Ainda dava para ouvir a
música tocando quando me sentei num dos bancos de madeira do jardim. A melodia
de Frank Sinatra penetrava pelas grossas paredes da mansão, me trazendo um
milhão de lembranças felizes. Fechei os olhos e não foi surpresa, afinal, vovô
aparecer ali, ao meu lado, sorrindo.
- Eu sabia que você ia
encontrar – disse ele, satisfeito.
Sorri para ele.
- Pelo
menos agora eu sei que você mudou de ideia em relação a me deserdar.
Ele inspirou profundamente.
- Eu nunca quis te
deserdar. Não de verdade. Só estava furioso demais quando o Clóvis redigiu
aquele testamento ridículo. Aquele documento não devia ter validade, não devia
ter sido registrado, mas o Clóvis fez isso sem que eu soubesse. Você me
conhece, Demetria. Você achou mesmo que eu seria capaz de ser tão rígido com
você? Eu nunca consegui!
- Mas e as cartas? Como o
Clóvis conseguiu aquelas cartas?
Ele sacudiu a cabeça.
- Foi um golpe de sorte do
Clóvis. De fato, eu pretendia ver você nos corredores da L&L, sempre quis
ver minha neta em uma das empresas, você sempre soube disso. Eu pretendia estar
lá para te auxiliar, mas, por causa do aneurisma, não sabia quanto tempo tinha.
Eu já estava velho – ele deu de ombros. – Tive medo de não poder te ajudar como
gostaria e deixei algumas cartas com a Inês, caso eu faltasse. Ela entregou ao
Clóvis logo que parti, sem saber que com isso estaria ajudando aquele homem a
enganar você.
- Então ainda vou receber
algumas? – perguntei, animada.
Ele sorriu, e um brilho de
diversão surgiu em seus olhos.
- Quando chegar a hora
certa, Demetria.
- Você insistiu para eu
contar tudo ao Joe porque sabia que ele ia enxergar o que eu estava deixando
escapar, não foi? Porque sabia que ele é um Sherlock Holmes disfarçado de
administrador de empresas.
Vovô riu.
- O Joe é muito perspicaz.
Um rapaz de ouro! Você não poderia ter escolhido um homem melhor.
Suspirei.
- Pensei que nunca mais
fosse ver você – murmurei.
- E perder seu primeiro
discurso? Que tipo de avô acha que eu sou? – ele fingiu indignação.
Sorri um pouco. De alguma
forma, eu sabia que aquela era a última vez que o veria. Talvez fosse o brilho
em seus olhos, ou a pequena ruga na testa, que demonstrava apreensão, mas ele
estava me deixando. Para sempre dessa vez.
- Não
sei como te dizer adeus – balbuciei, lágrimas obstruíam minha visão.
Os olhos castanhos se
tornaram ainda mais gentis.
- Não é definitivo,
Demetria. Eu sempre estive ao seu lado, e sempre estarei.
- Ah, vovô! – me estiquei
em sua direção, me abraçando em sua cintura e enterrando a cabeça em seu peito.
Então ele sorriu, estendeu a mão, que dessa vez era quente como antigamente,
quase em chamas,e tocou meu rosto. E eu senti seu toque. Senti as dobras de sua
pele, seu calor adorado. Ele deslizou o dedo sobre meu nariz, me obrigando a
levantar a cabeça, como costumava fazer quando eu era criança, depois pousou a
palma em minha bochecha.
- Não existe amor maior do
que o de um pai por sua filha, ainda que ela não seja biologicamente sua – ele
sorriu. Um sorriso pleno, feliz. – Eu te amo, Demetria, como avô, como pai. Um
amor absoluto, que não morre nunca, nem quando o corpo se extingue.
- Eu te amo, vovô –
solucei.
- Não é o fim, Demetria. É apenas
um recomeço. O começo de um novo tempo. Estarei por perto. Nunca se esqueça
disso! Estarei ali, perguntando: “O que será que ela vai aprontar hoje?”
Eu ri em meio às lágrimas.
- Você sempre foi minha
maior riqueza – ele sorriu. – Procure ficar longe de confusão e tente ser
feliz.
- Prometo – cobri a mão que
descansava em minha bochecha com a minha, absorvendo tudo que ele me oferecia.
Paz, conforto, amor. Eu estava repleta de amor puro naquele instante – vou
fazer o impossível para te deixar orgulhoso, vovô. Eu juro!
- Mas, Demetria... – ele
abriu um sorriso enorme e beijou minha testa, e os lábios eram quentes e
macios, como sempre foram – eu já estou! – Como uma explosão de estrelas, uma
luz quente me envolveu, me obrigando a fechar os olhos, aquecendo meu corpo e
meu coração antes de se dissipar, deixando a mais cálida paz em seu lugar.
Quando
abri os olhos ainda úmidos, eu estava sorrindo. Eu sabia que não havia ninguém
ao meu lado, mas eu não estivera sozinha. Dessa vez, eu não tinha dúvidas. Meu
avô estivera ali. Fosse um sonho ou qualquer outra coisa incompreensível, pouco
me importava. Eu sabia que ele estivera ali comigo, e isso me bastava. Eu me
sentia bem, feliz, mais experiente, mais vivida. Adulta! Naquele momento eu me
sentia pronta para qualquer coisa, sentia que aguentaria seja lá o que fosse
que a vida estivesse me reservado. Sorri, me levantando para voltar para a
festa e procurar por Joe, porém não fui muito longe. Ele atravessou a porta da
cozinha a passos largos e se pôs a correr assim que me viu.
- Rápido! Vamos fugir antes
que alguém perceba a sua falta – e enlaçou minha cintura, afundando a cabeça em
meu pescoço. – Você estava incrível em cima daquele palco.
- Acho que eu estava verde.
Coisa horrível de se ver. Mas, como não vomitei em ninguém, acho que me saí
bem.
Ele interrompeu as carícias
em meu pescoço e levantou a cabeça.
- Você estava muito verde.
E indescritivelmente linda! Mas já vou avisar. Se o nosso casamento for
parecido com essa noite, as pessoas levando você pra longe de mim o tempo todo,
vou ser obrigado a te sequestrar e nos casaremos, só nós dois, sem ninguém para
atrapalhar, em uma ilha isolada em algum lugar do mundo. E pouco me importa o
que os outros vão pensar!
- Ah, Joe. Você diz as
coisas mais lindas... mas a Sel e a Miley iam me matar se a gente fugisse. As
duas estão enlouquecidas com a festa. Elas me enchem o saco porque eu nunca
quero opinar sobre nada, a cor dos guardanapos, o tipo de flor que eu
prefiro...
- Espero que esse desinteresse
não seja sinal de que você mudou de ideia – sua testa franziu.
- Eu tenho coisa melhor
para me ocupar – passei os braços em seu pescoço - E você acha mesmo que eu
ainda tenho essa alternativa? Depois de tudo, você acha mesmo que dá pra ser
feliz sem você por perto?
- E pensar que a felicidade
estava num anúncio de jornal... – ele sacudiu a cabeça, fingindo consternação.
- E eu, que só queria a
minha vida de volta, acabei essa história com dois casamentos nas costas. Quem
poderia imaginar que eu ia encontrar o amor dessa forma...?
- Ah, eu soube desde o
começo. Eu sabia que você era a mulher que ia amar até o fim dos meus dias
quando vi aquela cópia da sua bunda – ele brincou, me mantendo segura em seu
peito musculoso. – Como não me apaixonar por uma garota atrevida como você? Só
se eu fosse louco!
Era difícil descrever meu
estado de euforia. Era como sentir tudo ao mesmo tempo, só que multiplicado por
dez. Eu olhava para Joe, que sorria apaixonado, me fazendo promessas
silenciosas de uma vida plena. Eu havia acabado de prometer a vovô que faria o
possível para ser feliz, e ali estava eu, agarrada à minha chance.
Nesse
momento, talvez porque eu ainda estivesse pensando nele, vindo do nada, uma
pequena borboleta – azul – flutuou ao nosso redor. Uma vez, duas, três voltas
completas antes de descansar em meu antebraço. Joe a olhou fascinado, e eu...
bom, eu a olhei com outros olhos. Eu não tinha mais medo. Acabei rindo ao
pensar como fora desatenta. “Eu sempre estivesse ao seu lado”, vovô dissera.
Agora eu entendia.
- Não estou aprontando nada
– sussurrei para ela.
A borboleta abriu as asas
azuis, e – se isso não fosse impossível – eu poderia apostar que ela estava
rindo. Então ela voou, tocou a testa de Joe, em seguida a minha, como se
estivesse nos abençoando, e sumiu na escuridão dos arbustos.
- Isso foi um sinal – disse
Joe. – Não é a primeira vez que uma dessas cruza o nosso caminho.
- Nem vai ser a última. –
Eu sabia que ela voltaria. Muitas e muitas vezes! – Agora me explica melhor seu
plano para me tirar daqui – e afundei os dedos em seus cabelos macios.
O brilho em seus olhos me
ofuscou por um ou dois segundos.
- Você esta falando sério?
Porque, assim que eu colocar o plano em ação nada vai poder me deter – ele
ameaçou.
Colei minha testa à sua.
- Estou ouvindo,
camarada...
Ele sorriu enormemente,
alcançou meus sapatos, que estavam esquecidos no chão, calçou-os em meus pés –
seus dedos se demoraram um tantinho em minhas pernas – e se endireitou,
passando um braço em minhas costas e outro em meus joelhos, me aconchegando em
seu colo.
- Primeiro, vamos sair
daqui de fininho. Eu deixei o meu carro já embicado na garagem. Não sei por que
pressenti que talvez a gente precisasse sair correndo – ele sorriu, malicioso.
– Então, quando estivermos em segurança no nosso apartamento, eu te mostro o
resto do meu plano fenomenal.
Passei os braços ao redor
de seu pescoço, me prendendo a ele, e ri, mas alguém gritou, chamando por mim.
- Joe, solta a Demetria.
Agora – ordenou Miley. – Ela tem que falar com os jornalistas. Eles estão
esperando há horas!
Ele a ignorou, apertando o
passo. Minhas pernas sacudiam, frouxas, no ar. Um dos meus sapatos caiu.
- Meu sapato... –
resmunguei.
-
Compro uma dúzia deles pra você – ele prometeu, acelerando ainda mais.
- Joe! – Miley tentava nos
alcançar. – Preciso dela só por mais um minutinho! Coloca a Demetria no chão,
por favor!
- Desculpa, Miley. Mas eu
preciso da Demetria nesse momento. É caso de vida ou morte! – ele continuou
apressado pelo gramado, rumo a garagem.
- você já tem a Demetria
para o resto da vida, pra que tanta pressa? Jooooooe!
Ele riu, me acomodando
melhor em seu peito largo, olhando em meus olhos com adoração.
Para o resto da vida. Que
destino mais cruel o meu e, ainda sorrindo, se inclinou para me beijar.
FIM!
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Meninas lindas do meu coração chega ao fim a segunda fic do blog, em 2 meses maravilhosos, agradeço de coração o tempo em que vocês "gastam" aqui lendo, comentando, e sei que nem sempre podem comentar porque todos temos nossas obrigações fora daqui, saibam que pra mim isso é um local onde fujo da minha realidade, obrigações, compromissos,problemas, muitos problemas quero dizer, e que foi muito divertido ler seus comentários, sentir a ansiedade de vocês, a emoção e agradeço as novas seguidoras que vem sempre comentando, as anonimas também são bem importantes, e dona Eriimiilsa senti sim sua falta já ia fazer uma campanha para lhe encontrar e lhe entendo perfeitamente, os estudos nessa fase são bem puxados, passo por isso também, espero que sempre que puder comente será sempre bem vinda como todas. Espero que realmente tenham gostado da fic e que gostem mais ainda da próxima, fiquem com Deus e logo,logo volto com uma surpresa!
Amei a fic toda mas nao gostei desse caps )): TINHA QUE PASSAR UNS ANOS. Mas eu amei, parabens fernanda beijinhos
ResponderExcluirAi meu deus jfjsbdkahksks eu to apaixonada fjhdjsbsjsb vc vai postar o prologo?? E a sinopse da proxima??? Bdjshd bjs lena
ResponderExcluirÉ impossível não gostar. Pensei qe fui esquecida ... Brincadeira, sinto-me lisonjeada pelas saudades, não é fácil mesmo mais umas vezes por semana tenho que passar por cá para me deliciar com esse talento todo mulher. Meu Marido acabou como uma borboleta que por acaso é meu animal favorito ... Marcus meu amor, saudades que terei de ti.
ResponderExcluirA história para muitas pode ser Jemi mas para mim foi mais Memi ( Marcus e Demi) porque de houve amor que mais triunfou em cada capítulo e em cada frase foi o deles dois, eu amo demasiado essa história por isso foi um romance diferente que não relatou de um amor de amantes como centro da história. E digo que és muito talentoso por isso por enchergares a beleza do amor que existe desde antes que nascemos entre os nossos progenitores e mais belo ainda é que não é uma figura materna. Amei de verdade. Parabéns mais um sucesso
Lamento as partes que estão no
ResponderExcluirMasculino posso dar-te meu iPhone para dares nele um correctivo ele me deixa mal as vezes
que liindo!! Para o resto da vida *____*
ResponderExcluiradorei essa fic foi perfeita, parabéns :)
mal essa fic acabou, já estou ansiosa e muito curiosa pra saber como será a próxima \o/
Final lindo, preciso para de ler fics, fico pensando em príncipes encantados (que nao existem). Mas eu adorei essa fic, muito muito mesmo.
ResponderExcluirchegou ao fim a fic que eu aguardava ansiosamente todos os dias para ler. Gostei muito da historia toda mas o ultimo capitulo é sempre especial. parabens
ResponderExcluiradorei a sua historia já li a maioria das historias jemi e lhe digo a sua foi uma das que mas me prendeu,muitas dela são vagas historias sem rumo definido, mas a sua foi complexa cheia de altos e baixos entre a casal e por mas que seja um final sei que foi um final que não me desapontou. MEU PARABÉNS LETÍ
ResponderExcluirMEU DEUS!!!!!!!!!!!!!!!!! Tendo um Heart Attack em 3,2,1.........amei ahistoria ta muito perfeita,continua postando que eu tenho certeza que vou amar qualquer coisa.............. Aii meu Deus,voce eh perfeita,suas historias são perefeitas..........U.U invejinha aquiie,(invejnha Br4nc4!!!
ResponderExcluirAmeiii,tha tudo perfeito!!!!