Oito
– Meninas! Chega de enrolar.
Vamos pegar muito trânsito se não sairmos agora.
No velho quarto do sótão, Selena
estava parada na beira da cama, olhando para a mala que continha todos os seus
mais valiosos pertences. Um porta retrato com a imagem dos avós estava por cima
de tudo, apoiado entre uma foto dela com Demi na formatura e um maço com as
cartas que recebera da amiga. Embora esperasse por esse momento fazia meses
(ela e Demi haviam sonhado acordadas inúmeras noites, sempre começando com as
palavras quando estivermos
na faculdade ), agora
que o momento chegara, ela estava relutante em sair de casa. Durante o último
ano na escola, as duas amigas haviam se tornado um par. DemieSel. Todo mundo na
escola dizia o nome das duas como se fosse um só. Quando Demi se tornou editora
do jornal da escola, Selena estava ao lado dela, ajudando a editar as matérias.
Ela vivia indiretamente através das conquistas da amiga, surfava na onda da
popularidade dela, mas tudo acontecia num lugar que ela conhecia, em que se sentia
segura.
– E se eu estiver
esquecendo alguma coisa?
Demi atravessou o quarto e
parou do lado de Sel. Puxou a tampa da mala da amiga e a fechou.
– Você está pronta.
– Não, você está
pronta. Você está sempre pronta – disse Sel, tentando não deixar transparecer o
tamanho de seu medo.
De repente ficou claro
quanto sentiria falta dos pais e até mesmo do irmão. Demi a encarou.
– Nós somos uma equipe, não
somos? As meninas da alameda dos Vagalumes.
– Somos, mas…
– Nada de mas. Nós
vamos para a faculdade juntas, vamos entrar para a mesma república de
estudantes e seremos contratadas pelo mesmo canal de TV. Ponto. É isso. Nós
vamos conseguir.
Selena sabia o que era
esperado dela, por Demi e por todo mundo: ela devia ser forte e corajosa. Se ao
menos ela sentisse isso mais profundamente… Mas, como não sentia, ela fez o que
costumava fazer nos últimos tempos perto de Demi. Sorriu e fingiu.
– Tem razão. Vamos lá.
O caminho de carro de
Snohomish até o centro de Seattle, que em geral levava cerca de 35 minutos,
passou num piscar de olhos. Selena mal falou, não parecia estar encontrando a
própria voz, ao passo que Demi e sua mãe não pararam de tagarelar sobre a
semana de apresentação nas repúblicas. A mãe parecia estar mais empolgada do
que Selena com a aventura universitária das duas.
No Haggett Hall, as duas
percorreram os corredores barulhentos e lotados até chegarem a um pequeno e
lúgubre quarto de alojamento universitário no décimo andar. Ali ambas ficariam durante a semana de apresentação. Quando terminasse, elas se
mudariam para uma república.
– Bem. Então é isso – disse
o Sr. Gomez.
Selena foi até os pais e
atirou os braços ao redor deles, formando o famoso abraço da família Gomez.
Demi ficou afastada,
parecendo estranhamente posta de lado.
– Ande, Demi, venha cá –
chamou a mãe de Sel.
Demi correu até eles e se
deixou ser abraçada.
Durante a hora seguinte,
eles desfizeram as malas, conversaram e tiraram fotos. Então, no fim, o pai de Selena
disse:
– Bem, Margie, está na
hora. Não queremos ficar presos no trânsito.
Houve mais uma rodada de
abraços. Selena se agarrou à mãe, lutando contra as lágrimas.
– Vai ficar tudo bem – garantiu a mãe. – Confie em todos os sonhos que você tem. Você e Demi serão as melhores
repórteres que este estado já teve. Seu pai e eu temos muito orgulho de você.
Selena assentiu e olhou
para a mãe em meio a lágrimas.
– Eu te amo, mamãe.
Cedo demais, tudo estava
terminado.
– Vamos ligar todos os
domingos – assegurou Demi, indo atrás deles. – Logo depois da igreja.
E então, de repente, eles
não estavam mais lá.
Demi se atirou na cama.
– Como será que vai ser a
semana de apresentação? Aposto que todas as repúblicas vão querer a gente. Como
poderiam não querer?
– Elas vão querer você –
disse Selena baixinho.
Pela primeira vez em meses,
ela se sentiu a menina que todos chamavam de Nerd tantos anos antes, a menina
de óculos fundo de garrafa e calças jeans da Sears. Não importava que ela agora
usasse lentes de contato, tivesse tirado o aparelho e aprendido a se maquiar
para realçar seus traços. As meninas das repúblicas veriam tudo isso. Demi se
sentou.
– Você sabe que eu só vou
entrar para uma república se entrarmos juntas, certo?
– Mas isso não é justo com
você.
Selena foi para a cama e
sentou ao lado dela.
– Lembra da alameda dos
Vaga-lumes? – disse Demi, falando mais baixo. Com o passar dos anos, aquelas
palavras haviam se tornado uma frase chave, uma espécie de atalho para suas
lembranças. Depois de pronunciadas, elas se transformavam numa rede de pesca
que trazia tesouros. Era o jeito delas de anunciar que uma amizade que começara
aos 14 anos – quando David Cassidy era bacana e uma música podia fazer chorar
–, duraria para sempre.
– Eu não me esqueci.
– Mas você não entende –
disse Demi.
– Não entendo o quê?
– Quando a minha mãe me
abandonou, quem estava lá para me ajudar? Quando a minha avó morreu, quem
segurou a minha mão e me aceitou? – disse e se virou para Sel. – Você. Esta é a
resposta. Nós somos uma equipe, Sel. Amigas para sempre, haja o que houver.
Certo? Ela deu um encontrão em Sel, fazendo a amiga sorrir.
– Você sempre consegue o
que quer.
Demi riu.
– Claro que consigo. É um
dos meus traços mais encantadores. Agora, vamos planejar o que vestir no
primeiro dia…
A Universidade de
Washington era tudo o que Demi esperava e mais um pouco. Espalhada por vários
quilômetros e constituída de centenas de edifícios góticos, era um mundo em si
mesma. O tamanho de tudo assombrava Sel, mas não Demi. Ela imaginava que, se
vencesse ali, venceria em qualquer lugar. No momento em que se mudaram para a
república, ela começou a se preparar
para seu trabalho de
repórter de TV. Além de cursar as principais disciplinas de comunicação, lia
pelo menos quatro jornais por dia e via o maior número de noticiários possível.
Quando a sua grande oportunidade chegasse, ela estaria pronta.
Ela precisara da maior
parte das primeiras semanas de aula para se orientar e visualizar qual deveria
ser a Fase Um de seu plano acadêmico. Ela havia se reunido com o orientador da
Escola de Comunicação tantas vezes que ele chegava a evitá-la nos corredores.
Mas ela não se importava. Quando tinha perguntas, queria respostas. O problema,
mais uma vez, era sua pouca idade. Ela não conseguiu se matricular nas turmas
avançadas de jornalismo ou telejornalismo. Não havia charme ou insistência que
fossem capazes de transpor a gigantesca burocracia daquela imensa universidade.
Ela simplesmente teria de esperar sua vez.
Não era algo que soubesse
fazer bem. Ela se inclinou e sussurrou para Sel:
– Por que tem uma
disciplina obrigatória de ciências? Eu não preciso saber geologia para ser
repórter.
– Psiu.
Demi franziu a testa e se
recostou na cadeira. As duas estavam no Kane Hall, um dos maiores auditórios do
campus. Da cadeira na parte mais alta da plateia, espremida entre quase
quinhentos outros alunos, ela mal podia ver o professor, que não era professor
coisa nenhuma, mas seu assistente.
– Podemos comprar anotações
da palestra. Vamos embora. A redação do jornal abre às dez.
Selena nem olhou para a
amiga, apenas continuou escrevendo.
Demi resmungou e se sentou
irritada, cruzando os braços e contando os minutos para o fim da aula. No
instante em que o sinal tocou, ela se levantou.
– Graças a Deus. Vamos
embora.
Selena terminou as
anotações e juntou as páginas, organizando tudo metodicamente.
– Você está montando os cadernos do jornal? Vamos lá. Quero me encontrar com o editor.
Selena se levantou e jogou
a mochila sobre um ombro.
– Nós não vamos conseguir
um trabalho no jornal, Demi.
– A sua mãe disse para você
não ser tão negativa, lembra?
As duas desceram e se
misturaram à barulhenta multidão de alunos.
Do lado de fora, o sol
brilhava sobre o pátio de piso de tijolos. Perto da biblioteca Suzzallo, um
grupo de estudantes de cabelos compridos estava reunido embaixo de um cartaz
que dizia Fechem a usina
nuclear de Hanford.
– Pare de usar a minha mãe
quando não consegue as coisas do jeito que quer – reclamou Selena quando as
duas estavam a caminho do local. – Nós não podemos nem fazer disciplinas de
jornalismo antes do penúltimo ano.
Demi parou.
– Você realmente não vai
comigo?
Selena sorriu e continuou
caminhando.
– Nós não vamos conseguir o
trabalho.
– Mas você vai comigo, não
vai? Nós somos uma equipe.
– É claro que eu vou com
você.
– Eu sabia. Você só estava
implicando.
As duas continuaram
conversando enquanto percorriam a área externa onde as cerejeiras estavam
viçosas e verdes como a grama. Dezenas de estudantes usando shorts muito
coloridos e camisetas jogavam Frisbee e altinho. Na redação do jornal, Demi
parou.
– Pode deixar que eu falo.
– Nossa, estou chocada.
Dando risada, as duas
entraram no prédio, se apresentaram na recepção a um rapaz de aparência
desleixada e foram encaminhadas à sala do editor. Toda a reunião durou menos de
dez minutos.
– Eu disse que você era
jovem demais – repetiu Selly enquanto as duas voltavam para a república.
– Que saco. Às vezes me
pego pensando que você nem quer ser repórter comigo.
– Isso é mentira. Você
quase nunca pensa.
– Vaca.
– Bruxa.
Selena passou um braço ao
redor de Demi.
– Vamos lá, Barbara
Walters, eu acompanho você até em casa.
Demi estava tão deprimida
com a reunião no jornal que Selena passou o resto do dia agradando-a para
animá-la.
– Vamos lá – disse ela, afinal, horas mais tarde, quando as duas estavam de volta ao
minúsculo quarto que dividiam na república. – Vamos nos arrumar.
Queremos estar lindas para
a festa.
– E de que me serve uma
festa idiota? Caras de repúblicas estão longe de ser o meu ideal.
Selena se esforçou para não
rir. Tudo em Demi era grandioso – seus altos eram altíssimos e seus baixos, no
fundo do poço. Estar na universidade só aumentava essas tendências. O curioso
era que aquele mesmo campus imenso e lotado de gente que tinha de alguma forma
aumentado as extravagâncias de Demi havia exercido um efeito oposto e
tranquilizador em Sel. Ela se sentia mais forte a cada dia ali, cada vez mais
pronta para a vida adulta.
– Você é tão dramática! Eu
deixo você fazer a minha maquiagem.
Demi levantou o olhar.
– Deixa mesmo?
– É uma oferta com tempo
limitado. É melhor você se mexer.
Demi se levantou num salto,
segurou a mão dela e a arrastou pelo corredor até o banheiro, onde dezenas de
meninas já estavam tomando banho, secando-se e arrumando os cabelos.
As duas esperaram por sua
vez, tomaram banho e voltaram para o quarto. Felizmente, as outras duas colegas
de quarto não estavam lá. O lugar minúsculo, ocupado principalmente por cômodas
e escrivaninhas e um conjunto de beliches, mal tinha espaço suficiente para as
duas se virarem. Demi passou quase uma hora arrumando os cabelos e fazendo a
maquiagem das duas, então pegou o tecido que haviam comprado para as togas –
dourado para Demi e prateado para Selena – e criou um par de roupas mágicas que
ficavam presas por cintos
apertados e alfinetes com strass. Selena examinou o próprio reflexo quando as duas ficaram prontas. O tecido prateado
brilhante favorecia sua pele clara e os cabelos dourados e destacava o verde de
seus olhos. Depois de todos os anos sendo nerd, às vezes ainda se surpreendia
por conseguir ficar tão bonita.
– Você é um gênio – disse
ela.
Demi deu um rodopio.
– Como eu estou?
A toga dourada ressaltava
os seios grandes e a cintura minúscula da amiga, e uma profusão de cabelos cor
de mogno cacheados e volumosos caíam sobre seus ombros à Jane Fonda em Barbarella. Sombra azul e delineador marcado nos olhos lhe davam uma
aparência exótica.
– Você está maravilhosa. Os
rapazes vão cair aos seus pés.
– Você se importa demais
com amor. Deve ser por causa de todos aqueles romances que você lê. Esta é a nossa noite. Os
rapazes que se fodam.
– Eu não quero foder com
eles, mas sair com alguém seria legal.
Demi agarrou o braço de Selena
e a guiou até o corredor, que estava cheio de meninas se arrumando, rindo e
conversando, correndo de um lado para outro com secadores, modeladores de
cabelos e toalhas. No andar de baixo, na sala de estar, uma garota ensinava às
outras alguns passos de dança. Do lado de fora, Selena e Demi se misturaram à
multidão que descia a rua. Havia gente por todos os lados naquela noite
agradável de final de setembro. A maioria
das repúblicas estava dando festas naquela noite. Havia garotas fantasiadas,
algumas usando roupas comuns e outras quase sem roupa caminhando em grupos rumo
a seus vários destinos. A casa Pi Delta era grande e quadrada, uma mistura
relativamente moderna de vidro, metal e tijolos, localizada numa esquina. Por
dentro, tinha paredes descascadas, mobília quebrada, rasgada e feia e uma
decoração presa aos anos 1950. Não que desse para ver muita coisa com aquela
multidão.
As pessoas estavam
espremidas feito sardinhas, tomando cerveja em copos plásticos e balançando no
ritmo da música. “Shout!” retumbava dos alto falantes e todos estavam cantando
junto, pulando com a música. “A little bit
softer now…”
Todos se abaixaram, pararam
e então ergueram as mãos e se levantaram novamente, cantando juntos. Como
sempre, no instante em que Demi entrou na festa, ela ficou “ligada”. Não havia mais resquício da depressão, do sorriso
hesitante e da irritação por não ter conseguido o emprego. Selena observava Demi
com espanto: a amiga atraía a atenção de todos instantaneamente.
– “Shout!” – gritou Demi,
rindo.
Alguns meninos se
aproximaram, atraídos por ela como mariposas pelo fogo, mas Demi mal parecia
perceber. Ela invadiu a pista de dança, arrastando Selena atrás de si. Selena se
divertiu como não fazia havia muito tempo. Depois de ter dançado em grupo
“Brick House”, “Twistin’ the Night Away” e “Louie Louie”, estava suada e com
calor.
– Eu já volto – gritou para
Demi, que assentiu com a cabeça.
Foi para o lado de fora,
onde se sentou na mureta de tijolos que demarcava o limite do terreno. O ar
frio da noite refrescou seu rosto suado. Ela fechou os olhos e ficou balançando
ao ritmo da música.
– A festa é lá dentro,
sabia?
Ela olhou para cima. O
garoto que havia falado com ela era alto, tinha os ombros largos e cabelos cor
de trigo que caíam sobre os olhos muito azuis.
– Posso me sentar com você?
– Claro.
– Meu nome é Brandt
Hanover.
– Selena Gomez.
– É a sua primeira festa de
república?
– Está tão na cara assim?
Ele sorriu e passou de
bonito para maravilhoso.
– Só um pouquinho. Eu me
lembro do meu primeiro ano aqui. Era como estar em Marte. Eu sou de Moses Lake
– disse ele, como se isso explicasse tudo.
– Cidade pequena?
– Um pontinho no mapa.
– Às vezes é mesmo meio
opressivo.
A conversa continuou com
facilidade a partir dali. Ele falou sobre coisas com que Selena se identificava. Fora criado numa fazenda, dava de comer a vacas antes do
amanhecer e dirigia a caminhonete cheia de feno do pai aos 13 anos. Ele sabia
como era se sentir ao mesmo tempo perdido e achado num lugar tão grande e
espaçoso como a Universidade de Washington. Dentro da casa, a música mudou.
Alguém aumentou o volume. Estava
tocando ABBA, “Dancing
Queen”. Demi saiu correndo da casa.
– Sel! – chamou, rindo. –
Aí está você.
Brandt se levantou no mesmo
instante.
Demi franziu a testa para
ele.
– Quem é este?
– Brandt Hanover.
Selena sabia exatamente o
que ia acontecer a seguir. Por conta do que havia acontecido com Demi num
bosque escuro anos antes, ela não confiava em rapazes,
não queria ter nada com eles, e estava comprometida em proteger Sel de qualquer
mágoa ou coração partido. Infelizmente, porém, Selena não tinha medo. Ela queria namorar,
se divertir e até mesmo, quem sabe, se apaixonar. Mas como poderia dizer isso,
se Demi estava apenas tentando protegê-la? Demi a agarrou pelo braço e a puxou,
fazendo-a se levantar.
– Sinto muito, Brandt –
disse ela, rindo um pouco alto demais enquanto arrastava Sel. – Esta é a nossa
música.
– Vi o Brandt hoje. Ele
sorriu para mim.
Demi se esforçou para
conter a vontade de revirar os olhos. Nos seis meses desde aquela primeira
festa, Selena havia encontrado uma maneira de mencionar Brandt Hanover pelo
menos uma vez por dia. Dava para pensar que os dois estivessem namorando, de
tanto que o nome dele era pronunciado.
– Deixe eu adivinhar: você
fingiu não perceber.
– Eu sorri para ele também.
– Nossa. Um dia memorável.
– Pensei em convidá-lo para
o baile da primavera. A gente podia ir em dois casais.
– Preciso escrever um
artigo sobre o aiatolá Khomeini. Acho que, se eu continuar mandando matérias
para o jornal, eles vão acabar publicando alguma coisa. Não seria nada mau você
fazer um pouco mais de esforço para…
Selena parou de repente e
se virou para a amiga.
– Já sei! Eu renuncio à nossa amizade. Sei que você não tem interesse na nossa
vida social, mas eu tenho. Se você não for…
Demi deu risada.
– Peguei você.
Selena não pôde deixar de
rir.
– Vaca.
Deu o braço a Demi. Juntas,
elas percorreram a calçada salpicada de grama da Rua 21 até o campus. No posto
de segurança do campus, Selena disse:
– Estou indo para o Meany
Hall. E você?
– Drama/TV.
– É isso aí! A sua primeira
disciplina de telejornalismo… e com aquele cara famoso sobre quem você fala
desde que chegamos aqui.
– Joseph Jonas.
– Quantas cartas você precisou
escrever para conseguir entrar?
– Umas mil. E você devia
estar indo comigo. Nós duas precisamos dessa disciplina.
– Eu vou fazer quando
estiver no penúltimo ano. Quer que eu vá com você até lá?
Demi adorava a amiga por
isso. De alguma forma, Selena sabia que, apesar de toda a coragem que exibia,
ela estava nervosa. Tudo o que ela mais desejava poderia começar naquele dia.
– E como vou fazer minha
entrada triunfal se tiver companhia?
Ficou observando Selena se
afastar. Ali parada, sozinha em meio à multidão de alunos que ia de um prédio
para outro, Demi respirou fundo, tentando se acalmar. Precisava parecer
tranquila. Foi caminhando com confiança e entrou no prédio de
Drama/TV, onde fez uma primeira parada no banheiro. Lá dentro, parou diante do
espelho. Seus cachos estavam arrumados, perfeitos, assim como a maquiagem. A
calça boca de sino e a bata branca com cinto dourado e colarinho indiano davam
um ar ao mesmo tempo sexy e profissional. Quando tocou o sinal, ela se apressou
pelo corredor, com a mochila batendo no bumbum conforme ela se mexia. No
auditório, desceu ousadamente até a primeira fileira e se sentou. Na frente da
sala, o professor estava atirado numa cadeira de metal.
– Eu sou Joseph Jonas –
disse ele num tom de voz sexy e rouco de uísque. –
Quem me reconhecer tira
nota máxima nesta disciplina.
Uma onda de risos percorreu
a sala. A risada de Demi foi a mais alta de todas. Ela sabia mais do que o nome
dele, conhecia toda a história de sua vida.
Ele havia saído da
faculdade como uma espécie de garoto prodígio do jornalismo televisivo. Ele
tivera uma rápida ascensão, tornando-se âncora antes dos 30. Então,
simplesmente, ele se perdeu. Foi pego duas vezes dirigindo alcoolizado, sofreu
um acidente de carro que lhe quebrou as duas pernas e feriu uma criança; então
sua estrela caiu. Durante uns dois ou três anos, ninguém nem sequer falou nele,
até que, afinal, ele reapareceu na
Universidade de Washington, dando aulas. Jonas se levantou. Estava mal arrumado,
com os cabelos castanhos compridos e barba de três dias, mas a inteligência em
seus olhos escuros não havia diminuído nada. Ainda ostentava o selo da grandeza.
Não era de admirar que houvesse conseguido vencer.
Ele entregou um plano de
estudos a ela e começou a seguir em frente.
– A sua cobertura do caso
Karen Silkwood foi inspiradora – disse ela, com um largo sorriso.
Ele fez uma pausa e olhou
para ela. Havia alguma coisa inquietante na forma como ele a encarou –
intensamente, mas apenas por um instante, como um raio laser sendo ligado e
desligado – e passou por ela, rumo ao próximo aluno. Ele a achara só mais uma
bajuladora que se sentava na primeira fila. Ela precisaria tomar mais cuidado
no futuro. Nada importava mais naquele momento do que impressionar Joseph Jonas.
Ela pretendia aprender tudo o que pudesse com ele.
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