CAPÍTULO 18 MARATONA

Joseph sentiu o gosto de Demi, antes mesmo de seus lábios se tocarem. Ouviu o gemido abafado, pedindo mais. Então, a boca de Joseph devorou a dela, e o calor espalhou-se por seu corpo, penetrando nos ossos, como um fogo incontrolável.

— Demi — murmurou, e ela enterrou os dedos no peito dele, puxando-o para mais perto.

— Não devíamos… — As mãos dela deslizaram pelo peito forte, mas Joe segurou seus os pulsos, prendendo-os atrás das costas de Demi.

— Não — gritou ela, o desejo transformando-se em raiva. — Não posso — ofegou, afastando os lábios dos dele. — Não consigo viver assim. Se não confiar em mim, não pode haver nada entre nós.

Ela lutou para livrar-se, e imediatamente Joseph soltou seus pulsos. Demi não olhou para trás, enquanto corria para a casa, o corpo ansiando pelo dele, o coração partido.

Joe a viu se afastar, tentando recuperar o fôlego. Aquilo não estava acontecendo, não podia ser, disse a si mesmo, o corpo ardendo de desejo. Mas, no mesmo instante, viu-se como uma imitação patética do homem que foi um dia. E detestou.

Depois de uma corrida que testou até o limite seus músculos doloridos, Joseph voltou para casa, pegando um copo de água antes de subir. Ao passar pela sala, encontrou um dos desenhos de Demi sobre a mesinha de café. Era um esboço de Kelly, dormindo na poltrona, com a gatinha. Havia outro, da casa, e mais um, de Kelly sorrindo graciosamente. O que o surpreendeu não foi apenas o fato de que eram muito bem-feitos, mas o amor que era possível detectar em cada traço. E tinham sido feitos num bloco simples, a lápis. Joseph pegou um dos desenhos de Kelly e dirigiu-se ao quarto, quase sem se importar em ser descoberto vagando pela casa. Sabia que Demi faria de tudo para evitá-lo.

Os dois dias seguintes provaram que estava certo.

Demi deixava as refeições na porta da suíte, com uma batida na porta, e não mais do que duas palavras. Sabia que, se falasse com ele, às lembranças voltariam, e o desejo também. Também sabia que não iria adiantar, mas precisava de tempo para pôr a cabeça e o coração, no lugar. No entanto, cada vez que pensava nele, ficava mais confusa.

Kelly parecia especialmente feliz naquele dia, e Demi tentou se concentrar na menina, para esquecer suas apreensões. Andaram na praia, catando conchas, que lavaram e colaram na moldura de um espelho antigo que ela encontrou na garagem. Um dos lados da garagem estava todo desarrumado, enquanto o outro estava em ordem e limpo. Demi imaginou que muitas daquelas caixas deviam ter pertencido à ex-mulher de Joseph, e guardavam lembranças do casamento.

— Quer pintá-lo para combinar com seu quarto? — perguntou Demi, e Kelly negou, com um gesto de cabeça.

— Quero dá-lo para o papai.

Demi piscou, surpresa, mas logo sorriu.

— Aposto que ele vai adorar.

— Vou levar para ele.

— Querida, não sei se é uma boa idéia. — Mas Kelly já corria para a casa, o tesouro apertado contra o peito. Demi a seguiu, alcançando-a na escada. — Espere, Kelly. Precisa secar. Por que não põe em seu quarto, por enquanto?

— Não! Quero dar para ele!

Kelly soltou-se da mão de Demi e correu escada acima. Mas Demi foi mais rápida e a alcançou, abraçando-a contra o peito.

— Solte-me!

— Querida, não pode vê-lo. Ninguém pode.

Kelly começou a chorar e Demi sentou-se nos degraus, abraçando-a carinhosamente e pondo de lado o espelho. Algumas conchas caíram, e a menina passou os braços e pernas à volta de Demi, soluçando.

— O que está acontecendo aí?

Demi não respondeu à voz que soava no interfone, sussurrando palavras carinhosas para a menina e carregando-a escada acima, sem esquecer do tesouro. Os soluços de Kelly diminuíram quando Demi a colocou na cama, tirando-lhe os sapatos. Embora fosse a hora em que costumava dormir, lutava contra o sono.

— Quero Serabi.

Afastando os cabelos do rosto da menina, Demi sorriu.

— Vou buscá-la.

Assim que saiu do quarto, Kelly sentou-se, desceu da cama, e empurrou a cadeira da escrivaninha até a parede. Equilibrando-se na ponta dos pés, apertou o botão do interfone.

— Papai? Tenho um presente para você. Eu mesma fiz. É um espelho.

Ele não respondeu.

— Papai?

— Foi muito gentil, querida. Tenho certeza de que é lindo.

— Você não quer?

— Quero, sim. Muito.

— Então venha buscá-lo — disse Kelly, em tom de choro.

— Não posso, querida.

— Pode, sim! — gritou Kelly. — Vi você na praia. Pode, sim. Demi entrou, trazendo a gatinha. Ouviu o suficiente para saber o que estava acontecendo. O gemido doloroso de Joseph ecoou no interfone.

— Venha, querida — disse, tirando Kelly da cadeira e carregando-a para a cama.

A menina começou a chorar outra vez, chutando as cobertas.

— Não vou lhe dar Serabi, se continuar assim.

A garotinha suspirou, fitando-a através da franja. Os lindos olhos azuis revelavam tristeza.

— Desculpe-me — murmurou.

— Não é sua culpa, meu bem. Sei que está zangada porque seu pai não veio até aqui. — E eu também, pensou Demi. — Mas precisa se acalmar. Prometo que darei o espelho a ele.

— Como pode vê-lo, e eu não?

— Também não o vi.

— Mas ele estava na cozinha com você!

— Estava escuro. Eu não o vi.

— Oh!

— Agora durma um pouco e descanse. Quem sabe mais tarde possamos dar uma volta de cavalo.

— Está bem — respondeu ela, pegando a gatinha. Demi sacudiu a cabeça.

— Acho que Serabi não está com sono. — E como se quisesse confirmar que ela tinha razão, a gatinha escapou para o chão e correu.

Kelly pareceu subitamente muito só. Não podia deixá-la sozinha.

Demi a tomou nos braços, carregando-a para o próprio quarto, onde a colocou na cama. Tirando os sapatos, deitou-se ao lado da menina, que logo se aconchegou a ela. Colocando uma colcha sobre as duas, Demi continuou sussurrando palavras doces.

— Eu gosto muito de você, Kelly — sussurrou, antes de adormecer.

— Eu também de você — disse Kelly.

TÁ AÍ O ULTIMO ESPERO QUE TENHAM GOSTADO, ATÉ AMANHÃ E COMENTEM!