Na terça-feira de manhã, Selena chegou antes das oito.
O que está fazendo aqui? - perguntou Demi, cumprimentando a
amiga.
Tirei um dia de folga para ajudar na mudança.
Não minta, querida! Você quer é conhecer Joe! - disse Demi,
rindo. - Mas qualquer que seja a razão, estou feliz em vê-la.
Aqui está: pão e café com leite - disse Selena, mostrando
uma sacola branca. A bebida quente equilibrada em uma bandeja de papelão. -
Vamos comer? Só então terei forças para fazer o que você quiser.
Acho que dá tempo de comer. Joe e os amigos dele só estarão
aqui às nove.
Selena olhou para as caixas empilhadas, a cama estava sem os
lençóis.
- Você parece mesmo pronta.
-Como nunca! Quando meus pais voltarem amanhã, já estarei
com tudo arrumado.
- Não parece estranho estar voltando para o lugar onde você
cresceu?
- Sim, ainda mais quando as coisas de que me lembro não
estiverem lá. Mamãe se livrou de um monte de móveis do apartamento. Terei
bastante espaço.
Às nove em ponto, Demi ouviu alguém bater na porta. Ela e Selena
já haviam comido e estavam colocando as coisas de cozinha em caixas e sacolas.
Joe sorriu para ela, quando Demi abriu a porta, o coração
disparou. Os olhos e o sorriso dele pareciam penetrá-la até a alma.
- Pronta para partir? - perguntou ele.
Atrás de Joe, vários homens musculosos e altos preenchiam o
corredor.
- Entrem. Estou mais pronta do que nunca.
Demi ficou atônita com aquele pequeno apartamento cheio de
homens fortes e bonitões. Todos se assemelhavam a Joe em tamanho e preparo
físico. Bart era alto e moreno. Jed era louro, e tão bronzeado que Demi tinha
certeza de que ele passava a maior parte do tempo na praia. Ele parecia um
surfista. Trevor e Brandon eram muito parecidos. Tinham cabelos castanhos bem
curtos e sorrisos contagiantes. Jill, a esposa de Trevor também foi
apresentada.
Achei que você pudesse precisar de algo para contrabalancear
a sobrecarga de testosterona - disse ela, rindo. - Esses garotões aí podem
intimidar, e você não os conhece.
Selena foi apresentada e ficou lisonjeada com os elogios que
ouviu dos rapazes. Ela, Jill e Demi se entenderam muito bem e em poucos
instantes já estavam agindo como se fossem amigas de infância.
Joe ficou no controle, apesar das brincadeiras dos rapazes.
Rapidamente, a pilha de caixas desapareceu.
- Você vem comigo - disse ele a Demi quando a última caixa
saiu nos braços fortes de Bart. Vai ter de nos mostrar como chegar ao
apartamento.
- Tudo bem - disse ela.
- Vamos continuar a embalar as coisas de cozinha - disse Selena,
trabalhando com Jill.
- Depois disso vamos para o banheiro. O resto já foi, não é
mesmo? - perguntou Jill.
-Menos os móveis. Nossa, nem acredito que até a hora do
jantar já terei me mudado! - disse Demi.
- Ah, certamente! - disse Jill. - Assim, podemos depois sair
todos juntos e nos divertir um pouco. Demi sorriu e seguiu Joe. Eles foram à
frente na pequena caravana pelas ruas da cidade. Bart, Trevor e Brandon levaram
caminhonetes abarrotadas de caixas.
Não havia lugar para estacionar na frente do prédio, mas uma
área de carga e descarga próxima resolveria o problema. Brandon parou em fila
dupla.
Mais duas viagens e todas as coisas já estavam em seu novo
lar. Os rapazes colocaram os móveis exatamente onde ela queria. Jill e Selena a
ajudaram a desembalar as coisas da cozinha e do banheiro. Ela se sentia como se
tivesse ganhado na loteria com todo aquele espaço no apartamento e todas
aquelas pessoas ajudando.
Era apenas o final da tarde quando todos terminaram, e
quando Brandon perguntou se estavam prontos para o jantar, todos disseram que
sim.
- Para o Tony's! - os rapazes gritaram.
- Tony's? - perguntou Demi.
- Uma pizzaria - explicou Joe. - Um restaurante próximo ao
quartel. A melhor pizza da cidade.
-Por minha conta! - disse Demi. Todos os rapazes se
manifestaram contra. Não deixariam que ela pagasse por todos. Estavam felizes
por terem se exercitado. E por terem tido a chance de conhecer a nova namorada
de Joe...
-Bem gente, vamos comer? Estou faminto! Sugeriu Jared.
Os bombeiros riram. Jared estava sempre faminto.
Tony's era uma pizzaria tradicional com mesas grandes,
jukebox e muito barulho. Eles pegaram uma mesa nos fundos. Garrafas de
refrigerantes logo apareceram e os pedidos foram feitos: pizzas jusantes com
tudo em cima. Selena sentou-se entre Jured e Bart, Jill entre Trevor e Brandon,
com Demi ao lado de Brandon e Joe do outro lado. Antes da pizza chegar,
entretanto, Jill trocou de Iugar com Brandon e sentou-se ao lado de Demi.
- É difícil ter uma conversa normal com esses rapazes
comemorando tanto! - disse Jill.
- Comemorando minha mudança - disse Demi. O que mais comemorariam?
- Eles encontram um motivo para comemorar sempre. São muito
companheiros, sabia? Têm de manter, fazendo o tipo de trabalho que fazem. Acho
impressionante a rapidez com que Joe se adaptou. Está nesse quartel desde maio.
Os outros estão lá muitos anos.
- Um trabalho assustador esse - murmurou Demi, olhando para
os rapazes. Eles eram tão valentes! Talvez merecessem isso. Encaravam a morte
diariamente e a venciam.
- Talvez, mas é para isso que são treinados. E é melhor que
façam algo de que gostem do que ficar em um trabalho que detestem. A vida não
teria muito significado para eles, você não acha?
- Você não se preocupa com Trevor?
-Todos os dias. Mas
ele não seria quem ele é se não fizesse o que gostasse. Nunca tentaria mudá-lo
eu o amo da maneira que ele é.
Demi tentou não olhar para Joe. Não olharia para ele, apesar
da enorme vontade. Ela não o amava. Era apenas um vizinho que lhe ajudara a se
mudar. Depois do jantar, ela voltaria para seu apartamento e ele retornaria
para o dele.
Só de pensar nisso, ela quase perdeu o apetite.
Apesar de trabalhar duro o dia todo, ninguém estava com
pressa de dar a noite por acabada. As histórias e piadas que os rapazes
contavam entretinham a todos. Selena estava no paraíso, contando, histórias
engraçadas sobre seu trabalho e o esforço para pagar a faculdade.
Demi se divertiu como nunca, relaxada e aproveitando o
momento de diversão que contagiava a todos. Ela e Jill fizeram planos de saírem
juntas para almoçar, antes do grupo se despedir quase à meia-noite.
- Não acredito que já está tão tarde - disse ela quando os
outros se despediram e deixaram-na junto de Joe na calçada em frente ao
restaurante. Ele a levaria para casa.
- O tempo voa quando estamos nos divertindo - respondeu Joe.
Demi se apoiou nele, sentindo-se segura ao lado de Joe.
Estava cansada mas de uma maneira diferente.
- Obrigada mais uma vez pela ajuda.
- Se você disser isso mais uma vez, eu juro que faço algo
drástico.
- Como o quê?
- Como isso... Ele parou, virou-se para ficar de frente para
ela e pegou-a em seus braços, beijando-a com vontade e por um longo tempo.
- Você já nos agradeceu o suficiente. O prazer foi nosso em
ajudar você.
- Os outros nem me conheciam! E mesmo assim gostaram de
ajudar.
- E agora eles conhecem você. E se precisar de ajuda no
futuro, não hesite em pedir.
Demi duvidou que precisasse dos serviços deles novamente.
Mas foi bom ouvir isso.
- A noite toda foi especial - por causa de Joe. Ele se
assegurou de fazê-la sentir-se parte do grupo. Riu quando ela contou uma
história engraçada e sentou-se ao lado dela o tempo todo. Ocasionalmente, ele a
tocara, esbarrando em seu braço quando se esticava para pegar o copo ou segurando
sua inflo no banco, depois de terminarem de comer.
Demi estava com medo de estar se apaixonando por esse rapaz
e não podia deixar que isso acontecesse. Nunca. Ela não suportaria perder mais
alguém na vida. Pelo menos não tão cedo. Talvez quando tivesse por volta dos 80
anos.
Quando chegaram ao prédio, ela ficou relutante em entrar.
Mas não havia lugar para estacionar o carro e quem sabe por quanto tempo ele
teria de rodar até encontrar um.
- Direi boa noite aqui mesmo e em seguida subirei - disse
ela, quando ele estacionou na área de carga e descarga.
- Eu posso parar aqui mesmo, rapidinho, e levar você até a
porta.
Ele desceu e foi até a porta do carona, abrindo-a e
esticando a mão para ela. Demi não queria que ele fosse, mas já era tarde.
Apesar do seu gesto, ele ajudara bastante na mudança. Devia estar cansado.
- Boa noite, Demi - disse ele na porta, beijando-a de novo.
Na quarta-feira, Demi terminou de ajeitar tudo conforme
queria. Era o seu apartamento agora, não o de sua mãe.
Telefonou para Virginia para avisá-la que havia mudado,
marcando um almoço com ela depois da consulta com o médico. Demi também deixou
uma mensagem para a mãe avisando que tinha mudado.
E então, sem muito o que fazer, Demi saiu para uma
caminhada, para se familiarizar com a vizinhança.
Era bem perto do Fort Mason e da baía. Ela se sentou no
degrau de frente para a água e se lembrou do terraço do antigo prédio. Será que
Joe estaria lá agora, olhando para o mar?
Talvez devesse telefonar para ele para agradecer pela ajuda
de ontem.
Certo, como se ele não tivesse sido claro na noite passada
sobre ela já ter agradecido o suficiente - pensar em seu beijo só a fazia
querer mais.
Suspirando, ela se levantou e começou a caminhar. Exercício
era bom para ela e para o bebê. Ela queria ser a melhor mãe do mundo. Ou a
secunda melhor, depois de sua mãe.
Na tarde seguinte, a mãe telefonou para lhe dizer que já
haviam chegado e para convidá-la para jantar, para que pudesse falar sobre a
viagem.
Demi aceitou o convite. Estava entediada e queria companhia.
A mãe parecia radiante quando cumprimentou Demi naquela
noite.
- O quarto do bebê está lindo. Como você conseguiu fazer
tudo isso sozinha?
- Eu tive ajuda - disse Demi, retribuindo o abraço.
- Alguém do trabalho de Eddie veio até aqui? - perguntou Diana.
- Não, foi Joe meu vizinho.
- Oh, quanta gentileza!
- Estamos muito gratos por vocês dois cuidarem disso. O
quarto está ótimo! - disse Eddie.
- Então me falem sobre a viagem - disse Demi, tentando mudar
de assunto.
- Você tem de ir à Grécia. É o lugar mais maravilhoso desse
planeta - disse Diana, entusiasmada.
- As praias são incríveis, as pessoas são calorosas, a
comida é uma delícia! O hotel era bem exótico. Nosso quarto era fantástico.
Demi riu.
- Então você gostou muito, não?
- Gostei. E o Eddie também, não foi, querido? -perguntou Diana,
lançando um olhar sexy para o marido.
- Sim, mas sugiro que você não entre em detalhes de tudo o
que fizemos por lá.
Diana ficou vermelha.
- Só a parte turística, por favor! - brincou. Demi sorriu,
divertindo-se com a interação entre os pais.
Seus pais! Eddie agora era o seu padrasto. Às vezes, ela não
sabia bem como agir com ele. Era apenas 14 anos mais velho do que ela, mas um
mundo de experiências os separava. Ele era perfeito para a sua mãe - que nunca
parecera tão feliz. Mais uma vez, Demi foi atacada pela inveja.
- Diana me disse que você já se mudou. Como você conseguiu
fazer isso? - perguntou Eddie.
- Joe reuniu alguns de seus amigos do quartel do corpo de
bombeiros e nós, juntos, fizemos a mudança rapidinho.
- Joe de novo! - disse Diana.
- Ele é só um vizinho, mãe.
- Oh, sim!
Quando eles se sentaram para jantar, depois de ouvir sobre a
viagem do casal, Demi contou a eles sobre a visita do cabo Collins.
Diana e Demi combinaram também de se encontrarem na manhã
seguinte no consultório médico.
Ela disse que tinha coisas a fazer e por isso os encontraria
lá, em vez de fazer com que Eddie a apanhasse, como ele oferecera.
- Vai deixar que eles lhe falem o sexo do bebê'? perguntou Diana
enquanto Demi saía.
- Sim, acho que sim.
- Eu também. Amanhã saberemos! Havia uma mensagem de
Virgínia na secretária eletrônica quando Demi retornou ao apartamento. Esperava
que Joe tivesse ligado para saber como ela estava. Mas ele não ligou. Não
conseguia pensar em uma boa razão para ligar para ele.
Agindo impulsivamente, Demi convidou Virgínia a juntar-se a
ela na visita ao médico na manhã seguinte. Elas poderiam almoçar juntas, uma
vez que o almoço da terça havia sido cancelado.
- Tinha certeza de que seria um menino! - disse Virgínia à
mesa do restaurante Tea Garden no Vau Ness pouco depois da uma hora da tarde.
- Você está desapontada? - perguntou Demi, Feliz por saber
que sua filha nasceria antes do Dia de Ação de Graças, se o médico estivesse
certo.
-Não.... É que jamais pensei que fosse uma menina. Achei que
fosse um menino, como Zac.
- Mas o bebê não é o Zac. É parte do Zac, mas parte minha e
da minha família também. Talvez seja melhor que seja mesmo uma menina, assim
não criaremos a expectativa de que se pareça tanto com o pai.
Virgínia balançou a cabeça, concordando.
- Às vezes, Demi, você é mais sábia do que a idade permite.
Acho que vou comer algo leve hoje. Quero ir para casa encontrar James.
- Telefone para ele e conte as notícias. O almoço pode
esperar.
- Não, direi a ele quando chegar em casa.
- Então, você gostaria de ir ao hospital para a próxima
consulta? - perguntou Demi, tentando melhorar as coisas para a ex-sogra, cuja
decepção era visível. Demi estava muito feliz com o que quer que o bebê fosse.
Acima de tudo, queria um bebê saudável.
Mas, por uma fração de segundo, ela desejou um menininho
levado, fazendo bagunça por onde passava. Será que um dia encontraria alguém
com quem pudesse formar uma família? Será que um dia teria o seu menininho de
olhos e cabelos castanhos?
Joe lhe veio em mente de imediato. Tentou evitar a ideia.
Não tinha notícias dele desde terça à noite. Agora que não eram mais vizinhos,
ela não esperava ter notícias dele tão cedo.
Quem ela estava querendo enganar? Demi queria ter notícias
dele todos os dias. De repente, olhou para Virgínia e desejou ter o que essa
mulher tinha, um marido carinhoso e pai dedicado. Queria a proximidade que sua
mãe e Eddie compartilhavam. Queria alguém a quem amar e ser amada.
Ela desejava do fundo do coração que fosse Joe.
- Não! - disse ela, sem querer.
- Não o quê? -Virgínia tirou os olhos do menu.
- Quero dizer, nada de comida calórica para mim. Acho que
também vou comer uma salada.
- Pensei que fosse para o hospital com sua mãe - disse
Virgínia, depois de fazerem os pedidos.
- Ela vai com Eddie. Gostaria que alguém fosse comigo -
disse Demi.
- Seria um prazer. Obrigada pelo convite - disse Virgínia,
um tanto quanto formal em sua resposta.
- Vou lhe telefonar tão logo marque a consulta.
- Qual o melhor dia para você?
Elas conversaram sobre a consulta, o fato do bebê ser uma
menina e discutiram um pouco sobre os móveis mais uma vez.
- E lhe digo mais, por que você não ajuda na organização do chá de bebê com Miley e Selena?
Elas estão preparando um para mim no final de setembro na casa de Miley. Você
se lembra de Miley, não é mesmo? Ela estudou comigo e com Zac.
- A garota loira de cabelo curto um pouco maluca? - Virgínia
tentou adivinhar.
- Isso mesmo. Ela também está grávida. O bebê dela está para
nascer a qualquer momento.
- Eu adoraria ajudar - respondeu Virgínia. Demi respirou
aliviada. Talvez ela pudesse encontrar outras coisas para Virgínia fazer que
ajudariam a mantê-la ocupada, evitando que ficasse obcecada por Demi e pelo
bebê.
Quando retornou ao apartamento já era fim de tarde.
Telefonou para Joe, ansiosa para falar com ele. A secretária eletrônica
atendeu. Demi desligou. Queria falar com ele e não deixar mensagem. Mais tarde
tornaria a ligar. Demi tentou mais três vezes antes de se recolher. E nada!
No sábado de manhã, Demi ficou passando o aspirador de pó no
quarto, para que pudesse comprar os móveis. Comprara algumas cortinas e roupas
de cama que combinassem. Seus planos para hoje incluíam comprar os móveis e outras
coisas como fraldas e babadores. Queria esperar pelo chá de bebê para ver o que
iria ganhar antes de comprar tudo. O dinheiro não estava tão fácil assim para
que ela pudesse ter coisas repetidas.
Quando ela ouviu a batida na porta, pensou que a mãe havia
passado para vê-la. Esperava que fosse isso e não Virgínia.
Joe estava lá quando ela abriu a porta.
- Olá - disse ele, já entrando. - Ocupada?
- Olá! - disse Demi, fechando a porta e olhando para Joe.
Ele parecia em forma e um pouco mais bronzeado do que da última vez que o vira.
O gesso ainda estava em evidência, mas tirando isso, ele parecia mais em forma
do que nunca.
- O que você está fazendo aqui?
- Vim ver se você gostaria de fazer alguma coisa hoje.
- Queria ir comprar coisas para o bebê - disse riu, pronta
para cancelar tudo se Joe quisesse fazer algo. Estar com ele seria muito mais
divertido.
- Creio que você tenha de fazer mesmo isso - disse ele.
- Acho que sim. Sobre esse assunto, não posso mudar de ideia,
Além disso, não aguento mais esperar para ver minha filha.
- É uma menina?
- Descobri ontem - respondeu ela.
- Você deveria ter me ligado.
- Na verdade, eu liguei.
- Não estava em casa. Você poderia ter deixado uma mensagem.
- Onde você estava?
- Fui até o quartel. Eles estavam com poucas pessoas na
equipe da ambulância, então fui ajudar com a papelada. Não era a parte mais
divertida do trabalho, mas me fez sair de casa.
- Está tendo crise de abstinência? - ela brincou.
- Você já sabe. Não aguento mais esperar para voltar ao
trabalho. - A cicatrização vai bem, segundo o médico. Fui até ele na quinta.
Talvez consiga uma liberação parcial na semana que vem, para trabalhos leves,
não para as atividades regulares.
- Eu não estaria tão impaciente para voltar ao trabalho no
seu caso.
Ele tocou os cabelos dela.
- Você se preocupa muito, eu ficarei bem.
- Talvez. Não há mais nada que você pudesse fazer, que não
fosse tão perigoso?
- Como o quê? Ser telefonista? - o seu humor mudou. A
empolgação que habitava seus olhos não estava mais lá. Ele não gostava de falar
sobre mudar de emprego, isso ela já havia percebido.
- Não telefonista. Que tal... - o pensamento fugiu-lhe. Ela
não conseguia ver Joe de terno e gravata em um emprego entediante no centro da
cidade Talvez um trabalhador da construção civil. Inclusive o imaginou subindo
nos edifícios altos por toda parte na cidade. Isso não parecia nada mais seguro
do que ser bombeiro. -Ah, esquece! Quer ir às compras comigo? - ela perguntou.
- Eu não sei nada sobre móveis de bebê.
- Eu também não. Mas talvez você tenha ideias que eu não
tenha.
- Eu vou com você se terminarmos até o meio-dia. E então
sairemos em um passeio pelo litoral e voltaremos a tempo para jantar. Jill
queria que eu levasse você.
Eram pouco mais das 9 horas. Joe queria passar o dia inteiro
com ela, inclusive o jantar...
- Deixe-me trocar de roupa rapidinho e estarei Pronta -
disse ela.
Joe achava que ela estava bem da maneira que estava, mas se
deu conta de que as mulheres pensavam diferente. Ele andou de um lado para
outro na sala. Demi havia pendurado fotos nas paredes, pareciam melhor nessa
sala do que no conjugado onde vivera. Ou talvez as fotos não estivessem no
apartamento antigo. Ele não se lembrava.
Olhou para a cozinha. Era maior do que a dele, talvez ele
conseguisse que ela se oferecesse para cozinhar algumas vezes para ele. Esse
apartamento não ficava assim tão longe do seu. Entretanto, não era tão
conveniente quanto descer um lance de escadas.
Joe foi até a janela e olhou para a rua movimentada abaixo.
Sentira falta de Demi. Cerrou o punho e apoiou o braço na soleira da janela,
olhando para fora, sem ver nada. Não esperava sentir tanta falta dela. Teve de
se esforçar muito para não ligar para ela todos os dias. Havia apenas quatro
dias que não se viam. Era difícil de acreditar na falta que ela fazia.
E nem estavam juntos. Nem ao menos se conheciam por tanto
tempo assim. Mas havia algo em Demi que lhe tocara profundamente e ele não
sabia bem se aquilo ia passar. O negócio com ela envolvia amor, família, não
era algo passageiro.
Ele se virou lentamente e olhou para ela. Estava linda.
Obviamente grávida, mas ainda não estava enorme, tinha o brilho que todas as
grávidas têm. Seu sorriso era contagiante e ele sentiu uma enorme atração por
ela. Ele a desejava. Queria que aqueles cabelos louros se espalhassem por seu
travesseiro e que aqueles olhos brilhantes lhe invadissem a alma. Adoraria
tocar e saborear aquela pele sedosa, correr os dedos por seus cabelos...
Ele balançou a cabeça devagar. Estava perdendo a cabeça.
- Algo errado? - perguntou Demi.
-Não, nada. Loja de bebê, aí vamos nós!
Joe não podia acreditar no que acabara de dizer. Ele não
sabia nada sobre crianças. Nunca esperou ter filhos, pois para isso, primeiro
era necessário se ter uma mulher. Isso ele podia mudar, mantendo o contato com
Demi. Ela o convidaria para ver sua filha e ele aproveitaria para ver a mãe.
Ele teve a sensação de estar brincando com fogo,
literalmente... Será que ele se queimaria? Ou pior, machucaria Demi de alguma
forma?
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