sexta-feira, 12 de julho de 2013

CAPÍTULO 3

Devia ter telefonado pedindo as compras, pensou Demi, enchendo o carrinho e tentando ignorar as pessoas que a observavam, os jovens, muito mais jovens do que os que pensaria em namorar, fitando-a intensamente. Ela sorriu docemente, um típico sorriso de passarela, admitiu, rindo baixinho. Alguns homens eram pescadores, e ainda usavam as botas de borracha da pescaria.
Checando a lista, Demi dirigiu-se ao caixa. Vai começar, pensou, vendo que as pessoas aproximavam-se de onde estava, como felinos. Um adolescente que varria o chão chegou mais perto. A vendedora parecia não ter pressa, fitando-a demoradamente, apesar da fila. Os clientes não tiravam os olhos dela. Não era de admirar que Jonas não saísse de casa. O que teria acontecido com a hospitalidade do sul?
— Você é nova aqui? — perguntou a vendedora, uma loira que usava argolas enormes nas orelhas e mastigava chiclete.
— Sim. É uma linda ilha — disse Demi. Era melhor deixá-los orgulhosos da terra onde viviam.
— Está no castelo, não é?
— Sou a babá que o sr. Jonas contratou.
— Babá?! — exclamaram várias pessoas ao mesmo tempo. Demi olhou ao redor, fitando um a um, todos que estavam próximos.
— O sr. Jonas está esperando a filha chegar, e estou aqui para cuidar dela.
— Pobre criança — disse uma velha senhora, num tom sombrio.
— Por quê? — perguntou Demi, embora soubesse a resposta.
— Imagine ter um homem tão horrível como pai.
— Conhece o sr. Jonas? — perguntou Demi.
— Não exatamente.
Esperando que sua expressão fosse da mais pura inocência, indagou:
— Então, como pode saber como ele é?
— Ele nunca sai daquele lugar — disse a vendedora. — Não mostra o rosto há quatro anos. Nem mesmo Dewey, que mora lá, conseguiu vê-lo de perto.
Dewey, Demi imaginou, devia ser o caseiro, que ainda não conheceu.
— Ele está desfigurado — gaguejou o jovem que embalava suas compras.
— Se nunca o viu, como pode saber disso?
O garoto deu de ombros, como se fosse de conhecimento geral. Embora ninguém tivesse visto Jonas.
— Não acho que a aparência seja importante — respondeu ela, tentando controlar-se, e detestando que as pessoas dessem tanta importância às aparências. Ela sabia, por experiência própria, como isso era injusto e preconceituoso, embora por motivos opostos. As mulheres recusavam-se a ser suas amigas, acreditando que se imaginava melhor do que elas. Os homens quase pisoteavam uns nos outros para aproximar-se, todos tentando levá-la para a cama, ou convidá-la para um acontecimento social, onde pudessem exibi-la como um troféu. Ninguém, nem mesmo o ex-noivo, conseguiu ver além do rosto lindo que Deus lhe deu. E, aparentemente, ninguém queria ver além das cicatrizes de Jonas.
Tudo isso fazia Demi sentir um estranho impulso de defender um homem que nem conhecia. Era difícil manter o controle diante de tantos preconceitos.
— Coloque na conta dele, e mande entregar por volta das três — pediu, saindo depressa e sentindo que todos os olhares a acompanhavam.
Em vez de pegar um táxi para casa, resolveu acalmar-se, caminhando pela pitoresca cidadezinha. Mas as lembranças continuavam a atormentá-la. A mãe, arrastando-a para comerciais de tv, desde bem pequena, os concursos, tudo que sempre detestou. E quando cresceu, escolhia participar apenas dos que lhe interessavam, porque queria ir para a faculdade, e precisava do dinheiro.
Olhando em volta, viu as vitrines das pequenas lojas, os bancos de madeira espalhados por vários locais, turistas e moradores passeando e fazendo compras. Dois homens mais velhos sentavam-se junto ao cais, trocando histórias de pescaria. Demi sorriu, lembrando-se do avô, sentado na cadeira de balanço da varanda, esculpindo pequenos animais de madeira para que ela e os irmãos brincassem. Aliás, eram os únicos brinquedos que tinham. Uma vida simples, mas cheia de amor, pensou, com saudade do avô.
Ela respirou fundo, saboreando a brisa fria que vinha do mar. Como o sol estava alto ainda fazia calor, mas logo chegaria à estação dos furacões, com chuva, umidade e frio intenso. Cruzando os braços para proteger-se, andou mais depressa para a pequena estrada que levava o castelo. Em poucos minutos entrava no calor acolhedor da casa.
Depois de preparar café, esfregou os braços gelados, e ouviu um ruído vindo de fora. Franzindo a testa, foi até a porta de trás e afastou as cortinas que cobriam a pequena janela. Todos os seus impulsos femininos tornaram-se vivos e intensos, ao ver as costas nuas do homem que cortava lenha. Os músculos poderosos moviam-se numa dança da qual não conseguia afastar os olhos.
Jonas.
Como era bonito, usando apenas jeans e botas! De onde estava, podia ver apenas o perfil do rosto, com certeza o lado sem cicatrizes, já que os traços eram aristocráticos e bem feitos. Os cabelos escuros flutuavam ao vento, cobrindo totalmente a nuca. Os braços eram fortes, musculosos, e ao erguer o machado para cortar mais uma tora, Demi pôde ver como eram poderosos, já que a madeira partiu-se em um golpe. Ele deu mais alguns golpes e depois parou, apoiado no cabo do machado. Quando começou a falar, Demi percebeu que não estava sozinho e foi até a janela. Outro homem, mais velho, sentava-se num banco e brincava com um canivete. Era Dewey Halette, e aparentemente era bem mais do que um caseiro. Era amigo de Jonas. Talvez seu único amigo. Dewey conversava animadamente, o rosto moreno e enrugado meio coberto pelo boné. A camiseta escura ajustava-se ao tórax esguio, e o jeans estava tão gasto nos joelhos que a cor desbotou. Ela observava os dois homens, e como se Jonas soubesse que estava ali, continuava de costas. Ainda assim, pôde ver cicatrizes longas e finas descendo pelas costelas, como se tivessem sido feitas por adagas afiadas. Devia ter sido muito doloroso, e mais uma vez, imaginou como teria sido o acidente. De repente, ele inclinou a cabeça para trás e riu. O som, carregado pelo vento, chegou até Demi, que estremeceu, sentindo um estranho calor percorrê-la. Pelo menos ele não tinha perdido a capacidade de desfrutar de pequenos prazeres, como conversar e rir com um amigo, pensou, desejando juntar-se a eles. Mas, se quisesse que o visse, já teria aparecido.
Ele disse algo que fez Dewey corar. Logo se levantava, sorria para Jonas e colocava mais toras aos pés dele. Jonas continuou a trabalhar, cortando tora por tora, enquanto Dewey empilhava os pedaços. Então, o caseiro parou, olhando diretamente para ela.
Demi sustentou o olhar.
Jonas largou o machado e pegou o casaco com capuz.
Saindo para a varanda, Demi gritou:
— Desculpe-me. Não tive a intenção de me intrometer.
— Mas fez exatamente isso — disse Jonas, vestindo o casaco de costas para ela.
— Desculpe-me. Vou para outro lugar.
Joseph suspirou, desejando virar e fitá-la nos olhos.
— Não quero que sinta que precisa afastar-se de onde estou.
— Mas é exatamente o que quer. Preferia que eu não estivesse aqui, não é mesmo? — Ela viu que os ombros dele enrijeciam. — O mínimo que podemos fazer é ser honestos um com o outro.
Joseph apertou os lábios, suspirando mais uma vez.
— É verdade. Mas posso garantir que não me importo de não ter mais a casa só para mim.
— Não precisa se esconder.
— Eu não me escondo. Escolhi este estilo de vida, srta. Lovato, e nos últimos quatro anos aprendi que é a melhor maneira de viver.
— Quer dizer, a mais fácil.
— Nada é fácil para mim, senhorita.
— E quanto a sua filha? Ela espera encontrar o pai. Precisa de carinho e conforto. Perdeu a mãe.
O peito de Joseph apertou-se ao pensar na tristeza de Kelly, e como gostaria de confortá-la.
— Foi por isso que a contratei, srta. Lovato.
— E não se importa com ela?
Como podia dizer a Demi que ao saber da existência da filha, poucas semanas atrás, sentiu raiva da mãe de Kelly, por abandoná-lo, carregando no ventre o bebê que era deles, por não lhe dar uma chance de conhecer a criança, antes de lhe tirar tudo que tinha. O amor pela mulher desapareceu quando ela partiu, abandonando-o quando ele mais precisava, condenando-o à prisão e ao isolamento. Como podia esquecer o passado?
— Eu me importo. Muito. Mas mal tive tempo de me acostumar com a idéia de que sou pai. — Ele começou a andar para a garagem.
— É bom se acostumar — disparou Demi, enquanto ele se afastava. — Depois de amanhã ela estará aqui, querendo vê-lo, e como poderei explicar que o pai não quer encontrá-la?
— Diga a verdade — respondeu ele, sem parar de andar. — Que o pai não quer ser mais uma fonte de pesadelos para ela.
A resposta a deixou sem ação, e antes que pudesse pensar no que dizer, ele tinha desaparecido. Virando-se, ela fitou Dewey.
— Acho que as coisas não correram muito bem, não é? Dewey observou-a atentamente, como se estivesse avaliando cada detalhe, e Demi não saberia dizer qual foi a impressão do homem, já que sua expressão continuava impenetrável.
— Não, madame.
— Sou Demetria Lovato.
— O sr. Jonas me disse.
— E o que mais ele falou a meu respeito?
A expressão de Dewey continuou impenetrável, e ele virou-se para arrumar as pilhas de madeira. Por certo precisariam delas para aquecer-se nas noites de tempestade, imaginou Demi, pensando em como o castelo de pedra devia ser frio no inverno.
— Todos na cidade têm uma imagem errada dele. Mas já deve saber disso, não é? — Ela admirava o fato de o caseiro respeitar o segredo de Jonas, mesmo exposto à curiosidade de todos.
Dewey arrumou mais uma pilha.
— Poderia ao menos me dizer como é a rotina dele? Assim poderei ficar fora do caminho.
Dewey afastou o boné para trás, fitando-a por alguns instantes, antes de falar:
— Não.
— O quê? — Ela não podia acreditar no que ouvia.
— O sr. Jonas não segue rotinas, faz o que quer. Se encontrá-lo novamente vai ter que lidar com a situação.
— Obrigada pela ajuda. — Demi cruzou os braços, fitando-o diretamente. — Prefere vê-lo se escondendo, ou saindo da toca para conhecer a filha?
Ele não respondeu, e ficou bem claro para Demi o quanto era leal ao patrão. Mas quando ele segurou o machado, disposto a recomeçar o trabalho que Jonas interrompeu, ela o impediu, segurando o braço que se erguia.
— Não vou sair daqui até ter certeza de que Kelly tem todo o cuidado e atenção que merece. Entendeu, sr. Halette?
Os olhos dele brilharam, embora a expressão do rosto continuasse inalterada.
— Sim, senhora. E pode me chamar de Dewey, senhora.
— Demi — corrigiu ela, virando-se para a casa e acrescentando: — Estou esperando que entreguem as compras. Assim, acho melhor recolocar aquela expressão séria no rosto. Afinal, é o que todos esperam, não é mesmo?
Dewey a olhou se afastar, lutando para esconder um sorriso.
— Sim, senhora.


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Oi meninas, quanto tempo né, desculpa gente realmente não deu pra mim postar durante a semana devido vários fatores acho que essa foi a pior semana da minha vida, nada deu certo, briguei feio com meu namorido, o trabalho está muito puxado ultimamente mas vocês não tem nada a ver com a história eu sei e é por isso que mesmo quase caindo de sono estou postando esse pra vocês espero que gostem e COMENTEM, domingo vou postar 3 pra vocês e não vai ser maratona porque não tenho capítulos suficientes e é isso.   

5 comentários:

  1. Ai que lindo, estou amando a nova história.
    Não é só pra vc que a vida ta dificil não xará (também to cheia de problemas), espero que se resolva com seu namorido logo.
    Posta logo
    Beijo xará :)

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  2. Pfto!
    Tô amando essa historia ..
    Anw, quero ver a Kelly :)))
    posta logo !!

    Beijos,

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  3. Perfeitooo, mas a Demi é fogo hen..... Quero só ver como vai ser a chegada de Kelly <333 eu realmente me apeguei a essa história é unica é interessante como ela lida em mostrar que amor vai alem de um rostinho bonito. Serio mesmo.....acho quelo isso em todos os comentários né? sorry ;s mas é verdade......
    postaaa logo, bjksss

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  4. Liindoo demais , sem querer ser intrometida, c tem quantos capitulos prontos ?? Ja tem umq base de quantos capitulos a historia vai ter ?

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  5. AAAAA Poostaaa logoo pleeease, beeijos

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