segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

CAPÍTULO 12



Joe foi pego de surpresa. Era a última coisa que esperava ouvir.
- A mudança não quer dizer nada - disse ele, meio enraivecido. - Não estou tentando forçar a barra, embora eu pense que formamos um casal perfeito. Nenhum de nós está atrás de um relacionamento sério e nenhum de nós quer se casar. Quem melhor de se ter por perto do que alguém com as mesmas idéias?
- Não estou querendo ficar perto de ninguém -respondeu ela.
- É só um modo de se expressar. Não agora, mas no futuro talvez você precise de uma companhia, quem sabe, para fazer algo a dois. Quando isso acontecer, você pode me telefonar.
Ele ficou de pé.
- Vamos voltar? Não quero forçá-la a ficar em minha companhia por mais tempo do que o necessário.
- Sente-se - disse ela, esticando o braço para tocá-lo. -Não foi isso o que eu quis dizer. Eu apenas me sinto, sei lá, culpada. Eu não deveria sair com alguém antes de fazer um ano de falecimento de Zac.
Ele se sentou.
- Um ano? Essa é a fórmula mágica?
- Geralmente as pessoas lamentam a morte de outra por um ano ou mais.
- Geralmente?
- Eu ainda estou de luto. Gostaria que ele não tivesse morrido.
- Eu também gostaria e nem ao menos conheci o rapaz. Morrer tão jovem é mesmo algo horrível, não importa as circunstâncias. Mas você não morreu com ele.
- Às vezes, me sinto como se nunca o tivesse conhecido. Da última vez, estava tão diferente!
- Ele não fazia parte da sua rotina. É difícil sentir falta de alguém que já não estava presente na nossa vida. Foi o que senti quando soube da morte da minha mãe. Fiquei chocado, triste por ela ter morrido. Mas depois do funeral e de todas as cerimônias, aquilo não me parecia real. Ela vivia em Fresno, eu vivia aqui. Eu apenas a via no Natal. Sua morte não mudou muito a minha rotina. Eu a amava. Sinto falta dela. Mas, às vezes, chego a achar que ela está em nossa casa em Fresno, fazendo o que fazia quando eu me mudei dela.
- Então você não me acha uma pessoa horrível por pensar assim?
- Acho perfeitamente normal pensar assim.
Joe desejou que eles ensinassem "aconselhamento para perdas de entes queridos" no quartel. Ele não sabia muita coisa sobre o assunto, exceto o que experimentou quando a mãe morrera.
Demi não tinha certeza de quanto tempo permaneceram sentados naquele banco. Ela pensou sobre a conversa, sentindo-se aliviada por Joe não interpretá-la mal. É, um choro de vez em quando é perdoável.
- Podemos ir? - perguntou ele.
- Podemos.
Eles caminharam em direção ao estacionamento.
- Podemos passear de carro pela orla? - perguntou Demi ao chegarem no conversível. - A não ser que você tenha de voltar para fazer algo.
-Claro que não! Eu faço o jantar essa noite, se você quiser. Em retribuição ao passeio na praia - disse Demi. Jantar não significa um encontro amoroso. Era apenas uma maneira de se mostrar grata por ele tê-la tirado do apartamento e melhorado seu ânimo.
- Você não me deve nada - disse Joe, ao ligar o carro.
-Eu sei, mas gosto de cozinhar. Guarde sua habitual comida congelada para depois.
Ele pisou no acelerador e o carro partiu em disparada. Demi adorou o passeio. O vento batia em seus cabelos, soprando-os em todas as direções, obrigando-a a afastá-los do rosto. Que emoção! Se ela comprasse um carro, seria um conversível. Ela se sentiu livre e feliz, durante o passeio.
Uma hora depois, voltaram para o apartamento de Demi. Ela tomou um banho rápido, contente por notar alguma cor em seu rosto e por ver que os olhos não estavam mais inchados.
- Que tal um espaguete? -perguntou ela ao sair da minúscula cozinha. - Posso fazer torradas de alho e uma salada.
-Perfeito!
Ele se sentou à mesa e a observou preparar a refeição. Joe se ofereceu para ajudar, mas ela recusou. Por causa do braço, ele devia ficar de repouso. Além disso, Demi gostava de cozinhar, especialmente se fosse para mais de uma pessoa.
- Você cozinha? - perguntou ela.
- O mínimo possível.
- Então você come fora o tempo todo?
- Nem sempre, mas dependo bastante de comida congelada.
- Então aprenda a cozinhar.
- Talvez eu precise de uma professora...
- Isso é um desafio?
-Não se você não for me ver depois de se mudar.
O sorriso dela se apagou.
- Eu acho que isso não é o melhor a fazer.
- Por quê?
Ela não podia dizer a ele que era para proteger seu coração. Que ela se sentia atraída por ele e não gostava da posição em que se encontrava. Ficaria bem melhor mantendo-o distante de sua vida.
- Se você não tem um motivo para isso, então trata-se de uma idéia tola - disse Joe.
- O quê?
. Não havia como explicar isso. O telefone tocou.
- Salva pelo gongo - murmurou Demi.
A moça olhou para ele e torceu o nariz ao pegar o telefone.   
- Demi? Que decepção! Era Virgínia!
- Olá, Virgínia. Tudo bem?
- Estou ligando para saber como você está se sentindo. Melhor?
Demi respirou fundo, tentando encobrir a irritação que sentia na presença de Virginia.
- Estou bem, Virginia. Não estou doente, estou grávida.
- Eu sei, mas os hormônios podem fazer uma bagunça dentro de você. James e eu queremos que você venha jantar conosco na sexta-feira. Na verdade, como sua mãe viajou, talvez você queira passar o fim de semana conosco. Podemos ir às compras juntas.
- Tenho compromisso - disse Demi, desesperada.
- Que compromisso?
Rapidamente, ela tentou pensar em algo que pudesse satisfazer a sogra.
- Eu e minha amiga Selena vamos a um show - disse ela.
- Quando?
A mente de Demi ficou paralisada. Olhou para Joe. Ele estava recostado na cadeira, equilibrando-se nas duas pernas traseiras, observando-a com aquele olhar de prazer que a deixava louca.
- Sábado. Não tenho certeza a que horas. Talvez à tarde ou à noite.
- Bem, mesmo assim, você pode vir depois e dormir aqui. Podemos almoçar no domingo.
- No domingo eu... eu estarei... - Demi estava mais desesperada ainda.
Joe levantou o braço e disse apenas mexendo a boca: "visitando uma amiga doente."
- Visitando uma amiga doente. Na verdade, Virginia, eu não preciso ir para sua casa passar tempo algum. Nem moro tão longe assim. Talvez você e eu pudéssemos almoçar juntas na semana que vem.
- Que dia?
- Na terça - disse Demi. - Podemos nos encontrar naquele restaurante no Sansome que você gosta, às onze horas.
A água estava fervendo, o vapor subia pela cozinha. Demi apontou para a panela. Joe se levantou e foi olhar.
Demi cobriu o fone com uma das mãos e disse:
- Ponha o macarrão na panela, abaixe o fogo e conte o tempo.
- Demi? - perguntou Virginia. -Sim.
- Tem alguém aí?
- Estou com uma amiga aqui para o jantar e preciso desligar.
- Quem é? - o tom de Virginia deixou Demi irritada. Ela não tinha certeza de como lidaria com Virginia nos próximos anos.
- Uma amiga. Preciso desligar. Vejo você na terça.
- Você foi firme - disse Joe admirado. Demi foi ver o molho.
- Mas é difícil, viu. Virgínia é muito carente.
- Sei que é difícil perder um membro da família, mas isso não dá a ela o direito de controlar você.
- Eu sei. Ela tem boas intenções. Acho que ela precisa de algo novo para se distrair. Ela faz parte de um clube de mulheres, mas quando perguntei a ela outro dia, mudou de assunto. Já não é mais a mesma coisa, ela disse. Não gosta de cuidar do jardim, de costurar ou qualquer outra coisa, até onde eu sei.
- Ela vai se apossar de seu bebê.
- Espero que não. Quero ter um bom relacionamento com eles, mas não quero ficar à disposição deles a vida toda.
- Ela está assustada. Tem medo de você se casar de novo e se esquecer dos avós do bebê.
- Eu não faria isso.
- Também acho que não. Mas ela pensa diferente.
Ela riu.
-Não vou me casar de novo. E você?
- Nunca vou me casar.
- Ao menos que a mulher certa apareça na sua vida e você se apaixone perdidamente - disse ela.
- Estou me divertindo muito nessa fase da minha vida - respondeu ele, inclinando-se para beijá-la.
A pequena cozinha ficou repleta de vapor. O borbulhar suave da água proporcionava um agradável som ambiente. Joe abraçava Demi de forma acolhedora, maravilhosa. E sua boca era capaz de milagres. Os corpos, entrelaçados, desfrutavam de uma sensação de intimidade incrível. Um longo tempo se passou até eles ouvirem o som da água derramando sobre o fogão.
Ela se afastou. A água do espaguete estava transbordando da panela.
Rapidamente, ela desligou o fogo e tirou a panela. Depois de um tempinho, ela colocou a panela de volta sobre o queimador.
- Sorte ser apenas água - disse ela, mantendo o olhar na comida sobre o fogão. - Se o molho tivesse fervido e derramado, eu levaria décadas para limpar tudo.
Ele se afastou, dando a ela espaço para respirar. O coração de Demi batia em disparada. Sua boca ainda desejava a dele. Não estava interessada em jantar, queria sentir os braços dele mais uma vez, saborear seu sabor e seu toque.
- O jantar está quase pronto - avisou a moça.
Joe não estava nem um pouco interessado no jantar. Observou Demi, então. Ele não deveria ficar beijando-a. Ela era vulnerável. Deveria se comportar como amigo ou ir embora. E não tornar-se obcecado como se ela fosse a melhor coisa que já acontecera a ele. Tinha decidido sair dali. Mas, no entanto, se deu conta de que não queria ir embora. Queria passar um pouco mais de tempo com Demi. Descobrir um pouco mais sobre ela. Descobrir o que gostava de fazer quando não estava estudando para ser professora.
- Está pronto - disse ela.
Joe se virou e caminhou até a mesa. Ela já havia servido os pratos e colocado a salada e as torradas de alho no centro da mesa. Ele puxou a cadeira para ela. Pelo menos a mãe de Joe lhe ensinara boas maneiras, pensou Demi.
Depois de se sentar, ele ficou feliz ao notar que ela já o encarava, sem tentar evitá-lo.
- Hum, está ótimo! - elogiou ele. - Você disse que gosta de cozinhar. Se eu soubesse cozinhar assim todos os dias, eu também gostaria.
Ela sorriu ao ouvir o elogio.
- Obrigada. Eu não cozinho assim quando é para mim apenas. Geralmente, faço a minha refeição principal no almoço, no compus. E então como um sanduíche ou uma sopa no jantar. Eu achava que os bombeiros se revezavam preparando as refeições.
-E é o que fazemos. Mas a equipe se certifica de que eu apenas cozinhe o almoço -, e no caso trata-se de sanduíches...
A tensão causada pelo beijo parecia ter sido dissipada. Gradualmente, ele relaxou e aproveitou a comida.
Apesar de querer ficar, logo que as louças foram lavadas e devidamente guardadas, Joe anunciou sua partida. Demi não tentou impedi-lo.
- Obrigada por me levar à praia - disse ela, levando-o até a porta. - Desculpe-me por ter chorado tanto com você por perto.
-Disponha!
Ele parou na porta, sentindo-se como um adolescente inseguro. Será que deveria beijá-la ou apenas dar um tapinha no ombro dela e partir? Será que ela deixaria que ele a beijasse de novo? Ou será que ela já estava farta de suas investidas? Ela estava se comportando seriamente como uma viúva!
- Boa noite - despediu-se Demi, segurando a porta aberta.
Ele a fechou e pegou Demi em seus braços. Os olhos dela se arregalaram, e ele teve certeza de ter visto um brilho de felicidade neles antes de ela fechá-los para beijá-lo.
Joe estava ficando louco de tanto tédio. Seu braço já estava bem melhor. Já não doía mais o tempo todo. Ele torcia para que estivesse cicatrizando rápido, para que pudesse voltar ao trabalho o mais rápido possível.
Havia dois dias que não via Demi. Queria telefonar para ela, mas não tinha o número. Checou na lista telefônica, porém não havia nenhum A ou Demi Efron. Ele não se lembrava do seu nome de solteira, certamente seria o nome usado.
Joe foi até o andar debaixo duas vezes, mas não parou. Simplesmente virou-se e voltou. Ela sabia onde ele morava. Poderia se esforçar um pouco se quisesse mesmo vê-lo.
Essa era a questão. Ele achava que ela não queria. Não tanto quanto ele desejava.
Na quinta-feira, ele passou o dia limpando o apartamento, colocando roupas para lavar, parando no andar dela no caminho para a lavanderia e na volta. Não havia qualquer sinal dela.
Na sexta-feira, Joe decidira que aquilo já era o suficiente. Ele arriscaria uma visita ao quartel na tentativa de fazer algo, mesmo que fosse se sentar e olhar enquanto a equipe lavava o caminhão.
Ele estava quase pronto para sair quando o telefone tocou.
- Joe, estou atrasada. Dormi demais. Será que você poderia me levar até o apartamento da minha mãe? Tenho de estar lá quando eles entregarem os móveis e não vou chegar a tempo se for de ônibus - Demi falou feito uma metralhadora.
- Acalme-se. É claro que posso levá-la. Você já está pronta?
- Estarei em cinco minutos. Obrigada, fico devendo-lhe um favor - ela desligou.
O rapaz sorriu. Gostou da idéia de Demi estar em divida com ele. O que se igualaria a uma carona até o apartamento de sua mãe? Jantar todos os dias por uma semana? Era um pensamento cheio de possibilidades...
Demi lhe deu as direções quando entraram no auto poucos minutos depois.
Desculpe-me se estou atrapalhando seus planos - disse ela, quase se contorcendo no banco com uma tentativa de ir mais rápido.
-Nada de importante. Relaxe. Chegaremos lá na hora.
- Eu sei - ela olhou para o relógio. - Ainda não são nove. Eles disseram que estariam lá entre nove e meio-dia.
- Nunca conheci um entregador que chegasse na hora!
Demi riu. Joe recuperou o fôlego. Ele adorava ouvi-la rir. Era tão linda quando ria! Ele desejava poder ouvi-la rir todos os dias.
- É nessa rua, depois de três quarteirões - disse Demi quando ele virou na rua perto da marina. - Oh, veja, o caminhão está parado em frente. Rápido, não deixe que eles retornem.
Joe viu um homem entrando no prédio quando parou atrás do caminhão estacionado em fila dupla. Se o tráfego podia desviar do caminhão, podia desviar dele também.
Demi desceu rapidamente e correu até o homem. Joe observou enquanto eles conversavam por um instante e logo em seguida Demi fez um gesto positivo com a cabeça. E voltou ao carro.
- Eles acabaram de chegar. Muito obrigada pela carona. Cheguei a tempo!
- Vou estacionar e venho ajudar. Depois, posso lhe dar uma carona de volta para casa - disse ele.
- Não precisa - respondeu Demi. - Sei que você tem coisas a fazer.
- Nada disso. Voltarei logo que encontrar um lugar para estacionar.
A sorte presenteia poucas pessoas, ele pensou um instante depois de virar na esquina e encontrar uma vaga. Parou o carro, impressionado com a facilidade de tudo aquilo. Em poucos segundos, estava de volta ao prédio. A portaria estava aberta mas ele então entrou. Não fazia idéia do número do apartamento. Ele teria de esperar pelos rapazes da entrega.
Ele subiu com os entregadores na segunda viagem, seguindo-os até o enorme apartamento com vista para a baía. A sala de estar era do tamanho do apartamento dele. Os janelões, do teto ao chão, eram praticamente devassados, enquadrando a vista espetacular.
Parando por apenas um instante, ele continuou por um pequeno corredor até um quarto separado para o bebê. Uma nova cômoda estava próxima a parede. Uma fileira de bichinhos de pelúcia foi colocada em uma prateleira em torno do quarto. As cortinas nas janelas combinavam com a decoração.
Tudo entregue, assine aqui - um dos homens dizia, segurando uma prancheta com documentos. Demi assinou e agradeceu aos homens. Quando partiram, ela olhou para as caixas.
- Achei que todos os móveis viriam montados.
- Assim dificultaria o transporte - disse Joe. Quer montar as peças para sua mãe?
Demi não conseguia acreditar que Joe se oferecera para montar o berço e a cadeira de balanço. Será que ele não tinha algo a fazer além de montar móveis para alguém?
Mas por outro lado, como seria legal ter tudo montadinho para quando a mãe retornasse! Ela sabia onde a roupa de cama estava guardada.
- Se você não se importar, seria ótimo. E quando eles chegarem em casa, o quarto estará praticamente pronto.
- Eu não me importo. Tenho algumas ferramentas no carro, ao menos que você saiba onde Eddie guarda as dele.
- Isso eu não sei. E me sentiria mal mexendo nas coisas deles. Quando mamãe e eu dividíamos o apartamento, era diferente. Eu cresci lá, já sabia onde tudo estava guardado. Mas isso aqui... não é mais minha casa.
- Vou buscar o que preciso e já volto. Menos de uma hora depois, as peças do berço estavam espalhadas pelo assoalho do quarto do bebê e Demi as passava para Joe quando ele pedia. Ele leu as instruções de montagem por um instante e deixou o papel de lado. Dali em diante, parecia que ele sabia instintivamente como montar um berço.
Ela observava tudo com fascinação, enquanto o berço tomava forma. Nem mesmo o gesso em seu braço diminuía sua eficiência.
- Você já fez isso antes? - perguntou ela. Ele olhou para cima.
- O quê? Montar um berço?
- Sim.
- Acho que uma vez. Mas já montei outras coisas. Fazemos trabalhos em várias comunidade como parte do nosso programa de extensão no quartel. Uma vez, durante as férias, fiz parte um projeto chamado "Casa da Humanidade", no Arizona. Estava muito quente, mas o trabalho foi muito gratificante. Especialmente quando a familia viu seu novo lar pela primeira vez.
-Ah, que interessante!
Enquanto a manhã passava, Joe a entreteu com suas habilidades em construção e montagem de brinquedos de criança no Natal, enquanto montava o berço e a cadeira de balanço. Suas histórias engraçadas pareciam não atrapalhar a maneira eficiente com a qual ele montava os móveis. Suspeitava que ele estava dando o melhor de si para agradá-la. E ela estava mesmo gostando muito daquilo tudo.
Chegou a rir alto duas vezes com as histórias dele.
- Você é impossível, não acredito que isso tenha acontecido! - disse ela.
- Ora! Se eu estou contando, é porque aconteceu. Já passava do meio-dia quando ele balançou a cadeira que acabara de montar.
- Teste-a - sugeriu ele.
Demi se sentou, movendo-se lentamente, como se balançasse um bebê.
- Está ótima. Acho que no final das contas, vou acabar comprando uma dessas também. Achei que ia querer um modelo mais tradicional, mas essa é tão suave e fácil de balançar!
Ele empurrou o berço contra a parede. Não sei onde eles vão querer que ponha as coisas - disse ele, juntando as ferramentas.
Nem eu. Aí parece bom. Espere um minuto. Eu quero fazer a cama e colocar alguns dos bichinhos de pelúcia que eles compraram.
Em poucos instantes, o quarto parecia pronto para seu novo ocupante.
Demi ficou de pé próxima à porta e olhou para tudo aquilo. Será que o quarto do seu bebê ficará tão bonito? Provavelmente, pois sua mãe e Eddie estavam insistindo para comprar os móveis. É claro que o quarto do novo apartamento não era tão grande quanto esse. Mas era bastante confortável.
Joe pôs o braço sobre o ombro dela e olhou para o quarto,
-Está muito bonito, não? - perguntou ela, apoiando-se levemente nele. Por um breve segundo, ela quase pôde imaginar Joe como o pai do seu bebê. Rapidamente, ela afastou aquilo da mente. Que tolice!
- Obrigada por fazer tudo isso. Vai ser uma ótima surpresa quando eles chegarem.
- Eu me diverti bastante. Vamos dar um jeito nessas caixas e depois vamos nos preparar para almoçar.
- Oh, eu tenho um compromisso - disse Demi, também surpresa.
- O quê? Mão pode ser a visita a sua amiga doente, isso é só no domingo.
Ela sentiu um calor lhe subir pelo rosto. Não sabia mentir.
- Ficarei feliz em almoçar com você - disse ela. A coisa mais inteligente a fazer seria fugir da atração que tomava conta dela toda vez que estava ao lado de Joe, ou pensava nele. Mas ela lhe devia retribuir a carona e a ajuda na montagem dos móveis.
- Achei que pudéssemos almoçar no Embarcailero Center e depois sairmos para olhar os móveis para seu bebê. Ao menos que você já saiba o que quer - disse ele.
O coração de Demi acelerou de novo. Ele estava disposto a fazer compras para o bebê?
- Ainda não decidi. Mas a mamãe e eu medimos o espaço há pouco tempo, então sei o que posso comprar. Ó quarto do meu bebê não vai ser assim tão grande - disse ela, olhando para o quarto mais uma vez.
- Bebês não são tão grandes, eles não precisam de muito espaço - ele falou. - Almoço?
- Sim, obrigada. Mas eu pago, tenho uma dívida com você.
Ele pegou a caixa de ferramentas e algumas das caixas de papelão dobradas, partindo em direção a porta principal.
- Eu pago. Prefiro que você cozinhe algumas vezes para mim antes de se mudar, se você achar mesmo que me deve alguma coisa.
- Isso é fácil demais - disse ela, pegando várias coisas do chão e seguindo-o.
Eles trancaram o apartamento, jogaram as caixas de papelão na lixeira e foram para o carro, em direção ao almoço e às compras.
Demi estava cansada quando chegou em casa. se sentindo um tanto culpada mais uma vez. Ela ficou em dúvida se isso seria um sentimento constante agora. Culpada por estar viva e por Zac estar morto. Culpada por ter se divertido hoje, em vez de ficar afogada em lágrimas como estivera no início da semana. Culpada por ter compartilhado da escolha dos móveis com Joe, em vez de sua mãe ou Virginia. Culpada por terem comprado o primeiro ursinho de pelúcia do bebê juntos.
A culpa era algo que ela estava se acostumando a ter, ela pensou, enquanto esperavam pelo elevador. Será que isso ia passar? Ou será que era algo que estaria com ela para sempre?
O elevador parou no andar de Demi e ambos saltaram.

- Onde você estava? - Virginia perguntou.

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