – Animada com seu primeiro contra cheque? 
- Muito! E você não esta mais com cara de quem esta morrendo. 
- É não estou... eu acho. Como está seu braço? – ele perguntou solícito. 
- Está bem, obrigado por perguntar. Eu te devolvo o lenço depois de mandar lavar. 
- Não se preocupa. Escuta, eu andei pensando se você não... 
- Demetria Devonne Lovato – chamou a secretária baixinha de nariz achatado. 
- Sou eu – falei para Joe e me dirigi até o balcão para retirar meu envelope.Sorri para a moça, me sentindo vitoriosa. Era meu primeiro pagamento. Pagamento de verdade, já que o antiquário não era bem um trabalho. Ralei muito naquela empresa. Merecia cada centavo. Mal dei dois passos antes de abrir o envelope e ver um canhoto estranho cheio de números e letras. Fitei o papel, pensando o que aquilo poderia significar. Desisti de tentar adivinhar e voltei ao balcão. 
- Hã... Desculpa mas... o que é isso? – Enfiei o papel na cara da secretária. 
- É o seu pagamento – ela disse lentamente, como se eu fosse um débil mental. Olhou para a fila e chamou: - Joseph Jonas. 
- Onde? – perguntei, examinando meu contra-cheque mais uma vez. 
- Bem aqui – ela respondeu, apontando para os números no pé da página. 
- Isso não é o meu número de registro na empresa ou algo assim? 
- Não. É o seu pagamento. 
- Deve ter sido um engano. – Só podia ser um engano. Tinha que ser! 
- Deixe-me ver – ela pegou o papel analisou por meio segundo e depois me devolveu. – está certo. É o valor que as assistentes recebem pelo serviço. Normalmente não tem tantos descontos por atraso, mais o valor integral é o mesmo. 
- Mais isso é uma merreca! Como você espera que eu sobreviva com isso aqui? Eu gastei o dobro disso na noite passada. 
- Ninguém duvida – Joe comentou já ao meu lado. – Pela foto no jornal você se divertiu muito. 
- Cala a boca Joe – eu disse sem pensar. 
Ele sorriu irônico, e cruzou os braços entre o peito. 
- Não é tão pouco assim – argumentou. 
- Não é? – esfreguei os números em sua cara. – como eu vou viver com esta gorjeta? Não paga nem as despesas do meu carro. 
- Livre-se dele – ele deu de ombros, mas franziu o cenho quando analisou o valor no rodapé do meu estrato. 
- O que? – perguntei indignada. – Me livrar do meu cupê, lindo, vermelho e potente? Não mesmo! De jeito nenhum! Hoje de manhã eu peguei um ônibus, sabe o que é aquilo Joe? Você tem ideia de quantas encoxadas eu levei e de como eu estava fedendo quando desci no ponto, porque um engraçadinho que aparentemente não toma banho há uma semana se aproveitou da ocasião para ficar me apalpando? Aquilo é o inferno! 
Ele não pareceu se assustar com minha ira. Na verdade, parecia estar se divertindo. 
- A maior parte da população não tem problemas em usar o transporte coletivo – apontou. 
- A maior parte da população não tem um cupê como o meu! 
Ele riu. 
- Nisso você tem razão. 
Fechei os olhos e pressionei as têmporas com os punhos. Virei-me para a secretária do RH. 
- Eu preciso de mais dinheiro – pedi. – Cadê a Espanador? 
- Quem? – ela perguntou confusa. 
- A Demetria deve estar se referindo à Janine, Marcia – Joe interveio, lutando para não sorrir e falhando vergonhosamente. 
- Ah. A Janine esta num congresso. Reestruturação de RH – Marcia disse a ele. 
- Eu preciso de mais dinheiro – repeti. 
- Sinto muito – mais ela não parecia sentir coisa nenhuma. – Tente não chegar atrasada e não haverá tantos descontos. 
Olhei para a folha de pagamento, havia muitos abatimentos, um deles enorme. 
- Porque este desconto tão grande? 
- É o INSS, a previdência social – ela explicou um tanto impaciente. 
- Eu não preciso de previdência social – passei o papel para ela. – Pode devolver meu dinheiro. 
Joe suspirou ao meu lado. 
- Demetria, não é opcional – ele começou. – Você é uma funcionária registrada. A empresa tem o dever de pagar os seus direitos. É para o seu futuro. 
- Não tenho tempo para pensar no futuro. Quero minha grana agora – retruquei. 
- Para de se comportar como uma menina mimada – disse ele sem rodeios. 
- Pare de se intrometer na minha vida! – me empertiguei. 
- Porque você não liga para o Dr. Clóvis? – Marcia sugeriu obviamente querendo que eu sumisse dali e acabasse com o tumulto. – Ele pode explicar melhor. 
- Com certeza vou fazer isso. E o INSS vai devolver todo o meu dinheiro amanhã! Nem um dia mais! – E, passando a bolsa por sobre o ombro, deixei a sala com a dignidade que havia me sobrado. 
Ligue para Clóvis ainda no elevador. Repeti as mesmas frases indignadas, salientando o roubo do INSS tudo o mais, mas ele apenas suspirou, nada comovido. Na verdade, parecia bastante irritado, mas indignada como eu estava, não dei muita atenção. Ele disse que aquela era a remuneração que meu avô havia estipulado e que não poderia fazer nada a respeito. Eu tinha certeza de que ele podia fazer alguma coisa. Só não queria, o que me deixou ainda mais puta da vida.

Sel me encontrou bufando na calçada. Contei a ela o que acabara de acontecer e, para minha total consternação ela gargalhou. 
- Só você para ir contra uma lei trabalhista. 
- Não é justo Sel – cruzei os braços sobre o peito. – O dinheiro é meu. Eu trabalhei. Eu passei meus dias enterrada naquela empresa. O governo não fez nada! 
- A maioria das pessoas preza muito o INSS e seus benefícios, Demi. O governo vai fazer a parte dele no devido tempo. – Ela franziu a testa e acrescentou: - Ou pelo menos deveria. 
- Eu tenho que fazer alguma coisa. Tenho que dar um jeito nisso. Não posso continuar assim, vivendo de trocados. Eu preciso de roupas mais profissionais, preciso pagar o estacionamento onde deixei o Porsche e 
colocar gasolina naquele tanque infinito, e sabe quanto eu tenho de dinheiro? Essa merreca, mais só amanhã porque o dinheiro ainda não compensou! – mostrei a ela o meu holerite. 
Sua testa franziu. 
- A coisa tá feia pro seu lado amiga. Posso te emprestar até... 
- Não! Pegar dinheiro emprestado é o mesmo que admitir que sou a garota imatura que meu avô disse que sou naquele maldito testamento. Eu tenho que me virar, Sel sozinha. Sou adulta, inteligente e responsável. Preciso encontrar uma solução. O ideal seria anular aquele maldito testamento, só não sei como. Não sem denegrir a imagem do meu avô. Eu nem posso pagar um advogado para me ajudar a encontrar outra saída, caramba! 
- Porque você não anuncia o seu carro? Ele vale uma fortuna – ela sugeriu. 
- Você também! Eu não vou anunciar e nem adiar... – foi então que eu soube o que deveria fazer. Naquele instante, eu soube como sairia daquele pesadelo. – É isso! Selena Marie Gomez, você é um gênio. Para na primeira banca que encontrar. Preciso de um jornal. 
- Mais você acabou de dizer que não vai vender o carro! – Ela apontou, sem entender ainda o plano genial que se formava em minha mente. 
- Não vou vender o carro – sorri. – Vou alugar um marido. 
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Agora se preparem que a história vai começar de verdade, e se preparem para os candidatos a marido mais inusitados. até amanhã.    

2 comentários:

  1. Ela vai alugar um Homem Viu!!!
    Essa Demi doidona me escangalha
    Amooo isso aqu

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  2. aaaaaa amandoo demais u_u poosta logo, beeeijos <33
    C. Shay

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