segunda-feira, 3 de março de 2014

Amigas Para Sempre Capítulo 8

Oito
– Meninas! Chega de enrolar. Vamos pegar muito trânsito se não sairmos agora.
No velho quarto do sótão, Selena estava parada na beira da cama, olhando para a mala que continha todos os seus mais valiosos pertences. Um porta retrato com a imagem dos avós estava por cima de tudo, apoiado entre uma foto dela com Demi na formatura e um maço com as cartas que recebera da amiga. Embora esperasse por esse momento fazia meses (ela e Demi haviam sonhado acordadas inúmeras noites, sempre começando com as palavras quando estivermos na faculdade ), agora que o momento chegara, ela estava relutante em sair de casa. Durante o último ano na escola, as duas amigas haviam se tornado um par. DemieSel. Todo mundo na escola dizia o nome das duas como se fosse um só. Quando Demi se tornou editora do jornal da escola, Selena estava ao lado dela, ajudando a editar as matérias. Ela vivia indiretamente através das conquistas da amiga, surfava na onda da popularidade dela, mas tudo acontecia num lugar que ela conhecia, em que se sentia segura.
– E se eu estiver esquecendo alguma coisa?
Demi atravessou o quarto e parou do lado de Sel. Puxou a tampa da mala da amiga e a fechou.
– Você está pronta.
– Não, você está pronta. Você está sempre pronta – disse Sel, tentando não deixar transparecer o tamanho de seu medo.
De repente ficou claro quanto sentiria falta dos pais e até mesmo do irmão. Demi a encarou.
– Nós somos uma equipe, não somos? As meninas da alameda dos Vagalumes.
– Somos, mas…
– Nada de mas. Nós vamos para a faculdade juntas, vamos entrar para a mesma república de estudantes e seremos contratadas pelo mesmo canal de TV. Ponto. É isso. Nós vamos conseguir.
Selena sabia o que era esperado dela, por Demi e por todo mundo: ela devia ser forte e corajosa. Se ao menos ela sentisse isso mais profundamente… Mas, como não sentia, ela fez o que costumava fazer nos últimos tempos perto de Demi. Sorriu e fingiu.
– Tem razão. Vamos lá.
O caminho de carro de Snohomish até o centro de Seattle, que em geral levava cerca de 35 minutos, passou num piscar de olhos. Selena mal falou, não parecia estar encontrando a própria voz, ao passo que Demi e sua mãe não pararam de tagarelar sobre a semana de apresentação nas repúblicas. A mãe parecia estar mais empolgada do que Selena com a aventura universitária das duas.
No Haggett Hall, as duas percorreram os corredores barulhentos e lotados até chegarem a um pequeno e lúgubre quarto de alojamento universitário no décimo andar. Ali ambas ficariam durante a semana de apresentação. Quando terminasse, elas se mudariam para uma república.
– Bem. Então é isso – disse o Sr. Gomez.
Selena foi até os pais e atirou os braços ao redor deles, formando o famoso abraço da família Gomez.
Demi ficou afastada, parecendo estranhamente posta de lado.
– Ande, Demi, venha cá – chamou a mãe de Sel.
Demi correu até eles e se deixou ser abraçada.
Durante a hora seguinte, eles desfizeram as malas, conversaram e tiraram fotos. Então, no fim, o pai de Selena disse:
– Bem, Margie, está na hora. Não queremos ficar presos no trânsito.
Houve mais uma rodada de abraços. Selena se agarrou à mãe, lutando contra as lágrimas.
– Vai ficar tudo bem – garantiu a mãe. – Confie em todos os sonhos que você tem. Você e Demi serão as melhores repórteres que este estado já teve. Seu pai e eu temos muito orgulho de você.
Selena assentiu e olhou para a mãe em meio a lágrimas.
– Eu te amo, mamãe.
Cedo demais, tudo estava terminado.
– Vamos ligar todos os domingos – assegurou Demi, indo atrás deles. – Logo depois da igreja.
E então, de repente, eles não estavam mais lá.
Demi se atirou na cama.
– Como será que vai ser a semana de apresentação? Aposto que todas as repúblicas vão querer a gente. Como poderiam não querer?
– Elas vão querer você – disse Selena baixinho.
Pela primeira vez em meses, ela se sentiu a menina que todos chamavam de Nerd tantos anos antes, a menina de óculos fundo de garrafa e calças jeans da Sears. Não importava que ela agora usasse lentes de contato, tivesse tirado o aparelho e aprendido a se maquiar para realçar seus traços. As meninas das repúblicas veriam tudo isso. Demi se sentou.
– Você sabe que eu só vou entrar para uma república se entrarmos juntas, certo?
– Mas isso não é justo com você.
Selena foi para a cama e sentou ao lado dela.
– Lembra da alameda dos Vaga-lumes? – disse Demi, falando mais baixo. Com o passar dos anos, aquelas palavras haviam se tornado uma frase chave, uma espécie de atalho para suas lembranças. Depois de pronunciadas, elas se transformavam numa rede de pesca que trazia tesouros. Era o jeito delas de anunciar que uma amizade que começara aos 14 anos – quando David Cassidy era bacana e uma música podia fazer chorar –, duraria para sempre.
– Eu não me esqueci.
– Mas você não entende – disse Demi.
– Não entendo o quê?
– Quando a minha mãe me abandonou, quem estava lá para me ajudar? Quando a minha avó morreu, quem segurou a minha mão e me aceitou? – disse e se virou para Sel. – Você. Esta é a resposta. Nós somos uma equipe, Sel. Amigas para sempre, haja o que houver. Certo? Ela deu um encontrão em Sel, fazendo a amiga sorrir.
– Você sempre consegue o que quer.
Demi riu.
– Claro que consigo. É um dos meus traços mais encantadores. Agora, vamos planejar o que vestir no primeiro dia…
A Universidade de Washington era tudo o que Demi esperava e mais um pouco. Espalhada por vários quilômetros e constituída de centenas de edifícios góticos, era um mundo em si mesma. O tamanho de tudo assombrava Sel, mas não Demi. Ela imaginava que, se vencesse ali, venceria em qualquer lugar. No momento em que se mudaram para a república, ela começou a se preparar
para seu trabalho de repórter de TV. Além de cursar as principais disciplinas de comunicação, lia pelo menos quatro jornais por dia e via o maior número de noticiários possível. Quando a sua grande oportunidade chegasse, ela estaria pronta.
Ela precisara da maior parte das primeiras semanas de aula para se orientar e visualizar qual deveria ser a Fase Um de seu plano acadêmico. Ela havia se reunido com o orientador da Escola de Comunicação tantas vezes que ele chegava a evitá-la nos corredores. Mas ela não se importava. Quando tinha perguntas, queria respostas. O problema, mais uma vez, era sua pouca idade. Ela não conseguiu se matricular nas turmas avançadas de jornalismo ou telejornalismo. Não havia charme ou insistência que fossem capazes de transpor a gigantesca burocracia daquela imensa universidade. Ela simplesmente teria de esperar sua vez.
Não era algo que soubesse fazer bem. Ela se inclinou e sussurrou para Sel:
– Por que tem uma disciplina obrigatória de ciências? Eu não preciso saber geologia para ser repórter.
– Psiu.
Demi franziu a testa e se recostou na cadeira. As duas estavam no Kane Hall, um dos maiores auditórios do campus. Da cadeira na parte mais alta da plateia, espremida entre quase quinhentos outros alunos, ela mal podia ver o professor, que não era professor coisa nenhuma, mas seu assistente.
– Podemos comprar anotações da palestra. Vamos embora. A redação do jornal abre às dez.
Selena nem olhou para a amiga, apenas continuou escrevendo.
Demi resmungou e se sentou irritada, cruzando os braços e contando os minutos para o fim da aula. No instante em que o sinal tocou, ela se levantou.
– Graças a Deus. Vamos embora.
Selena terminou as anotações e juntou as páginas, organizando tudo metodicamente.
– Você está montando os cadernos do jornal? Vamos lá. Quero me encontrar com o editor.
Selena se levantou e jogou a mochila sobre um ombro.
– Nós não vamos conseguir um trabalho no jornal, Demi.
– A sua mãe disse para você não ser tão negativa, lembra?
As duas desceram e se misturaram à barulhenta multidão de alunos.
Do lado de fora, o sol brilhava sobre o pátio de piso de tijolos. Perto da biblioteca Suzzallo, um grupo de estudantes de cabelos compridos estava reunido embaixo de um cartaz que dizia Fechem a usina nuclear de Hanford.
– Pare de usar a minha mãe quando não consegue as coisas do jeito que quer – reclamou Selena quando as duas estavam a caminho do local. – Nós não podemos nem fazer disciplinas de jornalismo antes do penúltimo ano.
Demi parou.
– Você realmente não vai comigo?
Selena sorriu e continuou caminhando.
– Nós não vamos conseguir o trabalho.
– Mas você vai comigo, não vai? Nós somos uma equipe.
– É claro que eu vou com você.
– Eu sabia. Você só estava implicando.
As duas continuaram conversando enquanto percorriam a área externa onde as cerejeiras estavam viçosas e verdes como a grama. Dezenas de estudantes usando shorts muito coloridos e camisetas jogavam Frisbee e altinho. Na redação do jornal, Demi parou.
– Pode deixar que eu falo.
– Nossa, estou chocada.
Dando risada, as duas entraram no prédio, se apresentaram na recepção a um rapaz de aparência desleixada e foram encaminhadas à sala do editor. Toda a reunião durou menos de dez minutos.
– Eu disse que você era jovem demais – repetiu Selly enquanto as duas voltavam para a república.
– Que saco. Às vezes me pego pensando que você nem quer ser repórter comigo.
– Isso é mentira. Você quase nunca pensa.
– Vaca.
– Bruxa.
Selena passou um braço ao redor de Demi.
– Vamos lá, Barbara Walters, eu acompanho você até em casa.
Demi estava tão deprimida com a reunião no jornal que Selena passou o resto do dia agradando-a para animá-la.
– Vamos lá – disse ela, afinal, horas mais tarde, quando as duas estavam de volta ao minúsculo quarto que dividiam na república. – Vamos nos arrumar.
Queremos estar lindas para a festa.
– E de que me serve uma festa idiota? Caras de repúblicas estão longe de ser o meu ideal.
Selena se esforçou para não rir. Tudo em Demi era grandioso – seus altos eram altíssimos e seus baixos, no fundo do poço. Estar na universidade só aumentava essas tendências. O curioso era que aquele mesmo campus imenso e lotado de gente que tinha de alguma forma aumentado as extravagâncias de Demi havia exercido um efeito oposto e tranquilizador em Sel. Ela se sentia mais forte a cada dia ali, cada vez mais pronta para a vida adulta.
– Você é tão dramática! Eu deixo você fazer a minha maquiagem.
Demi levantou o olhar.
– Deixa mesmo?
– É uma oferta com tempo limitado. É melhor você se mexer.
Demi se levantou num salto, segurou a mão dela e a arrastou pelo corredor até o banheiro, onde dezenas de meninas já estavam tomando banho, secando-se e arrumando os cabelos.
As duas esperaram por sua vez, tomaram banho e voltaram para o quarto. Felizmente, as outras duas colegas de quarto não estavam lá. O lugar minúsculo, ocupado principalmente por cômodas e escrivaninhas e um conjunto de beliches, mal tinha espaço suficiente para as duas se virarem. Demi passou quase uma hora arrumando os cabelos e fazendo a maquiagem das duas, então pegou o tecido que haviam comprado para as togas – dourado para Demi e prateado para Selena – e criou um par de roupas mágicas que ficavam presas por cintos apertados e alfinetes com strass. Selena examinou o próprio reflexo quando as duas ficaram prontas. O tecido prateado brilhante favorecia sua pele clara e os cabelos dourados e destacava o verde de seus olhos. Depois de todos os anos sendo nerd, às vezes ainda se surpreendia por conseguir ficar tão bonita.
– Você é um gênio – disse ela.
Demi deu um rodopio.
– Como eu estou?
A toga dourada ressaltava os seios grandes e a cintura minúscula da amiga, e uma profusão de cabelos cor de mogno cacheados e volumosos caíam sobre seus ombros à Jane Fonda em Barbarella. Sombra azul e delineador marcado nos olhos lhe davam uma aparência exótica.
– Você está maravilhosa. Os rapazes vão cair aos seus pés.
– Você se importa demais com amor. Deve ser por causa de todos aqueles romances que você lê. Esta é a nossa noite. Os rapazes que se fodam.
– Eu não quero foder com eles, mas sair com alguém seria legal.
Demi agarrou o braço de Selena e a guiou até o corredor, que estava cheio de meninas se arrumando, rindo e conversando, correndo de um lado para outro com secadores, modeladores de cabelos e toalhas. No andar de baixo, na sala de estar, uma garota ensinava às outras alguns passos de dança. Do lado de fora, Selena e Demi se misturaram à multidão que descia a rua. Havia gente por todos os lados naquela noite agradável de final de setembro. A maioria das repúblicas estava dando festas naquela noite. Havia garotas fantasiadas, algumas usando roupas comuns e outras quase sem roupa caminhando em grupos rumo a seus vários destinos. A casa Pi Delta era grande e quadrada, uma mistura relativamente moderna de vidro, metal e tijolos, localizada numa esquina. Por dentro, tinha paredes descascadas, mobília quebrada, rasgada e feia e uma decoração presa aos anos 1950. Não que desse para ver muita coisa com aquela multidão.
As pessoas estavam espremidas feito sardinhas, tomando cerveja em copos plásticos e balançando no ritmo da música. “Shout!” retumbava dos alto falantes e todos estavam cantando junto, pulando com a música. “A little bit softer now…”
Todos se abaixaram, pararam e então ergueram as mãos e se levantaram novamente, cantando juntos. Como sempre, no instante em que Demi entrou na festa, ela ficou “ligada”. Não havia mais resquício da depressão, do sorriso hesitante e da irritação por não ter conseguido o emprego. Selena observava Demi com espanto: a amiga atraía a atenção de todos instantaneamente.
– “Shout!” – gritou Demi, rindo.
Alguns meninos se aproximaram, atraídos por ela como mariposas pelo fogo, mas Demi mal parecia perceber. Ela invadiu a pista de dança, arrastando Selena atrás de si. Selena se divertiu como não fazia havia muito tempo. Depois de ter dançado em grupo “Brick House”, “Twistin’ the Night Away” e “Louie Louie”, estava suada e com calor.
– Eu já volto – gritou para Demi, que assentiu com a cabeça.
Foi para o lado de fora, onde se sentou na mureta de tijolos que demarcava o limite do terreno. O ar frio da noite refrescou seu rosto suado. Ela fechou os olhos e ficou balançando ao ritmo da música.
– A festa é lá dentro, sabia?
Ela olhou para cima. O garoto que havia falado com ela era alto, tinha os ombros largos e cabelos cor de trigo que caíam sobre os olhos muito azuis.
– Posso me sentar com você?
– Claro.
– Meu nome é Brandt Hanover.
– Selena Gomez.
– É a sua primeira festa de república?
– Está tão na cara assim?
Ele sorriu e passou de bonito para maravilhoso.
– Só um pouquinho. Eu me lembro do meu primeiro ano aqui. Era como estar em Marte. Eu sou de Moses Lake – disse ele, como se isso explicasse tudo.
– Cidade pequena?
– Um pontinho no mapa.
– Às vezes é mesmo meio opressivo.
A conversa continuou com facilidade a partir dali. Ele falou sobre coisas com que Selena se identificava. Fora criado numa fazenda, dava de comer a vacas antes do amanhecer e dirigia a caminhonete cheia de feno do pai aos 13 anos. Ele sabia como era se sentir ao mesmo tempo perdido e achado num lugar tão grande e espaçoso como a Universidade de Washington. Dentro da casa, a música mudou. Alguém aumentou o volume. Estava
tocando ABBA, “Dancing Queen”. Demi saiu correndo da casa.
– Sel! – chamou, rindo. – Aí está você.
Brandt se levantou no mesmo instante.
Demi franziu a testa para ele.
– Quem é este?
– Brandt Hanover.
Selena sabia exatamente o que ia acontecer a seguir. Por conta do que havia acontecido com Demi num bosque escuro anos antes, ela não confiava em rapazes, não queria ter nada com eles, e estava comprometida em proteger Sel de qualquer mágoa ou coração partido. Infelizmente, porém, Selena não tinha medo. Ela queria namorar, se divertir e até mesmo, quem sabe, se apaixonar. Mas como poderia dizer isso, se Demi estava apenas tentando protegê-la? Demi a agarrou pelo braço e a puxou, fazendo-a se levantar.
– Sinto muito, Brandt – disse ela, rindo um pouco alto demais enquanto arrastava Sel. – Esta é a nossa música.
– Vi o Brandt hoje. Ele sorriu para mim.
Demi se esforçou para conter a vontade de revirar os olhos. Nos seis meses desde aquela primeira festa, Selena havia encontrado uma maneira de mencionar Brandt Hanover pelo menos uma vez por dia. Dava para pensar que os dois estivessem namorando, de tanto que o nome dele era pronunciado.
– Deixe eu adivinhar: você fingiu não perceber.
– Eu sorri para ele também.
– Nossa. Um dia memorável.
– Pensei em convidá-lo para o baile da primavera. A gente podia ir em dois casais.
– Preciso escrever um artigo sobre o aiatolá Khomeini. Acho que, se eu continuar mandando matérias para o jornal, eles vão acabar publicando alguma coisa. Não seria nada mau você fazer um pouco mais de esforço para…
Selena parou de repente e se virou para a amiga.
Já sei! Eu renuncio à nossa amizade. Sei que você não tem interesse na nossa vida social, mas eu tenho. Se você não for…
Demi deu risada.
– Peguei você.
Selena não pôde deixar de rir.
– Vaca.
Deu o braço a Demi. Juntas, elas percorreram a calçada salpicada de grama da Rua 21 até o campus. No posto de segurança do campus, Selena disse:
– Estou indo para o Meany Hall. E você?
– Drama/TV.
– É isso aí! A sua primeira disciplina de telejornalismo… e com aquele cara famoso sobre quem você fala desde que chegamos aqui.
– Joseph Jonas.
– Quantas cartas você precisou escrever para conseguir entrar?
– Umas mil. E você devia estar indo comigo. Nós duas precisamos dessa disciplina.
– Eu vou fazer quando estiver no penúltimo ano. Quer que eu vá com você até lá?
Demi adorava a amiga por isso. De alguma forma, Selena sabia que, apesar de toda a coragem que exibia, ela estava nervosa. Tudo o que ela mais desejava poderia começar naquele dia.
– E como vou fazer minha entrada triunfal se tiver companhia?
Ficou observando Selena se afastar. Ali parada, sozinha em meio à multidão de alunos que ia de um prédio para outro, Demi respirou fundo, tentando se acalmar. Precisava parecer tranquila. Foi caminhando com confiança e entrou no prédio de Drama/TV, onde fez uma primeira parada no banheiro. Lá dentro, parou diante do espelho. Seus cachos estavam arrumados, perfeitos, assim como a maquiagem. A calça boca de sino e a bata branca com cinto dourado e colarinho indiano davam um ar ao mesmo tempo sexy e profissional. Quando tocou o sinal, ela se apressou pelo corredor, com a mochila batendo no bumbum conforme ela se mexia. No auditório, desceu ousadamente até a primeira fileira e se sentou. Na frente da sala, o professor estava atirado numa cadeira de metal.
– Eu sou Joseph Jonas – disse ele num tom de voz sexy e rouco de uísque. –
Quem me reconhecer tira nota máxima nesta disciplina.
Uma onda de risos percorreu a sala. A risada de Demi foi a mais alta de todas. Ela sabia mais do que o nome dele, conhecia toda a história de sua vida.
Ele havia saído da faculdade como uma espécie de garoto prodígio do jornalismo televisivo. Ele tivera uma rápida ascensão, tornando-se âncora antes dos 30. Então, simplesmente, ele se perdeu. Foi pego duas vezes dirigindo alcoolizado, sofreu um acidente de carro que lhe quebrou as duas pernas e feriu uma criança; então sua estrela caiu. Durante uns dois ou três anos, ninguém nem sequer falou nele, até que, afinal, ele reapareceu na Universidade de Washington, dando aulas. Jonas se levantou. Estava mal arrumado, com os cabelos castanhos compridos e barba de três dias, mas a inteligência em seus olhos escuros não havia diminuído nada. Ainda ostentava o selo da grandeza. Não era de admirar que houvesse conseguido vencer.
Ele entregou um plano de estudos a ela e começou a seguir em frente.
– A sua cobertura do caso Karen Silkwood foi inspiradora – disse ela, com um largo sorriso.

Ele fez uma pausa e olhou para ela. Havia alguma coisa inquietante na forma como ele a encarou – intensamente, mas apenas por um instante, como um raio laser sendo ligado e desligado – e passou por ela, rumo ao próximo aluno. Ele a achara só mais uma bajuladora que se sentava na primeira fila. Ela precisaria tomar mais cuidado no futuro. Nada importava mais naquele momento do que impressionar Joseph Jonas. Ela pretendia aprender tudo o que pudesse com ele.

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