Joe observava, entediado, o movimento de clientes que entravam e saíam do café. Sua expressão de poucos amigos sugeria impaciência.
- Não pode ser ele! Não o Joe - comecei a voltar para o carro – Vamos embora, Sel. Agora!
Ela correu para me alcançar.
- Que Joe? O da L&L? Que você não gosta? Aquele que você diz que te detesta, mas pagou sua gasolina?
- Bingo!
- Mas...ele é lindo! - ela parecia confusa. - Como você pode não gostar dele?
- Você não tem idéia de como esse cara é grosseiro - eu disse, destravando as portas do carro com o botão na chave.
- Você não vai falar com ele? - ela se postou na frente da porta do motorista, me impedindo de abri-la.
- Obvio que não! O Joe ia contar para o Clóvis o que estou tentando fazer antes mesmo que eu saísse do café, e aí já era qualquer possibilidade de retornar as rédeas da minha vida.
- Mas ele não pode contar, afinal também está aqui - ela apontou – Ele também está fazendo algo errado.
Sacudi a cabeça, impaciente.
- Pode ser uma armação para me pegar no flagra. Vamos para casa antes que ele me veja.
- Como esse Joe poderia saber que o anúncio era seu? - retrucou ela. – Você não colocou o seu nome. E, pela cara de impaciência, ele parece nervoso.
Você não está nem um pouquinho curiosa para saber por que ele respondeu a um anúncio desse tipo..Hã...- ela parou abruptamente e olhou fixo para meu ombro esquerdo, levantando as mãos espalmadas. - Não se mexe, fica calma.
Vai ficar tudo bem.
- Por que você está dizendo iss...Aaaaaah! - virei a cabeça e então vi. Pequena, azul e mortalmente assustadora, a borboleta pousara em meu ombro esquerdo.
Gritei e me debati violentamente - Tira isso de mim!
- Pára! - pediu Sel, tentando me imobilizar e ao mesmo tempo afastar o bicho. - Assim você vai machucar a borboleta.
- Sai, sai, sai! - me contorci freneticamente.
- Pronto, Demi. Pode parar. Ela já foi - minha amiga apontou para a borboleta, que voou serelepe até repousar na janela em que estávamos grudadas havia poucos instantes - Ah, é um sinal!
- SIm. De que as borboletas resolveram me atacar. Elas estão por toda parte! - reclamei, tentando controlar meu ritmo cardíaco e os tremores involuntários.
- Vi uma igualzinha a essa na garagem da mansão um tempo atrás.
- Você vê várias porque tem medo. Mas a borboleta significa coisas boas em quase todas as religiões. Ela traz sorte. E essa aí quer que você entre lá! – ela apontou para o café.
- Era só o que me faltava! revirei os olhos. - Seguir os conselhos de uma lagarta.
- Por favor, Demi! Só uma conversinha rápida - ela uniu as mãos em súplica, os olhos enormes e brilhantes - Você me deve uma. Eu te salvei da borboleta!
Eu gemi.
- Tá bom, eu vou falar com ele. Mas se eu desconfiar de qualquer coisa, saímos correndo.
- De acordo - ela sorriu satisfeita.
- Fica por perto, pro caso de..sei lá...Só fica por perto - alertei.
- Prometo - ela assentiu, cruzando os dedos indicadores e dando dois beijinhos.
Lentamente - e mantendo uma distância segura do inseto que ainda estava na janela, como se me observasse - entramos na cafeteria. Sel correu para um dos bancos altos do balcão. Dirigi-me para os fundos. Joe me viu e imediatamente se enrijeceu. Por um momento, seu rosto se tornou inexpressivo, depois de um rubor cálido tomou suas feições. Ele acenou brevemente com a cabeça e olhou para os lados, como se procurasse uma rota de fuga. Pareceu em pânico ao me ver seguir em sua direção e sentar na cadeira à sua frente.
- Aproveitando o tempo livre? - perguntei tentando não parecer nervosa.
- Eu...estou esperando uma pessoa.
- Ah. Ela te deu um bolo? - disparei, subitamente animada com a possibilidade de irritá-lo. Joe tinha esse efeito sobre mim. Eu sempre queria provocá-lo de alguma maneira.
- Escuta, será que você poderia...
- Olha, os classificados! Posso dar uma olhada? Meu trabalho é um saco. Quem sabe tem alguma coisa mais interessante...
- É antigo. Da semana passada - ele se apressou em dizer, recolhendo o jornal da mesa. - Só tem anúncio velho.
- E por que você está com ele? - perguntei inocente - Não me diga que vai deixar a L&L? Seria uma perda irreparável!
Ele suspirou exasperado.
- Demetria, por que você não vai procurar algo útil para fazer e me deixa em paz? - sugeriu com um brilho perigoso nos olhos.
Eu tinha que admitir, Sel estava certa. Joe era lindo. Sorrindo, furioso, cansado, tanto fazia. Nenhum homem conseguia ser tão sexy quanto ele, mesmo quando tentava ser justamente o oposto, como era o caso. E, apesar de tudo, tive certeza de que eu não estava caindo numa armadilha. Ele não seria sangue-frio para arquitetar um plano tão meticuloso só para me pegar em flagrante. Ao menos eu achava que não. Decidi arriscar.
- Já vou. Só me responde uma coisa. Você trouxe seus antecedentes criminais?
Tive a satisfação de ver seu queixo trincar e seus olhos se fecharem, exauridos, antes que ele pudesse pôr os pensamentos em ordem.
- Você é a Dems - Joe constatou com um suspiro irritado. Ele me encarou com um misto de raiva, medo e mais alguma coisa que não pude identificar – Você vai burlar o testamento.
- Brilhante dedução. Mas confesso que fiquei intrigada. Você sabe por que estou fazendo isso, mas o que estou me perguntando é por que você está aqui.
- Pela mesma razão que você - ele respondeu secamente.
- Você também precisa se casar para receber uma herança?
- Não faça isso, por favor.
- Desculpa. eu realmente não entendo que motivo você tenha para estar aqui - respondi com sinceridade.
Isso pareceu amenizar um pouco seu mal humor.
- Preciso de uma esposa - ele disse apenas, numa voz gentil.
Eu o observei por um longo tempo. Joe era aquele tipo de homem que fazia uma garota - não a mim, claro - suspirar por semanas só porque ele lhe disse oi. E era bem normal. Eu já o conhecia um pouco, sabia que ele não era dado a esquisitices nem nada. O problema era que Joe era insuportavelmente arrogante, orgulhoso e muito chato. Não que eu estivesse cogitando a hipotése de torna-lo meu marido, claro que não. Mas, ainda assim, eu não entendia por que ele tentava encontrar uma esposa da maneira tradicional. Seria fácil demais alguma garota desavisada cair nos encantos daqueles olhos sedutores e um tanto agressivos.
Contudo, ali estava ele tentando encontrar uma esposa de aluguel. Só poderia haver um motivo.
- Então você precisa se casar, mas, dadas as circunstâncias tudo me leva a crer que não quer...assim como eu.
Ele assentiu.
- E precisa porque... - me interrompi sugestivamente.
- Por motivos profissionais - ele tamborilava os dedos no tampo branco da mesa.
Esperei por mais alguma coisa, qualquer explicação que fosse, mas ele apenas continuou me encarando com aquelas esmeraldas flamejantes, sem dizer uma única palavra.
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Agora só poderei postar na segunda feira. Então comentem!
ahhh nãão, só segunda :( vai demorar muito mas tudo bem, eu entendo, maaas poosta logo pleeease, ta lindo demais *-* Beeeijos
ResponderExcluirPorque eu estava pressentindo que ele seria um candidato. Amei... isso vai ficar interessante e mais real, apesar de suspeitarem será mais natural
ResponderExcluirta lindo demais, posta logo, to amando essa história, beeijos
ResponderExcluirC. Shay