terça-feira, 16 de abril de 2013

CAPÍTULO 2

- Onde você está que ainda não chegou à galeria? – Nicholas, meu chefe há quatro meses, exigiu saber. Tudo bem, ele até podia ser o dono da galeria, mas isso não fazia dele meu chefe, já que o que eu fazia na Galeria Renoir não era bem um trabalho.
- Eu tô doente. Uma virose. Muito contagiosa. Altamente contagiosa – miei, querendo desesperadamente voltar ao sonho delicioso em que Iam Somerhalder me perseguia para me encher de mordidas vampirescas. Humm...
Nick suspirou.
- Você tem dez minutos para estar aqui. Ou eu ligo para o seu avô e conto que você não trabalha um dia inteiro há mais de uma semana.
Argh! Eu odiava Nicholas. Principalmente essa sua mania medonha de contar tudo que eu fazia ou não fazia, como era o caso ao vô Marcus.
- Ok, não precisa ameaçar. Já to indo! – Eu não queria aborrecer vovô outra vez. E sabia que havia uma boa chance de ele não gostar muito de saber que eu andava matando o serviço para ir ao cinema e ao parque municipal.
Trabalhar no antiquário Galeria Renoir – péssimo nome, aliás,  eu teria escolhido algo como Cemitério de Usados ou Mercado de Carrapatos, já que algumas peças eram apenas lixo de gente morta,  havia algumas realmente boas, mas eram poucas,  era um saco! Eu ficava ali, dizendo aos poucos clientes que raramente entravam na loja quais peças deveriam ser compradas, quais não valiam a pena, o que combinava com o quê, esse tipo de coisa. Claro que só me candidatei à vaga porque vovô me obrigou a arrumar um emprego logo depois da minha última viagem à Holanda.
Ele não engoliu muito a história da minha prisão,  totalmente injusta, já que eu não sabia que não podia ficar de amasso na rua, afinal estávamos em Amsterdã, onde tudo é permitido. Aparentemente, quase sexo num beco semiescuro não é. Agora eu sabia disso.
Eu odiava a galeria quase tanto quanto odiava malhar. Mas Nick, um nerd estranho com um corpaço, cabelos negros e ondulados, um sorriso bonito no rosto quadrado, fora muito gente boa em me arrumar o emprego. Cursamos faculdade de artes juntos, e desde aquela época ele estava de quatro por Sel. Ela não retribuía, mas eu sentia que alguma coisa rolava entre eles, ainda que nunca tivessem saído juntos.
Graças a ele, tive a desculpa perfeita quando vô Marcus me questionou por que eu não trabalhava em uma de suas milhares de empresas.
Simples. Vovô poderia me vigiar de perto. E isso não era nada bom.
Vô Marcus era um dos homens mais ricos da revista Forbes. Sel brincava que setenta por cento do planeta era de água, quinze dos reles mortais e os outros quinze pertenciam a vô Marcus. Exageros à parte, o patrimônio de meu avô era incalculável. E ainda assim ele se mantinha ativo, trabalhando. Ou em um dos escritórios, ou trancado na biblioteca da mansão, conectado às empresas do Conglomerado Lovato.
Eu não tinha muito do que me queixar. Apesar de ter perdido meus pais quando criança, vovô nunca deixou me faltar nada, principalmente amor. Era por isso que eu estava me arrastando de seu quarto para o meu banheiro naquela manhã. Eu não queria decepcioná-lo duas vezes em menos de doze horas.
Vô Marcus, como de costume, havia se levantado com o nascer do sol. Não o vi quando desci as escadas correndo. Minha cabeça estava zunindo, ainda com o sono, mas me obriguei a pegar meu cupê na garagem espaçosa e dirigir os dez quilômetros até o centro da cidade, onde ficava a galeria.
- Para uma menina rica, você parece uma indigente – resmungou Nick assim que me viu.
Olhei para baixo e notei que estava com a camiseta do avesso.
- É a nova moda em Budapeste. Você saberia disso se viajasse mais- retruquei, me jogando numa cadeira do século XVIII extremamente desconfortável.
- Você inventa histórias demais, Demetria. Eu não sou seu avô pra cair nelas.
- Ele também não cai. Mas não custa tentar – dei de ombros. – E você acha mesmo que faria diferença se eu me vestisse como uma boneca? Ninguém entra nessa joça.
Como que para me contrariar, a porta se abriu e uma senhora exageradamente maquiada olhou em volta, com desdém, para os objetos do antiquário. Nick  me lançou um olhar exasperado.
- Vá arrumar essa blusa e volte para fazer o seu trabalho. Estou sem paciência hoje.
- Como quiser, patrãozinho.
Depois de me enfiar no banheiro minúsculo, arrumar a blusa e sapecar um pouco de maquiagem no rosto, na tentativa de esconder as olheiras da noite pouco dormida, voltei ao salão apinhado de coisas antigas. Tão antigas quanto a senhora que avaliava uma mesa de centro do século XIX.
- Posso ajudar? – ofereci, já que Nick estava ao telefone.
- Não sei. Estou procurando um vaso Ming.
- Ah, temos um em perfeito estado de conservação. Tem só um lascadinho na lateral. Vou mostrar. – Caminhei pelo labirinto que cheirava a porão, seguida de perto pela mulher de cabelos curtos com permanente, o que a deixava parecida com um poodle grisalho. – Aqui está! Um legítimo vaso da dinastia Ming, confeccionado por volta de 1370. Uma verdadeira raridade.
Seu rosto levemente enrugado se contorceu um pouco enquanto ela avaliava o vaso.
- Mas é legítimo mesmo? Tem algum certificado?
- Só trabalhamos com produtos legítimos, senhora – eu disse ofendida.
- Mesmo? E quanto àquela cadeira ali? – ela apontou para uma cadeira reclinável de madeira escura. – Está escrito “O Rei esteve aqui”.
Droga!
- Elvis Presley. O rei! – menti, com mais entusiasmo que o necessário.
- Mas está em português – ela resmungou, desconfiada.
- Sim, essa peça é daquela vez que o Elvis foi ao Brasil gravar um filme. Pena ter morrido antes de terminar – sacudi a cabeça. – Essa sim é uma verdadeira raridade. Não há outra dessas à venda.
- É mesmo? Eu não soube! – ela olhou em dúvida para a peça. – Nunca soube que o Elvis esteve no Brasil.
- Foi tudo muito sigiloso, sabe como é... O homem não tinha muita privacidade pra nada.
- Ele sentou mesmo nessa cadeira? – ela correu os dedos pela madeira, e um brilho indisfarçado de satisfação surgiu em seus olhos castanhos.
- Se sentou? – revirei os olhos teatralmente – Ele praticamente dormia nessa cadeira, de tanto que gostou da peça! Quis até levar para Graceland, mas teve um probleminha na alfândega. – Estiquei-me um pouco e sussurrei em tom conspiratório: - Narcóticos.
- Ah! Isso é tão Elvis! Eu o amava tanto na adolescência...
Aproveitei minha chance e desferi o golpe final.
- É um verdadeiro pecado vender essa cadeira por tão pouco. Quer dizer, o rei sentou nela! Isso faz dessa peça elegante e atemporal, que ficaria bem em qualquer ambiente, praticamente um trono real!
Os olhos da mulher acenderam.
- Posso me sentar nela só um instante? – ela perguntou.
- Fique à vontade.
- Demetria – chamou Nick, com cara de poucos amigos.
- Com licença – eu disse à mulher, que se acomodou na cadeira de madeira barata com um sorriso jubiloso no rosto redondo. Algumas pessoas pedem para ser enganadas...
Deixei-a refestelada na falsificação barata da cadeira que realmente pertencera a Elvis e que Nick havia comprado pela internet por uma merreca, na intenção de levá-la para casa, sério, ele não era muito normal. Mas ele morava com a irmã (o que só reforçava minha opinião de quanto ele era estranho), e ela não permitiu que aquela coisa horrorosa fizesse parte da decoração. Por esse motivo, a cadeira jazia ali, ao lado de outras peças alarmantes.
- O que eu já disse sobre enganar os clientes? – Nick suspirou exasperado.
- Que é errado, mas essa regra entra em conflito com outra. Aquela que diz: “Tenho que vender tudo que está na loja” – apontei. – Só estou fazendo o meu trabalho.
- O que eu estava pensando quando te ofereci emprego? – ele sacudiu a cabeça. – Eu só podia estar bêbado.
- Ah, Nick, qual é? Eu... – Meu celular tocou. – Ah, desculpa. Preciso atender.
- Tudo bem – disse ele. – Vou explicar para aquela senhora que houve um mal-entendido e depois vamos conversar outra vez sobre as regras de vendas.
Atendi o telefone.
- Demetria, é o Clóvis – disse apressado o advogado de confiança de meu avô – Seu Marcus acaba de ser internado.
- Internado? É aquela enxaqueca outra v... O que ele... Como ele está? – perguntei por fim.
- Ele está na UTI. Você pode vir agora?
- UTI? Mas...p-por que o vovô está na UTI? – meu coração começou a bater ensandecido. UTI não era bom. Nada bom.
- Por favor, Demetria, se apresse. Explico tudo quando você chegar aqui.
- T-tá. – Não gostei do tom urgente em sua voz. Um calafrio percorreu minha coluna.
Desliguei o celular sem me dar conta do que fazia e deixei a galeria atordoada, sem nem ao menos avisar Nick. Não me lembro de muita coisa do caminho para o hospital. Tudo que conseguia pensar era que vovô estava na UTI. Ele nunca ficava doente, exceto pela enxaqueca, vô Marcus tinha uma saúde de ferro.
Clóvis me esperava no corredor assustadoramente longo e branco do hospital. Seu rosto abatido demonstrava desespero. Retraí-me imediatamente.
- Meu avô vai ficar bem, não vai, Clóvis? – Ele tinha que ficar bem. Sempre ficava.
Seus lábios se apertaram, transformando-se em uma pálida linha fina. Recuei um passo.
- Ele vai ficar bem, não vai? – repeti, encostando-me na parede fria.
- Demetria... seu avô descobriu há algum tempo que tinha um... aneurisma cerebral – ele disse, como se isso fizesse algum sentido. – Era grande demais. Inoperável, infelizmente. Hoje de manhã ele desmaiou e foi trazido desacordado para o hospital. A equipe médica fez o que pôde para salvar o seu Marcus, mas...
- O que você está querendo dizer? – Meu peito subia e descia rápido demais. A vertigem me impediu de sair correndo com as mãos nos ouvidos para não escutar o que ele tinha a dizer. No entanto, eu já sabia o que viria a seguir. Claro que sabia. Já havia estado naquela posição antes, de repente, eu tinha cinco anos de novo, mas dessa vez vovô não estava ao meu lado, me colocando no colo e dizendo que daríamos um jeito, que tudo ficaria bem de alguma forma.
Clóvis retirou os grandes óculos do rosto redondo e esfregou os olhos.
- Sinto muito, Demetria. Não havia nada que pudesse ser feito para salv...
- NÃO! – o grito explodiu em minha garganta antes que eu pudesse sequer piscar. A dor era tão intensa que adormeceu meus membros. Um vazio preencheu o local onde antes ficava meu coração. – Não! Ele não pode fazer isso! Eu não posso perder o vovô também! Ele precisa ficar comigo. Eu só tenho meu avô, Clóvis! Só ele!
- Sinto muito, querida. Você precisa ser forte agora. – Braços roliços e gentis me envolveram, mas lutei furiosamente contra eles. Eu não precisava ser consolada. Precisava de meu avô ao meu lado.
- Me solta! Preciso falar com meu avô. Eu quero ver meu avô! Agora! Ele não pode me deixar. Simplesmente não pode... me deixar aqui.
Mas ele pôde. Naquela manhã, ele me deixou.
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Oi meninas espero que estejam gostando, bom o vô Marcus  morreu agora a probrezinha da Demetria vai viver um verdadeiro inferno, ela vai aprontar muito, mais também vai sofrer bastante esperem pra ver!, quanto ao casal JEMI vai demorar mais uns capítulos para acontecer, mais quando acontecer ..... só esperando para ver esse casal maluco.    

8 comentários:

  1. AAAAAAAA POOOSTA POOSTA PENA QUE O AVO DELA MORREU, POOSTA LOOGO <33

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    1. É, ele morreu mais ainda vai aparecer muito na história e ai dar muita bronca na Demi...

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  2. to chorando aqui, posta looogo o próximo capitulo!!!!

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  3. Ai que triste....
    Mas estou ansiosa demais pra saber o que tá escrito no testamento...
    Posta mais um hoje????
    Vou esperar,hein???
    Beijos...

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  4. Oh! Eu gostava tanto do Clóvis , o finalzinho fez-me chorar sei como é a dor de perder um avó e que nos é chegado... Eu evito lembrar-me dói demaid

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    1. também como doi, ainda mais que minha avó se foi a menos de 2 anos e eu quase acabei com a minha vida, mais temos que seguir em frente por mais que seja dificil
      aprendi de uma maneira bem irresponsável mais aprendi, e a Demi vai aprender, em linhas tortas mais vai.

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