-Demi? Acorda! Vamos, você consegue. Demi, sou eu, Joe.
Acorda!
Lentamente as palavras começaram a fazer sentido. Demi abriu
os olhos, fechando-os com força ao perceber que a claridade fazia sua cabeça
doer.
-Ohhh! - ela gemeu. A dor parecia explodir por todas as
partes.
- Pronto, abra os olhos. Você vai ficar bem.
A voz forte de Joe continuava a forçá-la a acordar, mas ela
não queria. A cabeça doía. Sua bacia doía.
-O que aconteceu? Onde estou? - perguntou ela.
A memória voltou.
- Oh, não. O bebê está bem? Joe! - ela abriu os olhos e
tentou tocar o braço dele. Quando conseguiu, apertou com força. - Joe, o meu
bebê está bem?
- Levaremos você ao hospital o quanto antes. Fique comigo.
Você vai ficar bem. A ambulância vai chegar.
Ele pôs um estetoscópio e bombeou o aparelho de medir a
pressão. Disse um número para alguém ao lado.
Demi olhou para o lado e viu outro paramédico anotando em
uma prancheta.
- O tempo estimado para a chegada da ambulância é de dois
minutos - murmurou ele, olhando para Demi e sorrindo. - Você está em boas mãos,
senhorita. Joe e eu somos os melhores.
- Modestos, também - murmurou Joe. Vamos colocar você em uma
maca, para manter sua cabeça imóvel. Apenas para precaução. Onde mais está
doendo?
- Minha cabeça está me matando. O que aconteceu?
- Um carro avançou o sinal. Bateu na sua barriga. A droga do
motorista estava bêbado. Pelo amor de Deus, são apenas llh30 da manhã!
Demi se sentiu enjoada. Fechou os olhos.
- Está tão claro! Tem certeza de que Jamie está bem?
- Quem é Jamie?
- Ela deu ao bebê o nome de Jamie - disse Selena,
- Selena?
- Bem aqui. - Ela esticou a mão e tocou Demi no ombro. - Meu
Deus, você me assustou muito. Achei que você tivesse morrido até que esses
rapazes apareceram. Não é fantástico? Joe está trabalhando como paramédico hoje
e foi o primeiro a responder.
- Como ela está? - perguntou uma voz desconhecida.
Demi forçou o olhar e viu um policial fardado. Várias
pessoas, muita confusão. Ela fechou os olhos, desejando que a dor passasse.
- Levaremos a moça ao hospital, mas acho que o ela vai ficar
bem - disse Joe. - Você pode se informar com o médico mais tarde para marcar o
depoimento.
-Acho que não vamos precisar incomodá-la com isso. Há várias
testemunhas - disse o policial, locando o bloco de notas. - E temos o
motorista.
- Estou com sono - disse Demi.
- Espere mais um pouco - pediu Joe.
Logo em seguida, Demi estava presa sobre uma maca, com um
apoio de pescoço e sentiu ser levantada e colocada no interior frio e escuro de
uma ambulância. Ela esticou o braço e segurou Joe.
- Venha comigo - disse ela. Ela só estava pensando em olhar
um pouquinho para ele. Agora, aqui estava ele. E fazendo o seu trabalho. Ele
não olhou para ela uma só vez com aquele brilho que ela conhecia.
Será que seus ferimentos eram graves, ou ele se fechara
depois das declarações dela?
Ela ficou muito feliz em vê-lo, apesar das circunstâncias.
- Estaremos atrás de você - disse Joe.
- Por favor, você não pode vir comigo? Estou com medo - não
do hospital, não dos ferimentos, embora pudessem ser sérios. Demi estava com
medo da felicidade que sentia ao estar ao lado de Joe. Ela sentia muito a falta
dele, como se uma parte dela tivesse sido amputada e agora recuperada.
Um tempo depois, Joe subiu na ambulância. O veículo saiu e
ganhou velocidade.
Demi quase não podia ouvir a sirene, mas seu foco estava em Joe.
Ele se sentou ao lado dela, segurando seu pulso e anotando os dados.
- Eu não esperava vê-lo novamente - murmurou ela, querendo
atenção. O atendente da ambulância estava sentado do outro lado monitorando o
oxigênio.
- Fiquei muito assustado, quando chegamos lá e vi que era
você a pessoa caída no chão - disse Joe.
- Vou ficar mesmo bem?
- Acho que sim. E não há problemas com o bebê, até onde eu
sei. O médico vai lhe dizer com mais certeza.
- Aconteceu tão rápido!
- Eles pegaram o sujeito. Ele bateu em um carro estacionado
e simplesmente ficou lá.
- Ele está bem.
- Bêbado feito um gambá. Anestesiado demais com o álcool
para sentir alguma coisa - disse Joe enojado. - A polícia o levou.
- Eu poderia ter morrido - disse Demi lentamente. Em um
minuto, estava falando com Selena, no outro estava atravessando a rua e aquele
homem poderia ter me matado com o meu bebê.
- Mas não matou. Não pense assim. Mantenha o foco na sua recuperação.
Joe a observou fechar os olhos. Havia um hematoma em sua
testa. O exame preliminar no local do acidente não indicou ossos quebrados, mas
ela precisava de um raio X para confirmar.
Havia vários hematomas, especialmente na região da barriga,
no ponto de impacto. Se ela estivesse um pouco mais à frente na faixa de
pedestre o carro a teria acertado bem no meio, provavelmente arremessando-a no
ar, com um resultado bem diferente do que ocorreu.
Ele queria espancar aquele motorista. Como ele se atreve a
colocar a vida de outras pessoas em risco com sua embriaguez? Ele esperava que
o juiz esfregasse o livro na cara dele.
Joe nunca esquecerá do medo que sentiu quando desceu do
carro de resgate e reconheceu Demi. Por uma fração de segundo, ele achou que ela
estivesse morta.
Ela ia ficar bem, convenceu a si mesmo, desejando que o
sentimento de impotência passasse. Ele fizera seu trabalho e ela sairia do
hospital andando. A mão dela estava arranhada. Com leveza, ele esfregou o
polegar na pele ao lado do arranhão. Era muito macia. Ele odiava pensar no
trauma que o corpo dela sofrerá. Torcia para que o bebê estivesse bem. Ele
sabia que era preciso algo muito traumático para prejudicar um feto saudável.
Demi não podia perder o bebê depois de perde o marido. Não podia sequer pensar
sobre isso.
Talvez ela não o queira em sua vida, mas ele quer na sua.
Ele desejava que as coisas tivesse sido diferentes. Joe a respeitava demais
para insistir. Ele dera o melhor de si e ela disse não, ponto final.
Demi voltou a ficar inconsciente quando chegaram ao
hospital. Joe deu um rápido relato a médico da emergência e observou enquanto
ela era levada a uma pequena sala.
Joe foi atrás de um telefone. Ele procurou telefone do
consultório de Eddie e ligou. Era melhor que ele dissesse a Diana do que Joe.
E, em seguida, ligou para Virginia.
Joe preenchia o relatório do incidente quando Selena entrou
correndo no pronto-socorro.
- Ela está bem? - perguntou, indo até ele quando reconheceu
o rosto familiar.
- O médico ainda está lá com ela. Liguei para o padrasto
dela e para a sogra. Eles estão a caminho. Você pode ficar aqui, caso ela
precise de alguém antes da família chegar?
- Posso. Você não vai ficar? - perguntou Selena.
-Estou trabalhando.
Logo que terminar esse relatório, estarei de volta ao serviço e talvez tenha
que responder a outro chamado. Além disso, ela não me quer aqui.
Ele olhou para o relatório, feliz por notar que sua voz
mascarara a dor que sentia ao dizer aquelas palavras.
-Não tenha muita certeza disso. Ela gosta de você muito mais
do que admite - disse Selena. -Não desista dela ainda.
- Ela tem um jeito estranho de mostrar isso - comentou ele,
anotando os últimos dados. Por um instante, ele quis manter as esperanças, mas
Demi fora muito franca ao recusar o pedido de casamento e desprezando sua
declaração de amor. Joe era muito orgulhoso para insistir onde não era
desejado.
- Ela só está com medo de se machucar de novo - disse Selena.
- Existem vários tipos de machucados. Ela lhe disse que a
pedi em casamento e ela recusou? O que ela pensa que eu senti quando ela me deu
um fora? - perguntou ele, logo em seguida se arrependendo. Ele não precisava
mostrar ao mundo toda a dor que Demi lhe causara. Ele superaria isso.
- Ela não está pensando, está reagindo. Dê a ela uma outra
chance. - pediu Selena.
- Se ela perguntar, diga a ela que virei mais tarde, na
folga do jantar. Estou em serviço até amanhã de manhã. Mas virei aqui para
saber como ela está passando.
Ele anotou o número do seu celular em um pedaço de papel e
entregou a Selena, pedindo a ela que ligasse para ele tão logo tivesse notícias
de Demi.
Não conseguia superar o medo que sentiu ao vê-la imóvel no
chão. É claro que ele viria vê-la. Precisava saber se ela estava bem. Ele
desejava poder ficar, mas o dever lhe chamava. Dizendo a si mesmo que ela
estava em boas mãos, ele voltou ao carro de resgate, o qual Greg já havia
reabastecido.
- Pronto para partir? - perguntou Greg.
- Mais do que nunca - respondeu Joe, desejando poder ficar
com Demi.
Era pouco depois das sete quando Joe retornou ao hospital e
localizou o andar de Demi. Ele estava no horário do jantar e fizera Greg
deixá-lo ali.
Selena telefonara há algumas horas para informá-lo de que
Demi estava bem, exceto por alguns hematomas e uma leve contusão. Quando Selena
ligou, os pais de Demi e os Efron já tinham chegado. Ele se sentiu melhor ao
saber que a moça tinha uma família por perto.
Ele chegou na porta aberta do quarto onde ela estava,
sentindo-se inseguro. Talvez ele apenas desse uma olhadinha nela, sem que ela
percebesse, só para ver se estava tudo bem. Demi não queria vê-lo.
Estava deitada, apoiada no travesseiro conversando com a
mãe. Diana estava sentada ao lado da cama, com olhos preocupados. Eddie estava
sentado ao lado dela, passando a mão nas costas da mulher, como se a
consolasse.
-Joe! - quando Demi o viu, seu rosto se acendeu.
-Oi!-disse ele.
Demi sorriu.
- Selena disse que você voltaria. Entre.
Diana ficou de pé e foi cumprimentar Joe, abraçando-o com
força.
- Obrigada por cuidar tão bem dela - disse ela. - Fiquei
muito assustada quando Eddie foi em casa me apanhar. Mas deduzi que ela
estivesse em ótimas mãos até eu chegar aqui.
Eddie esticou a mão para cumprimentar Joe.
- Também quero agradecê-lo. Ela é especial, sabia?
- Claro que sei - respondeu, sorrindo. - Só estava fazendo
meu trabalho - disse ele.
- Então obrigado por fazer esse belo trabalho! Diana olhou
para Demi e depois para Joe.
- Se você pudesse ficar por alguns minutos, preciso dar uma
volta. Voltaremos logo, docinho - disse Diana a Demi. E então olhou para o
marido. Em questão de segundos, eles desapareceram pelo corredor.
- Muito bem, mãe - Demi falou em tom de brincadeira.
- Como você está? - perguntou Joe, preparando-se para se
sentar na cadeira que Diana desocupara.
- Minha cabeça está latejando como se tivesse uma banda
tocando dentro, mas eles não querem me dar nenhum medicamento, por causa da
minha perda de consciência. Minha barriga dói se eu me mexer um centímetro. As
mãos doem, o ombro também...
- Mas você está bem, apesar disso?
- Acho que sim.
- Ficarei toda roxa por um mês, com certeza, mas o médico
disse que os hematomas não são graves. E o bebê está bem. Passarei a noite aqui
só por precaução.
Joe olhou para ela por um tempo e esticou o braço, pegando a
mão dela. A pele de Demi era quente e suave. Ele esfregou o polegar sobre
aquela textura suave. Ele chegou bem perto de perdê-la. Mesmo se jamais a visse
novamente, queria que ela tivesse uma vida longa e feliz.
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