Devia ter telefonado
pedindo as compras, pensou Demi, enchendo o carrinho e tentando ignorar as
pessoas que a observavam, os jovens, muito mais jovens do que os que pensaria
em namorar, fitando-a intensamente. Ela sorriu docemente, um típico sorriso de
passarela, admitiu, rindo baixinho. Alguns homens eram pescadores, e ainda
usavam as botas de borracha da pescaria.
Checando a lista, Demi
dirigiu-se ao caixa. Vai começar, pensou, vendo que as pessoas aproximavam-se
de onde estava, como felinos. Um adolescente que varria o chão chegou mais
perto. A vendedora parecia não ter pressa, fitando-a demoradamente, apesar da
fila. Os clientes não tiravam os olhos dela. Não era de admirar que Jonas não
saísse de casa. O que teria acontecido com a hospitalidade do sul?
— Você é nova aqui? —
perguntou a vendedora, uma loira que usava argolas enormes nas orelhas e
mastigava chiclete.
— Sim. É uma linda ilha
— disse Demi. Era melhor deixá-los orgulhosos da terra onde viviam.
— Está no castelo, não
é?
— Sou a babá que o sr.
Jonas contratou.
— Babá?! — exclamaram
várias pessoas ao mesmo tempo. Demi olhou ao redor, fitando um a um, todos que
estavam próximos.
— O sr. Jonas está
esperando a filha chegar, e estou aqui para cuidar dela.
— Pobre criança — disse
uma velha senhora, num tom sombrio.
— Por quê? — perguntou
Demi, embora soubesse a resposta.
— Imagine ter um homem
tão horrível como pai.
— Conhece o sr. Jonas? —
perguntou Demi.
— Não exatamente.
Esperando que sua
expressão fosse da mais pura inocência, indagou:
— Então, como pode saber
como ele é?
— Ele nunca sai daquele
lugar — disse a vendedora. — Não mostra o rosto há quatro anos. Nem mesmo
Dewey, que mora lá, conseguiu vê-lo de perto.
Dewey, Demi imaginou,
devia ser o caseiro, que ainda não conheceu.
— Ele está desfigurado —
gaguejou o jovem que embalava suas compras.
— Se nunca o viu, como
pode saber disso?
O garoto deu de ombros,
como se fosse de conhecimento geral. Embora ninguém tivesse visto Jonas.
— Não acho que a
aparência seja importante — respondeu ela, tentando controlar-se, e detestando
que as pessoas dessem tanta importância às aparências. Ela sabia, por
experiência própria, como isso era injusto e preconceituoso, embora por motivos
opostos. As mulheres recusavam-se a ser suas amigas, acreditando que se
imaginava melhor do que elas. Os homens quase pisoteavam uns nos outros para
aproximar-se, todos tentando levá-la para a cama, ou convidá-la para um
acontecimento social, onde pudessem exibi-la como um troféu. Ninguém, nem mesmo
o ex-noivo, conseguiu ver além do rosto lindo que Deus lhe deu. E,
aparentemente, ninguém queria ver além das cicatrizes de Jonas.
Tudo isso fazia Demi
sentir um estranho impulso de defender um homem que nem conhecia. Era difícil
manter o controle diante de tantos preconceitos.
— Coloque na conta dele,
e mande entregar por volta das três — pediu, saindo depressa e sentindo que
todos os olhares a acompanhavam.
Em vez de pegar um táxi
para casa, resolveu acalmar-se, caminhando pela pitoresca cidadezinha. Mas as
lembranças continuavam a atormentá-la. A mãe, arrastando-a para comerciais de
tv, desde bem pequena, os concursos, tudo que sempre detestou. E quando cresceu,
escolhia participar apenas dos que lhe interessavam, porque queria ir para a
faculdade, e precisava do dinheiro.
Olhando em volta, viu as
vitrines das pequenas lojas, os bancos de madeira espalhados por vários locais,
turistas e moradores passeando e fazendo
compras. Dois homens mais velhos sentavam-se junto ao cais, trocando histórias
de pescaria. Demi sorriu, lembrando-se do avô, sentado na cadeira de balanço da
varanda, esculpindo pequenos animais de madeira para que ela e os irmãos brincassem.
Aliás, eram os únicos brinquedos que tinham. Uma vida simples, mas cheia de
amor, pensou, com saudade do avô.
Ela respirou fundo,
saboreando a brisa fria que vinha do mar. Como o sol estava alto ainda fazia
calor, mas logo chegaria à estação dos furacões, com chuva, umidade e frio
intenso. Cruzando os braços para proteger-se, andou mais depressa para a
pequena estrada que levava o castelo. Em poucos minutos entrava no calor
acolhedor da casa.
Depois de preparar café,
esfregou os braços gelados, e ouviu um ruído vindo de fora. Franzindo a testa,
foi até a porta de trás e afastou as cortinas que cobriam a pequena janela.
Todos os seus impulsos femininos tornaram-se vivos e intensos, ao ver as costas
nuas do homem que cortava lenha. Os músculos poderosos moviam-se numa dança da
qual não conseguia afastar os olhos.
Jonas.
Como era bonito, usando
apenas jeans e botas! De onde estava, podia ver apenas o perfil do rosto, com
certeza o lado sem cicatrizes, já que os traços eram aristocráticos e bem feitos.
Os cabelos escuros flutuavam ao vento, cobrindo totalmente a nuca. Os braços
eram fortes, musculosos, e ao erguer o machado para cortar mais uma tora, Demi
pôde ver como eram poderosos, já que a madeira partiu-se em um golpe. Ele deu
mais alguns golpes e depois parou, apoiado no cabo do machado. Quando começou a
falar, Demi percebeu que não estava sozinho e foi até a janela. Outro homem,
mais velho, sentava-se num banco e brincava com um canivete. Era Dewey Halette,
e aparentemente era bem mais do que um caseiro. Era amigo de Jonas. Talvez seu
único amigo. Dewey conversava animadamente, o rosto moreno e enrugado meio
coberto pelo boné. A camiseta escura ajustava-se ao tórax esguio, e o jeans
estava tão gasto nos joelhos que a cor desbotou. Ela observava os dois homens,
e como se Jonas soubesse que estava ali, continuava de costas. Ainda assim,
pôde ver cicatrizes longas e finas descendo pelas costelas, como se tivessem
sido feitas por adagas afiadas. Devia ter sido muito doloroso, e mais uma vez,
imaginou como teria sido o acidente. De repente, ele inclinou a cabeça para
trás e riu. O som, carregado pelo vento, chegou até Demi, que estremeceu,
sentindo um estranho calor percorrê-la. Pelo menos ele não tinha perdido a
capacidade de desfrutar de pequenos prazeres, como conversar e rir com um
amigo, pensou, desejando juntar-se a eles. Mas, se quisesse que o visse, já
teria aparecido.
Ele disse algo que fez
Dewey corar. Logo se levantava, sorria para Jonas e colocava mais toras aos pés
dele. Jonas continuou a trabalhar, cortando tora por tora, enquanto Dewey
empilhava os pedaços. Então, o caseiro parou, olhando diretamente para ela.
Demi sustentou o olhar.
Jonas largou o machado e
pegou o casaco com capuz.
Saindo para a varanda,
Demi gritou:
— Desculpe-me. Não tive
a intenção de me intrometer.
— Mas fez exatamente
isso — disse Jonas, vestindo o casaco de costas para ela.
— Desculpe-me. Vou para
outro lugar.
Joseph suspirou,
desejando virar e fitá-la nos olhos.
— Não quero que sinta
que precisa afastar-se de onde estou.
— Mas é exatamente o que
quer. Preferia que eu não estivesse aqui, não é mesmo? — Ela viu que os ombros
dele enrijeciam. — O mínimo que podemos fazer é ser honestos um com o outro.
Joseph apertou os
lábios, suspirando mais uma vez.
— É verdade. Mas posso garantir
que não me importo de não ter mais a casa só para mim.
— Não precisa se
esconder.
— Eu não me escondo.
Escolhi este estilo de vida, srta. Lovato, e nos últimos quatro anos aprendi
que é a melhor maneira de viver.
— Quer dizer, a mais
fácil.
— Nada é fácil para mim,
senhorita.
— E quanto a sua filha?
Ela espera encontrar o pai. Precisa de carinho e conforto. Perdeu a mãe.
O peito de Joseph
apertou-se ao pensar na tristeza de Kelly, e como gostaria de confortá-la.
— Foi por isso que a
contratei, srta. Lovato.
— E não se importa com
ela?
Como podia dizer a Demi
que ao saber da existência da filha, poucas semanas atrás, sentiu raiva da mãe
de Kelly, por abandoná-lo,
carregando no ventre o bebê que era deles, por não lhe dar uma chance de
conhecer a criança, antes de lhe tirar tudo que tinha. O amor pela mulher
desapareceu quando ela partiu, abandonando-o quando ele mais precisava,
condenando-o à prisão e ao isolamento. Como podia esquecer o passado?
— Eu me importo. Muito.
Mas mal tive tempo de me acostumar com a idéia de que sou pai. — Ele começou a
andar para a garagem.
— É bom se acostumar —
disparou Demi, enquanto ele se afastava. — Depois de amanhã ela estará aqui,
querendo vê-lo, e como poderei explicar que o pai não quer encontrá-la?
— Diga a verdade —
respondeu ele, sem parar de andar. — Que o pai não quer ser mais uma fonte de
pesadelos para ela.
A resposta a deixou sem
ação, e antes que pudesse pensar no que dizer, ele tinha desaparecido.
Virando-se, ela fitou Dewey.
— Acho que as coisas não
correram muito bem, não é? Dewey observou-a atentamente, como se estivesse
avaliando cada detalhe, e Demi não
saberia dizer qual foi a impressão do homem, já que sua expressão continuava
impenetrável.
— Não, madame.
— Sou Demetria Lovato.
— O sr. Jonas me disse.
— E o que mais ele falou
a meu respeito?
A expressão de Dewey
continuou impenetrável, e ele virou-se para arrumar as pilhas de madeira. Por
certo precisariam delas para aquecer-se nas noites de tempestade, imaginou Demi,
pensando em como o castelo de pedra devia ser frio no inverno.
— Todos na cidade têm
uma imagem errada dele. Mas já deve saber disso, não é? — Ela admirava o fato
de o caseiro respeitar o segredo de Jonas, mesmo exposto à curiosidade de
todos.
Dewey arrumou mais uma
pilha.
— Poderia ao menos me
dizer como é a rotina dele? Assim poderei ficar fora do caminho.
Dewey afastou o boné
para trás, fitando-a por alguns instantes, antes de falar:
— Não.
— O quê? — Ela não podia
acreditar no que ouvia.
— O sr. Jonas não segue
rotinas, faz o que quer. Se encontrá-lo novamente vai ter que lidar com a
situação.
— Obrigada pela ajuda. —
Demi cruzou os braços, fitando-o diretamente. — Prefere
vê-lo se escondendo, ou saindo da toca para conhecer a filha?
Ele não respondeu, e
ficou bem claro para Demi o quanto era leal ao patrão. Mas quando ele segurou o
machado, disposto a recomeçar o trabalho que Jonas interrompeu, ela o impediu,
segurando o braço que se erguia.
— Não vou sair daqui até
ter certeza de que Kelly tem todo o cuidado e atenção que merece. Entendeu, sr.
Halette?
Os olhos dele brilharam,
embora a expressão do rosto continuasse inalterada.
— Sim, senhora. E pode
me chamar de Dewey, senhora.
— Demi — corrigiu ela,
virando-se para a casa e acrescentando: — Estou esperando que entreguem as
compras. Assim, acho melhor recolocar aquela expressão séria no rosto. Afinal,
é o que todos esperam, não é mesmo?
Dewey a olhou se afastar,
lutando para esconder um sorriso.
— Sim, senhora.
Ai que lindo, estou amando a nova história.
ResponderExcluirNão é só pra vc que a vida ta dificil não xará (também to cheia de problemas), espero que se resolva com seu namorido logo.
Posta logo
Beijo xará :)
Pfto!
ResponderExcluirTô amando essa historia ..
Anw, quero ver a Kelly :)))
posta logo !!
Beijos,
Perfeitooo, mas a Demi é fogo hen..... Quero só ver como vai ser a chegada de Kelly <333 eu realmente me apeguei a essa história é unica é interessante como ela lida em mostrar que amor vai alem de um rostinho bonito. Serio mesmo.....acho quelo isso em todos os comentários né? sorry ;s mas é verdade......
ResponderExcluirpostaaa logo, bjksss
Liindoo demais , sem querer ser intrometida, c tem quantos capitulos prontos ?? Ja tem umq base de quantos capitulos a historia vai ter ?
ResponderExcluirAAAAA Poostaaa logoo pleeease, beeijos
ResponderExcluir