Demi tentou sorrir educadamente, mas em vez disso, uma
pontada de raiva foi o que se fez presente.
- O que você está fazendo aqui?
Ela havia dito a Virginia que se encontrariam na semana
seguinte. A mulher não tinha nada que aparecer sem avisar. Será que Demi não
deixara isso claro?
Virginia olhou fixamente para Joe.
- Ele é a razão pela qual você não me quer mais aqui, não é?
O que está acontecendo? Zac ficaria horrorizado. O que você está fazendo? Você
o esqueceu assim tão rápido, com o primeiro homem que apareceu?
Demi ficou tão surpresa por ouvir aquelas palavras que ficou
sem resposta. Será que isso era o que todos iriam pensar? Que ela não se
importava por Zac ter morrido? Que ela não ia esperar um pouco antes de começar
a namorar novamente? Isso não era verdade!
- Creio que não fomos apresentados - disse Joe, preenchendo
o silêncio constrangedor. -Meu nome é Joseph Jonas, um vizinho do andar de cima
- ele segurava as bolsas da loja de bebê. - Eu estava ajudando Demi a carregar
as sacolas.
Isso poderia soar como se eles tivessem acabado de se encontrar
na entrada do prédio, Demi pensou. Não que ela estivesse tentando esconder
alguma coisa.
Virgínia não pareceu amolecida.
Demi a contornou e destrancou a porta. Graças a Deus, ela
jamais dera uma chave a ela ou a James. Ela não sabia o que tinha acontecido
com as chaves de Zac, mas pelo menos sua mãe não estava com elas.
Joe entregou as bolsas para Virgínia e partiu. Demi ficou
dividida entre querer que ele ficasse e aliviada por ele partir, evitando que
sua presença provocasse a ex-sogra.
Demi esperou até que Virgínia entrasse e fechou a porta,
antes de começar a falar.
- Estou desapontada. Pedi a você que não viesse aqui sem ser
convidada. Você me deixou embaraçada na frente de um vizinho e está me deixando
louca. Virgínia, não quero você me perseguindo desse jeito! Tenho a minha
própria vida para cuidar e preciso de espaço para isso.
- Você é a esposa de Zac, a mãe do meu neto... -começou.
- Agora, sou a viúva de Zac! Você sempre será a avó do meu
bebê, mas o bebê ainda nem nasceu! Estou em perfeita saúde, então se o assunto é
esse, não há por que se preocupar.
- Você é toda a família que nos restou - disse Virgínia.
O coração de Demi doeu por aquela mulher. O bebê ainda nem
nascera e ela já se sentia conectada à criança que crescia junto de seu
coração. Como uma mãe lidaria com o fato de perder um filho? Ela compreendia a
mãe de Zac. Mas não podia deixá-la extrapolar.
- Eu sempre terei muita consideração com você e com James -
respondeu ela. Ela abraçou Virginia, pensando se não estava cometendo um erro
com a insistência dela.
- Mas eu não sou sua filha. Zac era. Eu tenho uma mãe e
agora um padrasto. Virgínia, eu não posso ser sua filha. Não posso tomar o
lugar de Zac - disse Demi com firmeza.
Virgínia se afastou dela e foi sentar-se no sofá. tinha
lágrimas nos olhos.
- Só quero o melhor para você e para o bebê de Zac.
- Eu sei disso. E aprecio muito...
Alguém bateu na porta. Demi se virou e foi ver quem era,
achando que Joe pudesse ter voltado para lhe oferecer apoio.
Um jovem rapaz, bem vestido com uma farda do Exército,
aguardava do lado de fora.
- Sra. Efron? - perguntou ele, sem olhá-la nos olhos.
-Sim?
Ele relaxou um pouco e olhou para ela.
- Mulher de Zac?
Ela balançou a cabeça concordando.
- Sou o cabo William Collins. Eu estava com Zac quando ele
morreu. Ele me pediu para que lhe desse uma mensagem.
- Entre - Demi estava com o coração acelerado. Esse homem
estivera com Zac no final de sua vida. Ela sabia que havia apenas um
sobrevivente do ataque. Quando ele entrou, ela fez as apresentações.
- Sente-se, por favor - disse ela.
Ele se sentou com a postura ereta em uma cadeira enquanto
Demi se pôs ao lado de Virgínia no sofá.
- Sinto muito em demorar tanto para chegar até aqui, mas
acabei de sair do hospital em Bethesda ontem.
- Você foi ferido no ataque? - arriscou ela.
- Sim, senhora. Eu fui o único sobrevivente.
- Que sorte você teve. Você está bem agora? - Demi olhava
fixamente para ele, vendo um pouco do homem que Zac fora da última vez que o
vira. Jovem, orgulhoso de seu trabalho.
- Estou a caminho de casa para a minha licença médica.
Espero poder me juntar à minha unidade em algumas semanas.
Ela respirou fundo. Esse jovem rapaz escapou da morte quando
todos os outros no veículo morreram. E mesmo assim estava disposto a voltar ao
serviço na primeira oportunidade. Ela não entendia mesmo os homens.
- Zac era meu filho - disse Virginia, sem a necessidade de
se manifestar. Demi já a havia apresentado como mãe de Zac.
- Sim, senhora. Ele não sofreu. Fomos atingidos sem aviso. O
motorista e Gáry, o outro homem no lado esquerdo do veículo, foram mortos de
imediato. Zac e eu fomos atirados para fora caímos a poucos metros um do outro.
Arrastei-me até ele para tentar ajudar. Não houve nada que pudesse fazer.
Ele parecia tão agitado, quanto Demi se sentou Rapidamente
simpatizou com o rapaz.
- Tenho certeza de que você fez o melhor que pode, muito
obrigada - disse ela, gentilmente. Virgínia chorou um pouco.
- Ele não sentiu dor alguma, senhora. Disse que não
conseguia sentir nada do pescoço para baixo.
- Não ficou muito tempo vivo, mas não sentiu dor alguma
Demi fez um gesto positivo com a cabeça, desejando poder ter
estado lá com Zac. O fato de saber que o rapaz tentou ajudar Zac foi muito
importante. Ela sabia que nada poderia ter salvo seu marido, mas era muito bom
saber que ele não sofrerá e nem estivera sozinho no final da vida.
- Suas últimas palavras foram sobre você. Ele me disse para
que dissesse a você. Fez com que eu prometesse. Eu teria vindo de qualquer
maneira. Mas dei minha palavra.
Demi sentiu uma enorme tristeza tomar conta dela.
- Ele disse: "Gostaria de poder vê-la sorrir novamente.
Ela tem o melhor sorriso do mundo. Aquele sorriso é fantástico! Queria também
ouvi-la rir. É algo mágico!"
Demi segurou as lágrimas, quase podendo ouvir a voz de Zac.
O jovem soldado abaixou a cabeça, olhando para o quepe que
girava nas mãos.
- Ele disse que desejava poder lhe beijar só mais uma vez.
As lágrimas minavam.
- E então ele disse: "Diga a ela que eu a amo
mais" - ele olhou para ela e depois para Virgínia, que também estava
chorando.
Demi tentava conter as lágrimas, mas elas continuavam a
cair.
- Isso era uma brincadeira entre nós. Um de nós dizia
"eu te amo" e o outro dizia "eu te amo mais". E
continuávamos dizendo isso até que um de nós dizia eu te amo mais que tudo. E
então nos beijávamos.
Ela jamais poderia dizer a Zac o quanto o amava. Jamais
teria mais um de seus beijos, jamais riria com ele sob a luz do sol. Ele tivera
a última palavra.
O jovem soldado voltou a falar:
- E então ele disse: "Diga a ela para encontrar um bom
rapaz e formar uma família enorme e dar meu nome a um de seus filhos. Quero que
ela seja feliz e não fique presa a velhas memórias. Diga a ela para ter uma
vida longa e feliz, pensando em mim de vez em quando". E então ele morreu.
Demi caiu no choro de vez. Sua dor era maior que nunca. Até
mesmo prestes a morrer, Zac pensara nela. E sobre o futuro dela. Ele a
abençoara em qualquer decisão que tomasse.
Um enorme peso fora levantado dos ombros. A tristeza
passaria com o tempo. E ela seguiria em frente, com seu bebê.
- Obrigada por ter vindo - agradeceu Demi, enxugando as
lágrimas do rosto, desejando ter um lenço ou algo parecido. - Obrigada por
estar com ele quando morreu, para que não morresse sozinho.
- Eu não o teria deixado sozinho, senhora.
- Eu sei disso. Quanto tempo demorou até que a ajuda
chegasse? - perguntou ela.
- Umas duas horas - disse ele, olhando para as mãos, ainda
segurando o quepe.
O coração de Demi doeu novamente. Ele deve ter ficado
nervoso, pensando se a ajuda chegaria a tempo de lhe salvar.
- Fico muito feliz por você estar vivo - disse ela com
gentileza.
Virginia encontrou um lenço em sua bolsa é enxugou suas
lágrimas.
- Eu também concordo com tudo isso que ela disse. Fico feliz
em saber que ele não sofreu e que não estava sozinho no momento da morte.
- Ele está enterrado em Colma, no Cemitério Nacional daqui -
disse Demi.
- É bom saber. Gostaria de visitar o túmulo da próxima vez
que vier aqui. Mas não dessa vez.
- Eu entendo - ela enxugou as lágrimas mais uma vez. Às
vezes ela sentia como se tivesse passado os últimos meses da vida chorando. Mas
a últimas palavras de Zac abriam as portas par o futuro.
- Mais alguma coisa que eu poderia lhe dizer - perguntou
Will.
- Não vá embora ainda - disse Demi. - Vou preparar algo para
beber e daí você pode me fala sobre Zac e o trabalho dele por lá, o que você
puder nos dizer, é claro. Ele era feliz por lá?
- Ele adorava trabalhar em comunicações. Temos o que há de
mais avançado em conexões via satélite e equipamentos de observação. Aprendeu
bastante, estava aguardando uma promoção depois daquele trabalho. Nós
trabalhamos juntos por vários meses.
Will parecia aliviado por estar cumprindo sua promessa.
Depois, relaxou e começou a contar para Demi e Virginia sobre a vida militar em
um país estrangeiro.
O cabo William Collins ficou mais de uma hora contando
histórias sobre suas aventuras na Europa, atrás daquela missão temporária em um
lugar perigoso e trágico.
Depois disso, foi embora para Seattle, e Virginia partiu
poucos minutos depois.
Demi lavou os copos e os guardou, pensando sobre tudo o que
Will lhe dissera. As palavras de Zac ecoavam em sua mente. Desejava muito que
as coisas fossem diferentes, mas elas eram o que eram. Ele sabia que o fim
estava próximo e lhe dera sua bênção para seguir em frente.
Talvez ele a amasse mais.
No sábado de manhã, Demi dormiu até mais tarde, tendo a
primeira boa noite de sono depois de tudo. Selena chegaria às onze horas. Iam
almoçar juntas e depois iriam ao cinema, conforme dissera a Virgínia. Demi não
agüentava esperar para contar à amiga sobre o que acontecera.
Também queria contar a Joe, mas hesitou. O relacionamento
entre eles era muito tênue. Os dois disseram que não queriam um relacionamento
e ainda assim ela ficava cada vez mais envolvida. Demi pensou se Joe não
acharia que o fato de ela estar lhe dizendo isso não seria uma indireta, para
lhe dizer que ela estava pronta para ter um relacionamento com ele. Talvez
fosse melhor deixar tudo como está...
Mas ela gostava de estar com ele. Ele a fazia se sentir
segura e amada. Demi sabia que ele era o tipo de homem em quem se podia
confiar. Lamentava por ele ter um trabalho tão perigoso, além de seu
preconceito contra grávidas.
Era melhor continuar do jeito que estava.
- Ei, amiga! - disse Selena ao entrar no apartamento às onze
em ponto. Deu um abraço em Demi e examinou sua barriga por um instante.
- Está bem maior do que da última vez que a vi. As roupas
estão ficando apertadas?
- Estou usando calças com cinturas elásticas agora. Não dá
mais para fechar o jeans. Mas eu gosto dos meus seios agora que estão maiores.
Posso até usar decote!
Selena riu.
- Então vamos apanhar umas blusinhas bem decotadas e ver o
efeito delas sobre seu vizinho. Ele vem ver você esses dias?
- Provavelmente não. Está pronta para irmos almoçar?
As moças partiram, conversando e rindo. Tomaram o ônibus até
o shopping. No caminho, Demi contou a Selena sobre a visita de Will Collins.
- Ah, que bom! Ele veio até aqui para lhe dizer as últimas
palavras de Zac. Gostaria de tê-lo conhecido!
- Você quer conhecer todos os homens que puder! -disse Demi.
- Não, não. É que ele parece um homem especial. Foi algo
muito louvável o que ele fez. Como você se sente sobre isso? Quero dizer, deve
ter sido difícil ouvir as últimas palavras de Zac, mas você não acha que ele
lhe abençoou em qualquer decisão que você venha tomar?
- Foi o que me pareceu. Mas ainda não tenho certeza.
- Oh, ele veio com um prazo de validade? Demi riu do
comentário da amiga.
- Nada de datas. Mas não estou pronta.
- E o tal Joe?
- É só um vizinho. Além disso, ele é bombeiro. Uma coisa que
não quero fazer é me apaixonar por alguém com um trabalho perigoso. E se um mês
depois do casamento ele morre?
- Não sei não, existem vários bombeiros ido além disso, eles
são promovidos e fazem serviços mais leves até o fim da carreira.
- Mesmo assim, acho que quero um professor, um vendedor de
seguros ou algo do gênero.
- Que tédio! - disse Selena. - Queria alguém de vida
empolgante.
Demi sabia que Joe se encaixava nesse perfil. Ela o
apresentaria a Selena. Mas a idéia não lhe caiu bem.
O dia que passara com a amiga foi divertido. Selena tinha
uma maneira irreverente de ver as coisas. Seu otimismo era contagiante e,
quando Demi voltou para casa no final da tarde, estava se sentindo bem melhor.
Não ria tanto assim havia tempos. Elas combinaram de se encontrar mais vezes e
conversar pelo telefone. Selena trabalhava em tempo integral durante o verão
para poder pagar a faculdade. Mas havia muitos finais de semana e noites
livres.
Demi ficou entediada quando se viu sozinha. Subiu ao terraço
e se sentou, para assistir ao pôr-do-sol. Ela puxou uma cadeira e se sentou.
Com as pernas para cima, descansou as mãos sobre a barriga. Podia sentir o bebê
se mover bem devagar de vez em quando.
- Gostaria de uma companhia? - perguntou Joe, surgindo de
repente.
- Claro! - Demi abriu um largo sorriso para ele.
- O que você fez o dia todo, menina?
- Fui ao cinema com minha amiga Selena. Vimos uma comédia e
rimos sem parar.
- Sua sogra está bem? - perguntou ele. Ela fez um gesto
positivo com a cabeça e olhou pura ele, curiosa.
- O quê? Tem mostarda no meu queixo ou algo parecido? Demi
riu.
- Não, estava apenas pensando sobre algo. Depois que você
saiu ontem, eu recebi um visitante. Ela contou a ele sobre William Collins e a
mensagem que ele lhe trouxera. Joe ouviu tudo com muita atenção.
- E como você se sentiu, ouvindo essas histórias sobre seu
marido depois de tanto tempo?
- Foi muito estranho. E triste. Mesmo assim, estou muito
feliz de saber que ele não estava sozinho nem sentiu dor. Fiquei com pena do
Will. Imagine como ele deve ter ficado depois que Zac morreu.
- Joe fez um meneio com a cabeça e olhou para o mar. Uma
posição difícil de se estar. Muita gentileza dele ter vindo aqui.
-Ele disse que não teria o mesmo sentido se escrevesse uma
carta.
- Provavelmente não. Demi não tinha certeza do que esperava,
mas certamente não era todo esse desinteresse. Sem saber o que dizer, ficou em
silêncio.
O sol já estava baixo no horizonte. Em pouco tempo,
desapareceria e a escuridão tomaria conta. Se até lá Joe não dissesse nada, ela
se levantaria e iria embora.
Joe olhou para ela de novo.
- Você está bem com tudo isso?
- Estou bem. Por que não haveria de estar?
- Isso me parece trazer tudo de volta, como se acabasse de
acontecer, em vez de ter acontecido há vários meses.
Demi concordou.
- De certo modo, sim. Mas a melhor parte foi quando ele
disse para eu seguir em frente.
- E por que você está me dizendo isso? Quer dizer que...
- Pare! Não acredito que esteja insinuando algo a mais! Só
queria compartilhar um momento meu! Que idiota que eu sou!
Demi, saiu em disparada em direção aos elevadores.
- Espere! - Joe se levantou e a seguiu.
-Deixe-me! - disse ela, caminhando. Infelizmente, o elevador
não apareceu de imediato quando ela apertou o botão. Então, ele logo a
alcançou.
- Eu não quis dizer que você estivesse tentando arrumar um
marido. Eu quis dizer que você pode seguir em frente agora sem se sentir
culpada sobre tudo.
- Como você sabia que eu me sentia culpada com tudo? -
perguntou ela, surpresa, ele abriu um pequeno sorriso.
- Querida, seus sentimentos oscilam em seu rosto, de feliz a
triste. Além do mais, eu sei um pouco do que você está passando, lembra-se?
Minha mãe morreu também. Na primeira vez que ri depois da morte dela, senti-me
a pessoa mais culpada desse mundo. Como eu poderia rir quando a minha mãe
estava morta?
Exatamente - disse ela. - Ou como posso namorar alguém
quando meu marido morreu há poucos meses?
Joe pareceu perplexo com o comentário. O elevador chegou e
as portas se abriram. Demi entrou. Ele a seguiu. Quando a porta se fechou, ele
apertou o botão do andar dela.
Indo me visitar? - ela perguntou.
Eu queria conversar com você sobre a mudança - disse ele. -
Fui até o quartel hoje e quatro rapazes concordaram em ajudar. Podemos ir
na terça, se quiser.
Eu ia almoçar com Virgínia na terça, mas isso posso adiar.
Não quero desperdiçar toda essa ajuda.
Quer sair para jantar? - perguntou Joe segurando o elevador
chegou no andar dela.
Sei dos seus artifícios...
Deixe disso, Demi. Não foi o que eu quis dizer. Você sabe da
minha posição e eu sei da sua. Temos de comer, não?
- Um jantar sábado à noite tem muito a ver com um encontro -
disse ela.
Caminharam até o apartamento dela e ela abriu a porta. Joe
entrou com ela. Ele olhou à volta, como se estivesse calculando, pelo número de
caixas, quanto tempo levaria para ele e seus colegas carregarem todas elas.
- Isso não é um encontro. Afinal, você é viúva, esqueceu? -
provocou ele.
Ela lhe deu um olhar desafiador e foi pegar a bolsa.
- Para onde vamos? - perguntou ela.
- O que você gosta de comer?
- Adoro comida chinesa.
- Então vamos para Chinatown.
Demi adorava perambular por São Francisco. No carro, o vento
soprava seus cabelos. Quase ria de alegria. O bebê chutava e mexia-se na
barriga, como se também se divertisse com tudo aquilo.
Não demoraram muito e chegaram às ruas estreitas de
Chinatown. Joe deixou o carro no estacionamento público e pegou na mão dela
para se juntar à multidão que se aglomerava na calçada. Uma ótima atração
turística. Chinatown era repleta de nativos e visitantes. Ele a levou até um
pequeno estabelecimento próximo à Grant Avcnue. Ao entrar, tinham de subir um
lance de escadas para chegar ao restaurante. Quando finalmente se sentaram,
Demi percebeu que eram os únicos americanos na multidão.
Deve ser bom - murmurou ela.
Acho que sim. O que você gostaria de comer?
Depois de fazerem o pedido, ele perguntou sobre a visita do
cabo Collins. Ela contou para ele algumas das histórias que Will contara.
- Acho que entendo mais a razão de Zac gostar tanto desse
trabalho e passar mais tempo na base de que comigo.
- Como assim?
- Talvez você entenda, mas eu não. Por que ele não haveria
de querer passar todo o tempo do mundo com você?
Ela sorriu pelo elogio. De repente, Demi se deu conta de que
não sabia tanto sobre Joe quanto gostaria.
- Então me fale sobre seu trabalho, sobre a razão de você
ter se tornado bombeiro. Você sempre quis ter essa profissão, desde criança?
Ele balançou a cabeça. Em um certo momento eu quis ser
astronauta Em um outro, quis ser um trilhionário. Foi que um apartamento
vizinho em Fresno pegou fogo quando eu tinha 14 anos. Duas pessoas morreram,
várias famílias perderam tudo o que tinham. Nunca vou me esquecer do trabalho
que os bombeiros fizeram para tentar resgatar as pessoas. O que sentiram quando
salvaram dois terços do prédio certamente foi algo glorioso. Foi então que
decidi ser o que sou hoje; eu queria ajudar as pessoas, queria não ser comum.
- E conseguiu?
Tudo bem, salvar vidas valia a pena. Para ela, todas as
posses nesse mundo não se igualavam a uma pessoa.
- Algumas vezes, depois que recebi meu certificado de
paramédico, comecei a sair em patrulhas de vez em quando, para me manter
atualizado. Já fiz um parto, sabia? Que emoção!
Ela sorriu.
- Conte-me tudo.
O jantar acabou rapidamente, enquanto Joe a entreterá com as
aventuras de seu mundo. Ela ficou maravilhada com as coisas que ele já havia
feito, do parto a uma vítima de infarto.
Joe sabia que estava se vangloriando, mas queria que Demi
ficasse impressionada. E que entendesse que ele gostava do que fazia. Se ela
pudesse entender, talvez não se preocupasse tanto com os perigos. Ele tentou
explicar como o treinamento era intenso e regular. Como o companheirismo fazia
com que todos cuidassem uns dos outros. Como o capitão jamais colocaria sua
equipe em situações com as quais eles não pudessem lidar. E se ela soubesse a
quantidade de coisas boas que eles faziam, aquilo tinha de valer o perigo.
O jantar já havia acabado há tempos quando ele finalmente
parou de falar.
- Eu devo ter lhe entediado demais - disse ele, olhando para
o relógio.
- De forma alguma. Você sabe disso. Estou fascinada. Mas
também horrorizada por alguns detalhes, devo admitir. Não sei se admiro você ou
se não me apavoro quando ouvir uma sirene.
- Demi, a maioria dos bombeiros se aposenta em seus empregos
e não morre em serviço.
- Isso pode ser verdade, mas não impede as mortes que
acontecem, apesar de todas as precauções.
Ele queria que ela não se focasse nesse assunto. Queria que
ela fosse mais compreensiva em relação ao seu trabalho.
- Pronta para ir? - perguntou ele. ela disse que sim com a
cabeça. Joe pagou a conta e pegou na mão dela, ao saíram do restaurante. As
luzes das lojas na Grant Avenue deixavam a rua tão clara quanto durante o dia. -
Quer andar um pouco?
- Claro.- Joe ficou feliz por ela não estar com pressa.
Queria que ela aproveitasse a noite e não apenas jantassem e voltasse correndo
para casa.
Pela primeira vez, considerou convidar uma mulher para viver
com ele. Sem o trabalho para se distrair, ele se sentia solitário. Demi
preenchia uma lacuna que ele pensava que não existia em sua vida. Era diferente
da camaradagem no quartel. Era algo difícil de se definir. Desejo? Paixão?
Ou a vontade de algo mais estável?