sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

CAPÍTULO 16

Demi se virou abruptamente.
- O que você disse?
- Quando chegar a hora, talvez nos tornemos mais envolvidos - ele olhou para Virginia como se a desafiasse. - Você não espera que Demi fique lamentando a morte do seu filho pelo resto da vida, espera? Ela só tem 20 anos!
- Agora ela tem um bebê com quem se preocupar - disse Virginia, enfurecida.
- E o bebê precisará de um pai - disse Joe delicadamente.
- Então é esse o seu plano Demi? Correr para encontrar um pai para o bebê de Zac?
- Não tenho plano algum a não ser ter um bebê saudável. No que diz respeito a casar-me novamente, não tenho certeza. E isso também é problema meu, não?
- Bem, acho que vou indo - Joe achou melhor ir embora, para não causar mais embaraço.
- Espere, Joe - ordenou Demi. - Sou muito grata a você. Você não precisa ir embora assim.
Joe não se mexeu.
-Virginia, eu pedi para que você não me importunasse! Marcamos de nos encontrar no hospital na semana que vem. Até mais!
Demi passou por Joe e foi para seu quarto. E parou na porta e se apoiou nela. Será que a morte de Zac não era problema demais com o que se lidar? Será que também tinha de lidar com a mãe dele se intrometendo em sua vida? E o que Joe pensou ao fazer aquele comentário que queria ficar mais envolvido? Será que estava apenas provocando Virginia? Ou será que disse a verdade?
O pensamento quase a deixou com náusea. Quanto mais ele queria se envolver?  Pelo menos, Joe foi em defesa dela. Isso foi bom,o que ela não esperava. Será que ela conseguiria que ele mudasse para um emprego mais seguro? Pouco provável. Ele amava o trabalho.
Demi afastou-se da porta e foi deitar-se na cama, com o pensamento confuso.
- Ele está certo - disse ela suavemente, passou a mão na barriga. - Talvez um dia eu consiga a possibilidade de me casar de novo, com Joe...
Sentiria a empolgação por estar com o homem que ama. O compromisso de compartilhar a vida. Ela sabia bem que não queria um homem com uma profissão perigosa. E mesmo assim o seu coração pedia Joe.
-Não! - disse ela em voz alta. Era cedo demais para pensar em casamento. Mesmo assim, ela não pôde deixar de ver o quanto Joe ficou extasiado ao sentir o bebê se mexer. Quanta gentileza dele em ajudá-la com o quarto. Como ele se interessava quando ela falava de seus planos e do que queria fazer para o bebê!
Ele tinha outros amigos. Mas preferia passar grande parte do tempo com ela. E ela gostava muito disso.
Talvez, apenas talvez, ela estivesse se apaixonando por ele. Ela gostava de ficar com ele. Esperava com ansiedade pelas horas que passavam jun tos. Ele a fazia rir e, às vezes, também à deixava nervosa. Mas acima de tudo, havia um desabrochar de felicidade no ar.
O pânico tomou conta dela. Não podia amar Joe, nem ninguém. Precisava de estabilidade, segurança. Queria que a dor silenciosa do coração desaparecesse por completo. Não queria sentir tanta falta de Zac. Queria chegar ao estágio quando apenas se lembraria dos bons momentos.
Também construía memórias com Joe. Será que se lembraria dele com candura com o passar dos anos? E se a vida dele fosse interrompida de maneira abrupta? Como ela lidaria com isso?
Ela já sentia falta dele. Um telefonema o traria de volta de imediato. Mas logo o braço de Joe estaria melhor e ele voltaria a trabalhar, estando ocupado para estar com ela.
O apartamento ficou em silêncio. Suspirando, Demi se levantou. Estava faminta. O alimento lhe daria energia para encarar os fatos. Desejava ter ido almoçar com ele como haviam planejado. Mas depois do abrupto adeus, ela teria sorte se Joe voltasse a falar com ela.
Ela parou na entrada da sala, surpresa. Joe estava sentado no sofá, folheando uma revista. Se a surpresa não tivesse sido tão grande, ela teria começado a rir ao ver um homem lendo uma revista feminina, aparentando interesse.
- Achei que tivesse ido embora - disse ela. Ele levantou a cabeça.
- Eu não sou Virginia. Ela foi embora. Nós íamos almoçar, esqueceu?
- Ainda assim, achei que tivesse ido embora. E.... se eu quisesse investir mesmo em um relacionamento com você?
Ele riu, levantou-se e caminhou na direção dela.
- Ora, invista! Joe a pegou nos braços e a beijou. O tempo pareceu parar. A sala começou a girar e Demi se segurou em único porto seguro.
 - Joe.
Os braços dela o apertaram, enquanto ela o trazia para mais perto, sentindo o desejo aumentar, e o êxtase tomando conta do seu ser.
As mãos dele à puxavam para mais perto de si, esfregando suas costas, acendendo cada célula do corpo de Demi. Ela agarrou nos cabelos dele, sentindo o calor, a textura, revelando a intimidade entre os dois.
Quando ele moveu a boca para beijar o rosto dela, o pescoço, Demi se entregou aos prazeres que só Joe lhe proporcionava. Seus músculos eram fortes ela podia senti-los mexendo-se ao movimento dos braços. O peito era robusto e ela se perdia em sua força.
Momentos intermináveis de prazer tomaram conta dos dois. Demi saboreava cada segundo, sentindo a alegria de estar viva e ser tocada por Joe, enquanto o sangue que circulava por suas veias carregava vida e amor.
Naquele momento, ela soube... amava Joe como nunca amara ninguém, nem mesmo Zac. Em choque, Demi se afastou e foi dominada pelo medo.
-Pare! Não posso fazer isso com você - Demi não podia estar apaixonada por esse homem. Era perigoso demais, arriscado demais. Joe simplesmente olhou para ela. - É cedo demais. É muita coisa. Não podemos nos envolver. Não quero ficar envolvida.
- Querida, nós já estamos envolvidos...
- Mas você não gosta dessa situação – disse ela.
- Eu lhe disse sobre a minha mãe. Nunca esperei ser responsável pela felicidade de alguém.
- Você não é responsável por ninguém, além de você mesmo - retrucou Demi.
- Ao menos que eu arrume uma mulher que pensa que é o meu dever fazê-la feliz.
- E você não espera que ela faça você feliz também? - perguntou Demi.
Joe hesitou por um instante, pensou um pouco.
- Eu me faço feliz. Embora encontre felicidade em lugares inesperados e com pessoas inesperadas.
- Talvez sua mãe fosse a pessoa mais carente do mundo. Ela era feliz com seu pai?
-Não sei. Ela se lembrava feliz com ele. Mas não ficaram juntos por muito tempo.
- Talvez ela se lembrasse de dias mais felizes. Mas ela teve a capacidade de encontrar sua própria felicidade.
- E eu posso escolher o caminho que quiser? - perguntou ele.
-Você já escolheu.
- E se eu dissesse que sou feliz ao seu lado?
- E se eu dissesse que você é feliz ao lado de Trevor também?
Ele quase sorriu ao ouvir aquilo.
- É, Trevor pode me fazer rir. Mas você traz alegria.
Demi ficou feliz em ouvir aquele elogio. Mas não era o que queria. Queria que eles voltassem a ser amigos apenas, sem beijos e tudo mais.
-Apenas estar com você e fazer coisas simples isso já me deixa feliz - disse ele.
- Você parece surpreso - comentou ela, sentido algo revirar dentro de si. Ela não queria isso.
- É verdade. Por anos, eu pensei que a visão da minha mãe era a certa. Agora, não tenho mais certeza. Pronta para o almoço?
Demi ficou confusa por essa mudança brusca de assunto. Mas ela ficou aliviada de deixar de lado o assunto pessoal e voltar aos assuntos gerais. Não podia se apaixonar por ele. Era apenas desejo, hormônios. Sim, era isso. Hormônios, assim como Virginia dissera. Eles sairiam para almoçar, passariam algumas horas juntos e diriam adeus um ao outro.
Joe não tocou no assunto do relacionamento durante o almoço, mantendo a conversa em um nível seguro. Demi teve mais dificuldades em se desligar dos pensamentos.
Quando ele a convidou para sair na noite seguinte, ela recusou, apesar de sentir muita vontade de aceitar. Sentia pânico ao perceber que o sentimento por ele continuava a vir à tona. Precisava se afastar antes de se machucar de novo. A diversão não valia a dor da perda.
Telefonou para a mãe quando chegou em casa.
- Oi, docinho, o que houve? - perguntou Diana no reconhecer a voz da filha.
- Venha ver os móveis do meu bebê. Joe montou tudo hoje. Está ótimo!
- Estarei aí logo. Joe ainda está aí?
- Não. Almoçamos juntos e depois ele foi embora. Virginia esteve aqui hoje cedo.
-Aposto que tudo saiu uma maravilha com Joe aí.
- Ela me perguntou o que as pessoas iam pensar.
- Sobre?
- Sobre eu sair com alguém depois da morte de Zac, é claro. Selena acha que eu não deveria agir como uma freira a vida toda. Miley quer vê-lo para saber se ele é bom o suficiente para mim. O que você acha?
- Esse Joe é importante para você?
 Demi fechou os olhos, desejando poder dizer "não", mas ela temia estar em uma situação onde qualquer decisão que tomasse trouxesse dor ao seu peito. - Eu não quero que ele seja - disse ela.      Por quê?
        - Ele é bombeiro. Ele se machucou no último Incêndio do qual participou, pode morrer no próximo.
-E?
- Não quero passar por isso de novo. Dói demais.
Diana ficou em silêncio por um instante.
- Nem sempre podemos escolher - disse ela, finalmente. - E para quem pensou ter a vida arranjada com 18 anos, e foi pega em uma reviravolta sem o menor aviso, eu diria para você pensar bem antes de tomar qualquer decisão. Lembre-se que nem todo mundo tem a chance de se apaixonar por um homem maravilhoso que compartilhará uma vida a dois. Não jogue fora algo precioso.
- Não posso fazer isso de novo, mãe. Não posso arriscar. Você me viu quando fiquei sabendo da morte de Zac. Fiquei destruída. Não posso me arriscar a sentir aquela dor novamente. Mas meus sentimentos por Joe são fortes, maduros.
- Então você tem a sua resposta. Ainda quer que eu vá até aí?
- Sim. Traga Eddie.
- Claro. Onde eu vou, ele vai - disse Diana. - E, logo, logo onde ele vai, o bebê e eu vamos. Vejo você em alguns minutos.
Demi desligou. Já tinha a resposta. Telefonaria para Joe essa noite e diria a ele que não queria mais vê-lo.
Não, ele merecia que ela lhe falasse cara a cara. Não se esconderia por detrás de um telefone que podia ser facilmente desligado.
A ideia era muito triste. Mas era melhor ser triste agora do que devastadora depois. Ele nem chegou a ser uma parte tão grande de sua vida. Demi apenas o conhecia há poucas semanas. Não levaria muito tempo para superar esse affair.
A faculdade começaria em breve. Isso cuidaria do futuro imediato. Se ela se mantivesse focada no que era importante, as coisas aconteceriam naturalmente. Ela se manteria equilibrada e encontraria paz com o trabalho e com a filha.
Com medo de arrepender-se se ligasse de antemão, Demi foi na manhã seguinte até o apartamento de Joe sem saber se ele estava lá. Respirando fundo em frente à porta do apartamento dele, ela tentou controlar suas emoções que começavam a se revirar. Demi estava fazendo o que era certo para ela. Ela repetia aquelas palavras como se fosse um mantra.
Bateu na porta.
Ele abriu momentos depois e ela quase se esqueceu da razão de ter ido lá. Ele estava maravilhoso. Sua camisa estava desabotoada, suas mangas dobradas; o gesso continuava em um dos braços. A calça jeans caía-lhe bem e era levemente desbotada, modelando as pernas longas. Os cabelos precisavam de um corte, mas ainda assim estava muito charmoso. O coração de Demi bateu acelerado.
- Demi, não esperava vê-la por aqui - disse ele ao abrir a porta. - Entre!
- Espero que eu tenha vindo numa boa hora -disse ela.
- Mudou de ideia sobre o encontro hoje à noite? - perguntou ele enquanto ela entrava na sala, nervosa. Muito agitada, ela levantou a cabeça e se virou para encará-lo.
-Não, eu não mudei de ideia sobre isso. Na verdade, achei melhor vir em pessoa para dizer a você que não quero mais que nos vejamos.
Ele ficou imóvel, apenas olhando para ela enquanto o tempo passava.
- Você se importa em me dizer o porquê? - finalmente ele perguntou.
Demi olhou para ele por um instante, torcendo para encontrar as palavras certas. Ele parecia mais fabuloso do que qualquer homem tinha o direito de ser. Ela não tinha certeza se tinha a coragem para levar a conversa adiante. Mas para seu próprio bem, tinha de fazer isso. Não queria ficar paralisada com a dor de se apaixonar por alguém apenas para perdê-lo em uma morte estúpida de novo.
- Somos diferentes demais.
-A maioria dos homens e mulheres é - respondeu ele, calmamente, ou quase isso.
- Então, tudo bem. Na verdade, estar com você me assusta.
- Eu assusto você? - perguntou Joe, atônito.
 - Estar com você me assusta - esclareceu ela.
- Há uma diferença. É claro que você não me assusta. Você é bom, honesto e divertido. Isso é parte do que me assusta.
-Eu não entendo.
- Eu posso me apaixonar por você - desabafou Demi. Ela se recusava a admitir que já havia se apaixonado. Mas cortaria essa paixão pela raiz. estava lutando para manter o coração intacto.
Pela primeira vez desde que ela começou a falar  ele começou a relaxar. - Bem...
-Não, não brinque com isso, Joe. Estou falando sério. Não estou a fim de que isso aconteça.
- É por causa do Corpo de Bombeiros, não é?
- Em parte. Mas apenas em parte. Não quero ficar presa a ninguém. É mais seguro assim.
- Mais seguro do que o quê?
- Do que ficar destruída com a morte de alguém querido. É como me senti na primavera, antes de você me conhecer. Por várias semanas, eu não sabia se seria capaz de sair da cama de manhã.
- Isso é um processo natural da dor de se perder alguém. Mas você se levantou e seguiu em frente. Sei que foi difícil perder Zac, mas você sobreviveu. Tem a vida toda pela frente.
- E agora estou me sentindo segura. A pior parte da dor já passou. Agora tenho meu bebê, minha faculdade para terminar e um trabalho de professora esperando por mim no futuro. Sinto-me no controle da situação, e eu gosto disso. Quero que isso continue assim. Não quero ficar à mercê do destino. Então não quero me apaixonar de novo. Não quero passar o tempo com você e ficar tentando não me apaixonar. É melhor terminarmos tudo agora.
Ela queria sair correndo naquele instante. Acabara de dizer o que queria e agora precisava ficar sozinha.
Mas Joe não sabia disso. E ele tinha seus próprios interesses.
- Você não está falando sério Demi. Não pode. Temos algo especial acontecendo aqui. Algo inesperado o qual nunca buscamos, mas que nos encontrou assim mesmo. Não quero que isso acabe. Quero passar mais tempo com você, quero ver se esses sentimentos podem crescer, fortalecer e nos aproximar mais.
Ela balançou a cabeça. Não queria ouvir nada daquilo. Ele tinha de concordar em terminar tudo imediatamente!
- Ouça-me - disse ele, aproximando-se dela e tocando seus ombros. Ela tentava não notar as sensações que o toque dele lhe causava. Ela estava à flor da pele.
- Passei toda a minha vida tentando fazer tudo da maneira mais segura possível, não me envolvendo. Jurei nunca ser responsável por alguém. Eu também queria segurança. Mas você mudou isso. Conhecer você me mostrou o que faltava em minha vida.
- Não. Não tem nada faltando em sua vida. Isso é apenas atração sexual. Você não quer um relacionamento sério - disse ela.
- Quero sim. Quero um com você. Eu amo você, Demi.
Ela ouviu aquelas palavras e o pânico tomou tonta de seu corpo mais uma vez. Demi se soltou dele e virou-se, como se estivesse acuada, procurando por uma saída. Joe bloqueou o caminho para a porta.
- Não, eu não quero ouvir isso.
- Talvez você precise ouvir isso, querida. Isso muda tudo. Eu amo você. Quero que você se apaixone por mim, quero que nos casemos. Criaremos seu bebê e faremos outros. É meio piegas para um bombeiro dizer isso, mas você incendeia a minha vida!
- Não! Não quero mais ver você - ela respirou, tentou acalmar a voz para disfarçar toda a agitação que sentia. Isso não ocorreu como ela esperava. Ela esperou e desejou que ele concordasse prontamente. Por um instante, ela sentiu a tentação. Mas se ariscar não era nada bom.
- Preciso ir, Joe. Por favor, respeite meu desejo. Não me telefone, não venha no meu apartamento. Vamos acabar com isso.
- Não quero que isso acabe - disse ele, frustrado.
- Por favor, não torne as coisas ainda mais difíceis.
- Se é difícil, então para que fazer isso? - perguntou ele.
- Eu preciso. Preciso muito.
Ele não disse nada. Depois de um instante, ele se afastou e Demi correu para porta. Em questão de segundos, ela estava na calçada, caminhando em direção do ponto de ônibus. Ela nem ao menos notou aquela vizinhança que um dia lhe foi tão familiar. Via apenas a dor nos olhos dele e sentiu a dor em seu coração.
Estava fazendo a coisa certa. Sabia que estava. Mas a dor era grande.
- É melhor isso agora do que depois. Vai passar logo - disse ela a si mesma.
Joe ouviu a porta se abrir, mas se recusou a vê-la ir embora. Ele não podia acreditar. Ele mostrou a ela seus sentimentos, disse que a amava, a pediu em casamento. E ela disse não.
Será que foi isso o que Demi sentiu quando soube da morte de Zac? Será que era isso o que ela temia? Esse vazio? Esse sentimento de impotência, incapaz de aceitar os fatos? Ele quis correi atrás dela e fazê-la ouvir o que tinha a dizer. Ele a amava! Ele nunca amara outra mulher. Será que ela ouviu o que ele disse?
Claro que sim. E aquilo foi a última coisa que ela queria ouvir. Ela foi até ele para lhe dizer adeus pessoalmente. Ela não queria que ele a amasse, Ela não queria compromisso.
Sinceramente, Joe também não tinha certeza se queria amar. Não agora. Não quando ela o rejeitara sem lhe dar ao menos uma chance. Mas sentimentos não tinham muito a ver com vontades.
Ele se jogou no sofá, olhando para o nada. A vida era uma droga. Ele foi um tolo ao abaixar a guarda e começar a gostar da lourinha de sorriso encantador. Ele a queria tanto, mais do que qualquer coisa em sua vida. Mas ela não o queria. Era tudo tão irônico! Ele combatera o amor por tanto tempo - até mesmo a ideia. Agora caiu na armadilha. Ele jamais deveria ter se apresentado a ela. Deus, como ele a queria!
As próximas duas semanas foram as mais difíceis da vida de Demi. Ela sentia tanta falta de Joe que era difícil de acreditar. A situação ficou ainda pior por saber que ele a amava e ela terminara tudo. E por saber que ela poderia mudar tudo apenas pegando o telefone.
A noite, quando tentava dormir, Demi lembrava das palavras de amor dele, do pedido de casamento e sentia-se tentada a ligar para dizer que tudo havia sido um erro. Mas, então, ela se lembrava de Zac. A dor de sua perda havia diminuído, porém, às vezes, ela ainda se sentia muito mal. Tinha medo de encarar os sentimentos que a dominavam por tanto tempo. E então ela pensava em Joe e no tempo que passaram juntos, revivendo cada palavra, cada gesto, cada beijo. Rolando de um lado para o outro, ela tentava dormir, mas o desejo por outro beijo aumentava cada vez mais. Apenas um. Ou apenas caminhar de mãos dadas com ele. O brilho dos olhos dele à provocavam nos sonhos. E ainda assim, o sonho sempre acabava com ele indo embora triste.
Ela quase sempre acordava durante a noite. O arrependimento tomava conta, mas a certeza de sua postura evitava que ela ligasse para ele, evitava que o visse de novo.
Jill telefonou para convidá-la para um almoço. Demi recusou, dizendo que estava ocupada aprontando-se para o próximo semestre na faculdade. Se Jill achou estranho Demi não poder tirar um tempinho para se divertir, pelo menos não disse nada. Entretanto:
- Você sabe, Joe foi liberado pelo médico. Voltou ao trabalho. Acho que ele está temporariamente com o esquadrão de resgate, mas sei que ele está feliz por estar em atividade de novo.
- Não falo com ele já há algum tempo. Fico feliz por ele estar bem - Demi apertou o telefone, desejando perguntar mais, descobrir se o braço dele havia cicatrizado bem.
- Ligue para mim a qualquer hora, para almoçamos juntas - sugeriu Jill.
Demi ficou tentada, mas era melhor manter as coisas como estavam.
- Logo que tiver o meu calendário, poderemos ver - isso não aconteceria, é claro, mas não havia por que dar uma desculpa agora. Jill descobriria ao ver que Demi jamais ligaria.
- Então, tudo bem. Falo com você em breve. Desligando o telefone, Demi sentiu cortar o último elo. Deveria estar se sentido bem. Mas não sentiu.
Começou a chorar. Sentia saudades de Joe, ao ponto de sentir dor. Era quase como se ele tivesse morrido. Exceto pelo fato de Joe estar vivo e fazendo o que gostava. Ela teria de lidar com isso e seguir em frente. Talvez ela não tivesse a emoção que tinha quando estava com Joe, mas pelo menos não ficaria devastada se algo acontecesse com eles.
Na segunda quarta-feira de setembro, Demi e Virgínia foram ao hospital para a palestra de orientação aos novos pais, a qual Demi havia adiado, incapaz de lidar com Virgínia. Diana e Eddie tinham já assistido à palestra, e Demi não conhecia ninguém no pequeno grupo. Uma das mulheres parecia já ter passado da hora de dar à luz. Demi ficou de olho nela durante a sessão, pensando no quanto ficaria volumosa no final da gravidez.
- Eu não tive nada desse tipo - sussurrou Virgínia quando viram a sala de parto. Era decorada como um quarto de dormir, com cortinas e uma cadeira de balanço.
- Mamãe me disse que foi bem diferente quando ela me teve. Ela disse que parece ser a primeira gravidez dela, pois nada foi feito dessa forma.
Quando foram ao berçário, puderam ver pelas janelas vários bebês em seus berços, enrolados em cobertores cor-de-rosa e azuis. No canto, uma mulher segurava uma criancinha.
- É aqui onde os bebês ficam à mostra para a família e os amigos. Mantemos os bebês aqui por algumas horas durante o dia e no restante os deixamos com as mães. E, é claro, a maioria fica aqui por um dia ou um pouco mais, para em seguida serem mandados para casa.
- A maioria, mas não todos? - perguntou alguém.
- Se houver complicações, eles ficam por mais um tempo - ela apontou para a mulher segurando o bebê. - Temos voluntários para ajudar no que for necessário. Às vezes, temos nascimentos múltiplos, ou a mãe tem algum problema que a impeça de estar com o bebê. Para isso, temos voluntários para providenciar cuidados especiais. Para ser sincera, sempre precisamos de ajuda e, se algum de vocês tiver tempo sobrando, juntem-se a nós.
Uma onda de riso passou pelo grupo. Nenhuma das futuras mães podia se imaginar tendo tempo livre.
Mas Demi olhou para Virginia. A velha olhava para os bebês com um doce brilho nos olhos.
- Você deveria se voluntariar - disse Demi.
-Eu? Não sei muito sobre bebês. Só tive o Zac. E ele cresceu rápido.
- Você sabe, sim. Pense sobre isso. Você tem tempo e essa atividade seria interessante.
Virginia pareceu pensativa.
- Terei muito o que fazer com minha netinha - disse ela.
- Não, não terá. Você pode ir visitá-la e ela visitará você, mas, Virginia, esse bebê não é seu. Você precisa de algo na vida para lhe dar mais propósito do que mimar minha filha. Pense sobre isso - disse Demi firmemente.
- É, vou pensar - respondeu a ex-sogra, olhando para os bebês mais uma vez.
Virginia levou Demi de volta ao apartamento quando a palestra terminou.
- Você ainda está saindo com aquele homem? perguntou Virginia no caminho.
- Se está falando sobre Joe, não o vejo desde o dia em que ele montou os móveis do meu bebê.
Virgínia ficou em silêncio por um instante.
- Estou pensando em desmontar o quarto de Zac - contou ela. - James acha que devemos transformá-lo em um quarto de hospedes onde você e o bebê possam ficar de vez em quando. Sei que moramos perto, mas talvez você queira que olhemos o bebê à noite se precisar sair e queira passar a noite por lá, em vez de acordá-la.
- Tem certeza? - perguntou Demi. Ela pôde sentir a tristeza na voz de Virgínia.
- Não vou jogar nada fora. Algumas de suas coisas manteremos à mostra. Mas a maioria dos objetos não tem significado algum, exceto para mim e Zac. Guardarei as caixas. Talvez o bebê gostasse de vê-las quando crescer.
- Claro que sim. E temos de ter certeza de que ela saberá tudo sobre o pai. Como ele era bom nos esportes, como gostava de fazer bagunça e o quanto nos amava.
- É tão difícil, Demi!
Demi segurou na mão de Virgínia, que segurava o volante.
- Quero dar a ela o nome de Jamie Marie, em homenagem a Zac.
Virgínia sorriu.
- Que nome adorável!
Dirigiram em silêncio até que Virgínia parou em frente ao prédio de Demi.
-Aquele homem estava certo, sabe. Um dia você vai se apaixonar de novo e se casar. Mas não deixe que Jamie Marie se esqueça de seus avós.
Virgínia, se eu me casar de novo, isso não mudará os avós de Jamie. Ela passará bastante tempo com vocês dois, não importa o que aconteça. Nunca privaria a minha filha da oportunidade de conhecer e amar seus avós.
- Seu novo marido pode não gostar disso - disse ela.
-Então ele não seria o tipo de homem com quem eu me casaria. Mas não tenho planos de me casar, então não se preocupe.
-E Joe?
- Não estamos mais saindo - disse Demi. -Se eu me apaixonar de novo, quero alguém com um trabalho seguro, não quero arriscar perdê-lo por conta de seu trabalho.
- Quando você estiver pronta, peço para James lhe apresentar a uns ótimos vendedores de seguro de vida - disse Virgínia.
Demi riu.
- Negócio fechado.
Será que ela ficaria pronta para alguém depois de Joe?
- Acho que você está louca - disse Selena ao caminhar com Demi pelo campus. Era um dia ensolarado de outono, com uma brisa vinda do Oeste mantendo a temperatura agradável. O campus estava repleto de estudantes andando de prédio em prédio, checando seus horários e marcando reuniões com os amigos.
- Você diz isso toda vez que conversamos ultimamente - disse Demi. - Sua opinião é muito previsível.
- Mas muito ignorada - disse a amiga, em tom de brincadeira.
- O que mais posso fazer?
- Nada. Se já se passaram três semanas e você não sente saudades dele. Você estava certa, ele não é para você.
- Sinto saudades sim - disse ela. - Mas é cedo demais para pensar em me envolver com alguém. Talvez eu mude de ideia depois. Mas agora a sensação de perda é enorme. Você não entende. Eu vivo com isso todos os dias. E se alguma coisa acontecer com minha mãe? Ou com Eddie? Ele voa pelo mundo todo. E se o avião cair?
- Ei, voar é mais seguro do que dirigir. Estatisticamente falando, mais pessoas vivem até a velhice do que morrem jovens, já pensou nisso?
-Não no Exército.
- Sim, até mesmo lá. Ou no corpo de bombeiros. Ou nas tropas de paz, ou domadores...
- Domadores? - disse Demi.
- Bem, essa é outra profissão perigosa. Demi riu.
- Vou manter isso em mente se eu esbarrar com um. Vamos mudar de assunto.
- Para que assunto?
- Você acha que vamos gostar do Sr. Scrubs?
- Nem um pouco. Muito cheio de pompa. Mas ele é o único dando essa matéria nesse semestre, estamos empacadas. E sua ex-sogra? Continua .chata?
- Ela está melhorando - Demi a defendeu.
-Impossível!
- É verdade, está sim. Começou a trabalhar no hospital, como voluntária na ala de recém nascidos e está adorando. Ela vai lá todos os dias agora para ajudar as enfermeiras no que for preciso. É o novo hobby dela.
- Você disse que ela precisava de um.
Elas chegaram na esquina da movimentada 19a Avenida. Demi foi em direção do ponto de ônibus do outro lado da rua, enquanto Selena retornaria para a biblioteca para pesquisar. Por um instante, Demi sentiu a dor de não estar retornando para o apartamento no mesmo prédio de Joe. Se ela não tivesse se mudado, encontraria com ele agora, embora ela soubesse que não era forte o suficiente para aguentar um relacionamento com ele nesse momento, ela seria capaz de vê-lo de tempos em temos.
Será que isso teria sido pior ou melhor?
Selena esperou com ela no sinal de trânsito.
- Telefono para você mais tarde para lhe dizer se aquele enfoque vai funcionar.
- Você vai conseguir - disse Demi. - Eu não faço ideia do que quero escrever para minha monografia. Espero que algo me venha à mente em breve.
Quando o sinal abriu, ela se despediu rapidamente.
- Eu telefono - disse Selena enquanto Demi começava a atravessar a rua.
Do nada, um carro acelerou em direção da faixa de pedestres, furando o sinal vermelho. Demi se virou ao ouvir o grito de Selena e viu o rosto repleto de horror do motorista, com o freio do carro rangendo. Tudo parecia acontecer em câmera lenta. Antes que pudesse reagir, o pára-choque colidiu com ela, jogando-a para o alto. Instintivamente, ela jogou os livros no chão para proteger o bebê, rolando feito uma bola no chão. Ela se sentiu nadando em um líquido viscoso. Os sons se misturavam: Selena gritando seu nome, o som de carros freando, uma buzina soando em algum lugar. A confusão era geral.

Até que ela bateu com a cabeça no asfalto e tudo ficou preto.

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