domingo, 2 de junho de 2013

CAPÍTULO 102 MARATONA FINAL PENÚLTIMO




Num vestido azul de mangas curtas com o comprimento até o meio da coxa e calçando malditos saltos altos, me senti nua quando todos os rostos se voltaram para me analisar. Fiquei gelada. Juro que quase vomitei quando subi dois degraus que levavam ao pequeno palco num canto da sala – com Joe ao meu lado – e me deparei com o microfone à minha frente. Eu não podia fazer aquilo.
Não consigo.
- Chuta a bunda desses malas – Joe cochichou em meu ouvido, antes de beijar minha testa e descer do palco improvisado.
E, de repente, consegui. Pensei em vô Marcus – que desaparecera dos meus sonhos – e em quanto eu o amava, quanto queria ter me despedido direito dele. Eis que a chance estava diante de mim.
Clareei a garganta e comecei:
- Boa noite. Eu sou Demetria Devonne Lovato, neta de Marcus Lovato. Muitos de vocês devem me conhecer desde que eu tinha cinco anos. Eu era aquela pirralha de quem o vô Marcus corria atrás, pedindo que não jogasse bolo na cara de ninguém. Eu não sei se todos vocês estão achando essa festa tão estranha quanto eu. Talvez estejam. Uma festa que reúne tanta gente do Conglomerado Lovato sem o vô Marcus é como... como se faltasse o aniversariante, ou o noivo não aparecesse no casamento... – sorri, nervosa.
Recebi muitos sorrisos complacentes. Encontrei Sel exibindo uma careta divertida, me encorajando, Nicholas ao seu lado assentiu. Hector, Suzana, Janine – Espanador, Inês com seus óculos de tartaruga, até Joyce, aquele doce de pessoa, sorriam me incentivando. Miley, num canto do salão, levantou o polegar e piscou um olho. Liam me observava com uma expressão debochada e para minha surpresa, os pais de Joe estavam ali e, a julgar pelo buraco entre eles, Justin também.
Isso tudo ajudou, mas foi o dono de um certo par de olhos verdes, parado ao lado da janela francesa, com as mãos enfiadas nos bolsos da calça, usando apenas paletó e camisa, sem gravata, os cabelos ligeiramente desgrenhados, que me encheu de certezas. Joe me lançou um pequeno sorriso, meio torto, cúmplice, que me inundou de coragem e determinação. Sorri de volta.
- O vovô adorava festas – continuei, encarando-o. Era mais fácil fingir que eu falava apenas com ele que com toda aquela gente. – Dizia que eram as noites mais especiais do ano, em que podia reencontrar velhos amigos e fingir que tinha trinta anos outra vez. Se estivesse aqui hoje, ele estaria rindo, falando com todos,
saindo sorrateiramente para fumar seu charuto as escondidas. “Eu não fumo, Demetria!”, ele diria com o rosto corado quando eu o flagrasse. E mais tarde, no fim da festa, depois que todos os convidados tivessem partido, ficaríamos os dois aqui, ele pediria um pouco de bolo e comeríamos sentados no chão, e ele me perguntaria o que achei do seu discurso. – Então eu vi a cena toda. Uma lembrança tão vívida que mais parecia um filme. Vi a mim mesma, pequena em um vestido cheio de laços e rendas, sentada no chão com a cara suja de glacê. Vovô, ao meu lado, sorria satisfeito, com a cara tão suja quanto a minha. – Às vezes ele me tirava pra dançar – e lá estávamos nós dois, eu sobre seus pés, me sentindo importante e muito adulta aos oito anos. Depois, aos quinze, desengonçada e descoordenada, rodopiando nos braços gentis de vovô. – E outras vezes ficávamos apenas ouvindo a orquestra tocar, um apoiado no outro, exaustos – e me veio a imagem da última festa, em que vovô, já sentindo o peso da idade, se manteve sentado numa cadeira, um braço em meus ombros, minha cabeça em seu peito, como se estivéssemos assistindo a um concerto. Minha garganta se fechou com as lembranças felizes. – Foi isso que fizemos todos esses anos. Estou contando essas coisas porque queria que todo mundo aqui conhecesse o vô Marcus como eu conheci. O homem simples, decente e honrado, que jamais usou ninguém para alcançar o sucesso, que adorava se deitar ao meu lado pra ver desenho animado nos momentos de folga, que fazia questão de me levar para escola todas as manhãs, mesmo se tivesse que adiar alguma reunião importante. Um homem correto, que me dava bronca por falar palavrão, mas que às vezes deixava escapar alguns quando dava uma topada... e o vovô dava muitas topadas. Um avô que me fez entender que é preciso respeitar as regras e dizer a verdade sempre... – suspirei, ainda presa aos olhos iridescentes de Joe – mesmo que doa. Um avô que foi pai, mãe, amigo, que enfrentou a perda do filho e da nora sem jamais desmoronar, para que eu pudesse ter um porto seguro. Imagino quanto isso deve ter custado a ele, mas esse era o meu avô, sempre se colocando em segundo plano para que eu pudesse ser feliz. E eu fui muito feliz – sorri, piscando, tentando desobstruir a visão embaçada pelas lágrimas.
- Prometo fazer tudo que estiver ao meu alcance para me tornar a mulher que ele sonhou – continuei. – Vou dar o melhor de mim para que vocês, acionistas e funcionários, se sintam felizes por trabalharem comigo. Vou me esforçar para um dia ocupar o lugar de vô Marcus honradamente. Até lá, Hector Simione, que todos já conhecem de longa data, permanecerá nesse posto. Então, como essa é a primeira vez que o vô Marcus não está aqui... de corpo presente... – porque eu sabia que, de alguma forma, ele podia me ouvir – eu gostaria de concluir dizendo o que ele não se cansou de repetir no final de seus discursos. Bebam, comam, se divirtam esta noite, porque amanhã, meus amigos, a batalha continua e todos voltamos para o mundo real.
Fui aplaudida enquanto engolia as lágrimas. Ouvi Nicholas assobiar alto ao lado de Sel, abafando seu “Uhuuuu!”, e não pude evitar o sorriso. Joe assentiu, sério, parecendo a ponto de explodir de orgulho. Fui abordada por muitas pessoas ao descer do pequeno palco. Jornalistas enfiaram microfones na minha cara e eu mal conseguia respirar.
- Quando você percebeu que o advogado estava tramando contra você?
- É verdade que o Sr. Clóvis Hernandez está louco devido à pancada que levou na cabeça?
- Você vai exigir uma auditoria no conglomerado todo para saber se há outros envolvidos no esquema de desvio de dinheiro?
- Você foi mesmo convidada para posar nua numa revista masculina?
- Por que decidiu se casar com seu ex-marido?
Quando finalmente fiquei livre – graças a Miley e seus cotovelos formidáveis , tentei chegar até onde Joe estava, mas não pude. Dezenas de diretores e acionistas me cercaram, me parabenizando e me enchendo de perguntas que eu ainda não sabia como responder. Quase tropecei em Denise e Paul quando me livrei deles. Os pais de Joe me cumprimentaram com abraços e sorrisos, já Justin...
- Quer dizer que além de linda você também é podre de rica. Meu irmão tirou a sorte grande – ele me lançou um sorriso sedutor.
Paul lhe deu um tapa na cabeça.
- Por favor, Justin. Você me prometeu – implorou.
- Desculpa, eu só estava dizendo que não entendo como Joe conseguiu arrumar uma gata dessas, mas tudo bem. E prometi que não vou voltar ao assunto do primeiro casamento deles, para o qual nós não fomos convidados. Eu não voltei ao assunto, voltei? Alguém aqui me ouviu falar sobre como fomos excluídos do casamento?
- Justin, para – ordenou Denise, visivelmente constrangida. – Nós entendemos tudo, Demetria, não dê ouvidos ao Justin. Nós compreendemos e não ficamos magoados – ela me assegurou.
- Uma ova que não! – o garoto reclamou.
Paul suspirou.
- O importante é que tudo acabou dando certo pra vocês – ele disse.
- Que estão felizes. Nunca vi o Joseph tão feliz assim. Você faz bem pra ele, querida – e sorriu.
- É, ele também me faz bem. Muito bem, na verdade. Hã... Cadê ele? – me estiquei, procurando, desesperada para encontrá-lo.
- Bem ali – apontou Denise.
Lá estava ele, lindo como sempre, rodeado de homens engravatados, com Hector ao seu lado gesticulando sem parar. Hector andava muito empolgado e sempre que tinha chance narrava como “vira a morte de perto”. Pela cara entediada de Joe, ele repetia a história toda mais uma vez.
Joe me flagrou observando-o – ou talvez eu o estivesse comendo com os olhos, o que era bem mais provável – e sorriu sedutor, vindo em minha direção, mas poucos passos depois foi detido por um dos diretores árabes. Aquele que o ajudara a provar as falcatruas de Clóvis. Quase pude ouvir seu suspiro de frustração, mesmo estando vários metros de distância.
Voltei para Justin.
- Mas me conta, Justin, como tá seu pé? Seu irmão me disse que você anda sentindo umas pontadas.
O garoto abriu um sorriso enorme.
- Ta doendo pra cacete! A Dra. Olenka pediu alguns exames, mas ela acha que o inchaço entre as vértebras diminuiu e que os nervos estão se religando. Talvez em dois ou três anos eu já esteja andando por aí, então se quiser adiar o casamento pra ter mais opções... – e deu uma piscadela.
- Cara, você é um pé no saco! – ri.
- Eu sei – ele ajeitou a gola da camisa. – Todas dizem a mesma coisa.
- Demetria, o pessoal de Abu Dhabi quer falar com você – anunciou Miley, se desculpando com um sorriso com a família de Joe pela interrupção.
Os olhos de Justin a estudaram de cima a baixo. Duas vezes.
- Nem pense nisso – o alertei.
Despedi-me da família de... da minha nova família e segui Miley, tentando chegar até Joe. Mas, antes que eu pudesse encontrá-lo, para em seguida falar com os diretores árabes, minha melhor amiga no mundo apareceu bem na minha frente.
- Ah, Demi! – Sel passou os braços em minha cintura. – Você estava tão linda! Estou tão orgulhosa de você! Nem uma gota de vômito na plateia. Arrasou, garota! – e riu.
- Foi bacana? De verdade?
Ela ficou séria abruptamente.
- Foi lindo, Demi. Você não faz ideia de como estou orgulhosa. Acho que você... – seus olhos amendoados brilharam, úmidos – você cresceu.
- Já era hora, não era?
- Era sim – ela me abraçou com tanta força que quase não pude respirar.
Eu também estava orgulhosa de mim e de tudo que havia conseguido, porém não conseguiria sozinha. Joe enviara à polícia uma série de relatórios que comprovavam que muito dinheiro havia sido desviado para um banco na Suíça em nome de Telma Hernandez, esposa de Clóvis, que aparentemente não tinha conhecimento dos negócios escusos do marido. Ela fora convidada pela polícia a dar algumas explicações, mas Joe achava que ela não teria complicações graves, já que era apenas a laranja.
Blanda também ficara bastante encrencada com a colaboração que dera ao plano de Clóvis. Ela também teria que dar explicações à polícia e, principalmente, à diretoria da L&L, que estava descontente com o ocorrido e considerava demiti-la. Não me opus. Qual é? Eu ainda tinha que acertar contas com aquela garota. Foi por isso que sugeri – sem maldade alguma – que ela fosse remanejada para o sexto andar, sala treze, até que os diretores decidissem o que seria feito dela. O horror estampado em seu rosto enquanto deixava a sala da diretoria e se encaminhava ao sexto andar quase me deu pena. Quase.
Já Clóvis estava bastante enrascado. Além de ameaça, desvio de dinheiro e supressão de documentos, havia agora a tentativa de homicídio para completar as acusações. Hector decidiu visitá-lo – grande homem, o Hector – e ficou um pouco triste ao ver o antigo amigo se comportando de maneira atípica. Clóvis exigira um padre para confessar seus pecados, balbuciava sem parar “O fim está próximo” e pediu perdão a Hector uma dúzia de vezes. Louco, foi a palavra que Hector usou para descrevê-lo, mas eu tinha minhas dúvidas. Talvez Clóvis tivesse mesmo enlouquecido, mas eu desconfiava de que tudo não passava de encenação, de um golpe muito inteligente para não ir para a cadeia. Sabe como é, não dá para confiar em advogado...
Após tomar posse legal do que era de vô Marcus e eu não sabia o que fazer com aquilo tudo , convidei Hector para comandar as empresas, permanecendo no posto que fora de vovô, à frente do Conglomerado Lovato, até que eu pudesse aprender tudo, o que levaria décadas. Ele relutou um pouco, mas acabou cedendo diante da minha persistência e da de Joe e aceitou o cargo. Entretanto, me tornei membro da diretoria após Joe apresentar um projeto de fidelização de cliente baseado nas minhas ideias de troca de embalagens. Claro que fora ele quem fizera praticamente tudo, especialmente os gráficos e as planilhas, mas ele não quis por crédito pelo trabalho e apresentou como se fosse um projeto meu. O projeto foi aprovado, em material promocional com a nova campanha de fidelização estaria nas ruas.
Miley se tornou meu braço direito na empresa. Ela estava radiante, e muito disso se devia a Liam, que finalmente tomara coragem e a convidara para um cineminha. Ela não soube me dizer sobre o que era o filme a que assistiram juntos.
Finalmente foi aprovado o aumento salarial que eu tanto queria, mesmo que agora não precisasse mais dele. Fiquei contente ao ver muitas caras alegres pelos corredores L&L.
Era um bocado de coisas boas. Eu estava feliz com tudo que havia feito, por ter conseguido retomar as rédeas de minha vida. Por ter conquistado Joe de maneira irremediável.
Tornei a procurá-lo na grande sala abarrotada de gente, mas, sempre que eu tentava me aproximar dele, algo me levava na direção oposta, até que o perdi de vista. Fiquei presa com os árabes por muito tempo, tanto que, se não agisse rápido, teria que amputar os dois pés, que já começavam a gangrenar naqueles saltos. Na primeira oportunidade, dei uma fugidinha, ainda procurando por Joe, mas ele não estava em parte alguma.
Saí pela porta lateral da sala e fui para o jardim, tirei os sapatos e afundei os pés na grama fresca, me sentindo aliviada. Olhei a mansão iluminada e movimentada, cheia de vida novamente. Em poucas semanas, aquela casa seria redecorada e haveria centenas de crianças correndo por todo lado. Sorri feliz. Vovô teria gostado disso. A Fundação Marcus Lovato estava prestes a ganhar vida. E, graças a ela, centenas de crianças e jovens teriam a oportunidade de estudar e se aperfeiçoar em alguma área – para o caso de, sei lá, algum dia precisarem fazer planilhas, por exemplo, e não confundirem o código com o preço. Aquele era o meu melhor projeto, e Joe me ajudara e apoiara em tudo, como eu sabia que faria.
Além disso, Mazé estaria no comando e era impossível descrever seu entusiasmo ao cuidar daquelas crianças. Eu não podia imaginar alguém melhor para o cargo.
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Agora quero muitos comentários pois é o penúltimo gente, e só voltarei em 45 minutos porque além de mim tem um bando de inúteis(meus melhores amigos) de ressaca aqui em casa que ainda estão dormindo e tenho que acordá-los, o pobre do meu namorado e uma das minhas amigas que estão aqui segurando as pontas porque eram os motoristas da rodada e estão limpos e eu estou aqui só o caco, comentem!  

7 comentários:

  1. Meninaaa ou melhor, mulheeer! Jfjjdhs que isso eu to passada, que coisa mais perfeita é essa?????? Nfbsjdjsbd ai mds meu deusinho!!! Posta logndjs bjs lena

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  2. queee discurso maais tocante!!!
    Poosta logo eu to amando essa história, pena que vai acabar, a parte boa é que vai ter mais história certo?
    Poosta loogo, beeijos

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  3. adorei o capítulo!!! posta logo o úúúltimo *____*

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  4. Vc é incrível, e obrigada por gostar da gente. Porque uma pessoa de ressaca fazendo esse esforço imenso para postar para gente. É duro.
    E eu tirei o domingo inteiro para ler tudo que eu perdi, a universidade impediu-me de vir aqui e olha quando arrumei um tempo chego no final da história. Chego quando meu Marido sumirá de vez na história é demasiado doloroso. Mas acho que não te vais importar que guarde a história no meu Word, porque realmente amei essa história que é uma comédia romântica que para mim além de gargalhadas e lágrimas de rir roubou-me também lagrimas de emoção, porque amor de família é tão puro mais o de Marcus e Demi vai além da pureza do amor normal é uma ligação incrível. Só quero que saibas qe não te abandonei apenas tem estado muito difícil pegar um minuto pra cá vir mas universidade não é tão mole, mas farei o possível para ser uma leitora assídua. Continua a escritora maravilhosa qe és e recompensando o nosso amor pelo teu talento SUCESSO MULHER

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  5. Perfeitooooooo.... Lindo ahhhh pota logo

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  6. ai meu deus já está acabando ultimo capitulo, mais saiba que essa historia é uma das melhores que eu já li, ou então até a melhor, q pena que está acabando dá um aperto no coração.
    Ah e melhoras com essa ressaca é isso que dar beber demais, por esse motivo que não bebo nem um pouco,mas melhoras.
    Ine

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  7. P
    E
    R
    F
    E
    I
    T
    O
    Acho que vou chorar pelo amor de santo deus posta logoooo!

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