segunda-feira, 3 de março de 2014

Amigas Para Sempre Capítulo 10

Dez
Demi correu todo o caminho até a parada de ônibus na Rua 45.
– Vaca – murmurou, secando os olhos.
Quando o ônibus chegou, ela embarcou e pagou a passagem, resmungando “Vaca” mais duas vezes depois que encontrou um lugar e sentou. Como Selena podia ter dito aquelas coisas para ela? – Vaca – resmungou de novo, mas desta vez a palavra saiu com desolação. O ônibus parou a menos de uma quadra da casa de Joseph. Ela correu pela calçada a caminho da casinha ao estilo dos anos 1930 e bateu à porta. Ele atendeu quase que imediatamente, usando uma calça velha de moletom cinza e uma camiseta dos Rolling Stones. Pelo sorriso dele, Demi percebeu que a esperava.
– Oi, Demi.
– Vamos para a cama – sussurrou ela com a voz rouca, levando as mãos por baixo da camiseta dele e tirando-a pela cabeça. Os dois atravessaram a casa se beijando e abraçando, até chegarem ao pequeno quarto localizado nos fundos. Demi ficou colada nele, com os braços firmes, beijando-o intensamente. Não olhou para ele, não conseguiu, mas isso não tinha importância. Quando caíram na cama, estavam ambos nus e ansiosos. Demi se perdeu e entregou-se à própria dor no prazer que encontrou nas mãos e na boca dele. Quando acabou, os dois ficaram deitados na cama, enroscados, e ela tentou não pensar em nada exceto em quanto ele a fazia sentir-se bem.
– Você quer conversar sobre isso?
Ela se afastou um pouco dele, deitando nos travesseiros, e ficou olhando fixamente para o teto liso que havia se tornado tão familiar para ela quanto os próprios sonhos.
– O que você quer dizer?
– Qual é, Demi?
Ela virou de lado e o encarou, segurando a cabeça com a mão. Ele a tocou no rosto com um carinho suave.
– Você e Selena brigaram por minha causa, e eu sei quanto a opinião dela é importante para você. As palavras dele a surpreenderam, embora não devessem ter surpreendido. Depois que ficaram juntos, ela de alguma forma havia começado a revelar pedaços de si mesma a ele. Começara acidentalmente, um comentário aqui, outro ali, depois de transarem ou enquanto bebiam, e de alguma forma a coisa crescera. Ela se sentia segura na cama dele, livre de qualquer julgamento ou censura. Eram amantes que não se amavam, e isso tornava a conversa mais fácil. Ainda assim, naquele momento ela percebeu que ele havia prestado atenção a todo o seu falatório e deixado que as palavras formassem uma imagem. Saber disso fez com que ela de repente se sentisse menos solitária e, embora a assustasse, foi algo que não deixava de reconfortá-la.
– Ela acha que é errado estarmos juntos.
– É errado. Nós dois sabemos disso.
– Eu não me importo – disse ela de modo enfático, secando os olhos. – Ela é a minha melhor amiga. Ela deve me apoiar haja o que houver. A voz de Demi embargou nas últimas palavras, na promessa que as duas fizeram uma à outra tantos anos antes.
– Ela está certa, Demi. Você deveria ouvi-la.
Ela ouviu alguma coisa na voz dele, um estremecimento quase aparente que fez com que ela olhasse no fundo dos olhos dele, onde viu uma tristeza que a confundiu.
– Como pode dizer uma coisa dessas?
– Estou me apaixonando por você, Demi, e queria que isso não estivesse acontecendo – falou ele, com um sorriso triste. – Não fique tão assustada. Sei que você não acredita nisso.
A verdade daquelas palavras pesou no coração de Demi, fez com que se sentisse velha subitamente.
– Talvez um dia eu acredite.
Pelo menos era nisso que queria acreditar.
– Espero que sim – disse ele, dando-lhe um beijo suave nos lábios. – A agora, o que vai fazer a respeito de Sel?


– Ela não quer falar comigo, mamãe.
Selena se apoiou na parede estofada do minúsculo cubículo conhecido como sala do telefone. Havia precisado esperar por mais de uma hora até chegar sua vez naquela tarde de domingo.
– Eu sei. Acabei de falar com ela.
É claro que Demi ligaria primeiro. Selena não sabia por que isso a irritava. Ouviu o barulho de um cigarro sendo aceso do outro lado da linha.
– O que ela lhe contou?
– Que você não gosta do namorado dela.
– Só isso?
Selena precisava ser cautelosa. A mãe iria pirar se descobrisse a idade de Joseph e Demi ficaria muito furiosa se Selena virasse a mãe contra ela.
– Tem mais?
– Não – respondeu ela com rapidez. – Ele é completamente errado para ela, mamãe.
– A sua vasta experiência com homens lhe diz isso?
– Ela não foi à última festa porque ele não quis ir. Ela está deixando de aproveitar a vida universitária.
– Você realmente achou que Demi seria uma garota de república igual a qualquer outra? Qual é, Selly? Ela é… dramática. Cheia de sonhos. Não faria mal a você ter um pouco desse fogo, aliás.
Selena revirou os olhos. Sempre havia a sutil – ou nem tão sutil – pressão para ela ser como Demi.
– Não estamos falando sobre o meu futuro. Foco, mamãe.
– Só estou dizendo que…
– Eu ouvi o que você disse. Então o que eu faço? Ela está me evitando. Eu estava tentando ser uma boa amiga.
– Às vezes, ser uma boa amiga é não dizer nada.
– Então eu devo apenas ficar assistindo a ela cometer um erro.
– Às vezes, sim. E depois você fica por perto para juntar os cacos. Demi tem uma personalidade muito forte. É fácil esquecer o passado dela e como ela se magoa com facilidade.
– Então o que eu faço?
– Só você pode responder isso. Meus dias como seu Grilo Falante já passaram há muito tempo.
– Acabaram os sermões sobre a vida, é? Que ótimo. Justamente quando eu precisava de um.
Do outro lado da linha, o barulho de fumaça sendo assoprada.
– Eu sei que ela vai estar na sala de edição da KTVS à uma hora.
– Tem certeza?
– Foi o que ela me disse.
– Obrigada, mamãe. Eu te amo.
– Também te amo.
Selena desligou o telefone e voltou correndo para o quarto, onde se vestiu rápido e passou um pouco de maquiagem. Basicamente corretivo, para cobrir as espinhas que haviam pipocado na sua testa desde a briga das duas. Atravessou o campus em tempo recorde. Foi fácil. Naquela altura do mês, as pessoas estavam ocupadas, estudando para as provas finais. Na porta da KTVS, fez uma pausa, preparou-se como se estivesse indo para uma batalha, e entrou. Encontrou Demi onde a mãe dissera: numa ilha de edição, debruçada sobre uma pilha de fitas. Quando Selena entrou, ela ergueu o olhar.
– Ora, ora – disse, levantando e se endireitando. – Se não é a líder das moralistas de plantão.
– Eu sinto muito – disse Sel.
Demi fez uma careta, como se estivesse prendendo a respiração, e por fim a soltou.
– Você foi uma verdadeira vaca.
– Eu não devia ter dito tudo aquilo. É só que… nós nunca escondemos nada uma da outra.
– Então este foi o nosso erro.
Demi engoliu em seco e tentou sorrir. Não conseguiu.
– Eu não a magoaria de propósito por nada no mundo. Você é a minha melhor amiga. Eu sinto muito.
– Jure que não vai acontecer de novo. Nenhum cara vai voltar a ficar entre nós.
– Nunca.
Selena foi absolutamente sincera. Se precisasse grampear a própria língua para não repetir aquele erro, faria isso. A amizade das duas era mais importante do que qualquer relacionamento. Namorados vão e vêm, amigas são para sempre.
– Agora é a sua vez.
– O que você quer dizer?
– Jure que não vai mais virar as costas para mim e ficar sem falar comigo. Os últimos três dias foram horríveis.
– Eu juro.
Demi não sabia muito bem como havia acontecido, mas, de alguma forma, dormir com o professor se transformara num caso de amor verdadeiro. Talvez Selena estivesse certa, e a história tivesse começado como uma espécie de investimento na carreira para ela. Mas não se lembrava mais. Tudo o que realmente sabia era que, nos braços dele, ela se sentia contente, e essa era uma emoção nova. E, é claro, ele era seu mentor. No tempo que passavam juntos, ele lhe ensinava coisas que ela levaria anos para descobrir sozinha. O mais importante: ele havia lhe mostrado como era fazer amor. A cama dele havia se tornado seu porto seguro. Os braços dele, sua boia salva-vidas. Quando Demi o beijava e o deixava tocá-la com uma intimidade inimaginável, ela se esquecia que não acreditava no amor. A primeira vez, naquele bosque escuro em Snohomish, foi desaparecendo aos poucos de sua memória, até que um dia, afinal, descobriu que não carregava mais aquilo dentro de si. Sempre seria parte dela, uma cicatriz em sua alma, mas, como todas as cicatrizes, havia se transformado de algo chamativo e vermelho em uma linha fina e clara que só podia ser vista às vezes. Mas, mesmo com tudo isso, com tudo o que ele havia mostrado e dado a ela, estava começando a não ser o bastante. No primeiro semestre de seu ano de formatura, Demi estava começando a ficar impaciente com o mundo tranquilo da universidade. A CNN havia mudado a cara do telejornalismo. No mundo real, as coisas estavam acontecendo, coisas importantes. John Lennon havia sido assassinado do lado de fora do prédio onde morava em Nova York. Um cara chamado Hinkley atirara no presidente Reagan numa tentativa patética de impressionar Jodie Foster. Sandra Day O’Connor se tornara a primeira mulher na Suprema Corte. Diana Spencer havia se casado com o príncipe Charles numa cerimônia de conto de fadas tão perfeita que todas as meninas dos
Estados Unidos passaram o verão inteiro acreditando no amor e em finais felizes. Selena falava sobre o casamento com tanta frequência e com tanta riqueza de detalhes que dava para imaginar que ela havia sido convidada. E tudo isso havia sido manchete. Fatos ocorridos durante a vida de Demi. Porém, como ela estava na faculdade, ocorreram antes do seu tempo. Claro que
ela havia escrito artigos sobre essas notícias para o jornal universitário, e às vezes inclusive lia alguns trechos no ar, mas era tudo de faz de conta, exercícios de aquecimento para um jogo que ela ainda não tinha permissão de jogar. Ela ansiava por nadar nas verdadeiras águas das notícias locais ou nacionais. Havia ficado ainda mais cansada das festas das repúblicas e do zum-zum-zum que se fazia cada vez que alguém ficava noiva. Fugia à sua compreensão por que todas aquelas garotas das repúblicas queriam isso para suas vidas. Elas não sabiam o que estava acontecendo no mundo, não viam as possibilidades? Ela havia aproveitado tudo o que a Universidade de Washington tinha a oferecer, frequentado todas as aulas de telejornalismo e jornalismo impresso importantes e aprendido o que pudera durante um ano de estágio na emissora pública. Estava na hora de entrar no feroz mundo do noticiário de TV. Queria se enfiar numa multidão de repórteres e se acotovelar entre todos até chegar à frente.
– Você não está pronta – disse Joseph, com um suspiro.
Era a terceira vez que ele dizia isso em três minutos.
– Você está errado – disse ela, inclinando-se na direção do espelho acima da cômoda e passando mais uma camada de rímel.
Nos deslumbrantes primeiros anos da década de 1980, não havia excesso de maquiagem ou cabelos armados demais.
– Você me preparou, e nós dois sabemos disso. Você me fez deixar os cabelos com essa aparência sem graça, estilo Jane Pauley. Todos os meus blazers são pretos e meus sapatos parecem os de uma dona de casa de subúrbio. Pôs o bastão do rímel de volta no tubo e o girou lentamente, depois examinou as unhas postiças que havia colocado naquela manhã.
– Do que mais eu preciso?
Joseph se sentou na cama. Daquela distância, ele parecia ou entristecido ou cansado da discussão. Ela não sabia ao certo o quê.
– Você sabe a resposta dessa pergunta – disse ele de forma suave.
Ela revirou a bolsa em busca de outra cor de batom.
– Estou cansada da faculdade. Preciso entrar no mundo real.
– Você não está pronta, Demi. Um repórter precisa ter a mistura perfeita de objetividade e compaixão. Você é objetiva demais, fria demais. Esta era a crítica que a incomodava, e ele sabia disso. Ela passara anos sem sentir nada. Agora, de repente, devia ser compassiva e objetiva ao mesmo tempo. Empática, mas profissional. Não conseguia fazer isso direito, e tanto ela quanto Joseph sabiam disso.
– Eu ainda não estou falando em rede nacional. É só uma entrevista para um emprego de meio período até a formatura. Demi foi até a cama. Com o terninho preto e a camisa branca, era o retrato da elegância conservadora. Havia inclusive domado a sensualidade dos cabelos na altura dos ombros ao prendê-lo num coque banana. Sentada na beira do colchão, afastou uma mecha de cabelos dos olhos dele.
– Você simplesmente não está pronto para me soltar no mundo.
Ele suspirou e tocou no queixo dela com o nó dos dedos.
– É verdade que eu prefiro você na minha cama a fora dela.
– Admita: eu estou pronta.
Ela tinha a intenção de parecer sexy e adulta, mas o tremor vulnerável na voz a traiu. Ela precisava da aprovação dele da mesma forma como precisava de ar e de sol. Claro que conseguiria seguir em frente sem ela, mas com menos confiança. E naquele momento ela precisava de toda a confiança que pudesse angariar.
– Ah, Demi – disse ele, afinal. – Você nasceu pronta.
Sorrindo triunfantemente, ela o beijou – com vontade –, então se levantou e pegou a pasta de vinil. Dentro dela havia um punhado de currículos impressos em papel marfim grosso, vários cartões de visita que diziam Demetria Lovato, repórter de TV e uma fita com uma matéria que ela havia feito ao vivo para a KVTS.
– Quebre a perna – Joseph disse.
– Pode deixar.
Demi pegou o ônibus na frente da banca do Kidd Valley Hamburger. Embora fosse formanda, não levara seu carro para a faculdade. Estacionar era difícil e caro. Além disso, os Gomez adoravam a lata-velha de sua avó. Por todo o trajeto do distrito da universidade até a ponte do lago Union, pensou sobre o que sabia a respeito do homem com quem iria se reunir. Aos 26 anos, ele já era um respeitado ex-repórter que havia ganhado alguns importantes prêmios de jornalismo durante um conflito na América Central. Alguma coisa – nenhum dos artigos dizia o que – o havia trazido de volta para casa, onde ele mudara o rumo da carreira. Agora, era produtor do menor escritório de uma das estações de TV locais. Demi havia ensaiado sem parar o que iria dizer. Prazer em conhecê-lo, Sr. Ryan. Sim, eu tenho uma experiência impressionante para uma mulher da minha idade. Estou empenhada em me tornar uma jornalista de primeira linha e espero, não, pretendo… O ônibus parou fazendo barulho e fumaça na esquina da Rua 1 com a Broad. Demi desceu apressada. Enquanto estava parada embaixo da placa do ponto consultando suas anotações, começou a chover – não forte o bastante para exigir um capuz ou um guarda-chuva, mas suficiente para estragar os cabelos e borrar a maquiagem dos olhos. Abaixou a cabeça para proteger a maquiagem e correu a quadra que a separava de seu destino. O pequeno edifício de concreto com janelas sem cortinas ficava na metade da quadra, com um estacionamento ao lado. Dentro dele, consultou o quadro
na parede e encontrou o que queria: KCPO – Sala 201. Endireitou a postura, sorriu profissionalmente e foi até a sala 201. Lá, abriu a porta e quase deu um encontrão em alguém. Por um instante, Demi ficou perplexa. O homem na frente dela era lindo – cabelos pretos desalinhados, olhos azuis fortes e uma barba rala. Nem um pouco parecido com o que estava esperando.
– Você é Demetria Lovato?
Ela estendeu a mão.
– Sou. Sr. Ryan?
– O próprio – disse, apertando a mão dela. – Entre.
Ele a guiou através de uma sala pequena repleta de papéis, câmeras e pilhas de jornais por todo lado. Duas portas abertas revelavam outras salas vazias. Havia outro homem parado num canto, fumando. Era enorme, com pelo menos 1,95 metro, cabelos loiros desgrenhados e roupas com as quais parecia ter passado a noite. Sua camiseta ostentava uma gigantesca folha de maconha.
Quando os dois passaram, ele ergueu o olhar. – Esta é Demetria Lovato – o Sr. Ryan a apresentou.
– É a das cartas? – resmungou o sujeito grandalhão.
– Ela mesma – confirmou o Sr. Ryan, sorrindo para Demi. – Ele é o Mutt. Nosso cinegrafista.
– Prazer em conhecê-lo, Sr. Mutt.
Isso fez os dois darem risada, e o barulho da risada deles apenas confirmou sua ansiedade de que era jovem demais para aquilo.
Ele a levou até uma sala de canto e apontou para uma cadeira de metal diante de uma mesa de madeira.
– Sente-se – disse, fechando a porta atrás de si.
Ele se sentou atrás da mesa e olhou para ela.
Demi endireitou a postura, tentando parecer mais velha.
– Então é você que anda entupindo a minha caixa de correspondência com fitas e currículos. Tenho certeza de que, com toda a sua ambição, você pesquisou a nosso respeito. Nós somos a equipe de Seattle que trabalha para a KCPO em Tacoma. Não temos programa de estágio.
– Foi o que as suas cartas disseram.
– Eu sei. Eu as escrevi.
Ele se recostou na cadeira e pôs as mãos atrás da cabeça.
– Você leu meus textos e viu a minha fita?
– Na verdade, é por isso que você está aqui. Quando me dei conta de que você não iria parar de me mandar fitas de testes, achei que era melhor assistir a uma.
– E aí?
– E você vai ser boa um dia. Tem o que é preciso…
Um dia? Vai ser?
– Mas ainda está longe de estar pronta.
– É por isso que quero este estágio.
– O estágio que não existe, você quer dizer.
– Eu posso trabalhar de vinte a trinta horas por semana de graça, e não me importo se vou receber créditos para a faculdade ou não. Posso escrever textos, fazer checagens e pesquisa. Qualquer coisa. O que você tem a perder?
– Qualquer coisa? – repetiu ele, e agora a olhava com atenção. – Você faria café, passaria aspirador e limparia os banheiros?
– Quem faz tudo isso hoje?
– O Mutt e eu. E a Carol, quando ela não está fazendo reportagem.
– Então eu certamente farei isso.
– Então você fará o que for preciso.
– Sim.
Ele se recostou na cadeira, observando-a com atenção.
– Você entende que será pau para toda obra e não receberá nada por isso.
– Entendo. Posso trabalhar às segundas, quartas e sextas.
– Está bem, Demetria Lovato – disse ele por fim, e se levantou. – Vamos ver o que você pode fazer.
– Deixe comigo – respondeu ela, com um sorriso. – E é Demi.
Ele a levou de volta até a sala principal.
– Ei, Mutt, esta é a nossa nova estagiária, Demi Lovato.
– Legal – disse Mutt, sem levantar os olhos da câmera que tinha no colo.
Na porta, o Sr. Ryan fez uma pausa e olhou para ela.
– Espero que tenha a intenção de levar este trabalho a sério, Srta. Lovato. Ou esta será uma experiência com prazo de validade menor do que o do leite.
– Pode contar comigo, Sr. Ryan.
– Pode me chamar de Nick. Vejo você na sexta-feira. Às oito da manhã?
– Estarei aqui.
Ela passou e repassou o encontro em sua mente enquanto caminhava rapidamente pela rua até a parada de ônibus. Na realidade, ela havia acabado de criar o próprio estágio. Um dia, quando Phil Donahue a entrevistasse, ela contaria essa história para demonstrar sua determinação e ousadia. Sim, Phil. Foi uma atitude ousada, mas você sabe como é o telejornalismo. É um mundo muito competitivo, e eu era uma garota que sonhava alto.
Mas ela contaria a Selly primeiro. Nada era totalmente perfeito até ela compartilhar com a amiga. Aquele era o começo do sonho delas. As cerejeiras marcavam a passagem do tempo melhor do que qualquer calendário. Com botões cor-de-rosa fartos na primavera, extremamente verdes nos dias quentes e tranquilos de verão, lindamente matizados no começo das aulas e, agora, nuas naquele dia de novembro de 1981. Para Sel, a vida estava andando rápido demais. Ela estava anos-luz de distância da garota tímida e quieta que era ao chegar à universidade. Nos anos que passara na Universidade de Washington, havia aprendido a dirigir esquetes da semana de apresentação de calouros, a organizar e planejar uma festa para trezentas pessoas, a entornar um copo de cerveja e comer ostras cruas, a interagir com todos numa festa de república e se sentir confortável com pessoas que não conhecia, a escrever reportagens, a escolher o melhor ângulo para fazê-las ganhar a primeira página, e também a filmar essas mesmas reportagens. Seus professores lhe davam notas altas e lhe diziam sempre que ela tinha talento para o jornalismo. O problema, aparentemente, era seu coração. Ao contrário de Demi, que era capaz de ir em frente e fazer qualquer pergunta, Selena achava difícil se intrometer na dor das pessoas. Cada vez mais, ela deixava de lado suas próprias reportagens e preferia editar as de Demi. Ela não tinha o que era necessário para ser produtora de notícias de uma TV em rede nacional nem uma repórter de primeira linha. Todos os dias, quando comparecia às aulas de telejornalismo e comunicação, estava mentindo para si mesma. Ultimamente, sonhava com outras coisas. Pensava em entrar para a faculdade de direito para poder combater as injustiças sobre as quais escrevia, em escrever romances que fizessem as pessoas verem o mundo de uma maneira melhor, mais positiva… ou – e este era o sonho mais secreto de todos – se apaixonar. Mas como ela poderia dizer essas coisas a Demi? Demi, que havia segurado sua mão tantos anos antes, quando ninguém mais fazia isso, que havia criado o sonho diáfano de suas vidas como parceiras no noticiário de TV. Como ela poderia dizer à melhor amiga que não compartilhava mais do sonho dela? Deveria ser algo fácil de dizer. Elas eram meninas na época em que decidiram embarcar numa vida em conjunto. Nos anos que se passaram desde então, o mundo havia mudado muito. A guerra no Vietnã havia sido perdida, Nixon havia renunciado, o monte Santa Helena entrara em erupção e a cocaína havia se popularizado junto a uma nova geração de festeiros. O time de hockey dos EUA havia obtido uma vitória milagrosa nas Olimpíadas e um ator de segundo escalão fora eleito presidente. Dificilmente sonhos poderiam se manter estáticos em tempos de tanta incerteza. Ela simplesmente teria de enfrentar Demi, para variar, e lhe dizer a verdade, dizer esses são seus sonhos, Demi , e eu tenho orgulho de você, mas não tenho mais 14 anos e não posso segui-la para sempre.
– Quem sabe hoje – disse ela em voz alta, arrastando a mochila enquanto caminhava pelo campus cinzento e nebuloso.
Se ao menos ela tivesse seu próprio sonho, alguma coisa para substituir o da dupla de estrelas do jornalismo televisivo… Demi talvez aceitasse isso. O vago Eu não sei de Selena não seguraria muito a Tempestade Tropical Demi. Na saída do campus, ela se misturou ao fluxo de alunos e atravessou a rua, sorrindo e acenando para amigos ao passar por eles. Na casa da república, foi direto para a sala de estar, onde as garotas estavam sentadas nos sofás e nas poltronas e por todo o tapete verde-claro. Atirou a mochila no chão e encontrou um lugar para sentar entre Charlotte e Mary Kay.
– Já começou?
Umas trinta pessoas pediram silêncio quando a música-tema da novela começou a tocar. O rosto de Laura encheu a tela da TV. Ela estava linda e esvoaçante num maravilhoso vestido branco. Um suspiro coletivo percorreu a sala. Então Luke apareceu em seu terno cinza, sorrindo para a noiva. Exatamente neste instante, a porta da república se abriu num estrondo.
– Sel! – berrou Demi, entrando na sala.
– Psiiiiiu – todas fizeram em uníssono.
Demi se agachou atrás de Sel.
– Precisamos conversar.
– Psiu. Luke e Laura estão se casando. Você pode me contar da sua entrevista (você conseguiu: parabéns) quando terminar. Agora fique quieta.
– Mas…
– Psiu.
Demi se ajoelhou, resmungando.
– Como vocês todas podem ficar tão malucas por um branquelo magricela com um cabelo horroroso? Ele é um estuprador. Eu acho…
– PSIIIU!
Demi suspirou dramaticamente e cruzou os braços.
Assim que o capítulo terminou e a música começou a tocar de novo, ela se levantou.
– Vamos lá, Selly. Precisamos conversar.
Ela agarrou a mão da amiga e a levou para longe da falta de privacidade da sala de TV, percorrendo os corredores e descendo um lance de escada até o local secreto da república: o fumódromo. Era uma sala minúscula, atrás da cozinha, com dois pequenos sofás, uma mesa de centro repleta de cinzeiros cheios e o ar tão espesso e azulado que os olhos lacrimejavam, mesmo quando não havia ninguém lá. Era o lugar aonde se ia para fazer as fofocas pós-festas e para dar risada tarde da noite. Selena detestava aquele lugar. O hábito que lhe parecera tão bacana e rebelde aos 13 anos de idade agora era nojento e idiota.
– E então? Conte tudo. Você conseguiu o estágio, certo?
Demi sorriu.
– Consegui. Segundas, quartas e sextas. Alguns finais de semana. Estamos no caminho, Selly. Vou me sair bem neste trabalho e, quando nos formarmos, vou convencê-los a contratarem você. Seremos uma equipe, exatamente como sempre dissemos que seríamos. Selena respirou fundo. Vá em frente. Conte a ela.
– Você não deveria se preocupar comigo, Demi. Este é o seu dia, o seu começo.
– Não seja ridícula. Você ainda quer que formemos uma equipe, não quer?
Demi fez uma pausa e encarou Sel, que juntou coragem e abriu a boca. Então Demi riu.
– É claro que quer. Eu sabia. Você só estava brincando comigo.
Engraçadinha. Vou falar com o Sr. Ryan, que é o meu novo chefe, assim que ele não puder mais viver sem mim. Agora, preciso correr. Joseph quer saber da entrevista, mas eu precisava contar para você primeiro. Demi a abraçou com força e saiu.
Selena ficou lá parada, na saleta feia que fedia a cigarros velhos, olhando para a porta aberta.
– Não – disse ela baixinho. – Eu não quero fazer isso.

Não havia ninguém escutando.

2 comentários:

  1. buuuuuu! to amando a história. Joseph seu pedófilo sai de perto da Demetria. hahahahha parei. UUUm vai ter nelena é? interessante hahahahahahha. eu demorei pra alcançar pq os capítulos são grandes e ler tudo de vez cansa, sorry a demora ;s
    Posta logo *-*
    beijEMI

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  2. Amei ! Posta logo flor !!!!
    Te amo e amo todas as suas fics , são todas maravilhosas e tô amaaaandooooo essa história tá muito diva !
    Posta logo por favor ?!!!!

    By - Milena...!!! ;)

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