Joseph ficou parado no quarto de Demi, observando-as
enquanto dormiam. Queria deitar-se na cama com elas, abraçá-las. E amaldiçoou o
momento em que vidro e metal haviam dilacerado seu corpo e sua vida.
Sentia-se como um monstro acorrentado, que magoava todos
que gostavam dele, quando tentavam se aproximar. Estava tão feliz por ter as
duas em sua vida, e só agora percebia como era solitário antes disso. A emoção,
de repente, tomara conta do Castelo. Podia senti-la no ar. E sabia que, quando
Demi acordasse, haveria silêncio total, ou palavras duras. E não estava ansioso
por isso.
Olhando para o espelho que segurava, observou a moldura
coberta de conchas. Não havia espelhos no andar superior. Não precisava deles,
nem mesmo para se barbear. Não queria recordar por que era melhor ficar longe
dos outros, por que ninguém gostava de ver sua imagem.
Mas iria guardá-lo, vendo refletidas nele as imagens de
Kelly e Demi, abraçadas, como mãe e filha. E saberia que jamais poderia tê-las.
Deixando um bilhete para Kelly, agradeceu pelo presente e
saiu do quarto, sentindo no ar o perfume de Demi, que parecia estar preso às
suas roupas. Subindo a escada que levava à
torre, fechou a porta
atrás de si, deixando o mundo do lado de fora e desejando que pudesse fazer o
mesmo com seu coração.
Apesar de uma dor de cabeça insistente, Demi cumpriu a
promessa e cavalgou com Kelly pela praia. A garotinha adorou e logo sorria
novamente. Para ela, no entanto, sorrir exigia esforço.
Depois de um jantar leve, um banho e algumas histórias,
Kelly adormeceu e Demi ficou sozinha no andar térreo, na biblioteca de Joseph.
Tinha encontrado uma caixa na garagem, com papéis e fotos antigas, e esperava
encontrar uma foto do pai e da mãe juntos para dar a Kelly. Tinha certeza de
que isso daria à menina mais segurança e conforto. Enroscada na poltrona de
couro, com um copo de vinho a seu lado, examinou as pilhas de fotos e papéis.
Alguns eram muito velhos, estavam grudados e estragados pela umidade. Então
encontrou um envelope plástico com recortes de jornal. Espalhando-os sobre a
escrivaninha, pegou o maior deles. A manchete dizia: Empresário Joseph Jonas
envolvido em acidente de trem.
Havia a foto de um carro, todo retorcido e ainda preso às
ferragens dianteiras do trem. Ela podia imaginar que pedaços do carro tinham
sido cortados para tirá-lo de lá.
Então, leu o artigo sobre o acidente. Uma mulher grávida
tinha sofrido um ataque epilético e o carro dela ficou preso nos trilhos.
Joseph tentou tirar a mulher, mas as pernas dela estavam presas, e não
conseguiu. Testemunhas tinham relatado que ele voltou ao próprio carro, e com
ele tentou empurrar o carro da mulher, para tirá-lo dos trilhos. Mas o tempo
não foi suficiente para que escapasse. O trem tinha batido na traseira do carro
de Joseph com toda a força, e segundo as testemunhas, ele foi arrastado por
mais de um quilômetro, até ser atirado pela janela.
As mãos de Demi tremiam ao ler o artigo, que falava dos
negócios de Joseph, dos prêmios que recebeu e das atividades filantrópicas que
costumava realizar.
No fim da página havia uma foto dele, incrivelmente
bonito e atraente, de smoking, e ao lado, a foto da maca na qual foi
transportado para a ambulância. O lado esquerdo e a cabeça estavam cobertos. O
braço pendia, coberto de sangue, a na mão apenas era visível o anel de sinete.
Demi pegou outro artigo. Joseph Jonas gravemente ferido,
dizia a manchete. Jonas sai do hospital, dizia outra. Cirurgiões plásticos
dizem que os danos foram grandes demais. Jonas recusa-se a dar entrevistas.
Havia outro artigo falando do prêmio que recebeu da cidade de Charleston, com a
foto da mulher e do bebê que ele salvou. Taylor recebeu o prêmio por ele, e
suas únicas palavras tinham sido: A recuperação de meu marido será lenta e
difícil. Ele não estava pensando nas consequências ao salvar a sra. Argyle, mas
apesar dos ferimentos graves, não está arrependido.
Mesmo no jornal, o comentário de Taylor pareceu amargo
para Demi. Olhando dentro da caixa, encontrou a placa de metal. Pelo generoso
ato de bravura, esquecendo da própria segurança… a cidade de Charleston
homenageia seu filho mais corajoso…
Um herói. Havia mais prêmios e elogios nos outros
recortes, e em nenhuma das ocasiões Joseph apareceu para recebê-los.
Quem teria guardado tudo aquilo? Nem por um segundo
imaginou que Joseph o tivesse feito. Achava que Dewey era o responsável, já que
Taylor o deixou, incapaz de viver com o homem que viu quando as ataduras tinham
sido retiradas.
Ela suspirou, pensando que talvez não fosse bem assim.
Talvez eles já estivessem enfrentando uma crise conjugal e o acidente foi
apenas o pretexto final para separá-los. Mas tinha a sensação de que a atitude
de Taylor o afetou tão profundamente que por isso escolheu viver nas sombras.
Demi imaginou como teria sido a vida dele se a esposa o tivesse aceitado como
era e permanecido a seu lado. Ela deveria ter orgulho da coragem e generosidade
do marido. Mas preferiu abandoná-lo.
Pondo de lado os artigos, voltou à atenção para as fotos,
tentando encontrar uma para Kelly. Por fim, achou uma que mostrava Taylor e Joseph
juntos, e ao fitar os olhos dele na foto, viu Kelly. Será que o sorriso também
era igual? Ela viu apenas parte do rosto dele, naquele dia em que rachava
lenha.
De repente, sentiu que era observada.
— Isso é assustador, Joseph. Pare, ou um dia desses vai
acabar me apavorando de verdade, e acabarei machucando você para me defender.
Onde você está? — insistiu, incapaz de vê-lo no escuro.
— Aqui. — Ele acenou, e ela o viu junto à armadura que
ficava num canto. Era difícil dizer qual era o homem e qual era a estrutura de
metal.
— Prefere que eu apague todas as luzes para poder se
esconder melhor?
— Peio jeito, hoje você está ainda mais sarcástica.
— Bem, então não é tão tolo quanto pensei.
— O que quer dizer com isso?
— Que não vou precisar lhe dizer mais uma vez como magoou
Kelly.
Ele se mexeu, puxando uma cadeira de espaldar alto para a
sombra e sentando-se.
— Devia ter me ajudado, Demetria. Sabe que eu não queria
magoá-la. — Um suspiro pesado ecoou na sala, e Demi pôde sentir o sofrimento
dele. — Parece que não consigo fazer nada direito ultimamente.
— É porque ainda não se acostumou com intrusos no seu
santuário.
— Mas isso não me impediu de magoar minha garotinha.
— Não foi de propósito, eu sei. Mas quero que entenda…
— Está bem. Continue.
— Esta rotina não está funcionando, e temos que pensar em
outra coisa. Kelly vai perdoá-lo, Joseph. Aliás, já perdoou.
— Um espelho, Demi… Pelo amor de Deus. Demi piscou,
surpresa.
— Oh, Joseph… Eu não tinha pensado nisso.
Havia espelhos no quarto dela, nos banheiros, mas em
nenhum outro lugar.
— Era apenas algo que estava aprendendo a fazer. E
desejou dá-lo a você.
— Eu sei — disse ele, a voz revelando arrependimento. —
Tenho que compensá-la de algum modo.
— Sei que o fará. — Mas não sabia como. — Li sobre o
acidente — declarou, indicando com um gesto os recortes.
— Não gosto que fique mexendo nas minhas coisas —
retrucou ele, tenso.
— Poderia ter encontrado tudo na Internet, você sabe. Ele
concordou, mas mesmo assim não estava feliz por vê-la revolver o passado.
— O que você fez foi um ato generoso, cheio de coragem.
— Poderia ter matado a nós dois — resmungou ele.
— Peio contrário. Sua ação rápida salvou vidas. Um ser
humano por nascer e a mãe.
— Soube que ele nasceu poucas horas depois do acidente.
— Viu a sra. Argyle e o filho?
— Não. — Ele sacudiu a cabeça. — Os médicos disseram que
ela foi ao hospital, mas Taylor não permitiu que entrasse. Mais tarde ela me
escreveu. Deu ao filho o meu nome. — O menino deve ser poucos meses mais velho
do que Kelly — comentou, só então dando-se conta disso.
— Taylor não permitiu que ela agradecesse a você
pessoalmente?
— Eu não estava com disposição para receber elogios.
— Você ou Taylor?
— O quê?
O tom dele era defensivo, e deixava claro que era melhor
parar por ali. Mas Demi insistiu.
— Como se sentiu ao acordar depois do acidente?
— Feliz por estar vivo. Feliz por eles estarem vivos. Mas
estava tão dopado pelos sedativos, que mal me lembro das primeiras semanas.
Alguns momentos se passaram. Demi bebericava o vinho, e
Joseph continuava sentado no escuro. Ela podia ver o contorno da cadeira, e o
abajur na escrivaninha oferecia uma visão parcial dele, da cintura para baixo,
revelando a calça de seda preta e o roupão. Estava descalço, com os pés
cruzados nos tornozelos. Pés perfeitos, pensou Demi, com um sorriso.
— E como Taylor se sentiu?
— Ela não falava a respeito.
— Foi o que imaginei.
— O que esperava? O marido dela foi esmagado por um trem
para salvar outra mulher.
— Isso é o que ela pensou, Joseph. Não precisa
defendê-la. Você nem conhecia a mulher e teria feito a mesma coisa se, se
tratasse de um homem. Seu gesto foi instintivo. Taylor não se conformou por
você ter arriscado sua vida. E mais ainda quando viu as consequências.
Houve uma longa pausa, e então ele falou:
— Tem razão. — As palavras foram acompanhadas por um
longo suspiro. — Lembro-me de que perguntou como pude fazer aquilo com ela… conosco.
Foi então que a fiquei conhecendo realmente. Ela começou a trazer os melhores cirurgiões do
país, pedindo uma opinião após a outra, sem obter a resposta que esperava.
— E qual era?
— Que meu rosto voltasse a ser como antes.
O egoísmo de Taylor tinha se revelado nessa única frase,
e Demi sentiu o coração apertar-se ao imaginar a dor de Joseph.
— E então ela quis se separar?
— Não — continuou ele, num tom amargo. — Ainda Ficamos
mais algum tempo juntos. Quero dizer, não exatamente juntos… Ela dormia no
quarto de hóspedes, com a desculpa de que não queria bater nos meus ferimentos
durante a noite.
Os sinais da gravidez já deviam estar aparecendo, e ela queria
escondê-los, pensou Demi.
— E não deixou que a tocasse, não é?
Ele estava quieto, imóvel, e ela podia sentir a dor e a
humilhação.
— Não. Mas não posso culpá-la. Não depois de ver minha
imagem no espelho.
— Mas eu posso.
— Como?
— Se ela o amasse de verdade, não teria se importado.
— Eu não era exatamente o príncipe encantado.
— E daí? Agora também não é. Ele riu, baixinho.
— Essa é a franqueza que eu adoro.
A última palavra fez Demi estremecer.
— Continue, sei que não acabou.
— Você estava sofrendo, se recuperando de um trauma
terrível. Eu li os artigos. — A voz dela não escondia a raiva da mulher que o
abandonou num momento tão difícil. — Ficou semanas no hospital, enfrentou
tratamentos prolongados, fisioterapia. Pelo que sofreu, tem sorte de estar
vivo. — O osso da coxa foi substituído por uma placa de metal, o quadril
esquerdo estilhaçado, assim como todo o lado esquerdo do corpo. O ombro tinha
sido esmagado, e havia pinos de metal no braço, nos dedos e nas costelas. — Sua
determinação para curar-se foi admirável.
Joseph ergueu bruscamente a cabeça. Além dos médicos,
ela era a primeira pessoa
a dizer isso. Depois do acidente, ouvindo Taylor culpá-lo pelo que sofreu e
pelo que tinha feito com a vida dela, decidiu lutar,
— Estava tentando provar a ela que nada mudou entre nós.
Depois de algum tempo, percebi que não fazia diferença. Ela já me olhava de um
modo diferente.
— Como?
— Como se eu não fosse um homem, mas uma criatura
repulsiva.
— Oh, Joseph.
A compreensão de Demi o atingiu, fazendo-o estremecer.
Ainda assim, continuou:
— Ela dormia sozinha, comia sozinha, até que, numa manhã,
eu estava sozinho. Ela não conseguiu me encarar nem para dizer adeus. — Ele se
mexeu na cadeira. — Deixou uma carta.
Quanta frieza e crueldade, pensou Demi, mas não disse
nada.
— Percebi que eu a levei a agir assim. Não. Não me
defenda. Por favor, Demi. Eu era o menino de ouro, que transformava em ouro
tudo que tocava. E todos queriam estar perto de mim. — Era como se ele falasse
de outra pessoa. — Tudo era fácil. A liberdade, o alto padrão de vida e o
dinheiro. E só quando vi aquela mulher grávida presa nas ferragens, lutando
para respirar, percebi quem realmente era. Naquele momento, percebi o que minha
alma desejava. Era como se eu não tivesse vivido até então. — A voz tornou-se
um sussurro. — Era a única coisa que eu podia fazer. A coisa certa. E Tayor me
acusava por tê-lo feito, e tentava me fazer voltar ao que era antes, trazendo
um cirurgião atrás do outro, deixando claro como sentia repulsa pelo que eu me
transformei. Eu estava com raiva do mundo, por me mostrar um homem que eu não
tinha certeza se queria ser.
Discretamente ela enxugou as lágrimas que escorriam pelo
rosto, tentando manter a voz firme:
— E agora?
— Sei que não mudaria nada que aconteceu naquela noite. —
Ele riu, baixinho. — Exceto talvez, ter pisado mais forte no acelerador.
Demi tomou o resto do vinho e recolocou tudo na caixa. Joseph
ficou tenso ao vê-la levantar-se e caminhar para ele, o roupão fino moldando o
corpo esguio.
— Não se aproxime — sussurrou ele, roucamente.
Ela não obedeceu, e ele pôde sentir o perfume na pele, nos
cabelos dela.
— Demi…
Estava imóvel, e quando ela ergueu a mão, segurou-a no
ar. Com um gesto rápido ela soltou-se e acariciou o lado do rosto que não tinha
cicatrizes. Os dedos deslizaram para os cabelos macios, e ele gemeu, baixinho.
— Não sou Taylor, e você não é Wilmer. — Os lábios dela
tocaram levemente os dele, e Joseph lutou contra o desejo de colocá-la no colo
e saboreá-la com a boca, as mãos.
— Não tenho medo de você, dragão. — Ela se mexeu, os lábios
tocando a orelha de Joseph, a voz sedutora enchendo a noite. — Afinal, por que
está sempre se aproximando de mim?
Antes que ele pudesse responder, afastou-se, escapando
para a escuridão do corredor. Ele sabia por que. Estava começando a confiar
nela. Tinha lhe contado coisas que jamais disse a ninguém. E essas duas coisas
eram perigosas. Porque quando estava perto dela o que menos lhe importava era a
imagem que viu no espelho.
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TÁ AÍ MAIS UM CAPÍTULO AGORA, TALVEZ SÓ SÁBADO, VOU TENTAR POSTAR ANTES MAS NÃO GARANTO , COMENTEM!
Adorei :))
ResponderExcluiraaaai to amando *------*
ResponderExcluirtenta postar antes de sábado , não vou aguentar de tanta curiosidade :))
posta mais , beeijos ;*
tá tão lindo *_*
ResponderExcluirposta mais antes de sábado... pleeeeaseeee
seguidora de portugal aqui! bjnhos
ahhhhhhhhhhhhh!!!!!!! como assim só sabado??????????????????????????!!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirvou surtar aqui até lá kkkkkkk faz isso não :( .....como vou passar esses 2 longos
dias sem ler esta historia linda e emocionante ????!!!! me diz que é brincadeira isso ....e que vc vai postar antes please ?
o quêeeeeeeeeeeeeeeeeeee???????????? dois dias sem cap isso é castigo !!!!!! posta antes
ResponderExcluirConcordo plenamente, dois dias sem cap eh mesmo um castigo!!!
ResponderExcluirVai ter que fazer outra maratona kkkkkkkkk
Tenta postar antes, sua fic eh perfeita...... Uma das minha preferidas!!!!
Bjoooos e postaaa, amei o cap... Do nao gostei da parte que ele se afasto dela :(( kkkkkkkkkkkkk
Quero HOT Jemiiii, :D
aaaaaahh que perfeito!!!
ResponderExcluirplease posta antes, viciando na sua fic!!!!
ta muito perfeita (((:
bjjjsss ;D
Hey ta lindo quero outro hoje!!!!
ResponderExcluirAi que saudade de comentar aqui.
ResponderExcluirDesculpa ter comentado antes, xará.
Eu estou amando essa fic, está tudo maravilhoso.
To ansiosa pra ver quando Joseph vai parar de se esconder.
Posta assim que puder.
Beijossssssssssssssssssssss
Hey, leio sua fic a um tempo mas não tinha como comentar, estou apaixonada. Amo fic diferentes sem aquelas coisas clichê kkkk quando o Joseph vai sair do seu mundinho? Estou anciosa posta logo. Beijos,
ResponderExcluirAne
Lindoooo demais, posta logo
ResponderExcluir