domingo, 19 de janeiro de 2014

CAPÍTULO 26 MARATONA

Maldita Demetria Lovato e seus cookies. Que fossem para o inferno ela, seu nariz sardento e seu atrevido rabo de cavalo que lhe lembrava como seu cabelo era sedoso nas mãos dele. E o gosto de sua boca. Espe­cialmente o doce gosto de sua boca. No momento em que a vira na cozinha, a cena na doca voltou-lhe à mente, provocando uma onda de pensamentos indesejados.
Imediatamente foi tomado pela ânsia de mergulhar os dedos naquelas mechas sedosas de novo, puxar o elástico que as prendia e beijá-la com força, por muito tempo, profundamente, e experimentar a suavidade de seus lábios e a doçura de sua língua.
Ah, sim, queria-a demais, admitiu, perturbado. Mas não se submeteria ao desejo. Demi não era seu tipo de mulher... o tipo temporário. Vinha com laços... carre­gava correntes... do tipo lar, lareira e filhos. Cheirava a permanência e lar, e ele aprendera que aquilo não existia, que se acreditasse nisso, apenas sofreria com a dor e o desapontamento.
Sua reação emocional a ela incomodava-o. Não era impulsivo. A lógica era a base de suas decisões e ações. Planejava seu caminho com frieza e deliberação e fazia com que o resultado desejado acontecesse. Assim, como se preparava bem, raramente cometia erros e, quando os cometia, aprendia com eles e jamais os repe­tia. E por isso, aquele beijo descuidado o abalara tanto e aquele impulso avassalador de beijá-la na cozinha o perturbara ainda mais.
Sabia que não devia querê-la, não podia confiar nela, e isso devia matar sua fome por ela. Alguma coisa em Demi derrubava suas defesas. Não ajudava o fato de que seu cheiro de madressilva permeasse a casa, demorando-se até muito depois de ela ter deixado um apo­sento. O cheiro suave o lembrava de Kevin ensinando-o a apanhar as flores e sugar o néctar... um tempo feliz, quando tudo tinha sido bom no mundo de Joseph.
O som de uma risada alegre vindo da cozinha despedaçou sua concentração, como acontecera tantas vezes. O som da voz de Demi falando, cantando ou rindo das graças dos meninos enchia a casa antes si­lenciosa, tornando impossível para ele manter o foco. Rosnou, furioso consigo mesmo. Estivera segurando um dos pedidos por dez minutos, minutos que não po­dia perder, e não conseguira entender uma palavra. Sua bússola mental estava voltada para a morena. Tinha que encontrar uma forma de bloquear aquele trio e se concentrar na agenda.
Sarah voltou, com um sorriso presunçoso no rosto, um prato de cookies em uma das mãos, um copo de leite na outra, e os colocou sobre a escrivaninha.
— Feliz agora?
— Obrigado.
Sob o olhar vigilante de Sarah, ele mordeu o biscoito, saboreando o gosto doce e a textura macia. Comeu o primeiro e tomou o leite gelado. Admitiu que Demi es­tava certa. Cookies comprados em padaria não se com­paravam aos feitos em casa. Ergueu o segundo para a boca.
— Agradeça a Demi. Ela insistiu para eu lhe trazer estes, apesar de sua recusa teimosa de comer com seu filho. Eu o teria deixado passar fome.
Demi seria atenciosa ou manipuladora? O que quer que fosse, ele não precisava da desaprovação de Sarah para saber que estava agindo como um idiota. Mas ele e Demi ficariam sozinhos na casa à noite, e todas as noites até a volta de Ash. Não podia deixar que a babá tivesse ideias e fosse para seu quarto, pois não conseguiria mandá-la embora. Não se orgulhava da conclusão, mas Hank lhe ensinara que, se um homem não conseguisse identificar suas fraquezas, jamais seria capaz de contro­lá-las. O apetite desapareceu, e Joseph empurrou o prato.
— Como está David?
— Ligou para confirmar o horário de chegada. As ve­zes, penso que está mais interessado no voo do que em passar o fim de semana comigo. O piloto deixa que ele seja o copiloto do avião da empresa. Obrigada por per­mitir que ele venha.
— Não é por você, é por mim. Quando David receber a licença de piloto, poderei contratá-lo.
— Chame como quiser, continua a ser um gesto gentil.
Ele descartou a gratidão dela. Aprendera, há muito tempo, que empregados felizes eram empregados leais. E gostava de ter Sarah por perto. Além disso, David era um sujeito sensacional. Seria uma bela aquisição para a equipe da Jonas.
— Mas se todos souberem que faz coisas assim, sua reputação de ser tão duro quanto Hank ficará abalada.
Ele mudou de assunto:
— Os resultados dos exames de drogas de Demi e da investigação de seu passado em busca de atividades criminosas já chegaram?
— Sim e, como previ, ela não tem nada a esconder. Liguei para todas as referências... dois colegas professores e o professor universitário que a recomenda para os alunos que precisam de ajuda. Os três falaram mui­to bem dela e disseram que você teve sorte quando a contratou.
— Pode ter pedido aos amigos para mentir.
Sarah bufou.
— Para um homem brilhante, generoso e com quem é uma alegria trabalhar, você pode ser denso demais, e tenho vontade de sacudi-lo. O que teria feito se qualquer das respostas fosse negativa? Já esgotamos todas as opções.
Verdade. Porque, apesar de tudo, ele jamais permiti­ria que o garoto ficasse sob a custódia do governo. Fe­lizmente, gritos vindos de fora o salvaram de precisar responder, já que não sabia o que dizer.
Levantou-se e olhou pelas janelas francesas que da­vam para o quintal. Demi corria pelo gramado, descalça, o rabo de cavalo balançando. Brincava como uma criança, como se não tivesse uma preocupação na vida. Ou uma consciência culpada. Mas o vento grudava a blusa aos seios e a saia às coxas, o que provava que, definitivamente, era toda mulher.
Os meninos a seguiam, rindo e gritando. Precisava de um protetor de ouvido. Demi pegou a bola de um azul vivo que Joseph vira na cesta que carregara do apartamento e a rolou no chão em direção aos meni­nos. O filho dela correu atrás, o de Ash tropeçou quan­do tentou e caiu no gramado. Um grito infernal surgiu no segundo em que ele ergueu a cabeça, embora certamente não estivesse ferido. Joseph se encolheu, cada músculo tenso. O grito o fez se lembrar do voo pavo­roso de Atlanta.
Demi tomou Graham nos braços, abraçou-o e lhe beijou a ponta do nariz, então o ergueu no ar. O grito ime­diatamente se transformou em uma risada, e os lábios de Joseph se mexeram. Então ela se deixou cair de joelhos com o menino. O filho dela pulou sobre os dois e logo os três riam e rolavam na grama. Ela abraçou o filho com um dos braços e o filho de Ash com o outro, dando atenção igual aos dois. Um deles logo estaria fora de sua vida... para sempre, assim não devia se deixar envolver. Mas suas mágoas não eram problema dele. Balançou a cabeça e olhou para Sarah ao seu lado.
— O que ela está fazendo?
— O que a está pagando para fazer. Divertindo seu filho e se divertindo também. Demi tem uma ligação natural com os bebês. Devia se juntar a eles por alguns minutos. O ar fresco lhe faria bem.
— Temos trabalho a fazer, se quer passar algum tem­po com seu marido neste fim de semana.

Joseph fechou as cortinas isolantes e voltou para a escrivaninha. Infelizmente, não abafavam por comple­to o barulho que o trio fazia. Abriu uma gaveta, pegou fones de ouvido, colocou-os, conectou-os ao iPod, en­tão ligou a música. O filho de Ash era barulhento de­mais. Como previra, contratar uma babá com um bebê apenas triplicou o barulho e o caos em sua casa. E aqui­lo não se comparava ao tumulto que ela causava nele. Mas, como Sarah dissera, não tivera escolha, a não ser suportar a tortura de sua companhia, uma tortura men­tal e física, e ter a esperança de conseguir controlar sua libido até a volta de Ash. O que rezava para que fosse logo.

Tá ai mais um, querem um pra finalizar? ou paro nesse? 

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