terça-feira, 30 de abril de 2013

CAPÍTULO 20

OI GENTE!
desculpa se demorei, mais não foi minha culpa, minha irmã levou meu not para um técnico na quinta-feira tinha que ter devolvido ontem mais ela só trouxe hoje, acabei de chegar da faculdade, estou cansada mais acho que vocês merecem um pelo menos 1 capítulo pela demora, bom domingo o blog fez 1 mês legal né,
mas no momento to sem tempo pra nada, estou fazendo um projeto para o meu trabalho e tenho que apresentá-lo na próxima semana e ainda to finalizando, domingo também fez dois anos que minha avó faleceu e fui visitar o túmulo dela pela primeira vez, obrigada mais fui e não me fez bem, só fez cair minha ficha mais tudo bem, meu namorado está passando um tempo aqui na minha casa com o filho, o que ta fazendo eu pirar não pela criança e sim por causa dele que é um tremendo bagunceiro, e tipo odeio bagunça  mais to levando, e hoje quase atolo meu carro em plena avenida, graças a falta de estrutura de uma cidade tão grande é uma vergonha, não aguenta uma chuvinha e alaga tudo se fosse um carro baixo....
agora minha situação em relação á tempo para postar, bom sempre posto do trabalho e da faculdade, só que no trabalho durante o periodo de alta estação é um inferno pra mim pois não paro então vai ficar dificil postar de lá, já da faculdade é mais fácil a questão é que tô indo mal na matéria atual e é uma das mais importantes pra mim, mais vou fazer de tudo pra postar diariamente só que acho que vou começar a postar apenas um por dia, quando der posto dois ou mais só isso galera, agora vou me arrumar para ir jantar , xau!
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- Só isso? essa é toda a explicação que você tem pra me dar? - indaguei.
Ele suspirou profundamente e cruzou as mãos sobre a mesa.
- Não sei se você ouviu falar que a vaga de diretor de comércio exterior está aberta. Meu nome foi citado e tenho boas chances de conseguir o cargo, mas como a diretoria segue os príncipios deixados pelo seu avô, um homem considerado responsável, de família, leva vantagem. Sou o único que foi mencionado para a vaga que ainda é solteiro. Quero igualar minhas chances.
- Ah - fiquei um pouco decepcionada. Esperava algo mais emocionante que aquilo - Parece um motivo bastante...hã...prático, por assim dizer.
- Tudo bem Demetria. Você já se divertiu bastante. Agora eu tenho mais o que fazer - ele se levantou, tirando o dinheiro da carteira e deixando sobre a mesa.
- Mas o que foi que eu disse? Caramba! Você é muito estressado!
Ele voltou os olhos verdes em minha direção.
- Pensei que ia encontrar uma mulher hoje à noite, não uma menina mimada.
Achei que discutiríamos o assunto como dois adultos.
- Eu sou uma adulta. - retruquei, cruzando os braços sobre o peito.
Ele suspirou, fechando os olhos. Quando voltou a abri-los, estavam mais suaves.
- Quer tentar discutir o assunto de forma civilizada?
- E quando eu não fui civilizada, Joe? - perguntei sorrindo.
Ele sacudiu a cabeça, mas voltou a se sentar.
- Demetria se você puder deixar de lado esse seu sarcasmo, vai ver que é uma ótima oportunidade para nós dois. Você recebe sua fortuna, eu tenho minha promoção. Todo mundo sai ganhando.
- E você, claro, não pretende dizer uma palavra sobre isso a ninguém.
- Claro que não. Escuta - ele se inclinou ligeiramente em minha direção, as mãos espalmadas sobre a mesa - pelo que eu sei, você só precisa de um marido por um ano, certo? - Quando assenti, ele continuou. - Eu também não preciso de mais tempo que isso. Podemos nos divorciar em alguns meses e tudo acaba bem.
- Você está esquecendo de um detalhe. Eu tenho que parecer casada. Convencer todo mundo que é real. A gente teria que dividir o mesmo teto e, admita, morar na mesma casa não seria como um acampamento de verão. Você me detesta, e eu...bem...não te suporto.
- Você tem o dom de deturpar qualquer coisa, não é? - ele sorriu um pouco, correndo a mão pelos cabelos - Tudo bem, eu te acho mimada, desatenta e irresponsável, mas isso é o que você é. Não posso te detestar por esses motivos.
- E você me detesta por quê, então?
- Eu não te detesto - ele afirmou categórico, os olhos fixos nos meus.
Espantei-me com a seriedade em seu rosto e, inexplicavelmente, acreditei nele.
Joe era uma pessoa bem normal, por isso mesmo eu não entendia por que justo ele, de todos os candidatos esquisitos, era o que mais me assustava. Talvez fosse aquela hostilidade que ele sempre tinha em relação a mim que me deixava tão inquieta. Ainda assim, ele era, de certo modo, confiável.
Senti minha cabeça rodar. Eu estava ficando louca. Exatamente como tia Celine.
- Você mora sozinho, imagino - me ouvi dizer.
- Sim Demetria, eu moro sozinho. O apartamento é meu.
- Onde eu ficaria se...considerasse a hipótese de casar com você?
- No seu quarto - ele disse lentamente, desconfiado, então deu um longo suspiro. - Tudo bem, não vou mentir - Meu coração deu um pulo. Ele ia dizer que me queria em seu quarto, e eu havia deixado claro no anúncio que não haveria contato físico.
Oh, Deus, ele me quer em sua cama!
Por um instante, vislumbrei Joe na cama, o corpo nu forte e suado colado ao meu, os cabelos desgrenhados, a pele levemente corada pelo esforço físico, a mão grande brincando com meus cabelos, meu rosto, os lábios se abrindo num sorriso sensual antes de descer para cobrir minha boca mais uma vez...
- ...meu apartamento é pequeno e modesto comparado ao conforto com o qual você está acostumada, mas tem espaço bastante pra gente viver em certa harmonia - ele concluiu.
- Ah - sacudi a cabeça para tentar clarear os pensamentos. Por que raios imaginei Joe e eu na mesma cama? E por que minhas mãos estavam suando?
- Você percebe como seria plausível? - Joe prosseguiu. - O casamento? Temos a desculpa perfeita. Trabalhamos juntos, nos apaixonamos e decidimos casar algumas semanas depois. Acontece o tempo todo. - ele dera de ombros.
- Ninguém ia desconfiar do nosso acordo.
Tentei me concentrar no que ele dizia, mas não conseguia parar de pensar em Joe sem roupa...Argh! Maluca. Exatamente como tia Celine.
- Banheiros? - me obriguei a dizer.
- Só tem um, mas poderíamos criar um cronograma com horários alternados para que cada um tenha sua privacidade - disse ele, todo negócios.
- Só pra deixar claro, o casamento seria apenas uma formalidade. Seríamos duas pessoas livres, cada um na sua, sem se meter nos assuntos do outro. - expliquei.
- Seríamos mais como colegas de república.
- Não se preocupe, Eu entendi bem o recado do anúncio. Não procuro prazer pessoal nessa relação. Você não faz o meu tipo - ele sorriu.
- Que ótimo. Vai evitar problemas, já que você também não faz o meu tipo. E esses seus comentários são extremamente inoportunos sabia? – resmunguei irritada.
- Desculpa. Vou tentar me conter. - ele deslizou uma mão pelos cabelos novamente, suspirando.
Aquele gesto corriqueiro, mas extremamente sensual, me fez experimentar uma sensação única. Como se eu estivesse dentro de uma propaganda de perfume de grife e Joe fosse o protagonista. Eu assistia a tudo de camarote.
Em seguida ele tiraria a camisa e borrifaria o perfume no peito liso. A névoa fragrante envolveria sua pele e...
- Vou fazer o possível para que nossa convivência não seja pior do que já é.
E você? - ele perguntou.
- Eu o quê? - Será que seu peito era liso? Joe tinha aquela aparência máscula, quase rústica. Homens rústicos costumam ter pelo no peito. Pelos macios e quentes. Como cashmere.
- Demetria, você está me ouvindo?
Desviei os olhos de seu tórax para seu rosto. Ele parecia intrigado.
- Oi? Estou, estou sim. - acho que corei.
Ele ficou esperando por uma resposta, mas sinceramente, eu não fazia idéia do que dizer.
- Então... - ele repetiu a pergunta. - Você se compromete a tornar minha vida menos penosa?
- Ainda estou considerando a possibilidade, Joe. Você é o último homem que eu esperava encontrar aqui. Com quem eu um dia cogitaria casar. Não sei o que é pior, isso ou a miséria. - Um pouco rude demais, eu sabia, mas precisava impor limites. Aquela coisa de ir para a cama com ele havia me deixado muito vulnerável.
Eu precisava me manter no controle da situação.
- Fico lisonjeado, Demetria. - ele comentou, zombeteiro.
- Não foi isso que eu quis dizer, mas vamos ser honestos, Joe. Em condições normais, eu não casaria com você nem que fosse o último homem sobre a terra.
E você nunca sonharia em ter justamente a mim como sua mulher.
- Concordo. Caso a gente feche negócio, os próximos doze meses vão ser conturbados pra mim, não vou negar. - Ele me fitou por alguns segundos antes de desviar os olhos para as próprias mãos - Mas a questão, Demetria, é o que é prioridade. No momento minha prioridade é a minha carreira. Posso viver com você por um ano para alcançar meu objetivo.
- Quanto ao pagamento...
- Eu não quero pagamento nenhum. Só preciso de uma esposa para apresentar para a diretoria e nada mais. É esse o pagamento que quero. Tenho meu próprio dinheiro. Pode guardar o seu - ele respondeu, seco.
- Eu não quis te ofender, eu só...
- Eu sei. Não ofendeu. - ele sorriu um pouco.
- Vou pensar no assunto. Eu...te respondo amanhã, pode ser?
- Claro. Mas pensa bem. Pode ser um bom negócio.
- Tá. Então...eu vou indo. - me levantei. Joe também.
Um suave aroma de folhas frescas num dia chuvoso de verão inundou meu nariz, um perfume extremamente sedutor e masculino. E vinha dele.
Oh, Deus! Lá estava ele outra vez, borrifando o perfume no abdome definido coberto de pelos macios e sedosos como cashmere...
- Eu...eu queria agradecer - ele começou, inseguro, os olhos buscando os meus.
- Você foi muito perspicaz ao ter se antecipado e encontrado os contratos dos chineses. Eu realmente estaria em apuros sem a sua ajuda. Você tem alguma coisa do seu avô, afinal. Devia usar isso mais vezes. - E colocou as mãos nos bolsos da calça, atraindo meus olhos para o volume nada modesto entre seus quadris.
Desviei o olhar imediatamente.
- Obrigada, Joe. Ganhei o dia - zombei, levemente corada.
- Estou falando sério. - O tom doce de sua voz me fez enfrentar os holofotes verdes e quentes. - Você parece muito com seu avô. Com a diferença, claro, de que ele era menos agressivo e jamais usaria a palavra rabo – ele sorriu um pouco. - Enfim, eu só queria que você soubesse como estou grato. Fiquei muito impressionado com você.
Corei pra valer, absurdamente satisfeita por ele ter me elogiado daquele jeito só dele - e me sentindo uma completa idiota por sentir prazer nisso.
- Não fique achando que essa babação de ovo vai fazer eu decidir me casar com você - murmurei, constrangida.
- Eu não ousaria - ele abriu um sorriso que fez meu coração quase parar de bater.                        

quinta-feira, 25 de abril de 2013

CAPÍTULO 19



Joe observava, entediado, o movimento de clientes que entravam e saíam do café. Sua expressão de poucos amigos sugeria impaciência. 
- Não pode ser ele! Não o Joe - comecei a voltar para o carro – Vamos embora, Sel. Agora! 
Ela correu para me alcançar. 
- Que Joe? O da L&L? Que você não gosta? Aquele que você diz que te detesta, mas pagou sua gasolina? 
- Bingo! 
- Mas...ele é lindo! - ela parecia confusa. - Como você pode não gostar dele? 
- Você não tem idéia de como esse cara é grosseiro - eu disse, destravando as portas do carro com o botão na chave. 
- Você não vai falar com ele? - ela se postou na frente da porta do motorista, me impedindo de abri-la. 
- Obvio que não! O Joe ia contar para o Clóvis o que estou tentando fazer antes mesmo que eu saísse do café, e aí já era qualquer possibilidade de retornar as rédeas da minha vida. 
- Mas ele não pode contar, afinal também está aqui - ela apontou – Ele também está fazendo algo errado. 
Sacudi a cabeça, impaciente. 
- Pode ser uma armação para me pegar no flagra. Vamos para casa antes que ele me veja. 
- Como esse Joe poderia saber que o anúncio era seu? - retrucou ela. – Você não colocou o seu nome. E, pela cara de impaciência, ele parece nervoso. 
Você não está nem um pouquinho curiosa para saber por que ele respondeu a um anúncio desse tipo..Hã...- ela parou abruptamente e olhou fixo para meu ombro esquerdo, levantando as mãos espalmadas. - Não se mexe, fica calma. 
Vai ficar tudo bem. 
- Por que você está dizendo iss...Aaaaaah! - virei a cabeça e então vi. Pequena, azul e mortalmente assustadora, a borboleta pousara em meu ombro esquerdo. 
Gritei e me debati violentamente - Tira isso de mim! 
- Pára! - pediu Sel, tentando me imobilizar e ao mesmo tempo afastar o bicho. - Assim você vai machucar a borboleta. 
- Sai, sai, sai! - me contorci freneticamente. 
- Pronto, Demi. Pode parar. Ela já foi - minha amiga apontou para a borboleta, que voou serelepe até repousar na janela em que estávamos grudadas havia poucos instantes - Ah, é um sinal! 
- SIm. De que as borboletas resolveram me atacar. Elas estão por toda parte! - reclamei, tentando controlar meu ritmo cardíaco e os tremores involuntários. 
- Vi uma igualzinha a essa na garagem da mansão um tempo atrás. 
- Você vê várias porque tem medo. Mas a borboleta significa coisas boas em quase todas as religiões. Ela traz sorte. E essa aí quer que você entre lá! – ela apontou para o café. 
- Era só o que me faltava! revirei os olhos. - Seguir os conselhos de uma lagarta. 
- Por favor, Demi! Só uma conversinha rápida - ela uniu as mãos em súplica, os olhos enormes e brilhantes - Você me deve uma. Eu te salvei da borboleta! 
Eu gemi. 
- Tá bom, eu vou falar com ele. Mas se eu desconfiar de qualquer coisa, saímos correndo. 
- De acordo - ela sorriu satisfeita. 
- Fica por perto, pro caso de..sei lá...Só fica por perto - alertei. 
- Prometo - ela assentiu, cruzando os dedos indicadores e dando dois beijinhos. 
Lentamente - e mantendo uma distância segura do inseto que ainda estava na janela, como se me observasse - entramos na cafeteria. Sel correu para um dos bancos altos do balcão. Dirigi-me para os fundos. Joe me viu e imediatamente se enrijeceu. Por um momento, seu rosto se tornou inexpressivo, depois de um rubor cálido tomou suas feições. Ele acenou brevemente com a cabeça e olhou para os lados, como se procurasse uma rota de fuga. Pareceu em pânico ao me ver seguir em sua direção e sentar na cadeira à sua frente. 
- Aproveitando o tempo livre? - perguntei tentando não parecer nervosa. 
- Eu...estou esperando uma pessoa. 
- Ah. Ela te deu um bolo? - disparei, subitamente animada com a possibilidade de irritá-lo. Joe tinha esse efeito sobre mim. Eu sempre queria provocá-lo de alguma maneira. 
- Escuta, será que você poderia... 
- Olha, os classificados! Posso dar uma olhada? Meu trabalho é um saco. Quem sabe tem alguma coisa mais interessante... 
- É antigo. Da semana passada - ele se apressou em dizer, recolhendo o jornal da mesa. - Só tem anúncio velho. 
- E por que você está com ele? - perguntei inocente - Não me diga que vai deixar a L&L? Seria uma perda irreparável! 
Ele suspirou exasperado. 
- Demetria, por que você não vai procurar algo útil para fazer e me deixa em paz? - sugeriu com um brilho perigoso nos olhos. 
Eu tinha que admitir, Sel estava certa. Joe era lindo. Sorrindo, furioso, cansado, tanto fazia. Nenhum homem conseguia ser tão sexy quanto ele, mesmo quando tentava ser justamente o oposto, como era o caso. E, apesar de tudo, tive certeza de que eu não estava caindo numa armadilha. Ele não seria sangue-frio para arquitetar um plano tão meticuloso só para me pegar em flagrante. Ao menos eu achava que não. Decidi arriscar. 
- Já vou. Só me responde uma coisa. Você trouxe seus antecedentes criminais? 
Tive a satisfação de ver seu queixo trincar e seus olhos se fecharem, exauridos, antes que ele pudesse pôr os pensamentos em ordem. 
- Você é a Dems - Joe constatou com um suspiro irritado. Ele me encarou com um misto de raiva, medo e mais alguma coisa que não pude identificar – Você vai burlar o testamento. 
- Brilhante dedução. Mas confesso que fiquei intrigada. Você sabe por que estou fazendo isso, mas o que estou me perguntando é por que você está aqui. 
- Pela mesma razão que você - ele respondeu secamente. 
- Você também precisa se casar para receber uma herança? 
- Não faça isso, por favor. 
- Desculpa. eu realmente não entendo que motivo você tenha para estar aqui - respondi com sinceridade. 
Isso pareceu amenizar um pouco seu mal humor. 
- Preciso de uma esposa - ele disse apenas, numa voz gentil. 
Eu o observei por um longo tempo. Joe era aquele tipo de homem que fazia uma garota - não a mim, claro - suspirar por semanas só porque ele lhe disse oi. E era bem normal. Eu já o conhecia um pouco, sabia que ele não era dado a esquisitices nem nada. O problema era que Joe era insuportavelmente arrogante, orgulhoso e muito chato. Não que eu estivesse cogitando a hipotése de torna-lo meu marido, claro que não. Mas, ainda assim, eu não entendia por que ele tentava encontrar uma esposa da maneira tradicional. Seria fácil demais alguma garota desavisada cair nos encantos daqueles olhos sedutores e um tanto agressivos. 
Contudo, ali estava ele tentando encontrar uma esposa de aluguel. Só poderia haver um motivo. 
- Então você precisa se casar, mas, dadas as circunstâncias tudo me leva a crer que não quer...assim como eu. 
Ele assentiu. 
- E precisa porque... - me interrompi sugestivamente. 
- Por motivos profissionais - ele tamborilava os dedos no tampo branco da mesa. 
Esperei por mais alguma coisa, qualquer explicação que fosse, mas ele apenas continuou me encarando com aquelas esmeraldas flamejantes, sem dizer uma única palavra. 
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Agora só poderei postar na segunda feira. Então comentem! 

CAPÍTULO 18




Ninguém era obrigado a almoçar no refeitório da L&L, mas, apesar de a comida ser intragável, a maioria dos funcionários preferia comer por lá, já que não precisavam pagar pela refeição. Eu também optava pelo almoço grátis, mas naquele dia tinha um candidato para entrevistar e estava com bom pressentimento. 
Foi fácil identificar Zack. Ele usava - como havia me avisado previamente - camiseta preta e boné. assim que o avistei, no entanto, minhas expectativas começaram a murchar. Não eram uma camiseta e um boné quaisquer, mas itens promocionais do filme Jornada nas Estrelas. 
- Vida longa e próspera - disse ele, estendendo a mão naquele cumprimento nerd esquisito. 
- Ok, vamos acabar logo com isso - me joguei na cadeira da lanchonete. Eu tinha pouco tempo e quase nenhuma paciência. - Você mora sozinho? 
- Moro. Quer dizer, mais ou menos. Divido o apartamento com dois amig... 
- Tchau. 
Não era culpa dele que eu já estivesse saturada de caras estranhos. Na verdade, a culpa era toda minha. Eu devia ter especificado no anúncio: malucos, não. Voltei para a L&L mal-humorada e inquieta e permaneci assim até o fim do expediente. Detestava quando meus planos falhavam. Para piorar, Clóvis ligou exigindo que eu voltasse para casa naquele mesmo dia. Depois de eu deixar bem claro que não voltaria - ainda mais agora que eu tinha uma perspectiva de salvação, com a qual ele não podia nem sonhar, - ele apelou para meu bom- senso, dizendo que, caso eu não voltasse e me metesse em confusões de qualquer espécie, ele se recusaria a me ajudar, o que não me surpreendeu. Ainda bem que nunca tive bom-senso. 
Apesar disso, a conversa aos berros com Clóvis me deu novo ânimo, então decidi mudar de estratégia com relação aos meus possíveis futuros maridos.
Sel gostou da ideia. 
- Quer dizer que você vai primeiro observar e, se não achar o cara normal, vai embora? É mais seguro, eu acho - ela comentou ao telefone, enquanto eu estacionava meu cupê e desligava os faróis para encarar ,mais uma entrevista marital. Dessa vez, na praça de alimentação do shopping. 
- Não estou em condições de enfrentar mais um esquisito. Não tenho estrutura pra isso, Sel. Honestamente, acho que ele nem vai notar se eu não aparecer. 
E eu não apareci. Nem nesse encontro, nem nos seguintes. Nenhum dos caras parecia remotamente normal a distância. Sel  tinha razão - havia sido um erro publicar o anúncio, tive que admitir. Mas eu não podia simplesmente pedir a Nick, meu único quase amigo, que se casasse comigo, não agora que ele estava finalmente saindo com Sel, depois de tantos anos de amor platônico. Ainda que o casamento fosse uma grande encenação, isso acabaria com o romance dos dois, que mal começara. 
Eu estava tomando banho, exausta depois de passar a tarde tentando montar uma planilha para Joyce e frustrada por não ter conseguido - qual era o truque para montar aquelas porcarias, afinal? - , quando Sel entrou no banheiro, animada. 
Ela afastou bruscamente a cortina de patinhos. 
- Um candidato! - sibilou, tapando com a mão o bocal do meu celular. - O que eu falo? 
- Fala que eu já encontrei o meu príncipe - revirei os olhos, fechando a cortina. 
- Hã... Escuta, você se importa de responder algumas perguntas antes de marcarmos a entrevista pessoalmente? Só para garantir que nenhum de nós vai perder tempo - ela propôs, se passando por mim. 
Abri a cortina. 
- Sel, o que você está fazendo? 
- Marcando um encontro - ela sussurrou. 
- Você foi a primeira que me incentivou a desistir desse plano. 
- Sim, mas eu senti algo bom vindo desse aqui - ela sorriu, me mostrando o polegar, entusiasmada. 
- Maravilha - fechei a cortina abruptamente. 
- Certo - continuou ela. - Você mora sozinho? Ótimo. É fã de algum filme ou série de TV? Ah, trabalha demais e não tem muito tempo para isso... - ela enfiou a cabeça dentro do boxe por um pequeno vão e piscou sorridente. - Você tem algum tipo de problema de pele, como caspa ou... Sim, eu seu que boa aparência não é pré-requisito, mas higiene é primordial. -Uma pausa. - Muito bom! Humm... Seu último relacionamento terminou de maneira trágica ou... Ah, você não tem um relacionamento sério há anos. Muito ocupado. Entendo. Bom... acho que é isso. Pode me encontrar amanhã à noite? 
Abri a cortina. 
- Sel, não! Eu não vou a lug... 
- Conheço esse café - continuou ela, me ignorando. - Ok, às sete então. Tchau - e desligou. 
- Por que você fez isso? - indaguei revoltada. - Pensei que você achasse que colocar o anúncio tinha sido uma tremenda roubada! 
- E foi, mas você não ouviu a voz desse cara - ela suspirou, se apoiando na pia. - Demi, é daquelas que fazem a gente derreter por dentro. Você precisa encontrar esse homem. 
- Não, não preciso. O anúncio não foi tão genial assim, ok? Chega de tipos esquisitos. 
- Ele não me pareceu esquisito. E o que custa ir, nem que seja pra dar uma olhadinha de longe? 
- Eu não vou - teimei. 
- Por favor, Demi - ela pediu melosa, os olhos castanhos enormes e brilhantes. - Estou tendo aquele pressentimento. Vai por mim. 
- Ah! Aquele pressentimento - zombei, desligando o chuveiro e alcançando a toalha. - Claro. Isso muda tudo. É aquele mesmo pressentimento que você teve quando fomos consultar com Tara, a vidente, e ele disse que você ia encontrar seu grande amor num necrotério? Ou como daquela vez em que você teve certeza, baseada naquele pressentimento, que devia cortar o cabelo em estilo chanel bem curto atrás, pois assim ia conseguir melhores notas na faculdade? Você tomou bomba em anatomia e chorou por meses até seu cabelo crescer. 
- Aquilo foi um equívoco. Eu interpretei mal. Mas, se você pensar bem, eu conheci Nicholas no antiquário, que não deixa de ser um necrotério de objetos... - apontou ela. 
Revirei os olhos. 
- Agora o Nicholas é o amor da sua vida? 
- Não! Não sei ainda. Mas vai que... - ela sorriu, um pouco tímida. - Ele é bem legal. 
- Eu sei que é... na maior parte do tempo - acrescentei, me enrolando na toalha. - Vocês vão sair de novo? 
O sorriso se tornou imenso. 
-Ãrrã! cineminha amanhã. Última sessão. E depois ele quer me levar até a casa dele para me mostrar o equipamento de mergulho. Ele está superempolgado com o curso. 
- Ah, é? - ergui uma sobrancelha. - Pensei que ele morasse coma irmã. 
- E mora. Mas ela vai visitar a sogra no interior. Vai ficar fora por três dias - ela comentou, desviando os olhos. 
- E qual é o problema então? 
- Bom... não sei se estou pronta pra isso. A gente saiu só uma vez, e depois ele me ligou três ou quatro vezes... 
- Oito, mas quem está contando? - dei de ombros, sorrindo. 
- Que seja! - ela revirou os olhos. - Mas será que não é um pouco cedo demais? Não quero que ele pense que eu sou...fácil. 
- Fácil? Selena! O Nicholas esta de quatro por você há pelo menos dois séculos! Ele foi tão insistente, te convidando esse tempo todo pra sair mesmo sabendo que ia receber um enorme não como resposta. Que bom que tanta teimosia acabou funcionando. Agora, se você está a fim também, qual o problema de deixar rolar o que tiver que rolar? O Nicholas é meio nerd, todo sério. Não acho que ele esteja interessado só em curtição. 
- Eu também não - ela confidenciou. 
Passei o braço por seus ombros e a apertei ligeiramente. 
- Então qual o problema? Vai ser feliz! 
Ela mordeu o lábio, parecendo a ponto de quicar no lugar como se tivesse cinco anos, e por um momento acreditei que tinha me safado. Mas então ela sacudiu a cabeça e me deu uma cotovelada nas costelas. 
- Ai! 
- Você está tentando me enrolar. Não adianta mudar de assunto, Demetria. Você vai encontrar esse cara e está acabado. 
- Não vou, não! 
Mas eu fui. 
Não que eu tivesse a mais remota esperança de encontrar um homem que beirasse a normalidade, fosse apresentável e não tivesse passagem pela polícia. Claro que não. Mas Sel deu um golpe baixo - sequestrou a chave do meu carro e disse que, se eu não fosse encontrar o tal cara, teria que ir trabalhar de 
ônibus, porque ela não me daria carona. Diante dessa possibilidade, cedi. De qualquer forma, eu não pretendia falar com o sr. J. - como ele havia se identificado. Apenas uma olhadinha não mataria. 
- Ele disse que ia usar terno e gravata e ficar com o jornal nas mãos - ela contou enquanto eu estacionava meu cupê na vaga em frente ao café. - Não deve ser difícil encontrar um homem de roupa social segurando um jornal. Não nesse café. 
Apenas suspirei. Descemos do carro. Sel estava super empolgada; eu, nem tanto. 
O café, o mesmo em que me encontrara com Chris, o sr. Caspa, ficava numa esquina, e grande parte da fachada era composta de vidros escuros. Sel examinou descaradamente o interior do estabelecimento através da janela, colando-se ao vidro sem se importar com os olhares reprovadores dos clientes que entravam ali. 
- Achei! Ele está ali. Ai, meu Deus, ele é lindo! Mais que lindo, ele é um tesão! - ela exclamou. 
- Isso não importa. Ele parece normal? - questionei sem ânimo. 
- Normal? Como um homem desses pode ser normal? Imponente, um ar rústico, testosterona pura. Olha aquele queixo! - gemeu ela. 
A curiosidade me venceu. Virei-me para procurá-lo, mas o reflexo no vidro fumê atrapalhava. 
- Onde? - eu me grudei ao vidro como uma ventosa. 
- Ali! - ela apontou para uma mesa num canto. 
Quase tive um treco quando vi o candidato a meu marido. Dei dois passos para trás, me afastando da vidraça, o coração quase saindo pela boca. O sr. J. tinha a pele levemente bronzeada, cabelos escuros um pouco longos com reflexos dourados nas pontas e incríveis olhos verdes. E eu sabia que, de perto, aquelas íris, já não tão hostis, tinham pequenas manchas amarelas que as deixavam hipnotizantes como um caleidoscópio. 
- Ah, não! - exclamei em pânico. - Ele não! 

quarta-feira, 24 de abril de 2013

CAPÍTULO 17


- O que você tem hoje garota? - questionou Joyce, jogando uma infinidade de documentos sobre minha pequena mesa. Coloquei os papéis de lado, para que não se misturassem com os que eu estava organizando. Eu já havia feito confusão demais com contratos por um dia. - Você está ainda mais distraída que de costume. 
- Eu...sonhei com meu avô - me ouvi dizendo. 
Ela franziu a testa. 
- Isso é ruim? 
- Não sei - respondi sinceramente. - Ele estava triste e acho que era comigo. 
- Nãããão! Por que ele estaria triste? Será que é por causa da confusão sem tamanho que você causou com os contratos dos chineses, perdendo todos os documentos recentes e deixando a ouvidoria da empresa de cabelo em pé hoje de manhã? - Eu me encolhi, um pouco arrependida por não ter prestado atenção no que estava fazendo quando arquivei os contratos no dia anterior. Ainda bem que agora eu tinha tudo sob controle. - Ou será que ele estaria triste porque você enviou o e-mail com a proposta errada para o nosso cliente mais importante da América Latina, e que, aliás, cancelou o pedido de milhares de caixas de produtos? - Como eu poderia saber que aqueles números não eram os valores dos produtos, e sim os códigos? Não me admirava que o cliente tivesse desistido ao ver aquela quantidade astronômica de zeros. Se alguém tivesse me explicado alguma coisa sobre planilhas... - Não deve ser por isso. Não faço ideia do que fez seu avô ficar chateado com você. 
- O vovô perdeu o direito de ficar chateado comigo quando morreu - resmunguei. 
Por mais que eu quisesse me enganar, sabia que a razão da tristeza estampada em suas feições não era nenhuma daquelas apontadas por Joyce. Nada tinha a ver com chineses ou argentinos. Entretanto, eu não tinha certeza se havia entendido sua única frase. A vitória está reservada para aqueles que estão dispostos a pagar o preço. O que ele quis dizer com isso? 
Sacudi a cabeça e dei de ombros. Foi apenas um sonho. Sonhos normalmente são incompreensíveis. 
Joe entrou na sala, o que até então não havia acontecido. Pelo menos desde que eu começara minha escravidão semi voluntária na L&L. 
- Joyce, preciso que você arrume algumas coisas - pediu ele, me cumprimentando com um rápido aceno de cabeça. Como senão tivesse me visto naquela situação embaraçosa no posto de gasolina algumas noites antes. Como se não tivesse pagado minha dívida e depois me convidado para um café. 
Ela sorriu. Obviamente. Quem não sorriria para o Sr-Eu-Sou-o-máximo? 
-Claro Joe. Do que você precisa? - ela perguntou, toda oferecida. 
- De todos os contratos dos chineses. Os antigos e os novos, se possível. Tudo que você puder encontrar. Parece que a A... - ele me olhou de esguelha e sacudiu a cabeça - alguém fez uma confusão e a ouvidoria quer abrir sindicância para apurar o caso. Os chineses estão furiosos e ameaçaram quebrar o contrato. Isso nos deixaria em péssimos lençóis. 
Joyce fechou a cara. 
- Imaginei que as coisas fossem piorar - ela me lançou um olhar frio. 
- Olha só, eu fui... - comecei. 
- Agora não, Demetria. Você já causou danos demais - Joyce me interrompeu. 
- Eu avisei que não era uma boa ideia me deixar sozinha com aquele monte de arquivos - me defendi. 
- E o que é uma boa ideia deixar perto de você, Demetria? Você só... - O telefone em sua mesa tocou e ela correu para atender. - L&L Cosméticos, bom dia. 
Enquanto Joyce anotava, sorridente, um amontoado de números e nomes, Joe me avaliava a distância. Concentrei-me em grampear os papéis e não os dedos. Eu não gostava do jeito que ele me olhava. Era estranho, invasivo, como se pudesse ver minha alma e não gostasse do que visse. Pelo menos era o que parecia. Ele sempre tinha o cenho franzido quando me observava. 
- Joe - chamou Joyce. - Desculpa , mas preciso providenciar alguns documentos para o Dr. Clovis com urgência. Você pode esperar um pouco? 
O rosto dele se contorceu com angústia. 
- Joyce, é muito importante encontrar esses contratos. Não posso esperar. 
- Não vai ser necess... - tentei, mas ela me interrompeu novamente. 
- Desculpa, Joe. Você vai ter que fazer isso sozinho. Por que não leva a cabeça de vento? - ela apontou para mim. - Quem sabe ela lembra onde guardou os contratos. 
- Ela? - ele perguntou horrorizado. - A Demetria mal sabe tirar cópias! 
Empertiguei-me, pensando se, caso eu grampeasse a cabeça de Joe, os grampos seriam descontados do meu salário. As chances eram grandes. 
- Eu sei. Mil desculpas - disse ela com pesar. - Se eu terminar rápido o que preciso fazer, vou te ajudar. 
- Mas a Demetria não tem ideia do que está fazendo aqui. Ela vai ser ... de pouca ajuda. Por favor, Joyce! 
Estreitei os olhos. Que descontassem os grampos. Eu receberia o abatimento com prazer! 
- Talvez ela se lembre em qual das pastas e em qual dos arquivos colocou os contratos dos chineses. Vale a pena tentar. Sinto muito, Joe. Preciso ir. - Joyce se virou para mim. - Ajude o Joe e não estrague tudo dessa vez - e desapareceu no corredor. 
Ele ficou ali parado, encarando a porta sem parecer acreditar. Depois pressionou a ponte do nariz reto com o polegar e o indicador. 
- Muito bem, vai ter que ser você - anunciou, desanimado. 
- Não tô muito a fim, sabia? Além disso, eu sou de pouca ajuda , não é mesmo? Mas obrigada pelo convite. Quem sabe outro dia... - e continuei a grampear calmamente os papéis. 
- Por favor, Demetria, não seja infantil. Você vai até a sala de arquivos me ajudar. Agora. - uma veia pulsou em sua têmpora. 
- Estou ocupada, não está vendo? - levantei o grampeador. 
- Será que você entende que a empresa vai entrar em crise se eu não apresentar esses documentos em meia hora? - ele vociferou. - Espero que você fique feliz quando a L&L falir e milhares de funcionários ficarem desempregados. 
- Nossa, parece meu avô falando. Demetria a irresponsável, estragando tudo outra vez! Só faltou a parte em que sou enterrada como indigente e minha alma fica vagando por aí. - Grampeei o último bloco e olhei para o rosto irritado de Joe. - Ou essa seria a segunda parte do seu discurso? 
Ele me encarou por um instante. Seu rosto era uma máscara de fúria e incredulidade. 
- Você é... - ele bufou e em seguida me deu as costas. 
- Joe - cantarolei. 
Ele se virou lentamente. 
- O que? - disse com os dentes trincados. 
Levantei-me da mesa, peguei o bloco de papéis devidamente grampeados e me aproximei dele. 
Atirei o calhamaço contra seu peito. 
- O que é isso? - ele pegou a pilha. Analisou a primeira página, voltou os olhos para os meus, depois para os papéis, e começou a folhea-los. - Isso...isso... está tudo aqui? - ele virava as páginas freneticamente. 
- E organizado em ordem cronológica. Não falta nada, pode conferir. Grampeei tudo porque acho que assim fica mais fácil manter tudo junto. Não sei como ninguém pensou nisso antes. 
- Gostamos de usar pastas com ganchos - ele balbuciou, piscando algumas vezes, ainda atônito, encarando os documentos. - Mas...como...quando...? 
- Assim que cheguei e a Joyce me informou o ocorrido, voltei ao arquivo e procurei os contratos. Eu tentei avisar quando vocês tocaram no assunto, mas não quiseram me ouvir - dei de ombros. - O que, de certa forma, foi ótimo. Me deu uma boa perspectiva do que vocês dois pensam ao meu respeito. E só para deixar bem claro, eu não sou burra. Apenas não sabia o que fazer, já que ninguém se deu ao trabalho de me explicar. - Eu me aproximei dele, encarando-o, até que meu nariz ficou a centímetros de seu queixo. Caramba, ele era enorme! E me encarava de volta. Assim de perto, suas íris verdes pareciam ainda mais bonitas. As pequenas pintinhas amarelas brincavam ao redor delas. - A de pouca ajuda aqui acabou de salvar o seu rabo. 
Uma explosão de luz brilhou em seus olhos. Eu não sabia dizer se era de fúria, humilhação, admiração ou outra coisa. Ele parecia bastante alterado. 
- De nada, Joe - sorri. - Estamos quites agora. 
Com deleite, o vi tentar dizer alguma coisa, mas não passou de um balbuciar incompreensível, cheio de "hãs" e "errs" e "eu-eu-eu". Pela primeira vez, Joe não tinha resposta. Sorri satisfeita e o deixei plantado no assoalho de madeira, com a surpresa estampada na cara. 
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Comentem e me deixem feliz, até amanhã gente!

CAPÍTULO 16



Sel ainda não tinha voltado para casa quando retornei do meu primeiro encontro. O consultório estava lotado - de clientes de planos de saúde, claro -, devido à onda de calor que se instalara na cidade. 
Aparentemente, todo mundo queria exibir o corpo em forma nos próximos meses. Mandy estava preparando algo com um cheiro muito bom para o jantar quando me viu de banho tomado e remexendo em minha bolsa. 
- Demetria, vai sair? Você acabou de chegar - ela apontou. 
- Tenho uma entrevista. 
- De emprego? - sua testa vincou. 
- Pode-se dizer que sim - e rezei para que tivesse mais sorte dessa vez. Numa delicatéssen ali perto, encontrei David, um rapaz até que bonito, apesar da baixa estatura. Suas roupas eram bem normais. Suspirei aliviada. 
- Aqui tá a parada - ele disse, deslizando o atestado de antecedentes criminais pela pequena mesa de madeira cor de mel. 
Eu não estava preparada para aquilo. 
- Hã... Você foi preso por porte ilegal de armas - constatei, um pouco desconfortável. 
- Eu devia ter jogado o bagulho no rio. Dei bobeira - ele comentou, desinteressado. 
- Por três vezes? 
- É - deu de ombros. - Falta de sorte. 
- Hummm... - corri os olhos pelo documento de três páginas e o devolvi rapidamente. - Por que você respondeu ao anúncio? 
- Você diz que paga bem. 
- Sim, mas aí diz - apontei para o papel - que você tentou agredir sua esposa. Você já é casado. 
- Na verdade, sou viúvo. Um acidente, coitada. Ela acabou caindo em cima de uma faca - ele disse, indiferente. 
Meu Deus! 
- Ok. Eu preciso ir ao banheiro. 
Ele tirou um cigarro - de maconha - do bolso da camisa. 
- Sem pressa - disse e sorriu. 
- Árrã - foi tudo que consegui responder antes de dar no pé. 
Eu ainda estava tremendo quando contei o ocorrido a Sel. 
- Eu avisei, não foi? Mas você me ouviu? Claro que não! - ela andava de um lado para o outro no quarto entulhado, abrindo e fechando gavetas e portas e atirando uma quantidade imensa de roupas sobre a cama de casal, que dividimos desde a noite anterior. 
- Foi falta de sorte. O Chris era inofensivo. Meio sujinho, mas não faria mal a uma mosca. Esse David foi só um golpe de azar. Só isso. - Se continuasse repetindo isso, talvez eu mesma acreditasse. 
- Ou talvez tenha sido um sinal pra você esquecer essa besteira! - apontou ela. - O que acha desse? - me mostrou um vestido preto simples, com alças finas. 
- sexy! 
- Perfeito! - ela começou a vesti-lo. - No mínimo você tinha que ter perguntado mais coisas antes de encontrar pessoalmente qualquer um deles. 
- Ah, não, Sel. Sem sermão. Tudo que eu quero é cair na cama e descansar. Meus dedos estão latejando. Aquela copiadora está acabando comigo. Acho que nunca mais vou poder tocar piano. 
- Você não toca piano. Nunca suportou as aulas. 
- Sim, mas se eu soubesse não poderia... - mostrei minhas mãos em frangalhos. - Minhas unhas estão detonadas. Preciso me livrar da Joyce. 
- Acho difícil. Ela está na L&L desde quando? Do Big Bang? 
- Por aí - eu ri. 
- E aquele cara? O que você detesta? Ele parou de te perturbar? - ela começou a aplicar camadas de máscara nos cílios. 
- O Joe? Nem me fale - me joguei na cama e abracei o travesseiro contra o peito. - Hoje ele me viu toda enrolada com a copiadora e riu! Juro que só não joguei um sapato naquela cara debochada porque fiquei com medo de acertar o vidro atrás dele e descontarem o prejuízo do meu salário. Eu detesto aquele cara! 
- Mas você disse que ele foi legal ontem. - Ela aplicou uma camada generosa de gloss vermelho nos lábios cheios. - Pagou a sua gasolina e te convidou para um café. Não pode ser tão ruim quanto você diz. 
- O Joe é bipolar. Ou louco. Talvez seja os dois. Aonde você vai? 
- Encontrei o Nicholas na saída do trabalho. Ele me convidou para sair. Decidi aceitar dessa vez - ela comentou casualmente. 
Casualmente demais! 
- Sair tipo... 
- Sair tipo - ela abriu um sorriso enorme e girou com os braços abertos. - Como estou? 
Os cabelos negros, que alcançavam o meio das costas, pareciam emitir luz própria. Os olhos castanhos brilhavam de sensualidade e mistério. O vestido preto reto marcava as curvas generosas e, aliado ao sorriso angelical, a deixou sexy, fatal. Pobre Nick... 
- Deslumbrante! 
- Mesmo? Esse vestido não me deixa gorda? 
Sel sempre teve suas neuras com relação ao próprio peso. Ela tinha uma visão distorcida do próprio corpo, mas nunca admitiu. Por isso, quando me contou que planejava cursar nutrição, achei uma ótima ideia. Talvez isso a fizesse entender de uma vez por todas que mulheres com corpo violão não são necessariamente gordas. No entanto, o tiro saiu pela culatra, porque o entra e sai de mulheres anoréxicas de seu consultório acabou fazendo com que sentisse imensa. O mais engraçado era que ela e eu tínhamos praticamente o mesmo peso - mesmo ela sendo uns bons centímetros mais alta -, mas ela sempre me achou magra demais. Vivia calculando meu IMC, preocupada que eu pudesse estar abaixo do peso saudável. Vai entender! 
- Você não é gorda. Que mania! 
- Me deseja sorte. 
- Você não precisa de sorte, já tem todo o resto. Não vai matar o coitado do Nick! Ele é gente boa, bem lá no fundo... 
- Vou tentar - ela me abraçou antes de sair do quarto numa nuvem de euforia. 
Joguei a bagunça de roupas sobre a poltrona e voltei para a cama, esperando ter uma noite revigorante. Mal fechei os olhos e apaguei; segundos depois, eu estava em casa. Não na casa da Sel,  mas em casa. Tudo na mansão estava mais claro, mais branco e brilhante que de costume. Uma figura me observava, imóvel. Os braços estavam cruzados sobre o peito. O rosto, franzido numa careta triste. Atirei-me contra ele imediatamente, abraçando sua cintura, enterrando a cabeça em seu peito. 
- Eu senti tanto a sua falta! - chorei. 
Vovô não respondeu, mas passou a mão delicadamente em meus cabelos. 
- Você está bem? - perguntei. 
Nenhuma resposta. 
Levantei a cabeça para observá-lo. Vô Marcus estava triste. 
- Você está infeliz? 
Dessa vez ele assentiu. 
- Oh, Deus! Você foi pro andar de baixo? - perguntei horrorizada. 
Ele suspirou e sacudiu a cabeça. 
Suspirei também e me soltei dele, recuando, subitamente ciente da confusão em que ele me deixara. 
- Muito bem, sr. Marcus. Tenho algumas coisas para discutir com o senhor. Sabia que você me deixou numa situação bem difícil? Ainda não acredito que deixou aquele testamento. Eu confiava em você. Pensei que me protegeria. Mas não. Você me jogou aos lobos, e isso não foi legal. 
Ele continuou impassível. 
- Tudo bem. Estou dando um jeito de arrumar a bagunça que você deixou - dei de ombros, seguindo com meu monólogo. - No estilo Demetria. 
Lentamente, ele ergueu o braço e colocou a mão sobre meu ombro. Esperei ansiosa quando vi seus lábios se entreabrirem. 
- A vitória está reservada para aqueles que estão dispostos a pagar o preço - ele sussurrou com a voz carinhosa e macia. 
Então eu acordei. 
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E aí está, segundo candidato, parece que Demetria não está tendo muita sorte, ainda tem mais dois candidatos, até a grande escolha...
   

CAPÍTULO 15



Na saída do trabalho, recebi mais algumas ligações. Joe estava no elevador comigo, e foi difícil agendar os encontros sem que ele percebesse. Por algum motivo pareceu... errado que ele soubesse dos meus planos, mas justifiquei isso com o sábio raciocínio de que, se ele descobrisse o que eu estava aprontando, me dedudaria para Clóvis. Eu tinha cinco possíveis futuros maridos na mira. Era só uma questão de tempo para minha vida voltar aos eixos. 
Encontrei-me com o primeiro candidato naquele mesmo fim de tarde, no café próximo à casa de Sel. Eu não seria louca de levar um estranho para a casa dela, claro. Não foi difícil identificá-lo, já que ele havia me passado sua descrição física, e eu pedira que tivesse o jornal em mãos. 
- Dems, eu prevumo - disse o homem de uns quarenta anos quando parei em frente à sua mesa. 
Sua aparência era tão ruim quanto a língua presa. Os cabelos ensebados tinham uma camada de caspa que recobria as laterias e a nuca; os óculos enormes e fundos não ajudavam a disfarçar as orelhas de abano. E, por alguma razão, ele cheirava a naftalina. Não que isso importasse, afinal eu não estava procurando nenhum príncipe encantado. Mas aquela caspa toda era meio... repugnante. 
- Chris? 
- Fi-fim - ele riu nervoso, fazendo um oinc-oinc. 
Ah, Deus. 
- Você... trouxe o atestado? - perguntei, enquanto me sentava do outro lado da mesa. 
Ele assentiu apressado, me entregando um papel um pouco amassado. 
- Eu nunca pivei numa delegafia. Fou um homem muito honefto. 
- Certo - eu disse, examinando sua ficha de antecedentes criminais, uma folha totalmente em branco. Imaginei que a maior audácia que Chris já cometera tinha sido sair de casa sem escovar os dentes. - Humm... Por que você quer casar? 
- E-eu prefivo de uma namorada. Minha mãe eftá me deixando maluco - ele me lançou uma piscadela. 
Reprimi um gemido. 
- Hã... Começo a entender sua mãe. Mas você mora sozinho, certo? Ele se remexeu na cadeira. 
- Praticamente. Meu quarto tem afefo direto à faída da garagem. Vofê mal ia ver minha mãe. 
- Quer dizer que você imaginou que dormiríamos no mesmo quarto - constatei, cruzando os braços. 
- Bom... fi-fim. Vofê dife que fexo não favia parte do acordo. Eu penfei que dormir não teria problema - ele ergueu os ombros pontiagudos. 
- Ah, tem! Tem sim! Tem muito! 
- Eu fou muito fáfil de lidar - ele sorriu nervoso. – Vofê nem ia notar minha prevenfa. 
Eu duvidava muito. 
- Ferto... Quer dizer, certo. - Essa coisa pega! - Eu tenho o seu telefone. Preciso entrevistar outros candidatos. Sabe como é... - me levantei e sorri. Ele se apressou em ficar de pé, esbarrando na mesa ao lado. 
- E-eu tenho uma renda muito boa. Poderia te levar ao finema uma vev por femana. A gente poderia jantar fora fempre que quivefe. Tenho vale-refeifão ilimitado. 
- Vou manter isso em mente - encerrei e me obriguei a andar calmamente em direção à saída.
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E então o que  acharam do primeiro candidato?, olha que foi só o primeiro, tem mais algumas figuras para aparecer... com quem será, que Demetria vai casar?.
Estão realmente gostando da história? se não podem mandar sugestões, reclamações, comentem ok!     
Tá pequeno, mas depois posto mais dois.