domingo, 9 de março de 2014

Amigas Para Sempre Capítulo 13

Treze
A partir do momento que a primeira reportagem de Demi foi ao ar, tudo
mudou. Eles se tornaram o quarteto fantástico: Sel, Demi, Mutt e Nicholas.
Estavam sempre juntos, amontoados no escritório, trabalhando em reportagens, indo de um lugar a outro feito ciganos. A segunda reportagem que Demi fez foi sobre uma coruja-do-ártico que havia feito ninho num poste de luz na ladeira do Capitólio. Depois ela acompanhou a campanha governamental de Booth Gardner e, embora fosse uma das dezenas de repórteres que faziam essa cobertura, parecia que Gardner sempre respondia às perguntas dela primeiro. Quando os primeiros milionários da Microsoft começaram a andar pelas ruas do centro da cidade em suas Ferraris novas em folha ouvindo música geek em headphones imensos, todos na KCPO sabiam que Demi não duraria muito tempo no menor canal de TV local. Todos sabiam, mas talvez Nicholas fosse o mais ciente disso. Assim, embora os três não falassem sobre o futuro, eles sentiam sua presença sombria constantemente e, de alguma forma, isso tornava o tempo que passavam juntos mais doce e mais intenso. Nas raras noites em que não estavam trabalhando numa matéria, Nicholas, Demi e Sel se encontravam no Goldie’s para jogar sinuca e tomar cerveja. No 􀙼nal do segundo ano juntos, todos sabiam tudo o que havia para saber uns sobre os outros. Pelo menos tudo o que cada um estava disposto a compartilhar. Exceto as coisas que realmente importavam. Sel achava irônico que três pessoas que reviravam o entulho da vida em busca de pedaços de verdade pudessem ser tão teimosamente cegas sobre suas próprias existências. Demi não fazia ideia de que Nicholas gostava dela, e ele não tinha a menor noção de que Sel gostava dele. Assim, aquele triângulo esquisito e silencioso continuou, dia após dia, noite após noite. Demi sempre perguntava a Sel por que ela não saía com ninguém. Ela queria abrir o jogo, contar a verdade a Demi, mas sempre que começava a confessar, dava para trás. Como poderia contar a verdade sobre Nicholas, depois de tudo o que dissera a Demi sobre Joe? Afinal, ficar com o chefe era pior do que com o professor. Além disso, o que Demi sabia sobre amor não correspondido? A amiga simplesmente começaria a forçar Sel a convidar Nicholas para sair. E aí o que Sel diria? Não posso. Ele está apaixonado por você. No fundo, num lugar sombrio sobre o qual ela raramente tomava conhecimento, havia outro medo, um que ela só reconhecia em seus sonhos e pesadelos. Sob a fria luz do dia, não acreditava naquilo, mas, à noite, sozinha, ela se preocupava que, se Demi descobrisse sobre o amor de Sel, isso pudesse tornar Nicholas mais atraente aos olhos dela. Este era o problema de sua melhor amiga. Ela não queria o que não podia ter. Ela queria tudo. E, cedo ou tarde, Demi conseguia o que queria. Sel não podia correr esse risco. Podia viver sem ter Nicholas, mas não suportaria perdê-lo para Demi. Assim, Sel manteve a cabeça abaixada, as mãos ocupadas e os sonhos escondidos. Sorria com facilidade quando a mãe, o pai ou Demi a provocavam por sua vida social, e brincava dizendo que seus padrões de exigência eram mais altos do que o de certas pessoas, o que sempre garantia boas risadas. Tentava não ficar muito tempo sozinha com Nicholas também, apenas por garantia. Embora não 􀙼casse mais atrapalhada ou gaguejando quando estava perto dele, sempre tinha a impressão de que ele era muito perspicaz e que, se tivesse muitas oportunidades, poderia perceber o que ela se esforçava tanto para esconder. Seu plano deu muito certo, levando tudo em consideração, até um dia frio de novembro de 1984, quando Nicholas a chamou em sua sala. Naquele dia os dois estavam a sós de novo. Demi e Mutt estavam atrás de um pé-grande nas matas de um parque nacional. Sel passou a mão pelo suéter de lã e estampou no rosto um sorriso
impessoal ao entrar na sala dele e encontrá-lo parado na frente da janela imunda.
– O que houve, Nicholas?
Ele estava com uma aparência terrível. Arrasado.
– Lembra que eu lhe contei sobre El Salvador?
– Claro.
– Bom, ainda tenho amigos lá. Um deles, o padre Ramón, está desaparecido.
A irmã dele acha que o levaram a algum lugar para torturá-lo ou que irão mata-lo. Ela quer que eu vá até lá para tentar ajudar.
– Mas é perigoso…
Ele sorriu, mas seu sorriso parecia um reflexo na água, distorcido e irreal.
– Perigo é o meu sobrenome.
– Isso não é brincadeira. Você pode morrer. Ou desaparecer como aquele
jornalista no Chile durante o golpe. Ele nunca mais foi visto.
– Acredite – disse ele –, não estou brincando. Eu estive lá, lembra? Sei como
é estar vendado e ser alvo de tiros.
Ele virou a cabeça. Seus olhos ganharam uma expressão vaga e fora de foco, e ela se perguntou do que ele estava se lembrando.
– Não posso virar as costas para as pessoas que me protegeram lá. Você
poderia virar as costas para Demi se ela implorasse por sua ajuda?
– Eu jamais viraria as costas para ela, como você bem sabe. Porém, eu não espero vê-la numa zona de conflitos, a menos que você considere a liquidação de aniversário da Nordstrom.
– Eu sabia que você era a minha garota. Então posso contar que vai manter
isso aqui funcionando enquanto eu estiver fora?
– Eu?
– Como eu disse uma vez, você é uma garota responsável.
Ela não conseguiu evitar; aproximou-se dele e olhou para cima. Ele ia viajar,
corria o risco de se ferir, ou coisa pior.
– Mulher – corrigiu ela.
Ele a encarou, sério. Sel sentiu os poucos centímetros que havia entre os
dois. Não precisaria de muita coisa, um movimento mínimo, para se tocarem.
– Mulher – repetiu ele.
Então ele a deixou lá parada, sozinha, cercada pelos fantasmas de palavras,
as coisas que ela poderia ter dito. Enquanto Nicholas esteve fora, Sel descobriu como o tempo era elástico, como podia se estender a ponto de minutos parecerem horas. Bastaria um telefonema, porém, de alguma autoridade dizendo que sentia muito, para que tudo ruísse. Toda vez que o telefone tocava, ela 􀙼cava tensa. Ao final do primeiro dia, Sel estava com uma dor de cabeça terrível. Aprendeu outra lição naquela primeira semana. A vida continuava. Os chefões de Tacoma continuavam ligando, e um produtor foi enviado para supervisionar as pautas que eles recebiam, mas, na verdade, da forma como as coisas funcionaram, Sel começou a assumir algumas das responsabilidades da produção.
Mutt e Demi confiavam nela, e Sel sabia como manter as coisas nos eixos
com o orçamento miserável que tinham. Todo aquele desejo dela havia compensado. Aparentemente, Sel observara Nicholas o suficiente para aprender o trabalho dele. Era uma costureira do ateliê dele, é claro, mas, mesmo assim, era boa o bastante. Na quinta-feira da primeira semana, o produtor externo se enfureceu, disse que tinha coisa melhor para fazer do que ficar correndo atrás de gente maluca o dia todo e voltou para Tacoma Na sexta-feira, Sel produziu seu primeiro segmento. Era um material leve e sem grande importância – sobre Brakeman Bill, um antigo astro infantil da TV –, mas era dela e foi ao ar. Foi um barato de adrenalina ver seu trabalho na tela, mesmo que todos lembrassem apenas do rosto e da voz de Demi. Sel ligou para os pais e eles dirigiram até a cidade para assistir ao programa junto com ela e Demi. Depois, todos brindaram ao “sonho” e concordaram que ele estava perto de se tornar realidade.
– Sempre achei que a Katie e eu iríamos ao ar juntas, uma dupla de âncoras,
mas acho que me enganei – disse Demi. – Em vez disso, ela vai ser a produtora do meu programa. E quando Barbara Walters me entrevistar, vou dizer que não conseguiria ter feito nada sem ela.
Sel ficou sentada, brindando quando era o que se esperava dela, sorrindo e revivendo cada momento por meio da conversa de Demi. Ela estava orgulhosa de si mesma, de verdade, e havia adorado preparar aquele material e comemorar com os pais. Foi especialmente emocionante quando sua mãe a levou para um canto e disse: “Estou orgulhosa de você, Katie. Você está no seu caminho agora. Não está feliz por não ter desistido?”
Mas, o tempo todo, uma parte dela estava olhando para o relógio, pensando em como o tempo andava devagar.
– Você está com uma aparência terrível – disse Demi no dia seguinte, largando uma pilha de fitas em cima da mesa de Sel. O barulho a assustou. Ela se deu conta de que estava olhando fixamente para o relógio de novo.
– É, bom, você canta muito mal.
Demi riu.
– Todo mundo tem alguma coisa que não sabe fazer.
Demi pôs as mãos espalmadas em cima da mesa de Sel e se inclinou para a
frente.
– Joe e eu vamos ao Backstage hoje à noite. O Junior Cadillac vai tocar.
Quer ir conosco?
– Hoje, não.
Demi olhou para a amiga.
– Qual é o problema com você? Faz mais de uma semana que anda para baixo. Eu sei que não tem dormido, pois escuto você caminhando pela casa no meio da noite, e você não vai a lugar nenhum. Parece que estou morando com um elefante, de tão trombuda. Sel não conseguiu deixar de olhar para a porta da sala de Nicholas e então para a amiga. A saudade estava se acumulando dentro dela, com força. Se ao menos pudesse contar a verdade a Demi: que havia se apaixonado por Nicholas sem querer e agora estava preocupada com ele… Tiraria um peso imenso de suas costas. Em dez anos, era a primeira coisa que escondia de Demi, e era algo que lhe causava dor física.
Mas seus sentimentos por Nicholas eram muito frágeis. Ela sabia que a
Tempestade Tropical Demi cairia sobre eles, destruindo-os.
– Só estou cansada – disse ela. – Esse trabalho de produção é difícil. Só isso.
– Mas você adora o trabalho, não?
– Claro. É ótimo. Agora vá embora, vá se encontrar com o Joe. Eu fecho tudo.
Depois que Demi saiu, Sel 􀙼cou um pouco no escritório escuro e silencioso. O estranho era que ela gostava de estar ali, sentia-se próxima dele.
– Você é uma idiota – disse ela em voz alta.
Na realidade, vinha repetindo isso a si mesma pelo menos duas vezes por dia ultimamente. Estava agindo e se sentindo como uma amante abandonada, mas era tudo imaginação dela. Pelo menos não estava tão fora de si que se
esquecesse disso. Foi para casa sozinha. O ônibus a deixou na esquina da Pike com a Pine. Em meio à multidão de turistas, esquisitões e hippies, comprou algo para comer. No apartamento, enroscou-se no sofá, jantou direto das caixas de papelão branco e assistiu ao noticiário da noite. Depois, anotou algumas ideias de pauta, telefonou para a mãe e ligou na NBC para assistir a seriados. Na metade do segundo, a campainha tocou. Franzindo a testa, ela foi até a porta.
– Quem é?
– Nicholas Ryan.
O susto que Sel levou quase a derrubou. Alívio. Alegria. Medo. Sentiu as
três emoções num único instante. Deu uma olhada no espelho da parede ao seu lado e arfou. Parecia um retrato de “antes” de revista de moda, com os cabelos escorridos, sem maquiagem e as sobrancelhas por fazer.
Ele bateu à porta.
Ela abriu.
Ele estava apoiado no batente da porta usando uma calça Levi’s suja e uma
camiseta rasgada da turnê “Born in the USA”. Estava com os cabelos desalinhados e, embora estivesse bronzeado, parecia cansado, mais velho. Ela sentiu cheiro de álcool também.
– Ei – disse ele, afastando os dedos da porta, numa saudação.
Com o movimento, perdeu o equilíbrio e quase caiu.
Sel amparou-o e fez com que ele entrasse, fechou a porta com um chute e
o levou até o sofá, onde ele se sentou cambaleante.
– Eu estava no Athenian – disse ele – tentando tomar coragem para vir até
aqui – explicou, e olhou lentamente ao redor. – Onde está a Demi?
– Saiu – disse Sel, sentindo um aperto no coração.
– Ah.
Ela se sentou ao lado dele.
– Como foi em El Salvador?
Quando ele se virou para ela, a expressão em seus olhos era tão devastadora que ela estendeu a mão, passou o braço ao redor dele e o puxou para perto de si.
– Ele estava morto – disse Nicholas depois de um longo silêncio. – Antes
mesmo de eu chegar lá, ele estava morto. Mas eu precisava encontrá-lo.
Tirou uma garrafinha do bolso de trás e tomou um longo gole.
– Quer um pouco?
Sel tomou um gole e sentiu a bebida queimando-lhe a garganta e indo
parar feito brasa quente na boca do estômago.
– É arrasador o que está acontecendo. E quase nada está sendo transmitido.
Ninguém se importa.
– Você poderia ir como correspondente – disse ela, embora detestasse a
ideia.
– Bem que eu gostaria… – a voz dele desapareceu, depois voltou firme. –
Notícia velha.
Tomou mais um gole.
– Talvez você devesse ir com calma.
Sel tentou tirar a garrafa da mão de Nicholas, mas ele agarrou seu pulso e a
pôs no colo. Tocou seu rosto com a outra mão, acariciando sua bochecha como se fosse cego e estivesse tentando imaginar como ela era.
– Você é linda – sussurrou.
– Você está bêbado.
– Você continua sendo linda.
Ele deslizou uma mão pelo braço dela e a outra pelo pescoço, até abraçá-la.
Sel sabia que ele ia beijá-la, sentia isso em cada terminação nervosa de seu
corpo, da mesma maneira que estava ciente de que devia impedi-lo. Ele a puxou na sua direção, e todas as boas intenções de Sel desapareceram. Ela cedeu à pressão das mãos dele e se deixou ser guiada até sua boca. O beijo foi diferente de tudo o que ela já havia experimentado: suave e doce no começo, depois intenso e ansioso. Ela se entregou a tudo, rendendo-se a ele como sonhara tanto em fazer. A língua dele a deixou elétrica, provocando um desejo novo e doloroso. Ela se sentiu ávida por ele, desesperada. Sem pensar, en􀙼ou as mãos por baixo da camiseta, sentindo o calor da pele masculina, precisando ficar mais próxima…
Estava com as mãos nos ombros dele, puxando o tecido de algodão para
cima, quando se deu conta de que Nicholas estava imóvel. Ficou tão confusa que levou um instante para entender a situação. Com a respiração ofegante, ansiando com aquela nova vontade, recuou o suficiente para olhar para ele.
Nicholas estava recostado no sofá, com os olhos semicerrados. Levantou a
mão lenta e desajeitadamente, quase como se não controlasse os próprios
movimentos, e tocou nos lábios dela, traçando o contorno com a ponta dos
dedos.
– Demi – sussurrou. – Eu sabia que seu gosto seria bom.
E, com esse golpe no coração de Sel, caiu no sono. Sel não soube ao certo quanto tempo ficou sentada no colo dele, olhando fixamente para seu rosto enquanto ele dormia. Mais uma vez, o tempo parecia elástico entre eles. Ela sentiu estar sangrando – mas não era sangue que escorriam dela, eram seus sonhos que sangravam. A fantasia de amor que havia construído sozinha e da qual cuidava com tanto carinho.
Saiu de cima dele e o ajeitou no sofá, tirando seus sapatos e cobrindo-o com
uma manta. Na cama, com uma porta fechada entre os dois, Sel ficou acordada por um longo tempo, tentando não repassar centenas de vezes o que havia acontecido, mas era impossível. Ela não parava de sentir o sabor dos lábios dele, de sentir a língua dele na dela e de ouvi-lo sussurrar Demi.
Quando finalmente caiu no sono, já passava bastante da meia-noite, e o amanhecer chegou rápido demais. Ela bateu com força no botão para desligar o despertador, escovou os dentes e os cabelos, vestiu um roupão e foi correndo até a sala. Nicholas estava acordado, sentado à mesa da cozinha, tomando café numa xícara de chá. Quando ela entrou, ele largou a xícara e se levantou.
– Oi – disse ele, passando os dedos pelos cabelos.
– Oi.
Os dois se encararam. Ela apertou o cinto do roupão atoalhado.
Ele olhou para a porta de Demi.
– Ela não está aqui – disse Sel. – Passou a noite com Joe.
– Então você me deitou no sofá e me cobriu.
– Foi.
Ele se aproximou dela.
– Eu estava muito bêbado ontem à noite. Sinto muito. Não deveria ter
vindo.
Ela não sabia ao certo o que dizer.
– Gomez – disse ele, afinal. – Eu sei que eu estava fora do ar…
– É, estava.
– Aconteceu… aconteceu alguma coisa? Quero dizer, eu detestaria pensar…
– Entre nós? Como poderia ter acontecido alguma coisa? – disse ela antes
que ele pudesse terminar de dizer quanto lamentaria alguma ligação entre eles. – Não se preocupe. Não aconteceu nada.
O sorriso dele foi de tanto alívio que ela teve vontade de chorar.
– Então acho que vejo você no trabalho hoje, né? E obrigado por cuidar de
mim.

– Claro – falou Sel, cruzando os braços. – Para que servem os amigos?

4 comentários:

  1. Larga do pé da Demi nick , po a selena ai louca por vc , quero ver maiiis jemi e quero nelena tambem ><

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  2. Tenho estado ausente e peço milhões de desculpa. Estou ficando muito cansada com a volta as aulas

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  3. posta! selinho pra você http://togetheragainstory.blogspot.com.br/2014/03/primeiro-selinho-uuh-como-diz-o-blog.html. Pode divulgar meu blog

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