Nina
Não consigo
ficar parada por mais do que poucos segundos. Ando de um canto para o outro
remexendo as mãos nervosamente.
Já são onze
horas e Ian ainda não voltou para
casa. Estou tão preocupada, ele saiu tão transtornado depois da discussão com Demetria, tenho medo que ele acabe fazendo
alguma besteira.
Dizem que só
nos lembramos de Deus nos maus momentos de nossa vida, que ninguém se lembra de
agradecer as coisas boas e só querem saber de reclamar e pedir. É verdade,
infelizmente. Nunca fui uma pessoa muito religiosa, mas nos últimos dias,
depois de ter recebido aquela noticia da minha médica, comecei a rezar todas as
noites.
Sento-me no
sofá e junto minhas mãos, começo a rezar para que Ian esteja bem, e que volte para mim são e salvo.
Perto da
meia noite, escuto um barulho na fechadura e logo depois a porta sendo aberta.
Levanto-me e vou confrontar Ian, nos encontramos na porta da sala, ele para na
minha frente e me olha parecendo surpreso.
— O que você
está fazendo acordada? — Ele pergunta e eu sinto o bafo de bebida.
— Estava te
esperando. Você andou bebendo?
— Talvez. —
Ele responde passando por mim.
Fecho os
olhos e respiro fundo. Essas últimas semanas tem sido tão difíceis, grande
parte por minha culpa, se eu tivesse sido honesta desde o começo, mas
simplesmente não tive coragem.
— Onde você
estava, Ian? — Viro-me para ele. Ele para de andar e me olha com a testa
franzida.
— Você se
importa?
— É claro
que eu me importo, você é meu marido.
— Achei que
você ficaria feliz se eu ficasse fora por mais tempo, assim quem sabe, você até
poderia trazer seu amante para cá e se divertir um pouco.
Abro a boca
para respondê-lo, mas consigo me conter a tempo. É preferível não dizer nada,
já que negar não é suficiente para ele, e nossas brigas sempre começam assim.
Não posso
culpa-lo por criar diversos cenários para justificar minhas mentiras, mas magoa
demais saber que ele pensa que eu ter um amante é uma possibilidade.
Eu o amo
mais que minha própria vida, depois que o conheci nenhum outro homem sequer
teve espaço em minha mente e em meu coração. Ian é todo o meu mundo, e ele tem me destruído com todas as
desconfianças e palavras duras.
— Foi o que
eu pensei. Agora se você me dá licença, estou exausto.
— Você
estava com outra? — Pergunto com a voz trêmula de medo.
Seria
razoável deduzir que já que Ian acha
que eu tenho um amante, que ele poderia fazer o mesmo para se vingar.
— Porque, só
você tem o direito de se divertir? Você trair os votos que fizemos no dia em
que nos casamos está tudo bem, mas se eu quiser fazer o mesmo, não posso, é
isso?
—
Você...Você estava com outra mulher, sim ou não? — Minha voz fica presa na
garganta, sinto meu estômago se embrulhando e o medo crescendo dentro de mim.
Se Ian tiver beijado outra, dormido com
outra mulher, eu juro que posso morrer de tristeza.
Ele me olha
apenas por um momento, mas que para mim pareceu uma eternidade.
— Não, eu
não estava com outra mulher. Ao contrário de você, eu ainda sou fiel ao nosso
casamento.
— Pare, por
favor, pare com isso. Eu já disse mil vezes que eu nunca te trai, me machuca
tanto que você pense isso de mim.
— E o que
você queria que eu pensasse, hum? Você tem ficado tardes inteiras fora e
mentido sobre onde estava, tem agido estranha, tem me afastado, não me quer
mais por perto.
— Eu sei,
mas eu não tenho um amante, eu juro. Não é sobre isso que se trata tudo.
— Então
sobre o que é? Diga-me, se você não tem um amante, qual o motivo de tudo isso?
Abro a boca
mas as palavras não veem, é tão difícil juntar a coragem necessária. E se ele
não me quiser mais depois que eu lhe contar a verdade? Eu quero contar, mas não
consigo.
— Quer
saber, esquece. Vou pegar minhas coisas e dormir no sofá. — Ele diz e se vira.
Cada passo que ele dá para mais longe de mim, mais eu sinto que nosso casamento
está indo por um caminho sem volta. Sinto que estamos ficando cada vez mais
distantes, rumando para a separação que eu sei que no fundo nenhum de nós quer.
“Você pode
impedir isso, Nina, apenas conte. Conte de uma vez...Ande, conte logo. Conte!
Não seja covarde, conte!”
— Eu tenho
um tumor. — As palavras jorram por entre meus lábios. Ian congela no lugar, sinto meus olhos ficarem embaçados pelas
lágrimas não derramadas.
— No
útero...Eu tenho um tumor no útero. Está em um estado muito avançado, não tem
outra alternativa se não a cirurgia. Minha médica disse que como demorei em ser
diagnosticada, é possível que o tumor tenha me tornado...Tenha me tornado
infértil. Quando eu mentia sobre onde eu estava, era porque eu estava no
médico, ou em algum outro lugar, chorando. — Digo sem mais conseguir segurar as
lágrimas.
Ian continua parado,
olho ansiosamente suas costas, esperando sua reação. Mas ele não diz nada e
sai. Apenas vai embora.
Nesse
momento sinto algo dentro de mim se quebrando, talvez seja meu coração, já que
ele está doendo muito.
Minhas
pernas fraquejam e eu tenho que ir me sentar no sofá. Sinto como se algo
tivesse apertando meu peito, tornando a respiração difícil. Escondo o rosto nas
mãos e choro violentamente, fazendo todo o meu corpo tremer.
Sinto o peso
esmagador da solidão, sinto frio, muito frio. Até que braços quentes me
envolvem, reconfortantemente.
Não preciso
olhar para saber que é Ian, então permaneço com o rosto enterrado nas palmas de
minhas mãos.
Ele me puxa
para si e me abraça com força, sinto toda a rigidez dos seus músculos e o calor
familiar de seu corpo.
— Me perdoa.
— Ele sussurra. Levanto a cabeça e olho em seus olhos. Seu rosto está coberto
por lágrimas.
— Me perdoa,
meu amor, por favor. — Ele esconde o rosto em meu pescoço e chora ruidosamente.
— Por favor,
me diga que isso não vai te tirar de mim. Me diga que você vai ficar bem. Por
favor.
— Eu vou
ficar bem. — Digo levando minha mão até seus cabelos e acariciando-os.
— Não quero
te perder. — Sua voz sai abafada pelo meu pescoço.
— Você não
vai. — Tento me controlar e parar de chorar, mas é difícil.
— Sinto
muito, me perdoe por ter sido um idiota, por ter sido um péssimo marido. Eu
sinto tanto. — Seu corpo treme e eu o abraço forte.
— Me perdoe
por não poder te dar um filho, acredite, é o que eu mais queria. — Sussurro
para ele.
— Não me
peça perdão, você não tem por que.
— Tenho sim.
Eu sei que o quanto você quer um filho, e eu não posso te dar, eu não posso
fazer de você o homem mais feliz do mundo, porque eu não sou fértil.
— Eu já sou
o homem mais feliz do mundo. — Ele diz e me beija. Não é um beijo apaixonado e
cheio de desejo, e sim carinhoso e completo de adoração e amor. Aquece meu
coração.
— Você é
maravilhosa, eu te amo tanto e você me faz muito feliz. Sinto muito por não ter
percebido que algo tão sério estava acontecendo, sinto muito por ter pensado o
pior de você, sinto muito por todas as palavras duras que eu disse e a maneira
fria que eu te tratei. Espero que um dia você possa me perdoar.
— Eu já te
perdoei, meu amor. Eu te amo tanto, que mesmo você machucando meu coração, ele
ainda quer ser seu.
— Nina, você é minha vida, não sei o que
eu faria sem você, por isso eu agi como um idiota. A ideia de você estar com
outro, de você amar outro...Me matava lentamente todos os dias. Sei que eu
deveria ter confiado em você, mas...Eu sou um idiota, o maior dos idiotas e não
mereço alguém como você.
— Eu te amo,
Ian. Por favor, me beije.
Ele atende
ao meu pedido e mais uma vez junta seus lábios com os meus. Sua língua invade
minha boca e acaricia a minha, me fazendo gemer. Ian me puxa para seu colo e eu vou de bom grado. Nos beijamos com
toda a força do nosso amor.
— Vai dar
tudo certo, você vai ver. — Ele diz quando nossos lábios se desgrudam. — Você
vai fazer essa cirurgia e eu estarei lá ao seu lado. Você vai voltar a ficar
saudável e nunca, nunca vai me deixar. — Ele me aperta em seus braços e eu me
aconchego nele.
— Estou com
medo. — Admito.
— Tudo bem.
Tudo bem ter medo, mas você é uma mulher forte, tenho certeza que vai passar
por isso.
— Mas e se
esse tumor realmente tiver me deixado com problemas e eu nunca poder ter um
filho?
— Então
adotaremos um. — Ele diz limpando as lágrimas do meu rosto.
— Você faria
isso?
— Mas é
claro, eu sou capaz de fazer qualquer coisa se você estiver ao meu lado. E
tenho certeza que seriamos tão felizes com essa criança
como se ela
fosse realmente nossa, e eu a amaria como se ela tivesse nascido daqui. — Ele
diz espalmando a mão em minha barriga.
Sinto meus
olhos se encherem de água de novo, mas dessa vez de alívio e amor.
“Eu amo
tanto esse homem, meu Deus.”
— Seja o que
for que aconteça, enfrentaremos isso juntos.
— Juntos. —
Repito.
— Será que
você pode me perdoar por ter sido um idiota completo e me dar outra chance?
— É claro,
meu amor. — Digo e depois o beijo.
Ele me
segura firme e então se levanta do sofá, me carregando em seus braços.
— O que você
está fazendo? — Pergunto quando ele começa a andar comigo no colo.
— Vou te
levar para o quarto e vou fazer amor com você à noite inteira.— Ele diz sem
tirar os olhos dos meus.
— Te amo,
sabia? — Encosto minha cabeça em seu peito e digo com um pequeno sorriso nos
lábios.
— Eu também
te amo, muito. Vou te mostrar o quanto.
WHOWWW , TRISTE !!!
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