domingo, 14 de julho de 2013

CAPÍTULO 6

Era um tolo. O abandono da mulher não lhe ensinou nada, ou não teria tocado Demi. Sentado na escrivaninha, o sol nascendo atrás dele, Joseph bateu nas teclas, fazendo uma porção de erros, até desistir, empurrando o teclado. Recostando-se na cadeira de couro, fechou os olhos, e quase pôde sentir a maciez daquele corpo que tanto desejava tocar.
E que homem não desejaria fazê-lo, pensou. O corpo de Demi era curvilíneo, e ela tinha um jeito de andar que quase o enlouquecia. Ele sacudiu a cabeça. Seria mais difícil do que tinha pensado, e sabia que a lembrança de tocá-la seria tão torturante quanto a própria ação.
Era a babá, lembrou a si mesmo. Foi contratada para ajudá-lo.
Levantando-se, foi até a janela. Que Deus me ajude, pensou. Demi era o sonho de qualquer homem. E estaria ali por muito tempo, o  provocando.
Atrás dele, o e-mail soava, o fax gemia, e Joseph ignorava tudo, os olhos presos à faixa de areia lá embaixo. Havia pegadas no solo úmido, e imediatamente soube que eram de Demi. Será que levaria Kelly para longos passeios, à procura de conchas? Será que Kelly gostaria dali? E do quarto, dos brinquedos? Ou ficaria assustada, com medo? As perguntas surgiam na mente, e teve que admitir que não sabia nada sobre a filha de quatro anos. Mas Kelly era tudo que tinha no mundo, e faria o possível para que nada lhe faltasse.
Exceto você mesmo, disse uma voz interior, e a culpa o dominou.
E se nada daquilo fosse suficiente, e traumatizasse a menina? Era tão pequena, inocente. No momento, não tinha dúvidas de que Demi cuidaria de tudo. Era encantadora, mesmo com aquela língua afiada, e suspeitava que Kelly acabaria se divertindo, depois de ter passado de um amigo para outro, após o acidente. Tanto ele quanto Taylor não tinham família. Soube da morte da mulher por um policial, e cinco dias depois um advogado, executor do testamento de Taylor, o informou da existência da filha. Com a permissão dele, Katheryn Elizabeth Hudson tirou Kelly do abrigo do Serviço Social, e tomou providências para arranjar uma babá, e trazer a menina para a ilha. Era tudo tão frio, formal. Taylor escondeu a criança até a tragédia acontecer. Mas ele teve tempo suficiente para pensar na mulher que havia conhecido num baile de caridade, e com quem se casou, sete anos atrás.
Taylor tinha sido linda, como uma boneca de porcelana, embora durante o casamento tivesse ficado cada vez mais egoísta e exigente, gostando muito mais do estilo de vida que tinham do que dele. Agora percebia que ela gostava das empregadas e cozinheiros, e que quanto mais lhe dava, mais queria. Até que ele desejou ter filhos, parar de viajar o tempo todo. Ela havia discutido e reclamado, até Joseph ceder. Devia ter engravidado naquela noite selvagem, na praia, na véspera do acidente. Apesar disso, quando o acidente o privou da beleza que a atraíra, Taylor o abandonou. Não a culpava por tê-lo feito. Era frágil, imatura, e ele por certo não foi mais o mesmo homem. Nem por fora, nem por dentro. Tentava imaginar o que Taylor disse a Kelly sobre ele, mas logo desistiu. Não fazia diferença. Suspirando, voltou a trabalhar no computador, até que uma voz suave soou no interfone:
— Muito trabalho sem comer, deixa o sr. Jonas de mau humor.
Joseph sacudiu a cabeça, com um meio sorriso. Apertando o botão do interfone, perguntou:
— Preparou alguma coisa? — O estômago dele roncou, diante da perspectiva de uma refeição.
— Sim. E Dewey não vai conseguir comer tudo. — Houve uma pausa, mas logo ela continuou: — Nunca fui capaz de cozinhar para menos de seis pessoas. Ainda bem que gosto de sobras, não é?
Joseph imaginou se alguma vez ela ficava de mau humor, e sentiu-se grato por não mencionar a noite anterior. Não queria a piedade dela. Já aprendeu o suficiente a esse respeito com a ex-mulher. Não podia esquecer o modo como ela se encolhia, cada vez que tentava tocá-la. Sacudindo a cabeça, pensou em como foi tolo na noite anterior. Mas parte dele queria saber se Demi sentira o mesmo calor que o invadira. Nem Taylor conseguira provocar uma reação como aquela, e ele a amava.
— Estou com fome.
Demi tentou não gostar tanto da voz dele, nem lembrar-se de como pareceu sedutor na tênue luz da varanda. Mais uma vez se perguntava como podia sentir tanta atração por um homem que nunca viu, embora soubesse que a aparência, o dinheiro ou o charme, pouco tinham a ver com o que o corpo dizia. E o corpo de Joseph Jonas dizia muita coisa. Demi só esperava que o seu não entendesse…
— Vou levar aí em cima — disse, por fim. Ele detestava estar isolado ali.
— Obrigado — agradeceu.
Um momento de silêncio, e então ela disse:
— Recebi seu e-mail com as regras.
— E estou certo de que quer fazer algum comentário — retrucou ele, e quase podia ver como ela cerrava os lábios, furiosa.
— Alguma delas é negociável?
— Por exemplo?
— Esta sobre não ir ao terceiro andar. Como a empregada vai fazer a limpeza?
— Ela conhece as regras. Avisa antes de subir, e eu simplesmente vou para outra parte da casa.
— Entendo. — Joseph a ouviu suspirar. — Essa comunicação pelo interfone é tão impessoal.
— É assim que tem que ser, Demi.
Lá embaixo, na cozinha, ela encostou a testa na parede. Cabeça dura.
— Nada é imutável, sabia?
— Não. — Ele parou por alguns instantes. — O que você quer, Demi?
A irritação dele atingiu-a, provocando uma reação imediata. O que queria? Apenas uma vida normal. Antes que Kelly chegasse. Mas sabia que Joseph continuaria resistindo.
— Nada — respondeu, suavemente. — Acabarei dando um jeito de contornar as regras. Especialmente esta, de não andar pela casa á noite. Gosto de tomar chocolate quente, olhando as estrelas.
— Então deve estar se sentindo em casa aqui.
— É verdade.
Joseph queria que ela se sentisse à vontade, especialmente com Kelly chegando na manhã seguinte. Estava desesperado para que ficasse, especialmente depois que Katheryn Hudson ligou naquela manhã, dizendo que não encontrou uma substituta qualificada. Joseph achou que estava zangada com ele, e não estava fazendo muito esforço.
Alguns minutos mais tarde, ouviu uma batida na porta. Joseph aproximou-se, espiando pelo visor. Ela era mesmo persistente.
— Deixe aí mesmo.
Ela mostrou a língua para a porta.
— Encantadora, srta. Lovato — disse, secamente. Demi sorriu, sem jeito, e colocou a bandeja de lado.
— Sobre a noite passada…
Joseph gemeu, baixinho, e apertou o botão do interfone, junto à porta.
— Foi errado tocá-la.
— Por quê? Ele piscou, surpreso.
— É a babá da minha filha.
— Muito conveniente, não é?
— O quê?
Ela recuou um passo, diante do tom da voz dele.
— Bem, estou aqui, sou mulher e…
— E linda demais.
Os lábios dela apertaram-se, revelando toda a amargura que sentia. Quase desejou ter cicatrizes, como Jonas. Pelo menos saberia que os homens não a desejavam só pela beleza.
— Não é o que quis dizer.
— Está imaginando há quanto tempo não tenho uma mulher? A voz rouca fez os joelhos dela fraquejarem.
— É claro que não!
— Mentirosa.
Ela cruzou os braços, olhando para a porta.
— Ofender o outro é uma atitude infantil.
— Desculpe-me.
— Esqueça.
— Está bem.
Mas Demi duvidava. Especialmente depois que a evitou cuidadosamente, e depois a agarrou como se fosse a tábua de salvação de um náufrago. Ainda assim, não podia ignorar a eletricidade que os envolveu, o calor que percorreu seu corpo. E a vontade que sentiu de tocá-lo, de provar a força daquele corpo alto e rijo. Ele a fez sentir-se pequena, indefesa, e naqueles poucos segundos, protegida.
Não era algo que pudesse esquecer facilmente.
— Se quiser mais, é só pedir — disse ela, afastando-se e descendo a escada.
Joseph pegou a bandeja, e admirou a enorme variedade de comidas: ovos, panquecas, salsichas, bacon, café, torradas, geléia e biscoitos. Teria que correr mais alguns quilômetros para queimar tudo aquilo, pensou, saboreando as delícias. E tentando não pensar na mulher que as preparou.
Durante o resto do dia o contato entre eles foi mínimo. E Joseph esperou, impaciente, que a noite chegasse. As sombras o protegiam e lhe davam liberdade. Sentia-se como um vampiro, condenado à escuridão. A noite era sua amiga, embora amasse o dia, o sol.
Agora olhava para a mulher que dormia no sofá, com um livro aberto sobre o peito. Ele inclinou a cabeça para ler o título. Crianças e Pesar. Mais uma vez, pensou em como Kelly iria se apoiar nela, enquanto ele desejava confortá-la. Como queria abraçar a filha, acariciá-la, saber tudo sobre ela, vê-la crescer e aprender. Mais uma vez amaldiçoou Taylor por não ter lhe permitido compartilhar a vida de Kelly. Então percebeu, com enorme pesar, que estava confiando em Demi, para amar a filha no lugar dele.

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Tá aí o primeiro gente acordei cedo só  pra postar... mentira como estou uns dias na casa da mamãe devido uns problemas na minha casa ( que não vem ao caso) e tenho uma irmã pequena que adora XUXA acordei escutando o box do XSP, ninguém merece, comentem bastante e depois do almoço posto mais um.    

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