terça-feira, 23 de julho de 2013

CAPÍTULO 15 MARATONA

Joseph a evitou por alguns dias. Dois, para ser exato, e isso o deixava louco para ter companhia. O ruído de passos e as risadas de Kelly não estavam ajudando nem um pouco. O som competia com a chuva do lado de fora. O ruído, a música e as risadas chegavam até ele, provocando uma enorme vontade de ver o que acontecia. Mas continuava dizendo a si mesmo que tinha muito trabalho a fazer. Ele olhou para os três computadores, através dos quais gerenciava as empresas e comunicava-se com os empregados, e então pegou o controle remoto, ligando a tv. Colocando o volume bem alto, tentou abafar o som das vozes femininas que brincavam na casa.
Mesmo olhando para o programa de entrevistas, não podia deixar de se admirar ao ver como Demi se envolveu com a menina, em poucos dias. Não eram apenas as brincadeiras, as risadas, mas os pequenos cuidados que percebia, como as fitas nos cabelos de Kelly, combinando com as roupas, o modo como arrumava a mesa. E também como deixava de lado qualquer coisa quando a menina precisava. Só que ele desejava estar lá para abraçá-la, para amarrar os sapatos, enxugar as lágrimas.
Ele ligou o interfone, no volume no máximo, para poder ouvir o som da casa toda. Era estranho, depois de tanto tempo vivendo no silêncio.
— Srta. Demi, veja!
Ele ouviu passos e um gemido… de Demi. Da última vez que ouviu aquele som, ela estava em seus braços, entregue aos beijos ardentes. Esfregando os lábios, tentou afastar as lembranças.
— Oh, Kelly, coitadinho!
— Se ficar no estábulo pode ser pisoteado, não é?
— Sim.
— Posso pegá-lo?
— Oh, temos que pegá-lo. Vista a capa. Vai ter que se agachar e ser paciente. Se ele vier até você, podemos trazê-lo para dentro. Se não vier é porque não está pronto para ficar conosco, e pode arranhar você.
— Está bem — disse Kelly. — Mas ele virá. Franzindo a testa, Joseph levantou-se e foi até a janela
que dava para o pátio de trás. A filha correu na direção do estábulo, vestindo uma capa amarela. Ali, bem na porta, estava um gatinho minúsculo, preto como carvão. Kelly ajoelhou-se e estendeu a mão, esperando, como Demi ensinou. Demi apertou o botão do interfone.
— Um gato, Demi?
— É um gatinho, e eu imaginei que estivesse trabalhando. Ele ignorou o comentário.
— Não acho uma boa ideia. Ela tem apenas quatro anos.
— E precisa de algo para cuidar. Vai aliviar a dor da perda, Joseph. Precisa sentir que é capaz de lidar com as situações, e o gatinho é inofensivo.
— Gatinhos miam fora de hora, e isso não vai diminuir a dor.
— É, não vai. Ela precisa que o pai deixe a caverna e venha ficar com ela. Mas não pretende fazer isso, não é?
A culpa o dominou e, sem querer, olhou para a mão coberta de cicatrizes.
— Droga, Demi, sabe que não posso fazer isso.
— Não, Joseph, eu não sei. — A exasperação era evidente na voz dela. — Só sei que está descontando a reação de algumas pessoas em mim e em Kelly. E está negando a si próprio muito amor.
Joseph passou a mão pela nuca dolorida.
— Veja! Veio até ela!
A excitação na voz de Demi o atingiu como um golpe.
— Demi…
A voz dela soou mais baixa:
— Ande devagar, querida. O chão está escorregadio. Segure-o com cuidado, ele é um filhotinho. — Ela estava na porta dos fundos, e sua voz misturava-se ao ruído da chuva. Então Demi aproximou-se do interfone, a voz rouca de emoção:
— Se pudesse ver o rosto dela, não questionaria nada. E prometo, vou ensiná-la a cuidar do gatinho. Será minha responsabilidade. Está bem assim, meu senhor?
Como poderia recusar, sem parecer cruel?
— E também cuidarei para que o gatinho jamais o veja. Ele olhou para o interfone com expressão séria.
— Muito engraçada. Está bem. É sua responsabilidade Joseph desligou, mas ainda podia ouvir a voz de Demi, vinda do alto-falante junto à escrivaninha. Estava ajudando Kelly a tirar a capa e os sapatos molhados.
— É lindo! — disse Demi.
— Posso ficar com ele? — perguntou Kelly, num sussurro.
— É claro que pode. Ele precisa de uma casa.
— Mas… o que papai vai dizer? — A voz da menina expressava medo, e Demi não gostou nem um pouco disso. Não queria que tivesse medo dele.
— Seu pai acha a idéia maravilhosa.
Mentirosa, pensou Joseph. E embora não pudesse ver o sorriso de Kelly, pôde senti-lo, completamente. Demi estava decidida a fazê-lo parecer um herói diante da filha.
— É um gato ou uma gata? — sussurrou Kelly. Houve uma pausa, uma risada, e então, a resposta:
— É uma gata, querida.
Três presenças femininas na casa. Como um homem podia suportar aquilo? Ainda assim, encostado no batente da janela, Joseph desejou estar com elas. Queria ver o rosto de Kelly, segurando a gatinha. E a dor sufocou-o, mais uma vez.
— Os olhos dela parecem os seus, srta. Demi.
— Não acho que os meus sejam tão castanhos, ou tão lindos. Mas eram, pensou Joseph. Cor de amendoa e perfeitamente misteriosos.
— Vamos mantê-la aquecida. Pobrezinha, está tremendo. Vamos para a sala, acender a lareira. Só tem que mantê-la enrolada na toalha e deixar que se acostume com você.
— Como nós vamos chamá-la?
Nós. Ela já estava apegada a Demi, pensou Joseph, e quando as vozes desapareceram, não conseguiu ficar parado. Precisava ao menos ouvir o que diziam, já que não podia ver a menina, pensou, descendo pela escada de serviço.
— …mas nunca soube de um gato que atendesse quando chamado pelo nome — ouviu ele, alguns minutos depois.
— Já teve gatinhos? — perguntou Kelly, e Joseph deslizou pela porta escondida, entrando na cozinha e espiando. Demi acendia o fogo na lareira.
— Sim. Quando eu era criança tínhamos pelo menos uns três, além dos cachorros e das cabras. — Ela sorriu para a menina, fazendo o sangue de Joseph ferver nas veias. — Gado, galinhas e montes de amendoins.
— Amendoins?
— Meu pai é fazendeiro. Planta amendoins. O rosto de Kelly se iluminou.
— Ele faz manteiga de amendoim?
— Não. Ele vende a colheita para as fábricas. — A risada de Kelly encheu o ar, e Joseph sentiu uma estranha emoção percorrê-lo. — O que acha? — perguntou, apontando a lareira.
— Está gostoso, mas a gatinha ainda está tremendo.
— Fale com ela com carinho, até acostumar-se com a sua voz e perceber que não vai machucá-la. Enxugue o pêlo dela devagar, enquanto vou buscar um pouco de leite.
Sentada no canto do sofá, Kelly olhava para Demi, com olhos muito brilhantes.
— Muito, muito obrigada, srta. Demi.
— Por nada, querida — disse Demi, beijando-a, carinhosamente. Demi afastou-se, parando junto à porta para observar a menina e a gatinha. Animais eram uma das melhores coisas que havia para crianças que cresciam na fazenda.
Na cozinha iluminada apenas pela luz do fogão, ela abriu a geladeira e tirou o leite, virando-se para o armário para pegar um pires. A mão parou no ar.
— Há quanto tempo está aqui? — perguntou, suavemente, percebendo que ele estava ali, atrás dela, do outro lado do balcão. No silêncio, podia ouvi-lo respirar. Não tinham ficado tão perto desde o beijo na escada e Demi estremeceu ao lembrar. Imaginou que ficar longe dele apagaria as lembranças, mas estava enganada. O simples fato de tê-lo tão perto deixava seu corpo em chamas.
— Tempo suficiente para saber que é filha de um fazendeiro.
— Isso mesmo. Sou a mais velha.
— Quantos irmãos tem?
— Cinco. Três meninas e dois meninos. — Ela despejou leite no pires. — A diferença de idade é pequena.
— Deve ter sido bom. Fui o único filho.
Algumas vezes ela desejava ser filha única, mas não muitas.
— Era barulhento, apertado, mas não trocaria minha família por nada.
Joseph sorriu, adorando quando o sotaque dela ficava mais acentuado. Tinha curiosidade em saber mais sobre o passado de Demi.
— Então, por que entrou nos concursos de beleza? Além do óbvio.
Quantas vezes ela ouviu isso? Era óbvio que uma mulher tão linda participasse de concursos. Era óbvio que os homens a desejavam apenas pela beleza.
— Que importância tem isso?
— Só queria saber mais sobre a mulher que cuida da minha filha. E também estou curioso para saber como saiu da fazenda e foi parar no Departamento de Estado.
Tinha o direito de saber, admitiu Demi. Se fosse filha dela, faria o mesmo.
— Minha família é muito pobre. Minha mãe percebeu que poderia conseguir algum dinheiro se me levasse a concursos, ou para trabalhar em comerciais. Comecei a trabalhar quando era pouco mais velha do que Kelly. — Ela deu de ombros. — Quando cresci o suficiente para entender, percebi que era um negócio impiedoso, com uma competição acirrada e injustiças. E decidi participar de concursos que me proporcionassem o melhor prêmio em dinheiro, ou bolsas de estudos, para poder ir para a universidade, e deixar a fazenda.
— Admirável.
Ela franziu a testa, tentando vê-lo melhor. Ele continuava parado entre duas portas abertas, uma que levava à frente da casa e outra que conduzia à escada, na parte de trás. A tentação de acender as luzes era grande, mas ela prometeu, e costumava manter a palavra.
— Estava tentando fugir das suas raízes?
— Não. Só não queria ser mulher de um fazendeiro, com cinco filhos, economizando cada centavo e rezando todas as noites para que a chuva viesse, ou a colheita se perderia.
A amargura na voz dela o surpreendeu,
— Sinto muito…
— Não sinta. — Ela suspirou. — Foi difícil, mas não sabíamos que éramos pobres. Todos à nossa volta viviam do mesmo modo. — Ela riu, mas o som não revelava alegria. — Hoje, mamãe e papai estão bem. Mas mamãe ainda remenda roupas velhas, economiza e aproveita todas as sobras de comida. — Demi sacudiu a cabeça. — Parece que algumas coisas nunca mudam.
Pegando o pires de leite, foi para sala, sem saber se Joseph estaria ali quando voltasse. Ou se iria voltar. Ao colocar o pires no chão de pedra, perguntou a Kelly se gostaria de chocolate quente. O sorriso da menina foi à resposta, e ao voltar para a cozinha, Demi percebeu que ele continuava lá.
Parte dela vibrou de prazer, vendo que ele não se foi. A outra a lembrou de Wilmer e das lições que aprendeu sobre os homens.
Pegando o pacote de chocolate, virou-se para ele.
— Quer uma xícara?
— Não, obrigado.
Como aquelas simples palavras podiam ser tão sedutoras no escuro? E como podiam fazer de conta que nada aconteceu entre eles? Era mais fácil agir assim na semi-escuridão.
Demi pigarreou, tentando afastar as lembranças eróticas.
— E seus pais, sua família?
— Kelly é tudo que tenho. Meus pais morreram, com seis meses de diferença, antes de eu me casar.
Como devia ter sido triste viver sozinho, imaginou, sabendo que ele detestaria sua piedade.
— Mais uma razão para conhecê-la melhor, Joseph. Logo estarão sozinhos.
Joseph não podia sequer imaginar aquilo. Para ele, Demi tinha que ficar. E a tentação de tê-la por perto era algo com que teria de se acostumar. Não podia deixar que Kelly o visse. A menina já tinha uma imagem dele, e aos quatro anos de idade jamais poderia pensar no que o acidente fez com ele. Ela o rejeitaria, e era exatamente isso que Joseph queria evitar. Taylor não se importara de disfarçar o choque e a rejeição, quando as ataduras tinham sido retiradas. Com uma criança não poderia ser diferente. Demi talvez tivesse um pouco mais de tolerância, mas não podia arriscar. Não depois de tê-la abraçado. Não depois do beijo que o tocou tão profundamente. A rejeição seria insuportável.
Era em Kelly que devia pensar, e não nas reações do seu corpo, no desejo por uma mulher. Era melhor continuar no escuro e ficar distante de Demi. Para evitar o perigo.
— E a família da sua esposa?
— Ex-esposa — corrigiu ele. — Ela também não tinha família. Pelo menos, nunca mencionou ninguém.
Demi assentiu, curiosa sobre a mulher com quem ele se casou, mas sem querer tocar feridas profundas. O tom da voz dele era suficiente para mostrar como ainda estava magoado. O mais importante era que Kelly não tinha parentes e jamais saberia o que era ter avós, ou primos. Isso a deixou ainda mais decidida a fazer Joseph sair da escuridão. Os dois precisavam um do outro. Não tinham mais ninguém.
Depois de preparar duas canecas de chocolate, dirigiu-se para a porta.
— Por que deixou de ensinar os filhos de diplomatas e foi trabalhar na Wife Incorporated?
Ela virou-se para o lugar onde Joseph continuava escondido nas sombras.
— Por causa de um homem — respondeu, com sinceridade. — Um homem que amei de verdade.
Joseph sentiu a dor e a angústia na voz dela, e isso o feriu profundamente.
— Oh, Demi. O que ele fez?
— Mentiu, enganou, traiu. E o pior… Ele me queria só pela aparência. Como vê, Joseph — continuou, amarga —, temos mais em comum do que você imagina.
— Não concordo.
— Não? Então não me quer apenas por minha beleza?
— Droga, Demi, é muito diferente. Não tem idéia do que é ser tão medonho.
— Não, não tenho. Mas sei muito bem o que é ser julgada pela aparência.
De repente, Kelly apareceu correndo na sala de jantar, e Demi parou.
— Está falando com papai? Ele está aqui? Posso vê-lo? — Ela aproximou-se, e ao olhar para a cozinha, Demi soube que ele tinha desaparecido.
— Sim, querida, era ele.
A menina ergueu o olhar, abraçando a gatinha contra o peito.
— Ele não quer me ver? — Os lábios tremiam, e os olhos azuis encheram-se de lágrimas. O coração de Demi apertou-se. Como Joseph podia fazer aquilo com a filha?
— Sim, querida, ele quer. Só que não pode vê-la… ainda.
— Quando vai poder?
A tristeza na voz da menina era tão intensa que os olhos de Demi se encheram de lágrimas.
— Logo — sussurrou, imaginando se Joseph Jonas sairia do esconderijo para ficar com sua princesinha.



Como podem ver consegui sair o mais rápido possível do inferninho do meu trabalho ( que adoro) e vou terminar essa maratona hoje ou não me chamo Fernanda, tá legal, como prometi tá aí um big, e comentem para o próximo.  

10 comentários:

  1. Amei o post, ontem eu passei o dia inteirinho fora e não consegui comenta, mas os caps de ontem também estavam perfeitos!!! MAIS UM... LOGO

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  2. Maravilhosoooooooooooooo , anciosa para o proximo

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  3. Ai que lindo, posta ta incrivel, tadinha da kelly, louca pra ver o pai ne, poxa o Joseph tinha q ter escutado a filha dle falar isso

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  4. Posta logo, adorei o capitulo, lindo demais

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  5. Jemi + capitulo big = que maravilha

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  6. ahhhhh... que bom que você postou!!! ansiosa por mais ((:
    posta vaii :DDD

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  7. posta logoooooooooooooooo !!!!!!!

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