terça-feira, 23 de abril de 2013

CAPÍTULO 13



Admirei meu lindo Porsche vermelho e suspirei. Eu amava aquele carro. Sel havia me deixado no estacionamento perto da balada pouco depois de pararmos na banca de jornal. Ela voltara para casa e eu esvaziara os bolsos para resgatar meu cupê. 
Fui obrigada a parar no posto de gasolina para abastecer antes de seguir para a casa de minha amiga. Ainda estava remoendo a conversa com Clóvis, me perguntando se tinha excedido, mas cheguei à conclusão de que eu agira corretamente. Nem meu avô tentara se impor a mim daquela maneira. Na tentativa de cumprir sua função de tutor, Clóvis havia extrapolado, não eu. Bom... não muito. 
Entreguei o cartão de crédito ao frentista e esperei um pouco impaciente que ele concluísse a transação. 
- Recusado – falou o rapaz, me devolvendo o cartão com um sorriso complacente no rosto. 
Franzi o cenho. Eu tinha certeza de que não havia excedido do meu Amex. Entreguei o Visa e esperei, mas, quando seus olhos se voltaram para mim rápidos e desconfiados e seu sorriso desapareceu, percebi que eu estava com problemas. 
- Não sei o que esta acontecendo – expliquei. – Deve ser um erro no sistema ou alguma coisa assim. Eu tenho limite nesses cartões. 
- Que tal usar outra forma de pagamento? 
Qual? eu quis perguntar. 
- Hã... Eu estava exatamente indo até o banco sacar dinheiro. Quer tentar o Mastercad? 
- Escuta, moça. Se você não pagar o que deve, vai ser do meu salário que vão descontar o valor, então não tenta me enrolar, tá? 
- Ei! Olha pro meu carro! Tá na cara que é um erro do banco. Eu tenho cara de quem dá calote? 
- Pra falar a verdade, tem sim – disse ele, cada vez mais impaciente. – E esse carro é seu mesmo? 
Era só o que me faltava. 
- Você está sugerindo que peguei emprestado por aí? Isso aqui é um Porsche! Quem emprestaria um Porsche? 
Ele deu de ombros. 
- Como você vai pagar, moça? 
Vasculhei a bolsa em busca de algo que sabia que não encontraria. Só havia trocados. 
Merda. Merda. Merda. 
- Tenta esse aqui, por favor – dei a ele o cartão-salário aberta pela empresa em meu nome, embora soubesse que estaria sem saldo até a meia-noite. Oh, Deus, como eu ia pagar a gasolina? 
- Muito bem, moça. Recusado também. Saia do carro. 
Suspirei, mas saí. 
- Tudo bem. Você pode chamar o gerente para eu explicar o que está acontecendo? – pedi. 
- Com certeza. Mas vou ficar com a chave do carro como garantia – ele sacudiu meu chaveiro de porquinho de pelúcia. 
- Mas não vai mesmo! – tentei pegá-lo de volta. 
- O que está acontecendo? – perguntou outro frentista. 
- A moça aqui encheu o tanque e não tem grana pra pagar – ele se contorceu, me impedindo de arrancar o chaveiro de sua mão. – E vai fugir se eu entregar a chave. Chama o Jason antes que ela escape! 
- Parem com isso agora! – O outro frentista ordenou. – Vocês estão assustando os clientes. 
- Não vou fugir – objetei, irritada. – Ele é que vai sair por aí no meu cupê – eu disse ao rapaz mais baixo que assistia a tudo, incrédulo. Tentei novamente pegar a chave, mas o garoto se esquivou outra vez. Parei. – Me devolve minha chave e não me obrigue a te machucar. 
- Pague o que deve e eu devolvo. 
Avancei sobre ele. Mas uma voz profunda e grave me fez parar. 
- Problemas, Demetria? 
Oh, Deus, anjos, querubins, fadas, qualquer um com poderes aí em cima, permitam que não seja ele. Permita que não seja Joe! 
Quando levantei os olhos por sobre o braço do frentista, vi que minhas preces não foram atendidas. 
- Precisa de ajuda? – uma sobrancelha se arqueou. Ele tentava esconder o sorriso, mas estava lá, em suas palavras, em seus lábios e naqueles olhos verdes irritantes. 
Endireitei-me, alisando minha blusa, com o máximo de dignidade que conseguir reunir. 
- Não. Está tudo sob controle. 
- A moça encheu o tanque e não tem dinheiro pra pagar – disse o frentista. – Ela quer...Ai! – Meu cotovelo acidentalmente acertou as costelas do rapaz. 
- Ah – exclamou Joe, e o sorriso se tornou mais largo. 
- Não é nada disso – comecei, constrangida, encarando seus sapatos negros. – Tem alguma coisa errada com os meus cartões. Deve ser um problema na central ou algo assim. É só isso. Vou falar com o gerente e explicar tudo. 
- Quanto ela deve? – Joe quis saber, se dirigindo ao frentista e me ignorando propositalmente. 
Ergui a cabeça num estalo. 
- Você não vai fazer isso, Joe. É assunto meu! – reclamei, enquanto o frentista dizia o valor. 
Ele sacou a carteira do bolso. 
- Agora entendo seu desespero hoje à tarde, quando você viu seu contracheque. Um terço do salário só para abastecer o carro? – Antes que eu pudesse detê-lo, ele entregou o dinheiro ao rapaz. 
O frentista me lançou um último olhar acusador antes de devolver minha chave e se afastar. 
- Quanto tempo esse combustível vai durar? – Joe perguntou. 
- Uns quatro dias, mais ou menos, se eu andar na manha. 
Ele assobiou. 
Encarando o chão, mortificada, me forcei a dizer: 
- Obrigada, Joe. Não precisava ter interferido. Eu ia dar um jeito. 
- Que jeito? 
Dei de ombros. 
- Eu ainda não tinha chegado a essa parte do plano. 
Ele riu, e isso me fez erguer a cabeça e encará-lo. 
- Não foi engraçado! – objetei. 
- Ah, foi sim. Ver você pulando em cima do garoto foi muito engraçado – ele cutucou meu braço com o indicador de maneira amigável. Uma descarga elétrica perpassou meu corpo. – Estaciona o carro e vem tomar um café comigo. 
- Não vou a lugar nenhum com você. 
- Eu enchi seu tanque, Demetria. O mínimo que você pode fazer é me acompanhar num café. 
Envergonhada e amaldiçoando o meu avô por todos os problemas que havia me deixado, entrei em meu cupê e o estacionei em frente à loja de conveniência. Joe me esperava na entrada. 
- Não vai doer nada, prometo – ele zombou ao notar meu embaraço. 
- Quer apostar? – resmunguei. 
Ele sorriu e por alguma razão aquilo me perturbou profundamente. Era um sorriso cínico, ferino e, de certo modo, cheio de segredos. Fiquei inquieta, me remexendo no banco alto ao lado de Joe, esperando impaciente a porcaria do café para poder me mandar dali. 
- Assim que o meu pagamento cair na conta, te devolvo o dinheiro – avisei. 
- Não precisa. Considere isso como um pedido de desculpas formal. 
- Joe... 
- Estou falando sério. Fiquei feliz em poder te ajudar – seus olhos verdes eram límpidos, sinceros. 
- E posso saber por quê? 
Finalmente nossos expressos foram colocados à nossa frente. 
Ele deu de ombros. Enquanto adicionava dois sachês de açúcar à bebida. 
- Pode chamar de peso na consciência. Não fui legal com você quando nos conhecemos. Estou tentando compensar minha falta de tato. 
- É o que parece. E isso me apavora um pouco. 
Ele sorriu sacudindo a cabeça e experimentou o café. Fiz o mesmo, apenas para ter o que fazer além de admirar seu perfil. Por mais que eu não gostasse dele – e não gostava - , tinha que admitir que Joe era um homem... apresentável e hã... meio que interessante. Havia algo de inquietante em seus olhos. 
O silencio entre nós também era inquietante. Não entendi porque ele insistiu em me convidar para um café se permaneceria calado. Engoli apressada a bebida escaldante, queimando a língua no processo, e saltei da banqueta. 
- Bom, obrigada pelo café e pela gasolina, mas preciso ir. Minha amiga está me esperando. 
- Para mais uma noitada sobre o balcão, suponho. 
Estreitei os olhos. Porque Joe sempre dizia a coisa errada? 
- Você é um imbecil, sabia? 
- Foi bom te ver também, Demetria – ele deixou o dinheiro sobre o balcão e me acompanhou calado até o carro. 
Joe era muito alto, e todo aquele tamanho me intimidava um pouco. Eu me senti uma idiota ali, parada em frente ao carro, sem saber o que fazer ou onde colocar as mãos. Foi ele quem decidiu pôr fim aquela agonia. 
- Te vejo amanhã. - Colocou as mãos nos bolsos da calça e começou a se afastar. 
Fiquei observando seu andar seguro, determinado, até que ele entrou em um SUV escuro e deu partida. Só então me obriguei a entrar no carro e afastar da cabeça Joe e seus olhos irritantemente hipnóticos, e me dirigi até minha nova casa. 
Mandy foi muito compreensiva e me recebeu com entusiasmo. Sel estava um pouco preocupada. 
- Por que demorou tanto, Demi? 
- Problemas no posto de gasolina, mas já resolvi tudo. 
Ela me levou até seu quarto depois de me obrigar a comer alguma coisa e ajudou a acomodar minhas tralhas num canto. Conversamos um pouco sobre como Clóvis ultrapassara todos os limites e depois caímos na enorme cama de casal. No escuro, tentei não pensar em quanto eu incomodaria Selena  e Mandy. Em vez disso, concentrei-me no plano para reaver meus direitos de herdeira, com sorte, esperava me livrar daquele pesadelo e recuperar não só minha fortuna, mas um pouco de dignidade. Mal podia esperar o dia amanhecer para saber se tudo sairia conforme o planejado. 
No entanto, isso foi tudo que pude conjeturar antes que uma imagem insistente se infiltrasse em minha cabeça e, aos poucos, dominasse minha mente por completo. A última coisa que pensei antes de cair num sono pacifico foi em um belo par de olhos verdes, que já não me pareciam tão hostis assim. 
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Logo mais posto outro!

Um comentário:

  1. Hihihihi... to achando a Demi mazé uma patricinha de plastico. mas gsto dla na mesma

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