AMOR SEM FIM CAPÍTULO 17

Ao retornar para o local de trabalho, Demi sentia-se fria e extremamente desolada. Ela o odiava e ao mesmo tempo, o queria e aquela situação era ameaçadora e a consumia. Pessoas sensatas aprendiam com seus erros e mudavam para melhor. Talvez, em seu caso, devesse mudar, literalmente, refletiu.

Não tinha laços fortes em Londres e a cidade era extremamente cara para se viver. Se fosse embora, poderia começar do zero, antes do nascimento do bebê. Se Joseph não soubesse de seu paradeiro, com certeza acabaria deixando-a em paz e ela não ficaria tentada a viver uma relação que acabaria por destruí-la. Tinha pouco dinheiro no banco, mas a avó lhe deixara cerca de 1.500 libras em um cofre dos correios.

Seria o bastante para cobrir as despesas com a mudança.

Acharia o mesmo se eu estivesse grávida?

Aquela pergunta martelava na cabeça de Joseph. Até conhecer Demetria Lovato, Joseph havia acreditado que um estilo de vida luxuoso e presentes caros eram suficientes para deixar qualquer mulher aos seus pés. Mas Demi era uma mulher complicada, desafiadora e, no entanto, em muitos aspectos, mais simples.

Sabia que ela queria um homem com quem se sentisse segura, que cuidasse dela como merecia. Então, fez aquela pergunta sobre gravidez e Joseph a recebeu mal. Demi, na verdade, estava fazendo uma simples pergunta para descobrir o nível de comprometimento que ele tinha com ela, analisou Joseph. E estava esperando uma resposta sincera, porém ele não era homem de expor sentimentos, discutir a relação. Mais de uma vez havia terminado relacionamentos só porque queriam entrar nessas discussões. Mas com Demi a história era diferente e ela requeria mais tolerância e apoio. E precisava escutar que, não importava o que acontecesse, ele estaria lá para cuidar dela. Infelizmente, ela lhe tinha dado pouco tempo para que pudesse compreender a realidade de que apenas a sinceridade pura e simples a faria escutá-lo.

— Sr. Jonas...? — Um dos membros do conselho murmurou, depois de alguns minutos de silêncio incompreensíveis que estavam deixando os integrantes da reunião bastante preocupados.

Joseph o olhou, friamente:

— Não me interrompa. Não vê que estou pensando?

Que diabos Demi estava tramando? perguntou-se, intensamente frustrado. Como ousava dizer a ele que não era um homem decente digno ou merecedor de respeito? Apenas porque nunca sentira vontade de reproduzir não significava que não soubesse o que era certo e apropriado. Algum dia, teria filhos, com Ashley.

De repente, passou por sua cabeça a imagem de uma menina mimada, geniosa, com uma expressão entediada e petulante que apenas sorria quando se olhava no espelho. Em seguida, visualizou outra imagem igualmente atemorizante e um filho fútil e bobo. Se os genes de Ashley triunfassem, o que seria do futuro do império Jonas para as próximas gerações? Joseph não conseguiu reprimir uma careta.

Quarenta e oito horas depois, Joseph viajou a Paris para terminar o noivado. Desde a oficialização do compromisso, Ashley estava utilizando as propriedades dele e costumava se hospedar na casa do centro da cidade para visitar os amigos. Não havia avisado de sua chegada, e quando entrou no hall principal da casa, encontrou Ashley gritando como uma histérica com um dos empregados.

— Joseph ... — gaguejou ela surpreendida com a chegada do noivo. Dispensou o empregado humilhado com um imperioso aceno e foi cumprimentá-lo, com seu melhor sorriso, como se nada tivesse acontecido.

— Algum problema? — ele inquiriu-a.

Ashley se queixou que, como ele nunca aparecia na casa os empregados andavam muito preguiçosos e relaxados. Joseph desconfiou da acusação, pois viu maledicência e mimo no rosto de Ashley. Já tinha ouvido dizer que a família Greene havia tido que indenizar uma empregada que denunciara Ashley por agressão física. Impaciente para terminar logo com o que o trazia ali, Joseph disse a Ashley, da forma mais delicada e cautelosa possível, que não iria mais se casar com ela.

— Não está falando sério... está inseguro com todos esses arranjos para a festa e a proximidade do dia.

— Não estou preparado para um compromisso tão sério — disse Joseph calmamente.

— Mas não vai sentir nenhuma diferença entre estar casado comigo ou estar solteiro! — argumentou Ashley. — Joseph ... sei que preza sua liberdade. Você é um Jonas. Está no seu sangue gostar de variar.

— Sinto muito, nosso noivado está terminado.

— Mas já tem tanta coisa pronta! Tive tanto trabalho!

Joseph não perdeu tempo em assegurar que sua equipe cuidaria de todos os inconvenientes causados pelo cancelamento da festa. Estava preparado para qualquer argumento ou protesto que pudesse vir de Ashley. Impassível, resistiu a todas as acusações, lágrimas de cólera e gritaria. A maior preocupação de Ashley era fazer papel de tola para o público e quase perdeu o equilíbrio quando Joseph propôs que divulIgasse um informe imediato para a imprensa. Joseph abriu uma exceção, em um gesto raro, e permitiu que ela escolhesse o conteúdo da carta e quando seria divulgada.

Além disso, porque sentia que estava sendo muito duro com Ashley ao terminar o noivado de uma hora para outra, Joseph a presenteou com uma jóia. Havia comprado como presente de casamento.

— Por favor, aceite como expressão de meu eterno afeto e consideração por você.

O conjunto de brincos com colar de safira e diamante, que havia sido de uma realeza europeia, causou gemidos de prazer em Ashley. De repente, ela estava sorridente como se nada tivesse acontecido.

Joseph estava de saída quando ela disse melindrosa, enquanto jogava os cabelos para os lados, em um movimento sedutor:

—  Sou perfeita para você. Todos dizem isso. Quando voltarmos, seremos como Romeu e Julieta.

— Acabou, Ashley — disse Joseph, controlando o impulso de salientar o fato que o romance de Romeu e Julieta acabou de forma trágica. Em vez disso, preferiu desfrutar a sensação energizante de liberdade que o invadiu. Sabia que nunca mais iria pedir ninguém em casamento. Havia sido um grande erro da sua parte. Devia ter ouvido seus instintos.

Caso precisasse de alguém para ser mestre-de-cerimônias de suas festas e reuniões, contrataria um. Demi havia lhe exposto um espelho e Joseph não gostou do reflexo que viu. Trinta e seis horas depois de uma reunião de negócios em Dubai, Joseph voou de volta para Londres. Ainda não tinha perdoado o comportamento de Demi da última vez que a encontrara, mas não podia esperar para vê-la, e foi direto ao apartamento dela para lhe fazer uma surpresa.

Porém, foi ele quem recebeu a surpresa quando tocou a campainha e ninguém respondeu. No dia seguinte, Nemos descobriu que ela havia partido sem deixar o novo endereço com o vizinho ou algum conhecido. Joseph insistiu em ver o interior do apartamento. Não podia acreditar que Demi realmente fora embora.

Nenhuma mulher jamais fugira dele. Ela o desejava tanto quanto ele. Qual era o problema, então? Em um minuto ela o beijava como se não pudesse viver sem ele e no minuto seguinte... Joseph estava revoltado e frustrado com o sentimento de impotência e rejeição. Quanto tempo demoraria para encontrá-la? Havia a possibilidade de nunca mais a encontrar. Aquele pensamento desencadeou uma paralisia temporária e horripilante que deixou imóveis as pernas sempre tão fortes e saudáveis de Joseph. Ele se perguntou se não estaria ficando doente.

Apenas quando voltou para a limusine, Nemos se curvou e lhe passou um objeto.

— Estava na lixeira. Não mostrei antes por discrição.

Era a embalagem de um teste de gravidez. Ela devia ter ficado muito preocupada, pensou Joseph, muito mais do que ele, ponderou com pesar. Agora entendia porque ela havia se mostrado tão zangada no último encontro.