AMOR SEM FIM CAPÍTULO 28

Demi escutou um idioma estrangeiro no salão ao lado e sorriu. Seu casamento ia ser uma cerimônia genuína e exclusivamente grega. No dia anterior, havia chegado de iate pelo mar Egeu. Determinado a preservar ao máximo sua privacidade e a de Demi, Joseph havia feito questão de guardar o local do casamento em absoluto segredo para não ter a surpresa desagradável de ver algum paparazzo no dia da festa. Sabendo que Demi não tinha família nem amigos íntimos para servirem de padrinhos de casamento, Joseph convidou duas primas para representar esse papel. Ambas, Lucy e Miley, eram apaixonadas pelo primo. Muito espirituosas, rapidamente ficaram à vontade na presença de Demi.

Em determinado momento, Demi ficou curiosa quando as duas começaram a conversar entusiasticamente em grego.

— Deve ser um mexerico bom, hein?

As irmãs pararam de conversar na mesma hora e se olharam constrangidas e tensas.

— Mexerico? — perguntou Lucy, preocupada.

— Estou brincando.

— Ah, brincando — repetiu Miley com um suspiro aliviado.

— Há algo errado? — perguntou Demi notando algo estranho no ar.

Lucy, a irmã mais velha, se aproximou e disfarçou.

— Não, imagina! Não há nada de errado. Você está linda, Demi.

—- Esse vestido é fantástico — disse Demi, rodopiando na frente do amplo espelho, tentando ver-se por todos os ângulos possíveis. Pequenos adornos de pérola enfeitavam o penteado que haviam feito com esmero e paciência. Sentia-se glamourosa pela primeira vez na vida. Um magnífico pingente de diamante em forma de coração brilhava no pescoço. Era um presente de Joseph, que dera durante o café-da-manhã.

— Não é o vestido, você que é linda — corrigiu Miley. — Quando todos a virem, vão entender porque Joseph se apaixonou por você.

Os olhos de Demi escureceram. Foi à janela da cabine e se deu conta que após 24 horas em alto-mar o iate finalmente se aproximava de terra firme. Lembrou que pouco tinha visto Joseph nas últimas três semanas. Na noite em que dormiram juntos, ele não a tocou, e, quando Demi acordou, no dia seguinte, Joseph já havia partido.

Na verdade, não faziam amor desde o Marrocos. Recentemente, o vira apenas três vezes. Ele havia estado estranho, beijando-a apenas na testa ou na face, como se Demi fosse uma senhora de idade ou uma criança pequena.

— Essa é Libos — informou Lucy, aproximando-se de Demi e apontando pela janela. — O que é melhor que uma ilha particular para uma cerimônia de casamento reclusa e discreta?

O telefone tocou e Miley atendeu, passando-o, em seguida, para Demi.

— O que acha do futuro lar? — perguntou Joseph.

Uma mata verde e exuberante corria por toda a extensão da ilha, acompanhando a areia branca e a límpida água azul. A vila que podia ser vista no alto era pitoresca e graciosa, repleta de casas brancas e um porto, na costa.

— É realmente lindo... soa brega, mas parece um cartão-postal... desses que dá vontade de entrar — respondeu ela, timidamente.

— Por que não vai até o deque? A vista é bem mais bonita de lá!

Demi foi para a varanda atrás do quarto. O cabelo estava embalado pela suave brisa do mar. Ainda no telefone com Joseph, sorriu quando ele descreveu alguns dos vários locais turísticos que podiam ser vistos do barco.

— Cadê você? — perguntou ela.

— Aqui no porto, tomando meu último drinque como homem solteiro. Nos vemos daqui a uns dez minutos, pedhi mou.

A voz familiar e segura a tranquilizou, deixando-a um pouco menos ansiosa com o que estava por vir. O iate atracou e a tripulação se despediu de Demi e desejou felicidades a ela antes que desembarcasse. Demi ficou encantada ao ver os cavalos brancos e a carruagem que a esperava no porto para levá-la ao altar. A igreja tinha uma enorme torre com um sino, zelando pela elegante e pequena vila.

Joseph desceu as escadas da igreja para ajudá-la a sair da carruagem. Vestido com um terno tradicional, e o cabelo brilhando pelos raios do sol, a expressão de seu rosto era de pura alegria ao sorrir. Estava extremamente irresistível. No instante em que desceu, Demi notou o olhar atento e cheio de admiração de Joseph sobre ela.

— Você está linda demais.

— Gostou do vestido?

Joseph agarrou-a pelos braços e a retirou da carruagem. Seus olhos estavam brilhantes e carregados de desejo masculino.

— Muito, muito sexy — sussurrou-lhe ao ouvido.

— Mas não revela nada! — respondeu ela, desconfiada.

— Tenho uma memória fotográfica — falou Joseph maliciosamente, enquanto a colocava no chão com cuidado.

De repente, Demi se perguntou por que havia ficado tão tensa e nervosa por causa da cerimônia. Afinal, não estava se casando com o homem que amava?

A igreja estava abarrotada de pessoas. Todos suspiraram quando o casal entrou. Demi notou os belos arranjos de flores distribuídos pela pequena igreja e a decoração simples, porém impecável, e o cheiro de incenso que invadia o ambiente. A cerimônia começou e o ritual ortodoxo chamou a atenção de Demi desde o início. Ficou transbordando de emoção quando os familiares banharam os recém-casados com pétalas de rosas.

Depois da cerimônia, a carruagem fez um passeio pela cidade antes de tomar o caminho da festa. A vila Jonas era muito mais antiga do que Demi havia imaginado. Joseph explicou que a família habitava aquela ilha havia mais de um século. Joseph a adquirira recentemente para protegê-la da especulação financeira e do desmatamento. Rodeada por um jardim espetacular que se estendia até a praia, a casa, magnífica, tinha uma vista maravilhosa do mar.

Na recepção, Joseph ficou ao seu lado todo o tempo, e Demi foi sendo apresentada, aos poucos, aos amigos e familiares. Os nomes e rostos rapidamente se confundiam.

O número de convidados era espantoso. A maioria falava inglês, mas Demi já arranhava algumas palavras em grego. Durante o jantar, que durou horas, tentou ignorar as centenas de olhares sobre ela, mas não se sentia à vontade.

— Por que está todo mundo me olhando assim? — perguntou, finalmente, a Lucy.

Depois de várias taças de champanhe, a jovem Lucy já dava risadinhas ébrias, incapaz de segurar a língua.

— Quantas razões quer? Hoje você virou uma mulher muito influente, porque é a esposa de um homem bastante poderoso e rico. Outro motivo é porque roubou Joseph, na última hora, de Ashley. A família está muita curiosa, querendo saber se as coisas que saíram nos jornais são mesmo verdadeiras!

— Que jornais? — perguntou Demi surpresa. Lucy tapou a boca com as mãos, caindo em si.

— Joseph avisou que você não podia saber disso. Por favor, não fale que fui eu quem contou!

Com essa súplica, a madrinha se retirou.

Minutos depois, Joseph a levou até a pista de dança. Enquanto dançavam, Demi tentou guardar a curiosidade, mas acabou não aguentando.

— O que saiu nos jornais sobre mim? Foi em um jornal inglês?

Joseph tensionou o maxilar em sinal de contrariedade.

— Foi. Meus advogados já estão cuidando disso.

— Mas o que dizia?

— Nada que valha à pena contar?

— Eu insisto.

— Insistir não vai adiantar, pedhi mou — falou Joseph, francamente. — Você agora é da família Jonas. Somos superiores a esses tablóides.

— Não fale comigo como se fosse uma criança — queixou-se Demi em voz baixa.

O rosto de Joseph ficou ainda mais sombrio.

— Então, comporte-se como uma adulta. Esse é o nosso casamento e você está fazendo um papelão, discutindo na frente dos convidados.

— Aposto que Ashley não se comportaria muito melhor do que eu — retrucou, insolente.

— O comportamento de Ashley em público sempre foi impecável — rebateu ele, secamente.

Os dois ficaram em silêncio até o término da música. Tão logo acabou, Demi saiu da pista e procurou um lugar pacato onde pudesse ficar sozinha. Cogitou sair da festa, quando uma bengala caiu na sua frente.

Ela a apanhou e devolveu para uma velhinha pequenina, sentada em um canto próximo.

— Deixou cair, minha senhora...

Uma mão fraca e enrugada a tocou.

— Venha se sentar comigo. Sou Adelaide, a bisavó do seu marido.

Sem hesitar, Demi se sentou.

— Joseph sempre me lembra meu falecido marido, Rodas — confidenciou. — É cabeça-dura, não tem paciência e é esperto demais.

Demi corou e sorriu com a descrição.

— A senhora o conhece muito bem, mesmo.

— Mas Rodas tinha a sorte de ter nascido em uma família carinhosa, ao contrário de Joseph — concluiu Adelaide, mordendo os lábios antes de perguntar a Demi: — Quanto sabe sobre o passado do seu marido?

— Ele não gosta de falar sobre isso. A senhora suspirou.

— Os pais dele nunca deveriam ter tido filhos. Todos os dias eram de festa para eles. Joseph foi criado por empregados. A mãe era viciada em drogas, mas o assunto era acobertado para evitar escândalos. Joseph nunca conheceu o amor ou a estabilidade, uma prova de carinho por parte dos pais.

 Demi teve dó do marido.

— Não fazia idéia.

— Quando tinha 16 anos, a única pessoa que o amava de verdade naquela casa morreu, e Joseph ficou completamente perturbado por um tempo. Felizmente, voltou a encontrar o equilíbrio. É um homem muito forte — afirmou Adelaide cheia de orgulho do bisneto. — Mas precisa de uma mulher igualmente forte, que saiba suavizar seu lado severo e cético com muito amor e compreensão.

A conversa com Adelaide estava acalmando Demi.

— Rodas e eu tínhamos muitas brigas, mas quando alguém se atrevia a dizer algo contra mim, ele virava fera — declarou a bisavó.

Demi sorriu.

— Está sabendo do jornal, não está?

— Tenho uma cópia na minha bolsa.

— Posso ver?

Adelaide passou as folhas dobradas a Demi. Era uma cópia que um amigo lhe havia mandado por fax. Demi fez uma cara feia ao ler a manchete: Funcionaria temporária rouba Jonas da herdeira Ashley.

— Joseph não foi roubado — riu Adelaide. — Não era feliz com Ashley. Você é uma menina doce e trabalhadora, e merece ser feliz.

Os olhos escuros se fixaram em Demi e na bisavó Adelaide. Joseph não perdeu tempo em ir até elas. Gostou de vê-las juntas e esboçou uma risada de satisfação.

— O que achou de minha noiva? — perguntou à bisavó, em grego, sem disfarçar a curiosidade.

 Um sorriso radiante estampou-se na face de Adelaide, que deu um tapinha no joelho de Demi.

— Esta menina é um tesouro. Cuide bem dela.

Joseph sentou-se para falar com ela, brevemente.

Em seguida, um cantor famoso na Grécia, que havia sido contratado por Joseph, iniciou o show. As pessoas no salão entraram em êxtase.

O céu estava escurecendo quando Joseph levou Demi para um dos terraços privados, protegido por plantas e árvores. Beijou-a sem pressa e com volúpia. Um frio na espinha deixou Demi toda arrepiada.

— Tem uma escada atrás da porta. Nossa suite fica no final dela. Eu encontro você lá daqui a cinco minutos — prometeu ele.

— Mas não podemos desaparecer assim da festa.

— Podemos, sim — respondeu ele de imediato, saboreando a boca carnuda dela com mais fervor ainda.

— É nossa noite de núpcias, ágape mou.

A suite gigantesca e linda tinha as luzes baixas e íntimas. E havia o perfume das rosas espalhadas pelo ambiente.

De repente, alguém bateu à porta. Achou que fosse Joseph, mas quando a porta se abriu viu a empregada com o telefone na mão.

— Alô... quem fala? — Demi franziu a testa, sentindo que a chamada não era para ela e de que a qualquer momento alguém começaria a falar em grego.

— Ashley.

Demi empalideceu e a mão que segurava o fone começou a transpirar de nervoso.

— Por que está me ligando?

— É sua noite de casamento e quero que saiba que a única coisa que mudou foi que trocamos os papéis — disse Ashley docemente. — Você agora é a oficial e eu, a amante. Joseph não tinha a intenção de me deixar. Achou que fosse? A única coisa que importa para ele é que você esteja satisfeita e sob controle, porque está grávida de seus preciosos gêmeos. Eu continuo sendo importante para ele, como sempre fui.

Depois dessas palavras, Ashley desligou. Que mulher vingativa, pensou. Obviamente, não estava falando a verdade. Eram mentiras rancorosas só para deixá-la insegura e preocupada, disse a si mesma, convencendo-se de que já não era tão ingénua para crer em tanta bobagem. O casamento, até agora, estava incrível. Amava Joseph e havia aprendido a confiar nele. Por que poria tudo a perder, por causa das palavras de uma mulher irada e rancorosa?