quarta-feira, 24 de julho de 2013

CAPÍTULO 19

Joseph ficou parado no quarto de Demi, observando-as enquanto dormiam. Queria deitar-se na cama com elas, abraçá-las. E amaldiçoou o momento em que vidro e metal haviam dilacerado seu corpo e sua vida.
Sentia-se como um monstro acorrentado, que magoava todos que gostavam dele, quando tentavam se aproximar. Estava tão feliz por ter as duas em sua vida, e só agora percebia como era solitário antes disso. A emoção, de repente, tomara conta do Castelo. Podia senti-la no ar. E sabia que, quando Demi acordasse, haveria silêncio total, ou palavras duras. E não estava ansioso por isso.
Olhando para o espelho que segurava, observou a moldura coberta de conchas. Não havia espelhos no andar superior. Não precisava deles, nem mesmo para se barbear. Não queria recordar por que era melhor ficar longe dos outros, por que ninguém gostava de ver sua imagem.
Mas iria guardá-lo, vendo refletidas nele as imagens de Kelly e Demi, abraçadas, como mãe e filha. E saberia que jamais poderia tê-las.
Deixando um bilhete para Kelly, agradeceu pelo presente e saiu do quarto, sentindo no ar o perfume de Demi, que parecia estar preso às suas roupas. Subindo a escada que levava à torre, fechou a porta atrás de si, deixando o mundo do lado de fora e desejando que pudesse fazer o mesmo com seu coração.


Apesar de uma dor de cabeça insistente, Demi cumpriu a promessa e cavalgou com Kelly pela praia. A garotinha adorou e logo sorria novamente. Para ela, no entanto, sorrir exigia esforço.
Depois de um jantar leve, um banho e algumas histórias, Kelly adormeceu e Demi ficou sozinha no andar térreo, na biblioteca de Joseph. Tinha encontrado uma caixa na garagem, com papéis e fotos antigas, e esperava encontrar uma foto do pai e da mãe juntos para dar a Kelly. Tinha certeza de que isso daria à menina mais segurança e conforto. Enroscada na poltrona de couro, com um copo de vinho a seu lado, examinou as pilhas de fotos e papéis. Alguns eram muito velhos, estavam grudados e estragados pela umidade. Então encontrou um envelope plástico com recortes de jornal. Espalhando-os sobre a escrivaninha, pegou o maior deles. A manchete dizia: Empresário Joseph Jonas envolvido em acidente de trem.
Havia a foto de um carro, todo retorcido e ainda preso às ferragens dianteiras do trem. Ela podia imaginar que pedaços do carro tinham sido cortados para tirá-lo de lá.
Então, leu o artigo sobre o acidente. Uma mulher grávida tinha sofrido um ataque epilético e o carro dela ficou preso nos trilhos. Joseph tentou tirar a mulher, mas as pernas dela estavam presas, e não conseguiu. Testemunhas tinham relatado que ele voltou ao próprio carro, e com ele tentou empurrar o carro da mulher, para tirá-lo dos trilhos. Mas o tempo não foi suficiente para que escapasse. O trem tinha batido na traseira do carro de Joseph com toda a força, e segundo as testemunhas, ele foi arrastado por mais de um quilômetro, até ser atirado pela janela.
As mãos de Demi tremiam ao ler o artigo, que falava dos negócios de Joseph, dos prêmios que recebeu e das atividades filantrópicas que costumava realizar.
No fim da página havia uma foto dele, incrivelmente bonito e atraente, de smoking, e ao lado, a foto da maca na qual foi transportado para a ambulância. O lado esquerdo e a cabeça estavam cobertos. O braço pendia, coberto de sangue, a na mão apenas era visível o anel de sinete.
Demi pegou outro artigo. Joseph Jonas gravemente ferido, dizia a manchete. Jonas sai do hospital, dizia outra. Cirurgiões plásticos dizem que os danos foram grandes demais. Jonas recusa-se a dar entrevistas. Havia outro artigo falando do prêmio que recebeu da cidade de Charleston, com a foto da mulher e do bebê que ele salvou. Taylor recebeu o prêmio por ele, e suas únicas palavras tinham sido: A recuperação de meu marido será lenta e difícil. Ele não estava pensando nas consequências ao salvar a sra. Argyle, mas apesar dos ferimentos graves, não está arrependido.
Mesmo no jornal, o comentário de Taylor pareceu amargo para Demi. Olhando dentro da caixa, encontrou a placa de metal. Pelo generoso ato de bravura, esquecendo da própria segurança… a cidade de Charleston homenageia seu filho mais corajoso…
Um herói. Havia mais prêmios e elogios nos outros recortes, e em nenhuma das ocasiões Joseph apareceu para recebê-los.
Quem teria guardado tudo aquilo? Nem por um segundo imaginou que Joseph o tivesse feito. Achava que Dewey era o responsável, já que Taylor o deixou, incapaz de viver com o homem que viu quando as ataduras tinham sido retiradas.
Ela suspirou, pensando que talvez não fosse bem assim. Talvez eles já estivessem enfrentando uma crise conjugal e o acidente foi apenas o pretexto final para separá-los. Mas tinha a sensação de que a atitude de Taylor o afetou tão profundamente que por isso escolheu viver nas sombras. Demi imaginou como teria sido a vida dele se a esposa o tivesse aceitado como era e permanecido a seu lado. Ela deveria ter orgulho da coragem e generosidade do marido. Mas preferiu abandoná-lo.
Pondo de lado os artigos, voltou à atenção para as fotos, tentando encontrar uma para Kelly. Por fim, achou uma que mostrava Taylor e Joseph juntos, e ao fitar os olhos dele na foto, viu Kelly. Será que o sorriso também era igual? Ela viu apenas parte do rosto dele, naquele dia em que rachava lenha.
De repente, sentiu que era observada.
— Isso é assustador, Joseph. Pare, ou um dia desses vai acabar me apavorando de verdade, e acabarei machucando você para me defender. Onde você está? — insistiu, incapaz de vê-lo no escuro.
— Aqui. — Ele acenou, e ela o viu junto à armadura que ficava num canto. Era difícil dizer qual era o homem e qual era a estrutura de metal.
— Prefere que eu apague todas as luzes para poder se esconder melhor?
— Peio jeito, hoje você está ainda mais sarcástica.
— Bem, então não é tão tolo quanto pensei.
— O que quer dizer com isso?
— Que não vou precisar lhe dizer mais uma vez como magoou Kelly.
Ele se mexeu, puxando uma cadeira de espaldar alto para a sombra e sentando-se.
— Devia ter me ajudado, Demetria. Sabe que eu não queria magoá-la. — Um suspiro pesado ecoou na sala, e Demi pôde sentir o sofrimento dele. — Parece que não consigo fazer nada direito ultimamente.
— É porque ainda não se acostumou com intrusos no seu santuário.
— Mas isso não me impediu de magoar minha garotinha.
— Não foi de propósito, eu sei. Mas quero que entenda…
— Está bem. Continue.
— Esta rotina não está funcionando, e temos que pensar em outra coisa. Kelly vai perdoá-lo, Joseph. Aliás, já perdoou.
— Um espelho, Demi… Pelo amor de Deus. Demi piscou, surpresa.
— Oh, Joseph… Eu não tinha pensado nisso.
Havia espelhos no quarto dela, nos banheiros, mas em nenhum outro lugar.
— Era apenas algo que estava aprendendo a fazer. E desejou dá-lo a você.
— Eu sei — disse ele, a voz revelando arrependimento. — Tenho que compensá-la de algum modo.
— Sei que o fará. — Mas não sabia como. — Li sobre o acidente — declarou, indicando com um gesto os recortes.
— Não gosto que fique mexendo nas minhas coisas — retrucou ele, tenso.
— Poderia ter encontrado tudo na Internet, você sabe. Ele concordou, mas mesmo assim não estava feliz por vê-la revolver o passado.
— O que você fez foi um ato generoso, cheio de coragem.
— Poderia ter matado a nós dois — resmungou ele.
— Peio contrário. Sua ação rápida salvou vidas. Um ser humano por nascer e a mãe.
— Soube que ele nasceu poucas horas depois do acidente.
— Viu a sra. Argyle e o filho?
— Não. — Ele sacudiu a cabeça. — Os médicos disseram que ela foi ao hospital, mas Taylor não permitiu que entrasse. Mais tarde ela me escreveu. Deu ao filho o meu nome. — O menino deve ser poucos meses mais velho do que Kelly — comentou, só então dando-se conta disso.
— Taylor não permitiu que ela agradecesse a você pessoalmente?
— Eu não estava com disposição para receber elogios.
— Você ou Taylor?
— O quê?
O tom dele era defensivo, e deixava claro que era melhor parar por ali. Mas Demi insistiu.
— Como se sentiu ao acordar depois do acidente?
— Feliz por estar vivo. Feliz por eles estarem vivos. Mas estava tão dopado pelos sedativos, que mal me lembro das primeiras semanas.
Alguns momentos se passaram. Demi bebericava o vinho, e Joseph continuava sentado no escuro. Ela podia ver o contorno da cadeira, e o abajur na escrivaninha oferecia uma visão parcial dele, da cintura para baixo, revelando a calça de seda preta e o roupão. Estava descalço, com os pés cruzados nos tornozelos. Pés perfeitos, pensou Demi, com um sorriso.
— E como Taylor se sentiu?
— Ela não falava a respeito.
— Foi o que imaginei.
— O que esperava? O marido dela foi esmagado por um trem para salvar outra mulher.
— Isso é o que ela pensou, Joseph. Não precisa defendê-la. Você nem conhecia a mulher e teria feito a mesma coisa se, se tratasse de um homem. Seu gesto foi instintivo. Taylor não se conformou por você ter arriscado sua vida. E mais ainda quando viu as consequências.
Houve uma longa pausa, e então ele falou:
— Tem razão. — As palavras foram acompanhadas por um longo suspiro. — Lembro-me de que perguntou como pude fazer aquilo com ela… conosco. Foi então que a fiquei conhecendo realmente. Ela começou a trazer os melhores cirurgiões do país, pedindo uma opinião após a outra, sem obter a resposta que esperava.
— E qual era?
— Que meu rosto voltasse a ser como antes.
O egoísmo de Taylor tinha se revelado nessa única frase, e Demi sentiu o coração apertar-se ao imaginar a dor de Joseph.
— E então ela quis se separar?
— Não — continuou ele, num tom amargo. — Ainda Ficamos mais algum tempo juntos. Quero dizer, não exatamente juntos… Ela dormia no quarto de hóspedes, com a desculpa de que não queria bater nos meus ferimentos durante a noite.
Os sinais da gravidez já deviam estar aparecendo, e ela queria escondê-los, pensou Demi.
— E não deixou que a tocasse, não é?
Ele estava quieto, imóvel, e ela podia sentir a dor e a humilhação.
— Não. Mas não posso culpá-la. Não depois de ver minha imagem no espelho.
— Mas eu posso.
— Como?
— Se ela o amasse de verdade, não teria se importado.
— Eu não era exatamente o príncipe encantado.
— E daí? Agora também não é. Ele riu, baixinho.
— Essa é a franqueza que eu adoro.
A última palavra fez Demi estremecer.
— Continue, sei que não acabou.
— Você estava sofrendo, se recuperando de um trauma terrível. Eu li os artigos. — A voz dela não escondia a raiva da mulher que o abandonou num momento tão difícil. — Ficou semanas no hospital, enfrentou tratamentos prolongados, fisioterapia. Pelo que sofreu, tem sorte de estar vivo. — O osso da coxa foi substituído por uma placa de metal, o quadril esquerdo estilhaçado, assim como todo o lado esquerdo do corpo. O ombro tinha sido esmagado, e havia pinos de metal no braço, nos dedos e nas costelas. — Sua determinação para curar-se foi admirável.
Joseph ergueu bruscamente a cabeça. Além dos médicos, ela era a primeira pessoa a dizer isso. Depois do acidente, ouvindo Taylor culpá-lo pelo que sofreu e pelo que tinha feito com a vida dela, decidiu lutar,
— Estava tentando provar a ela que nada mudou entre nós. Depois de algum tempo, percebi que não fazia diferença. Ela já me olhava de um modo diferente.
— Como?
— Como se eu não fosse um homem, mas uma criatura repulsiva.
— Oh, Joseph.
A compreensão de Demi o atingiu, fazendo-o estremecer. Ainda assim, continuou:
— Ela dormia sozinha, comia sozinha, até que, numa manhã, eu estava sozinho. Ela não conseguiu me encarar nem para dizer adeus. — Ele se mexeu na cadeira. — Deixou uma carta.
Quanta frieza e crueldade, pensou Demi, mas não disse nada.
— Percebi que eu a levei a agir assim. Não. Não me defenda. Por favor, Demi. Eu era o menino de ouro, que transformava em ouro tudo que tocava. E todos queriam estar perto de mim. — Era como se ele falasse de outra pessoa. — Tudo era fácil. A liberdade, o alto padrão de vida e o dinheiro. E só quando vi aquela mulher grávida presa nas ferragens, lutando para respirar, percebi quem realmente era. Naquele momento, percebi o que minha alma desejava. Era como se eu não tivesse vivido até então. — A voz tornou-se um sussurro. — Era a única coisa que eu podia fazer. A coisa certa. E Tayor me acusava por tê-lo feito, e tentava me fazer voltar ao que era antes, trazendo um cirurgião atrás do outro, deixando claro como sentia repulsa pelo que eu me transformei. Eu estava com raiva do mundo, por me mostrar um homem que eu não tinha certeza se queria ser.
Discretamente ela enxugou as lágrimas que escorriam pelo rosto, tentando manter a voz firme:
— E agora?
— Sei que não mudaria nada que aconteceu naquela noite. — Ele riu, baixinho. — Exceto talvez, ter pisado mais forte no acelerador.
Demi tomou o resto do vinho e recolocou tudo na caixa. Joseph ficou tenso ao vê-la levantar-se e caminhar para ele, o roupão fino moldando o corpo esguio.
— Não se aproxime — sussurrou ele, roucamente.
Ela não obedeceu, e ele pôde sentir o perfume na pele, nos cabelos dela.
— Demi…
Estava imóvel, e quando ela ergueu a mão, segurou-a no ar. Com um gesto rápido ela soltou-se e acariciou o lado do rosto que não tinha cicatrizes. Os dedos deslizaram para os cabelos macios, e ele gemeu, baixinho.
— Não sou Taylor, e você não é Wilmer. — Os lábios dela tocaram levemente os dele, e Joseph lutou contra o desejo de colocá-la no colo e saboreá-la com a boca, as mãos.
— Não tenho medo de você, dragão. — Ela se mexeu, os lábios tocando a orelha de Joseph, a voz sedutora enchendo a noite. — Afinal, por que está sempre se aproximando de mim?
Antes que ele pudesse responder, afastou-se, escapando para a escuridão do corredor. Ele sabia por que. Estava começando a confiar nela. Tinha lhe contado coisas que jamais disse a ninguém. E essas duas coisas eram perigosas. Porque quando estava perto dela o que menos lhe importava era a imagem que viu no espelho.

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TÁ AÍ MAIS UM CAPÍTULO AGORA, TALVEZ SÓ SÁBADO, VOU TENTAR POSTAR ANTES MAS NÃO GARANTO , COMENTEM!  

11 comentários:

  1. aaaai to amando *------*
    tenta postar antes de sábado , não vou aguentar de tanta curiosidade :))
    posta mais , beeijos ;*

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  2. tá tão lindo *_*
    posta mais antes de sábado... pleeeeaseeee
    seguidora de portugal aqui! bjnhos

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  3. ahhhhhhhhhhhhh!!!!!!! como assim só sabado??????????????????????????!!!!!!!!!!!!!!
    vou surtar aqui até lá kkkkkkk faz isso não :( .....como vou passar esses 2 longos
    dias sem ler esta historia linda e emocionante ????!!!! me diz que é brincadeira isso ....e que vc vai postar antes please ?

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  4. o quêeeeeeeeeeeeeeeeeeee???????????? dois dias sem cap isso é castigo !!!!!! posta antes

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  5. Concordo plenamente, dois dias sem cap eh mesmo um castigo!!!
    Vai ter que fazer outra maratona kkkkkkkkk
    Tenta postar antes, sua fic eh perfeita...... Uma das minha preferidas!!!!
    Bjoooos e postaaa, amei o cap... Do nao gostei da parte que ele se afasto dela :(( kkkkkkkkkkkkk
    Quero HOT Jemiiii, :D

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  6. aaaaaahh que perfeito!!!
    please posta antes, viciando na sua fic!!!!
    ta muito perfeita (((:

    bjjjsss ;D

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  7. Ai que saudade de comentar aqui.
    Desculpa ter comentado antes, xará.
    Eu estou amando essa fic, está tudo maravilhoso.
    To ansiosa pra ver quando Joseph vai parar de se esconder.
    Posta assim que puder.

    Beijossssssssssssssssssssss

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  8. Hey, leio sua fic a um tempo mas não tinha como comentar, estou apaixonada. Amo fic diferentes sem aquelas coisas clichê kkkk quando o Joseph vai sair do seu mundinho? Estou anciosa posta logo. Beijos,
    Ane

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