Joe se sentia como um touro em uma loja de porcelanas quando
entrou no estabelecimento. Era enorme, com tudo o que se podia imaginar para
bebês, de carrinhos a berços, de brinquedos a roupas.
-Ótimo negócio! - murmurou ele, seguindo Demi até a ala de
móveis.
- As pessoas sempre têm famílias - disse ela. -Mãe de
primeira viagem, em especial, querem de tudo para seus bebês. Eu ia comprar
algumas coisas de segunda mão. Eddie insistiu em pagar por novos.
Ele olhou para as roupinhas minúsculas penduradas nos cabides
por onde passavam. Será que bebês são mesmo tão pequenos? Essas roupas parecia
de brinquedo!
Demi parecia saber exatamente o que queria para seu bebê e
logo começou a conversar sobre os prós e os contras com o vendedor, olhando
para Joe de vez em quando.
- O que você acha? - perguntou ela.
- O que você quiser - disse ele. O vendedor ficou radiante.
Sem dúvida pensou que Joe era um bom marido prestes a ser pai. Teve vontade de
corrigir o mal entendido, mas hesitou. Não tinha problema. Jamais veria o rapaz
novamente na vida. Para que tornar a situação embaraçosa?
- Algo mais? - disse o vendedor, checando a lista.
- Quero uma cadeira de balanço como a que minha mãe comprou
aqui recentemente - disse Demi, caminhando em direção a uma seção de cadeiras.
Ela se sentou em uma delas e balançou par frente e para trás. Levantou-se e
experimento outra.
Joe a observava. Por um momento, quando ela fingiu estar
segurando um bebê para testar descanso de braço, ele a imaginou segurando um
filho seu. Cabelos e olhos castanhos, chorão e agitado, até que a mãe viesse
lhe alimentar e lhe acalmar.
Desviou o olhar e fez uma expressão zangada Ele não ia
seguir por essa estrada. E se o pior acontecesse e ele morresse em serviço?
Será que iria querer deixar uma mulher desamparada, sofrendo para cuidar dos
filhos, tal como sua mãe?
A única diferença de Demi era que ela não estava passando
por dificuldades. Tinha os pés no chão, tinha objetivos e uma rede de apoio à
volta, com essa idade, ela era mais forte do que sua mãe foi.
O vendedor terminou de fazer o pedido e falou sobre a data
de entrega com Demi.
- Entregue na próxima terça que estarei lá para montar -
disse ele, entrando na conversa. Joe sentiu ciúme do homem.
- Claro, senhor - disse o vendedor, afastando-se de
imediato. - Só preciso de um endereço e um telefone de contato, caso ocorra
algum imprevisto. Demi pegou no braço de Joe quando o vendedor saiu para
confirmar o pedido.
- Qual o problema? Você parece que vai comer vivo o coitado!
- Ele estava flertando com você!
- Deixe de ser bobo!
- Sim, estava.
- Estava? Ora, estou grávida! E daí?
- Continua sendo uma mulher bonita.
- Você está louco? Espere mais um ou dois meses e diga isso
de novo.
- Provavelmente diria o mesmo - resmungou ele.
Eles entraram no carro e se dirigiram ao Norte na Rodovia 1,
rumo à floresta. Demi adorava passear de carro com a capota abaixada. Tinha
muito o que falar enquanto Joe controlava o carro com destreza pelas curvas da
estrada. Ele a chamara de bela! E chegou a pensar que um estranho estava
flertando com ela. Que bom! Não que ela quisesse que alguém flertasse com ela.
Mas só a ideia de que ela não era mais invisível deixava-a feliz.
Zac já estava distante tempos antes de sua morte. Ela era
jovem, saudável e estava se apaixonando pelo homem ao lado dela. Será que ela
seria capaz de fazê-lo mudar de ideia sobre seu trabalho?
Ela se virou para ver as árvores que ficavam para trás. Não,
ela não podia desviar Joe de seu caminho. Se ele deixasse de fazer o que gosta,
em pouco tempo começaria a culpá-la por isso. E ela não tinha certeza se queria
um relacionamento com um homem que se dobrava a cada desejo dela. Não que não
gostasse de conseguir as coisas do seu jeito, mas não precisa disso o tempo
todo.
Será que ela conseguiria deixá-lo todos os dias, sem ter a
certeza de que ele voltaria para casa? Tal como Zac?
Quando chegaram à floresta de Muir, Demi olhou para ele.
- Vamos fazer uma caminhada?
-Depois de comermos. Há uma lanchonete aqui com sanduíches
deliciosos. São muito saudáveis, até mesmo para mulheres grávidas.
- Adoro esse lugar! - disse Demi. - Só estive aqui algumas
vezes.
- É um dos meus favoritos - disse Joe ao descer do carro.
Muir era uma antiga floresta de sequóias. O clima era bem
diferente de São Francisco e normalmente bem mais fresco. As enormes sequóias
se estendiam acima deles, deixando uma pequena sombra.
O almoço foi rápido e, logo em seguida, Demi caminhava pela
estrada de terra batida, delimitada por cercas de ambos os lados. Joe pegou em
sua mão.
- Você não está com frio, está? - perguntou ele. Aqui é bem
mais frio do que na cidade.
- Estou bem.
Com a mão de Joe entrelaçada na da moça, Demi estava bem
aquecida. E o seu coração batia rápido o suficiente para mantê-la quentinha o
dia inteiro. Ela tentou aproveitar a caminhada, para pensar na vida. Como se
apenas o pensamento tornasse uma ideia em realidade, ele parou em uma area
deserta da trilha e se inclinou para beijá-la.
Demi desejou que o rápido tocar de lábios evoluísse em algo
mais, mas eles estavam em um local público e outros visitantes podiam aparecer a
qualquer momento.
Ela nunca havia vindo aqui com Zac, apenas com a mãe. O fato
de Joe trazê-la tornava o evento algo especial. E ela planejava aproveitar cada
instante da experiência.
Quando finalmente partiram em direção à cidade para
encontrar Trevor e Jill, Demi já estava ficando cansada. Mesmo assim, ela não
sugeriu a Joe que cancelasse o encontro. Queria ver Jill de novo, além da
interação entre Joe e os amigos.
Era uma ótima oportunidade de vê-lo e entendê-lo mais,
embora isso significasse brincar com fogo. Até agora, tudo tem sido muito bom.
Ele seria um ótimo parceiro e ela também suspeitava que ele seria um ótimo pai.
Mas Demi precisava manter as coisas em perspectiva. Ele não estava interessado
em relacionamentos, muito menos em casamento. Ela também não, então seriam
amigos.
Trevor e Jill a cumprimentaram calorosamente. Jill a
convidara para entrar na cozinha, enquanto terminava de preparar o jantar. Os
homens ficaram na sala.
-Você já se instalou no apartamento novo? Perguntou Jill.
- Praticamente sim - disse Demi, sentando-se na cadeira em
frente à bancada, observando JilI andar de um lado para o outro na cozinha. -
Posso ajudar em alguma coisa?
- Não, mas me agrada muito a companhia.
- Nós fomos comprar coisas para o bebê hoje - disse Demi.
- Nós?
- Joe e eu. - Jill sorriu.
- Que bom! Estava torcendo para que vocês dois se
acertassem. Ele é um rapaz ótimo e precisa de alguém especial.
Demi ficou surpresa com o comentário.
- Somos apenas amigos.
- Os melhores casamentos são entre amigos que são também
amantes, você não acha? – perguntou.
- Casamento? Nem conheço ele direito! E ainda com as
complicações...
- Oh, sinto muito. Quase me esqueci sobre seu marido. Claro
que ainda é cedo e tudo o mais. Não estou dizendo que vocês dois vão sair
correndo para o Tahoe para se casarem.
Demi pensou na última vez em que foi até o Tahoe. Ela e Zac
se casaram às pressas, mas nunca chegaram a construir um casamento. Se ela se
arriscasse nessa aventura mais uma vez, certamente não incluiria um casamento
no Lago Tahoe.
- Joe não quer se casar, ela deu de ombros, e eu não quero
me casar com um bombeiro - disse Demi com convicção.
- E por que não? Eles são ótimos. E amantes muito
fervorosos! - Demi riu do comentário de Jill.
- Você nunca fica com medo de Trevor sair para o trabalho e
nunca mais voltar?
- Na verdade, não. Confio em que tudo dê certo. Mas se não,
o que mais eu faria? Viver com medo de um futuro que talvez nunca aconteça?
Quero aproveitar a vida ao máximo agora. Tenho um ótimo marido, um bom emprego
e se o destino for legal comigo, terei tudo isso até à velhice.
- Mas e se esse não for o caso?
- Então que assim seja. Você acha melhor perder o grande
amor da sua vida por preocupar-se com o que talvez nunca aconteça? - retrucou
Jill.
Amor da sua vida. Demi chegou a pensar que Zac fosse o amor
da sua vida. Mas isso foi quando estavam na escola. Ultimamente, entretanto,
ela andava mudando de ideia sobre algumas coisas...
- É muito difícil perder alguém que se ama disse Demi.
- Aposto que sim. Ainda não passei por isso. Meus pais e
meus avós ainda estão todos vivos Mas as pessoas não podem se anular depois
morte de alguém. A morte é algo natural. Olhe ajude-me a levar a comida e
depois vamos chamar os homens.
Demi levou o prato de rosbife e voltou para apanhar a
salada. Jill levou as batatas e os pães Quando chamaram Trevor e Joe, eles
vieram prontamente.
Demi achou que houvesse comida suficiente para alimentar um
pequeno exército, mas com os dois, homens ali, a comida rapidamente
desapareceu, JiII e Trevor a mantiveram entretida. Trevor continuava a contar
histórias do quartel. Joe não fazia parte de quase nenhuma delas, pois fora
transferido para lá há pouco tempo e ainda era considerado novato. Ele agia de
maneira defensiva às vezes, mas pelo brilho em seus olhos, Demi sabia que ele
estava brincando com Trevor.
Já era bem tarde quando Joe sugeriu que fossem embora. Demi
estava cansada, mas aproveitou bastante a noite.
- Eles são pessoas ótimas - disse ela quando Joe saiu com o
carro, em direção ao apartamento dela.
- Eu sei. Trevor também é muito engraçado no quartel.
- Todos os rapazes são assim? Você parece levar a vida de
uma maneira bastante descontraída.
- A vida é bela, por que não deveria? A maioria das pessoas
no quartel é bem otimista. E você, não é?
Demi sentia que a sua postura em relação ao mundo era mais
positiva do que negativa. Embora havia perdido um pouco disso nesses últimos
meses.
- Acho que sim. Mesmo quando sou derrubada, rapidamente me
levanto.
Ela ficou surpresa ao se dar conta de que havia se
levantado. Ainda lamentava a morte de Zac mas estava preocupada com o futuro,
com o nascimento da filha e em conseguir o diploma de professora.
- Obrigada pelo passeio, foi ótimo - disse ela quando Joe
estacionou o carro em frente ao prédio.
- Voltarei na terça para montar os móveis – disse ele.
- Não precisa! - disse ela.
- Precisa sim! - Ele passou a mão nos cabelos dela, sentindo
a suavidade de sua pele e puxou para perto. Seu beijo foi suave, doce, embora
breve demais.
Na terça de manhã, Joe acordou um tanto ansioso. Ele não via
Demi havia três dias. Até onde sabia, três dias era tempo demais. Desejou que
ela não tivesse se mudado para o outro lado da cidade. Uma coisa era esbarrar
nela ali naquele mesmo prédio, outra era esbarrar nela lá do outro lado da
cidade. Sabia que ele teria vindo só para vê-la.
- E o que tem de errado? - perguntou ele ao se barbear.
Estar com ela deixava-o mais feliz.
Olhou fixamente para sua imagem no espelho Então isso era o
amor? Será que ele estava se apaixonando por uma viúva que não queria mais se
casar
Ele molhou a lâmina e se concentrou no ato de se barbear.
Filosofia a essa hora da manhã não era um passatempo predileto. E quanto mais
ele pensava sobre isso, mais ele pensava se podia convencê-la em se arriscar pelo
menos aprofundar a intimidade para ver aonde levaria.
Ele jamais pensara em se casar, mas se Demi o fez mudar de
ideia, talvez ele pudesse fazê-la também.
Joe bateu com o gesso na armação da porta na pressa de se
vestir. Sentiu apenas uma pequena dor. Estava certamente cicatrizado. Já estava
na hora. Estava entediado ali sozinho e sem nada para fazer.
Depois de comer, partiu para o encontro de Demi. Não podia
mais esperar para vê-la.
Quando ela abriu a porta, meia hora depois, Joe sentiu o
impacto de vê-la. Os olhos dela se arregalaram quando o viu. Podia jurar que
percebera uma pontada de felicidade em seus olhos. Ela gesticulou, convidando-o
para entrar.
- O que você está fazendo aqui tão cedo? - perguntou ela.
Estava vestida. O short revelava as suas pernas torneadas. A
blusa larga não camuflava muito bem a barriga cada vez maior. Exceto por aquela
elevação, ela ainda estava em forma.
Os cabelos brilhavam nos ombros. Ele queria locá-los, deixar
que as madeixas deslizassem entre seus dedos. Se ele chegasse mais perto, podia
sentir o perfume especial dela. Ele se aproximou um pouco e Demi veio lhe
cumprimentar.
Joe a beijou, chegando ainda mais perto, tendo-a em seus
braços. Ela era doce e quente! Queria se perder nos braços dela e passar o
próximo milênio sem se mexer.
Um golpe rápido em seu abdômen fez com que ele se afastasse.
- O que foi isso?
Demi riu, pegando a mão dele e levando-a até à barriga.
- A menininha aqui está toda agitadinha - disse ela,
segurando a mão de Joe. Em apenas alguns segundos, Joe percebeu o movimento
mais um chute. Ficou extasiado. Esse era o bebê dela, mexendo-se em seu ventre,
tornando sua presença notável. Ele nunca havia sentido um bebê na barriga da
mãe. Eles cruzaram olhares ao compartilhar esse momento.
- E isso dói?
-Não. Às vezes, é um pouco desconfortável, creio que
conforme ela cresça e o espaço se torne mais apertado, fique mais
desconfortável ainda, mas não dói. Eu até acho legal.
- Eu também.
Alguns minutos depois, a "atividade" parou.
- Por enquanto, acabou - disse Demi.
Joe levantou a mão e tocou-a no rosto. Ele a beijou
agradecendo por ter compartilhado esse momento com ele.
Ele respirava pesado quando se afastou. Esse não era o lugar
nem a hora para seguir com isso. Demi estava abalada pela morte do marido e os entregadores
chegariam a qualquer momento.
- Quer café? - perguntou ela. Joe ficou feliz ao notar que
ela respirava de maneira tão intensa quanto ele. Sua boca estava rosada por
causa do beijo e os olhos tinha um quê de mistério que as mulheres têm quando
são pegas de surpresa.
Ele não queria café, queria Demi. - Tudo bem - disse ele,
caminhando pela sala até o pequeno corredor que dava para o quarto do bebê. As
cortinas já estavam nas janelas. Mas o quarto estava vazio. Logo estaria
preenchido com os móveis no fim de semana escolhidos.
Ele queria mais do que apenas montar os móveis. Queria dar
um presente ao bebê. Mas os pais dela haviam comprado tudo o que precisava.
Pelo menos, ele podia montar tudo.
E difícil de acreditar que daqui a pouco terei uma menininha
dormindo aqui - disse ela da porta, segurando uma caneca de café.
Ele pegou e agradeceu, pensando nela como sendo jovem demais
para ser mãe.
- Você vai conseguir estudar no próximo semestre?
- Acho que sim. Talvez peça uma prorrogação nas provas
finais, mas estou torcendo para conseguir sim. Se não, posso adiar o semestre.
Vai atrasar um pouco minha formatura, mas posso resolver isso.
- Quem vai cuidar do bebê?
Ela se virou e seguiu na frente até a sala de estar.
- Isso ainda está aberto a discussões. Virgínia queria criar
o bebê sozinha. Ou pelo menos queria, até que descobriu que será uma menina.
-E daí?
- Acho que ela pensava que seria um menino como Zac. Pensou
que pudesse reviver a infância dele através do neto.
-Não seria o mesmo.
- Eu sei disso. Acho que ela também sabe, agora. Então, ela
é alguém que pode ficar com o bebê enquanto tenho aulas.
- E sua mãe?
- Até que eles comecem a viajar. Ela tem paixão por viagens.
O que quer que aconteça, encontrarei alguém.
Por um breve momento, Joe pensou em se voluntariar. Ele
adoraria cuidar do bebê de Demi. Podia levá-la até o quartel e mostrá-la para
todos. Podia levá-la à praia e observá-la olhar para o mar com os olhos bem
arregalados, ou seguir uma gaivota voando pelo céu.
Ele desviou o olhar. Estava perdendo a noção das coisas.
Muita inatividade deve ter atrofiado o cérebro. Ele não era do tipo que
paparicava bebês. Era um bombeiro. Um lobo solitário...
Sentou-se no sofá e bebeu o café. Logo que os móveis
chegassem ele teria o que fazer, além de dar asas a sua fantasia.
Demi trouxe bolinhos de canela e sentou-se em uma cadeira
próxima do sofá.
A manhã já estava pela metade quando os móveis chegaram.
Como Demi escolhera um modelo mais simples do que o da mãe, o berço e a cadeira
de balanço foram montados rapidamente. Joe apertou cada parafuso e se assegurou
de que ainda estivesse funcionando bem. Em seguida, testou a cadeira de
balanço. Se podia aguentar o seu peso, aguentaria o de Demi.
- Como está? - perguntou ela, enquanto ele se balançava. Ela
trouxera os lençóis do quarto e estava preparando a cama. Funciona
perfeitamente. Sei que terei de lavar tudo isso de novo para quando ela nascer,
mas acho que assim faz o quarto parecer pronto - disse ela, alisando o lençol
do pequeno colchão.
Joe a observava enquanto ela trabalhava. Quando ela se
abaixou, teve vontade de tocar no bumbum de Demi para sentir a firmeza de suas
curvas. Quando ela se endireitou e arqueou as costas levemente, suas mãos
ansiavam em tocar nos seios dela, acariciar a pele que ele ja sabia ser tão
suave quanto seda.
Ele ficou de pé de repente, aquilo o deixava louco. Era
melhor seguir em frente com o desejo ou sair logo dali.
- Você está com fome? - perguntou Demi. - Posso fazer o
almoço.
Ele pegou as caixas de papelão, dobrando os pedaços maiores.
- Estou sim, mas vamos sair e comer fora.
- Não me importo de cozinhar.
-Mas vamos assim mesmo - lá fora, havia outras pessoas, e
podia se concentrar em outras coisas além de Demi e no quanto ela parecia
maravilhosa...
- Tudo bem, deixe-me tomar um banho.
- Eu levo isso para o lixo, se você me diz onde é, e depois
volto e lavo... - falou Joe.
A batida na porta os interrompeu.
Ele terminou de pegar o lixo quando ela foi atender à porta.
Quando ouviu a voz de Virginia. não ficou surpreso. Demi tinha uma paciência
incrível para lidar com a mulher.
Como ela reagiria ao vê-lo aqui?
Ele pegou todas as peças maiores, juntando algumas das
menores também. Joe equilibrou tudo e saiu.
- Então eu disse a James... - a voz de Virginia foi
desaparecendo ao ver Joe.
- O que ele está fazendo aqui? - perguntou.
- Joe, você se lembra de Virginia, não se lembra? - disse
Demi. - Virginia, Joe estava me ajudando a montar os móveis do bebê. Entre e
venha ver o que escolhi.
A sogra olhou para ele antes de seguir Demi.
Alguém poderia ter segurado a porta antes de sair, ele
pensou, tentando encontrar a maçaneta debaixo de todo aquele papelão. Se ele
não segurasse firme, a pilha cairia e se espalharia para todos os lados.
Cinco minutos depois, ele voltou ao apartamento já havia
deixado a porta destrancada, pois ia retornar. Podia ouvir as vozes vindas do
quarto do bebê. A fim de evitar encontrar-se com Virginia, foi até o banheiro
para lavar as mãos.
Havia itens femininos por toda a parte. Ele sorriu ao ver a
lâmina de depilação cor-de-rosa, os potes de creme e hidratantes. Será que Demi
usava mesmo tudo aquilo ali exposto? Ou será que tudo aquilo era para ocasiões
especiais?
Ele gostaria de vê-la produzida. Talvez ele pudesse levá-la
para sair e comemorar os móveis novos. Podiam jantar e depois ir dançar. E
depois um drinque na casa dele ao final da noite?
Lavou o rosto com água fria, na esperança de voltar a pensar
de maneira sensata. Demi não era o tipo de mulher que dormiria casualmente com
quem quer que fosse. Além do mais, estava prestes a ser mãe.
Ela pareceu feliz em vê-lo hoje de manhã, mas será que não
foi apenas por educação? Como alguém poderia se dispor a manter outra pessoa
feliz pelo resto da vida? Quem quer que seja que tenha inventado o casamento,
não pensou muito bem nos detalhes... Mas, por um instante, Joe quase desejou
arriscar.
Demi respirou fundo e tentou manter o controle. Se Virgínia
dissesse mais uma palavra sobre a presença de Joe, ela começaria a gritar.
- Ele é um amigo que veio me ajudar a montar os móveis do bebê
- explicou Demi mais uma vez.
A voz deve ter penetrado fundo em Virgínia. A ex-sogra olhou
para ela e disse:
- É o que você diz. James poderia ter feito isso. Ou seu
novo padrasto.
- Eddie está ocupado. Eu sei que James poderia ter ajudado,
mas Joe se ofereceu. Bombeiros passam o tempo livre ajudando as pessoas. Ele
tem experiência nesse tipo de coisa.
- Isso não me parece certo. As pessoas vão começar a falar.
- Que pessoas? - perguntou ela. Demi não era nenhuma figura
pública com quem todos se preocupavam. Para as pessoas que contam, até agora
ninguém pareceu achar nada extraordinário.
- Não faz nem um ano que Zac morreu.
- Eu sei quanto tempo faz que ele morreu. E quanto tempo faz
que ele está longe. São duas coisas diferentes.
Demi não queria ter essa conversa com Virginia. Mas talvez
podia fazê-la entender um pouco mais a sua situação se esclarecesse as coisas.
- Virgínia, ele saiu daqui há quase dois anos. Exceto por
uma folga de uma semana há um ano e quando nos casamos em fevereiro, eu quase
não o via por todo esse tempo. Eu sinto como se ele tivesse partido há quase
dois anos e não que ele tenha morrido.
Virgínia pareceu em choque.
- Ele só estava longe, não estava morto.
- Eu sei. Mas de certa forma, as coisas mudaram quando ele
partiu. Eu comecei a faculdade e ele abraçou a carreira militar. Já não
tínhamos mais as mesmas coisas em comum.
- E você e esse Joe têm coisas em comum, eu imagino...
- Nem tanto. Não estamos envolvidos, apesar do que você
pensa. Não que eu não queira que estivéssemos.
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